18.6 Jardim de S. Lázaro ou Jardim Marques de Oliveira
“O Campo de S.
Lázaro, até ao terceiro decénio do séc. XIX, oferecia um aspecto de largo de
feira com o cruzeiro do Senhor da Consolação e capela. Este em 1869, juntamente
com o do Largo do Padrão, foi levado para o cemitério do Bonfim.
Aí se realizava,
desde 1720, a concorrida feira anual de S. Lázaro, desde o Domingo de Lázaro
até ao Domingo de Ramos.
Em 1876, dada a
exiguidade do espaço foi a feira transferida para o Largo de Mijavelhas, hoje
Campo 24 de Agosto, e que aí se conservou até 1896. Desde o ano de 1808 a 1833
juntou-se-lhe a feira de gado suíno que se realizava todas as terças e sábados.
Em 1783 os frades Capuchos fundaram, no lado nascente, o Convento de Santo
António da Cidade. Em pleno período do cerco, instalou-se lá o Museu Portuense,
que em 1911 se veio a chamar Museu Soares dos Reis, que está, desde 1942, no Palácio
dos Carrancas. Em 11 de Abril de 1842 foi lá inaugurada a Real Biblioteca
Pública do Porto. Por ordem de D. Pedro IV foi o campo transformado em jardim,
desenhado por João José Gomes e aberto ao público em 1834.”
In O Tripeiro Série VI, Ano V
“No dia 20 de agosto
de 1718, faleceu, "da vida presente", o padre Manoel de Passos
Castro, que morava em Fradelos, na Quinta das Hortas, e que desempenhava o alto
cargo de tesoureiro-mor da Colegiada de Cedofeita. Foi sepultado na igreja dos
religiosos de Nossa Senhora do Carmo, os Carmelitas.
Deixou indicações aos
seus testamenteiros para que depois de satisfeitos todos os seus legados, o remanescente,
aquilo que sobrasse, fosse aplicado "em obras pias e de
caridade".
Quatro anos depois
(1722), estava concluída a distribuição dos bens do testador, faltando apenas
fazer a aplicação do remanescente da herança. Um dos testamenteiros foi
Dionísio Botelho Pereira d'Almeida, chantre daquela colegiada, que teve uma
ideia; a de que "a obra para Deus mais grata, mais útil para o próximo,
mais necessária à cidade e mais proveitosa para a alma do testador"
seria a fundação de um recolhimento para órfãs. E assim nasceu o Recolhimento
de Órfãs de Nossa Senhora da Esperança”.
Com a devida vénia a Germano Silva
Na sequência do texto anterior, se vê como nasceu, neste local, o Recolhimento de Órfãs de Nossa Senhora da
Esperança ou Colégio das Órfãs, como também é conhecido, que começou a ser
construído em 1724, no sítio da antiga gafaria.
Para os lázaros, a Santa Casa da Misericórdia mandou construir um vasto
edifício em terrenos do antigo hospital, mas com frente para a Rua das
Fontainhas.
Ostentou o local de S. Lázaro, em tempos, o topónimo de Arrabalde,
existindo ainda hoje o Beco do Arrabalde. A Avenida Rodrigues de
Freitas que vai ter ao jardim era o Reimão e em frente ao colégio
foi a Rua de S. Lázaro.
O topónimo S. Lázaro advém da antiga gafaria medieval aí
instalada, desde o início do século XVI, para aqui vinda do local em que hoje
está a igreja de S. Nicolau e que acabaria por ser demolida no século XVIII. Os lázaros eram os que tinham a terrível
doença da lepra.
No século XVII ainda
o local estava praticamente despovoado, mas, já era denominado por Campo de
S. Lázaro (antes Largo do Arrabalde), nome que tirara da capela que funcionava
junto da leprosaria (gafaria) e que era da invocação daquele padroeiro,
protector contra a terrível doença da lepra.
No Domingo da
Paixão, realizava-se na capela da gafaria uma celebração em honra deste santo,
pois existia naquela capela, uma imagem sua, toda em prata. Esta imagem passou,
em 1662, para a Sé. Aquela capela era redonda e o tecto era coberto com
madeira, ao estilo de muitas capelas rurais.
Quando se construiu
a capela do “Recolhimento” ou capela do “Colégio das Órfãs”, começada em 1746 e
concluída em 1763, a referida imagem foi trazida para aqui.
A Feira de São
Lázaro começou a realizar-se a partir de 1720, entre o Domingo de Lázaro até ao Domingo de Ramos e, após 1876,
foi para o Campo 24 de Agosto, seguindo, na entrada do século XX, para a Praça
da Alegria e Fontainhas, onde ainda se realizava na primeira metade do séc. XX.
Nos dias de hoje, a
feira e as festividades associadas continuam, todos os anos, a realizar-se no
Jardim de S. Lázaro, sendo das poucas romarias que ainda têm lugar dentro da
cidade.
“Ontem, 10 de Abril, foi o primeiro dia da
Feira de S. Lázaro.
As barracas estiveram abertas até às 11 da
noite e iluminadas a gás”.
In o “Comércio do
Porto”, de 11 de Abril de 1859 – 2ª Feira
“Começa hoje a feira de S. Lázaro, em volta
do jardim deste nome, estando já concluídas todas as barracas. Ali há de tudo.
Bonecas para meninas, armas, espadas, tambores para rapazes, assobios para
janotas, etc. Há também o clássico peixe frito e os saborosos doces de
Paranhos.
In “O Primeiro de
Janeiro”, de 2 de Abril de 1870 - Sábado
Em 1876, já a Feira
de S. Lázaro estava no Campo 24 de Agosto, como reza a noticia abaixo.
“Foi ante-ontem o primeiro dia da festa que,
este ano, principiou a fazer-se no Campo 24 de Agosto.
As barracas de quinquilharias acham-se
situadas do lado da rua do Bonfim e as dos comestíveis ao longo do Campo.
A parte espectaculosa da feira está este ano
limitada a duas barracas, uma de bilhar chinês e a outra de vistas de
cosmorama”.
In “O Comércio do
Porto”, de 4 de Abril de 1876 – 3ª Feira
“Feira de S. Lázaro: começou no domingo a
festividade de S. Lázaro no Palácio de Cristal e Campo 24 de Agosto, muito
concorrida apesar do mau tempo. No campo 24 de Agosto existem 2 restaurantes, 7
tabernas, uma exposição de figuras de cera e 1 hipódromo mecânico”.
In “Jornal da
Manhã”, 16 Março 1880 – 3ª Feira
Em 1896, a Feira de
S. Lázaro vai para a Praça da Alegria, conforme a notícia seguinte.
“Abre, no próximo Sábado, 21 de Março, às 5
horas da tarde, a feira de S. Lázaro que, como é sabido, fica a funcionar na
Praça da Alegria.
Uma comissão de moradores daquele local
promove diversos festejos, que constarão de fogo, embandeiramento e música.
A construção das barracas acha-se bastante
adiantada.
Até ontem ficaram marcados os seguintes
lugares: 4 para doces, 15 para quinquilharias; 1 para ourivesaria; 19 para
comes e bebes e outros tantos para teatros e diversos divertimentos.”
In jornal “A
Palavra”, de 18 de Março de 1896 – 4ª Feira
Da Feira de S.
Lázaro, no ano de 1899, nos dá conta a notícia seguinte.
“Teatro Dallot na Feira de S. Lázaro: a
companhia não é como costumam ser as companhias de feiras, mas sim bem
organizada e bastante numerosa. Arroja-se a pôr em cena peças de alguma
responsabilidade e saem-se bem do desempenho. Francamente, ao entrar-se neste
teatro barracão não se prevê a agradável impressão que se vai receber”.
In jornal “A
Democracia Comercial”, de 8 Abril 1899 - Sábado
Em 1902 e 1903, a
Feira de S. Lázaro voltaria ao Campo 24 de Agosto e, em 1904, vai para a
Alameda das Fontainhas de acordo com as notícias abaixo.
“Uma comissão de feirantes de S. Lázaro
realiza hoje, no Campo 24 de Agosto, diversas festividades.
Pelas 4 horas da tarde será lançado um balão
enorme, belamente embandeirado, que deixará cair do alto um prémio em
dinheiro.”
In “O Primeiro de
Janeiro, de 25 de Abril de 1903 – Sábado
“A feira de S. Lázaro, no Passeio das
Fontainhas, teve, como sempre, concorrência desmedida.”
In “O Primeiro de
Janeiro”, de 22 de Março de 1904 – 3ª Feira
O hospital (gafaria) começou por ser administrado pela
Câmara Municipal, mas a partir de 1721 passou para a alçada administrativa da
Santa Casa da Misericórdia do Porto.
Mais abaixo do hospital ficava a Fonte da Rua das
Fontainhas.
A generalidade das pessoas chamava antes ao local, Terreiro
ou Campo.
No dia de S. Lázaro aqui se realizavam, então, desde 14 de
Agosto de 1720, a Feira de Lázaros em que os seus abarracamentos mais
emblemáticos eram os das fazendas, quinquilharias, de comes e bebes, de
diversões, mas, sobretudo, os de ourivesaria.
Em 1876 o Terreiro de S. Lázaro era pequeno de mais para o
movimento que a feira tinha e a Câmara mudou-a para o amplo espaço de
Mijavelhas.
Também por aqui, a partir de 1808, passou a realizar-se no Terreiro
às terças-feiras e sábados a feira dos porcos que seria transferida em
14 de Fevereiro de 1833 para a vizinha Praça da Alegria.
Na parte Norte deste largo, onde agora está o Passeio de S. Lázaro,
funcionavam, desde do século XVII, pequenas oficinas de oleiros que fabricavam
louça de barro preto, muito usada pelas classes mais pobres. Uma dessas oficinas,
a mais antiga, supõe-se, vinha do ano de 1673.
A Praça de S. Lázaro na Planta Redonda (1813)
“Aí pelo século XIV,
uma antiquíssima gafaria (hospital de leprosos) que funcionava na Ribeira, foi
transferida, "do lugar onde está a ermida de São Nicolau", para um
sítio, "além da porta de Cima de Vila, não longe de Mijavelhas".
Esse sítio ficava na
parte sul do atual jardim, onde agora está o Recolhimento de Nossa Senhora da
Esperança ou das Órfãs.
A primitiva gafaria seria, assim, substituída em 1521, por uma outra
com melhores acomodações.
(Em 29 de Janeiro de
1559 um documento com esta data refere umas relíquias que a rainha da Boémia
terá feito a Joana Serrão e ao seu marido, João Domingues, cavaleiro dos
infantes de Castela, para a capela que eles estavam a edificar junto da nova
gafaria).
O beneditino Pereira
de Novais, historiador do Porto do século XVII, deu acerca desta nova
leprosaria a seguinte opinião: "É uma linda construção com uma boa igreja
e grande cerca e horta".
(…) No século XVII
ainda o local estava praticamente despovoado, mas já era denominado por campo
de São Lázaro, nome que tirara da capela que funcionava junto da leprosaria e
que era da invocação daquele padroeiro, protetor contra a terrível doença da
lepra. Este hospital começou por ser administrado pela Câmara Municipal, mas a
partir de 1721 passou para a alçada administrativa da Santa Casa da Misericórdia
do Porto…
Em 1718, morre em
Cedofeita o cónego Manuel de Passos Castro, tesoureiro-mor da Colegiada. Deixa
os seus bens à Santa Casa da Misericórdia, incumbindo-a de, com o produto do
seu legado, mandar construir um recolhimento para meninas órfãs e pobres de
boas famílias.
Inicialmente
projectado para a Cordoaria, nasce o Colégio das Órfãs, como também é
conhecido, que começou a ser construído em 1724 no sítio da antiga gafaria, mas
em S. Lázaro. Para os Lázaros, a Santa Casa da Misericórdia mandou construir um
vasto edifício em terrenos do antigo hospital, mas com frente para a Rua das
Fontainhas.
No ano de 1757, a
Câmara mandou plantar choupos e negrilhos no terreiro de São Lázaro com a
intenção expressa de criar melhores condições para a feira anual que ali se
realizava sob o patrocínio do santo protetor. O mercado começava no domingo de
Lázaro e acabava no domingo de Ramos. Esta feira foi mudada, em 1876, de São
Lázaro para o Campo 24 de Agosto."
Com a devida vénia a Germano Silva
Sobre este local da cidade, tem interesse do ponto de vista toponímico e não só, atentar no texto seguinte:
A seguir se representa alguns dos cruzeiros da via-sacra que se dirigia
para o Monte de Godim.
O cruzeiro de S.
Lázaro do Senhor da Consolação, actualmente no cemitério do Bonfim
7º Cruzeiro
8º Cruzeiro
O Jardim de S.
Lázaro foi erigido para homenagear as mulheres do Porto por parte de D. Pedro
IV. Em 1833, foi decidido avançar com a sua construção e, em 1834, no
aniversário de D. Maria II, foi inaugurado ainda que, por concluir. Foi o
primeiro jardim público da cidade.
Jornal "Chronica Constitucional da Cidade do Porto" de 7 de Abril de 1834
O seu traçado é obra
de João Baptista Ribeiro (1790–1868), pintor, desenhador, gravador e lente de
Desenho, que ficaria conhecido por ter sido director da Academia de Belas Artes
e da Academia Politécnica, e um dos fundadores do Museu Portuense.
“…Neste jardim era
proibido que nele entrassem, mendigos, homens com carretos às costas, crianças
quando não acompanhadas ou com trajes menos decentes,…”
Eram estas as normas deste local gradeado, que fechava as
suas 4 portas, colocadas em cada canto, após o pôr–do–sol e tinha um guarda em
permanência.
As portas que davam acesso à actual Rua de Rodrigues de
Freitas eram, e ainda são, servidas por escadaria, para vencer o desnível do
terreno.
O regulamento citado foi deliberação da Câmara em 1838.
Jardim de S. Lázaro, c. 1910
“Todos sabem, e era
matéria afluente nas conversações acerca de diversos recreios, quando se
tratava de falar em aformoseamento desta cidade, que o único passeio público
que podia merecer esse nome, era a alameda e paredão das Fontainhas; passeio que
infelizmente, havendo sido uma das belas projeções de Francisco de Almada, peca
no defeito capital da proximidade do matadouro geral, que torna o local
incómodo, se não mesmo insadio, tanto pelo cheiro, e imundice, quanto pela
asquerosa concorrência dos que traficam nesse modo de vida ainda tão fora de
polícia e limpeza corporal em seu manejo; pois que se em algum ramo se conhece
o atraso de melhoramentos municipais em comparação com Inglaterra, França,
Bélgica e Holanda, que tantos emigrados observaram, é decerto nesta parte de
similhantes trabalhos no uso dos misteres necessários ao uso da vida!
(…) Nesta falta de um
passeio público digno da segunda capital do reino, enquanto se não leva a
efeito o tão apregoado sistema da remoção do matadouro para o Monte Pedral, e
dos pelames para diverso local acomodado, era forçoso lançar mão de outro sítio
onde se pudesse formar um passeio que no entanto substituísse aquela
insuficiência, cuja duração não se sabe aonde poderá ter seu limite.
(…) Tentou pois uma
autoridade superior desta cidade, o fazer edificar um jardim em frente da
livraria pública, criada por decreto do imortal duque regente, de saudosíssima
memória, assim como da Galaria de Pinturas que se fundou com a denominação de
Ateneu D. Pedro.
(…) Deu-se pois
princípio a esta obra, debaixo da direção do Sr. J. B. Ribeiro, que teve a
satisfação de ver no espaço de 3 meses correr água para o espaçoso tanque que
se edificou no meio da praça, de que um quarto de configuração se ultimou logo,
e de que até hoje, que pouco mais ou menos se contam 7 meses de trabalho, quasi
metade está completo, incluindo-se a magnifica escadaria que deve servir de
entrada principal do lado da Rua de Entreparedes.
A satisfação que toda
a cidade mostrou no andamento desta obra tão popular, manifestou-se desde o
princípio na continuada concorrência de todas as famílias do Porto, e de seus
habitantes em geral, que todas as tardes, e principalmente nos dias festivos
enchem o recinto deste sítio tão aprazível e agradável”.
In “Chronica Constitucional
da Cidade do Porto”, de 14 de Outubro de 1834; Fonte: Nuno Cruz admin. do
blogue “aportanobre.blogspot.pt”
Planta do Campo de S. Lázaro e imediações em 1798 – Fonte:
Nuno Cruz
Legenda:
A. Largo de S. Lázaro
B. Matadouro
D. Saída da actual Ponte do Infante
“Camilo Castelo Branco
viveu próximo desta zona e foi neste jardim que recebeu das mãos de D. Pedro II
do Brasil a Comenda da Ordem da Rosa. É um espaço de fisionomia romântica
pejado de fontes e estátuas, frondosas árvores e canteiros, além de um pequeno
coreto. Destaque especial para o antigo lavatório da sacristia do extinto
Convento de São Domingos, em mármore.
O jardim é o único da
cidade que ainda está envolvido por um gradeamento. Próximo da Biblioteca
Municipal do Porto e da Faculdade de Belas Artes, é muito frequentado por
estudantes e reformados”.
Fonte: mapas.infoportugal.pt
Do Largo de S.
Lázaro partiria a Rua da Murta (Rua do Mede Vinagre), que faria a ligação ao
Poço das Patas, pelo que, em 1858, seria decidida a demolição da capela do
antigo convento dos Capuchos.
Daqui, tinha sido
decidido desde da segunda década do século XIX, de acordo com o plano de José
Francisco de Paiva, fazer uma ligação (em novo alinhamento), à capela de S.
Vítor e ao Seminário Maior, sita na Quinta do Prado, o que só viria a
acontecer, apenas, no fim daquele século.
Mais célere correu a
abertura da Rua de D. João IV, que começou por ser Rua da Duquesa de Bragança,
embora, a empreitada tenha sido executada de Norte para Sul, com início no Largo
do Moreira, por dificuldades em executar algumas expropriações e, em 1870,
estava ainda por terminar.
Por sua vez, o jardim, ao longo dos anos, seria várias vezes intervencionado.
Rua de S. Lázaro, no dealbar do século XX
Em 1869, o Jardim de S. Lázaro vai sofrer uma intervenção do
arquitecto paisagista Émile David e ser dotado com um coreto.
Como se observa na planta anterior de 1892, mais tarde, o
coreto da responsabilidade da Fábrica de Fundição de Massarelos, inaugurado
oficialmente em 1873 e funcionando, provisoriamente, desde 1869, (realce na notícia seguinte), seria substituído por um outro.
In jornal "O Comércio do Porto" de 28 de Maio de 1873
Antes, em Abril de 1904, o jardim seria alvo, mais uma vez,
de uma intervenção.
Assim, em meados do mês de Abril de 1904, em comunicado
municipal, determinava a Câmara do Porto, atendendo à ameaça de ruína do
parapeito do jardim, abalado pelo arvoredo que lhe era próximo, que o mesmo fosse reparado:
“O jardim será
alinhado pelo edifício da biblioteca…”
In revista “O Tripeiro”, Vª Série, Ano IX
Acima uma pintura de Nadir Afonso sobre um concerto em volta
do coreto do Jardim de S. Lázaro, divertimento que ainda acontecia nos anos 30
do século XX.
Em 1911, o coreto primitivo haveria de ser substituído por
um outro, da responsabilidade da Fundição do Bolhão, colocado no eixo mediano
do jardim.
Desenho de projecto para instalação de novo coreto
Para a execução do projecto para instalação do novo coreto foi orçamentada uma verba de novecentos e dezoito mil quatrocentos e sessenta réis.
Na sequência dos arranjos no interior do jardim, a área exterior envolvente também viria a ser intervencionada e, em 1920, a Avenida Rodrigues de Freitas (substituiu, entre a Rua de Entreparedes e o jardim, a Rua de S. Lázaro e, daí, até ao Prado do Repouso, a Rua do Reimão) seria alargada, pelo que se procedeu a novo alinhamento do muro do jardim, a sul.
“Até aos anos 60 do
século XIX, supõe-se não existirem bancos no jardim de S. Lázaro e a existirem,
como alguns textos parecem referir, não se conhece o seu desenho. Acresce que
durante os concertos no coreto eram alugadas cadeiras pelo Asilo de
Mendicidade”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”
Camilo Castelo Branco frequentador do Jardim de S. Lázaro descreve
o ambiente num dia de música no coreto.
“Se o leitor está no
Porto, e vai apaixonado ao Jardim de S. Lazaro, e conhece a família da menina
casadoura, por quem anda em brasa, faz a sua primeira cortezia, e foge de
encontral- a segunda vez, porque repetir a cortezia é, além de provincianismo
puro minhoto, cousa que cheira a inconveniência, e pôde ser até escândalo.
Resta lhe o expediente commum, e salva assim a honra das familias : é
amoutar-se como fauno por entre as murtas e bosques de acácias, lobrigando
aqui, e além, a caça estranha. No Jardim de S. Lazaro os dous sexos dão ao
passeio o que as sovinas municipalidades não teem querido dar-lhe ; isto é, uma
luxuosa superabundância de estatuas, as quaes, tirante a alma, nem sempre se
avantajam ás do mármore nacional. Sentam-se as meninas, mui bem compostas e
ageitadas de mãos e cabeça, e alli se estão deleitando na vista do repuxo, em
quanto o papá rufa com trez dedos na tampa da caixa do tabaco o compasso da
modinha conhecida de Verdi ou Donizetti, que as trombetas bastardas estão
executando. . . executando, sim, é a palavra”.
In, “doportoenaoso.blogspot.pt”
Alberto Pimentel descreve os Domingos em S. Lázaro quando o
jardim já era frequentado por uma outra classe social.
“A única distracção
que podia, n'esse tempo, animar os domingos, depois da missa da uma hora na
Trindade, era o jardim de S. Lazaro, pequeno, fechado por grades de ferro e
ladeado por edificios, que lhe tolhiam a vista. Tocava ahi uma banda
regimental, que attraía a concorrência. Às três horas acabava a música no
jardim de S. Lazaro. As familias gradas retiravam-se para as suas casas, indo
jantar um pouco mais tarde do que o costume. Depois d'essa hora era alli que as
criadas de servir ouviam as declarações amorosas dos Martes da guarda
municipal, até que, descendo a noute, as criadas recolhiam apressadamente para
ir lavar a louça do jantar, que, por concessão obsequiosa dos patrões, tinha
ficado encastellada na cozinha”.
In, “doportoenaoso.blogspot.pt”
Este jardim deixou
de ser frequentado pela gente grada da cidade quando, em 1865, se abriram os
novos jardins do Palácio de Cristal. Passou a ser frequentado por soldados,
sopeiras, empregados de comércio etc, como nos é narrado no texto anterior.
Na parte oriental do campo de S. Lázaro começou a ser
construído, em 1783, o convento dos frades Capuchos de Santo António da Cidade.
Depois da extinção das ordens religiosas, em 1834, pretendeu-se aproveitar o
edifício do convento para nele se instalar o Hospital Militar, por ser um sítio
alto, varrido pelos ventos, bom para a saúde. Por causa destas condições
naturais do terreno, já antes se havia pensado em fazer nestes sítios o
Hospital de Santo António. As instalações dos frades capuchos acabaram por ser
aproveitadas para nelas se instalar a Biblioteca Pública Municipal. Nos
primeiros tempos, além da biblioteca, também estiveram no mesmo edifício o
Museu Municipal e a Academia de Belas Artes.
Convento dos frades Capuchos
S. Lázaro, Academia de Bellas Artes e Bibliotheca Publica – Ed.
Emílio Biel 1891 (fototipia 16x21,8cm do Museu Nacional de Soares dos Reis)
Jardim de S. Lázaro ao fundo à esquerda
A foto acima é de 1908 aquando da visita de D. Manuel II.
Fonte no Jardim de S. Lázaro vinda do convento de S. Domingos
Oficialmente, a Câmara deu ao jardim de S. Lázaro o nome de Marques de Oliveira, pintor notável que,
apesar de ostentar desde 1929, o busto do artista modelado pelo génio de Soares
dos Reis, popularmente, continua a ser o jardim de S. Lázaro.
Busto de Marques de Oliveira, pintor e professor - Ed. MAC
O busto na foto acima é da autoria de Soares dos Reis.
Busto de Silva Porto no Jardim de S. Lázaro, de Salvador Barata
Feyo - Ed. MAC
Na década de 1910, ocorre a substituição do coreto primitivo, em 1911, conforme
atrás foi narrado. O jardim terá um novo traçado dos seus canteiros e, em sequência,
o muro a sul virá a ser recuado, poucos anos mais tarde, de acordo com a planta
cadastral aprovada em 26 de Dezembro de 1919, correspondente ao projecto
de prolongamento da Rua Duque de Loulé e alargamento da Avenida Rodrigues de
Freitas, aprovados em 1911-02-23 e 1919-11-22.
Na década de 1930, o Jardim de S. Lázaro sofre uma nova
intervenção pela mão de Januário Godinho.
Entrada do jardim pela Praça dos Poveiros
Na foto acima, c. 1950, a árvore, em 1º plano, já não existe.
Tanque central com repuxo
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