sexta-feira, 30 de junho de 2017

(Continuação 22)


O Jardim de Arca d’Água, na Praça 9 de Abril, foi projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e inaugurado em 1928. Apresentava então um lago e uma imponente gruta, bem ao gosto romântico da época. Na altura da sua inauguração, plantaram-se uma centena de plátanos a delimitar as largas alamedas laterais. Aquele projectista também desenhou outros jardins do Porto, tais como o da Boavista, do Infante, da Praça da República, do Carregal e de Carlos Alberto.
O jardim deve o seu nome às 3 nascentes de Paranhos (Arca d’Água ou Mãe d’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX.


Praça 9 de Abril em 1939 numa vista aérea


“Em 1919 o jornal O Primeiro de Janeiro lança uma campanha para que se faça uma piscina naqueles terrenos. Argumentava que a passagem de um manancial de água e, também se sugeria, que tal permitia fazer desaparecer um campo de futebol, mais ou menos improvisado, que ali existia.
Mas em 1921 nada se fizera, e o jornal “Sporting” retoma o problema, e faz uma resenha daquela iniciativa. Cita uma acta da reunião da Câmara, onde se diz que aquela construção teria valores elevados que a autarquia não dispunha, e que por isso iria ser apresentado um projecto de ajardinamento do local, tirando-o do aspecto de baldio que apresentava, incluindo nele um lago, que posteriormente poderia ser adaptado a piscina”.
Fonte: futebolsaudade-victor.blogspot.pt


Antiga gruta do lago da Arca d’Água

Gruta actual


Lago do jardim

Neste local, ainda um descampado, desenrolou-se a 7 de Fevereiro de 1866, no sítio da Mãe d’Água, um célebre duelo que ficou nos anais da história da cidade.
Luís Miguel Queiroz descreve-o da forma seguinte: 

“Em 1865, a imprensa da Universidade de Coimbra dava a lume um opúsculo intitulado "Bom-senso e Bom-gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho". Antero de Quental, o autor da missiva respondia a dobrar às ironias que o patriarca das hostes ultra-românticas, o velho Castilho, ousara endereçar-lhe num posfácio que redigira para o "Poema da Mocidade", do então jovem escritor Pinheiro Chagas. Esta inofensiva troca de sarcasmos serviu de faúlha para acender uma violenta polémica, que envolveu boa parte das principais figuras literárias da segunda metade do século XIX. Camilo foi um dos saiu a terreiro a defender o poeta cego. E Ramalho Ortigão, que mais tarde se integraria plenamente na chamada Geração de 70, talvez influenciado pelo facto de ter tido Castilho como professor de Grego e Humanidades, não lhe regateou também a sua pena - e o seu braço, como veremos...-, repreendendo duramente Antero no seu "Literatura de Hoje". A ramalhal figura foi mesmo ao ponto de publicamente crismar de covarde o poeta das "Odes Modernas". Antero não gostou. E a coisa esteve para se resolver numa trivial pancadaria de rua. Mas chegado ao Porto para se esclarecer com Ramalho, Antero deu de caras com Camilo, que o persuadiu a desistir da cena de rua em favor de um duelo "comme il faut". Ramalho foi pois convidado a escolher as armas e optou pela espada, que manejava com reconhecida destreza. Antero, por seu turno, dirigiu-se a uma sala de esgrima para se inteirar das regras básicas da modalidade. Na manhã de 6 de Fevereiro 1866, paravam dois coches no largo da Arca d'Água. Apearam-se contendores e testemunhas e logo se deu início ao duelo. Foi uma coisa rápida, e pouco depois as viaturas voltavam a partir, levando, uma delas, um Ramalho combalido e de braço ao peito, a outra o impetuoso Antero, que não sofrera a mínima beliscadura”. 

Entre 1903 e 1916 realizava-se neste largo a grande feira de S. Miguel, vinda do Largo da Boavista.
Em 6/4/1922 o jardim passou a chamar-se “9 de Abril”, lembrando a terrível batalha de La Lys travada nos campos da Flandres, na Bélgica, em 1918 onde morreram muitos portugueses. Mas de tão antigo e entranhado é o nome de Arca d’Água que os portuenses é assim que lhe chamam.
Lembremos os nomes da Praça da República (Jardim Teófilo Braga), Cordoaria (Jardim João Chagas), S. Lázaro (Jardim Marques Oliveira) e outros de que ninguém se lembra do verdadeiro e actual, nome do jardim.
Segundo J. B. Correia Pinto (Toponímia Republicana), em 24 de Julho de 1924 por proposta dos moradores, a Rua da Bica Velha, em Paranhos, passa a designar-se por Rua Nove de Abril. 



Neste jardim encontra-se a escultura de Charters d’Almeida intitulada “A Família”, inaugurada em 1972.

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