segunda-feira, 12 de junho de 2017

(Continuação 4) - Actualização em 07/05/2019 e 20/05/2020

18.6 Jardim de S. Lázaro  ou Jardim Marques de Oliveira

“O Campo de S. Lázaro, até ao terceiro decénio do séc. XIX, oferecia um aspecto de largo de feira com o cruzeiro do Senhor da Consolação e capela. Este em 1869, juntamente com o do Largo do Padrão, foi levado para o cemitério do Bonfim. 
Aí se realizava, desde 1720, a concorrida feira anual de S. Lázaro, desde o Domingo de Lázaro até ao Domingo de Ramos.
Em 1876, dada a exiguidade do espaço foi a feira transferida para o Largo de Mijavelhas, hoje Campo 24 de Agosto, e que aí se conservou até 1896. Desde o ano de 1808 a 1833 juntou-se-lhe a feira de gado suíno que se realizava todas as terças e sábados. Em 1783 os frades Capuchos fundaram, no lado nascente, o Convento de Santo António da Cidade. Em pleno período do cerco, instalou-se lá o Museu Portuense, que em 1911 se veio a chamar Museu Soares dos Reis, que está, desde 1942, no Palácio dos Carrancas. Em 11 de Abril de 1842 foi lá inaugurada a Real Biblioteca Pública do Porto. Por ordem de D. Pedro IV foi o campo transformado em jardim, desenhado por João José Gomes e aberto ao público em 1834.” 
In O Tripeiro Série VI, Ano V


“No dia 20 de agosto de 1718, faleceu, "da vida presente", o padre Manoel de Passos Castro, que morava em Fradelos, na Quinta das Hortas, e que desempenhava o alto car­go de tesoureiro-mor da Colegiada de Cedofeita. Foi sepultado na igreja dos religiosos de Nossa Senhora do Carmo, os Carmelitas.
Deixou indicações aos seus testamenteiros para que depois de satisfeitos todos os seus legados, o re­manescente, aquilo que sobrasse, fosse aplicado "em obras pias e de caridade". 
Quatro anos depois (1722), estava concluída a distribuição dos bens do testador, faltando apenas fazer a apli­cação do remanescente da herança. Um dos testamenteiros foi Dionísio Botelho Pereira d'Almeida, chantre daquela co­legiada, que teve uma ideia; a de que "a obra para Deus mais grata, mais útil para o próximo, mais necessária à cida­de e mais proveitosa para a alma do tes­tador" seria a fundação de um recolhi­mento para órfãs. E assim nasceu o Re­colhimento de Órfãs de Nossa Senhora da Esperança”. 
Com a devida vénia a Germano Silva


Na sequência do texto anterior se vê como nas­ceu, neste local o Re­colhimento de Órfãs de Nossa Senhora da Esperança ou Colégio das Órfãs, como também é conhecido, que começou a ser construído em 1724 no sítio da antiga gafaria.
Para os lázaros, a Santa Casa da Misericórdia mandou construir um vasto edifício em terrenos do antigo hospital, mas com fren­te para a Rua das Fontainhas. 
Ostentou o local de S. Lázaro, em tempos, o topónimo de Arrabalde, existindo ainda hoje o Beco do Arrabalde. A Avenida Rodrigues de Freitas que vai ter ao jardim era o Reimão e em frente ao colégio foi a Rua de S. Lázaro.
O topónimo S. Lázaro advém da antiga gafaria medieval aí instalada, desde o início do século XVI, para aqui vinda do local em que hoje está a igreja de S. Nicolau e que acabaria por ser demolida no século XVIII. Os lázaros eram os que tinham a terrível doença da lepra. 
No século XVII ainda o local estava pra­ticamente despovoado, mas, já era deno­minado por Campo de S. Lázaro (antes Largo do Arrabalde), nome que tirara da capela que funcionava junto da leprosaria (gafaria) e que era da invocação da­quele padroeiro, protector contra a terrível doença da lepra.
No Domingo da Paixão, realizava-se na capela da gafaria uma celebração em honra deste santo, pois existia naquela capela, uma imagem sua, toda em prata. Esta imagem passou, em 1662, para a Sé. Aquela capela era redonda e o tecto era coberto com madeira, ao estilo de muitas capelas rurais.
Quando se construiu a capela do “Recolhimento” ou capela do “Colégio das Órfãs”, começada em 1746 e concluída em 1763, a referida imagem foi trazida para aqui.
A Feira de São Lázaro começou a realizar-se a partir de 1720, entre o Domingo de Lázaro até ao Domingo de Ramos e, após 1876, foi para o Campo 24 de Agosto, seguindo, na entrada do século XX, para a Praça da Alegria e Fontainhas, onde ainda se realizava na primeira metade do séc. XX.
Nos dias de hoje, a feira e as festividades associadas continuam, todos os anos, a realizar-se no Jardim de S. Lázaro, sendo das poucas romarias que ainda têm lugar dentro da cidade.


“Ontem, 10 de Abril, foi o primeiro dia da Feira de S. Lázaro.
As barracas estiveram abertas até às 11 da noite e iluminadas a gás”.
In o “Comércio do Porto”, de 11 de Abril de 1859 – 2ª Feira

“Começa hoje a feira de S. Lázaro, em volta do jardim deste nome, estando já concluídas todas as barracas. Ali há de tudo. Bonecas para meninas, armas, espadas, tambores para rapazes, assobios para janotas, etc. Há também o clássico peixe frito e os saborosos doces de Paranhos.
In “O Primeiro de Janeiro”, de 2 de Abril de 1870 - Sábado

Em 1876, já a Feira de S. Lázaro estava no Campo 24 de Agosto, como reza a noticia abaixo.

“Foi ante-ontem o primeiro dia da festa que, este ano, principiou a fazer-se no Campo 24 de Agosto.
As barracas de quinquilharias acham-se situadas do lado da rua do Bonfim e as dos comestíveis ao longo do Campo.
A parte espectaculosa da feira está este ano limitada a duas barracas, uma de bilhar chinês e a outra de vistas de cosmorama”.
In “O Comércio do Porto”, de 4 de Abril de 1876 – 3ª Feira


“Feira de S. Lázaro: começou no domingo a festividade de S. Lázaro no Palácio de Cristal e Campo 24 de Agosto, muito concorrida apesar do mau tempo. No campo 24 de Agosto existem 2 restaurantes, 7 tabernas, uma exposição de figuras de cera e 1 hipódromo mecânico”.
In “Jornal da Manhã”, 16 Março 1880 – 3ª Feira




Em 1896, a Feira de S. Lázaro vai para a Praça da Alegria, conforme a notícia seguinte.


“Abre, no próximo Sábado, 21 de Março, às 5 horas da tarde, a feira de S. Lázaro que, como é sabido, fica a funcionar na Praça da Alegria.
Uma comissão de moradores daquele local promove diversos festejos, que constarão de fogo, embandeiramento e música.
A construção das barracas acha-se bastante adiantada.
Até ontem ficaram marcados os seguintes lugares: 4 para doces, 15 para quinquilharias; 1 para ourivesaria; 19 para comes e bebes e outros tantos para teatros e diversos divertimentos.”
In jornal “A Palavra”, de 18 de Março de 1896 – 4ª Feira


Da Feira de S. Lázaro, no ano de 1899, nos dá conta a notícia seguinte.


“Teatro Dallot na Feira de S. Lázaro: a companhia não é como costumam ser as companhias de feiras, mas sim bem organizada e bastante numerosa. Arroja-se a pôr em cena peças de alguma responsabilidade e saem-se bem do desempenho. Francamente, ao entrar-se neste teatro barracão não se prevê a agradável impressão que se vai receber”.
In jornal “A Democracia Comercial”, de 8 Abril 1899 - Sábado


Em 1902 e 1903, a Feira de S. Lázaro voltaria ao Campo 24 de Agosto e, em 1904, vai para a Alameda das Fontainhas de acordo com as notícias abaixo.

“Uma comissão de feirantes de S. Lázaro realiza hoje, no Campo 24 de Agosto, diversas festividades.
Pelas 4 horas da tarde será lançado um balão enorme, belamente embandeirado, que deixará cair do alto um prémio em dinheiro.”
In “O Primeiro de Janeiro, de 25 de Abril de 1903 – Sábado

“A feira de S. Lázaro, no Passeio das Fontainhas, teve, como sempre, concorrência desmedida.”
In “O Primeiro de Janeiro”, de 22 de Março de 1904 – 3ª Feira



O hospital (gafaria) começou por ser administrado pela Câmara Muni­cipal, mas a partir de 1721 passou para a al­çada administrativa da Santa Casa da Mi­sericórdia do Porto. 
Mais abaixo do hospital ficava a Fonte da Rua das Fontainhas.
A generalidade das pessoas chamava antes ao local, Terreiro ou Campo.
No dia de S. Lázaro aqui se realizavam, então, desde 14 de Agosto de 1720, a Feira de Lázaros em que os seus abarracamentos mais emblemáticos eram os das fazendas, quinquilharias, de comes e bebes, de diversões, mas, sobretudo, os de ourivesaria.
Em 1876 o Terreiro de S. Lázaro era pequeno de mais para o movimento que a feira tinha e a Câmara mudou-a para o amplo espaço de Mijavelhas.
Também por aqui, a partir de 1808, passou a realizar-se no Terreiro às terças-feiras e sábados a feira dos porcos que seria transferida em 14 de Fevereiro de 1833 para a vizinha Praça da Alegria.
Na parte Norte deste largo, onde agora está o Passeio de S. Lázaro, funcionavam, desde do século XVII, pequenas oficinas de oleiros que fabrica­vam louça de barro preto, muito usada pelas classes mais pobres. Uma dessas ofici­nas, a mais antiga, supõe-se, vinha do ano de 1673. 




A Praça de S. Lázaro na Planta Redonda (1813)


“Aí pelo século XIV, uma antiquíssima gafaria (hospital de leprosos) que funcio­nava na Ribeira, foi transferida, "do lugar onde está a ermida de São Nicolau", para um sítio, "além da porta de Cima de Vila, não longe de Mijavelhas".
Esse sítio fica­va na parte sul do atual jardim, onde ago­ra está o Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança ou das Órfãs.
A primitiva ga­faria seria, assim, substituída em 1521, por uma outra com melhores acomodações.
(Em 29 de Janeiro de 1559 um documento com esta data refere umas relíquias que a rainha da Boémia terá feito a Joana Serrão e ao seu marido, João Domingues, cavaleiro dos infantes de Castela, para a capela que eles estavam a edificar junto da nova gafaria).
O be­neditino Pereira de Novais, historiador do Porto do século XVII, deu acerca desta nova leprosaria a seguinte opinião: "É uma linda construção com uma boa igre­ja e grande cerca e horta". 
(…) No século XVII ainda o local estava pra­ticamente despovoado, mas já era deno­minado por campo de São Lázaro, nome que tirara da capela que funcionava junto da leprosaria e que era da invocação da­quele padroeiro, protetor contra a terrível doença da lepra. Este hospital começou por ser administrado pela Câmara Muni­cipal, mas a partir de 1721 passou para a al­çada administrativa da Santa Casa da Mi­sericórdia do Porto…
Em 1718, morre em Cedofeita o cónego Manuel de Passos Castro, tesoureiro-mor da Colegiada. Deixa os seus bens à Santa Casa da Misericórdia, incumbindo-a de, com o produto do seu legado, mandar construir um recolhimento para meninas órfãs e pobres de boas famílias.
Inicialmente projectado para a Cordoaria, nasce o Colégio das Órfãs, como também é conhecido, que começou a ser construído em 1724 no sítio da antiga gafaria, mas em S. Lázaro. Para os Lázaros, a Santa Casa da Misericórdia mandou construir um vasto edifício em terrenos do antigo hospital, mas com fren­te para a Rua das Fontainhas. 
No ano de 1757, a Câmara mandou plan­tar choupos e negrilhos no terreiro de São Lázaro com a intenção expressa de criar melhores condições para a feira anual que ali se realizava sob o patrocínio do santo protetor. O mercado começava no domin­go de Lázaro e acabava no domingo de Ra­mos. Esta feira foi mudada, em 1876, de São Lázaro para o Campo 24 de Agosto. 
É por altura daquela mudança que se faz o alargamento da antiga Rua de São Láza­ro, junto ao jardim e em frente ao Colégio de Nossa Senhora da Esperança, e a sua in­clusão na Avenida de Rodrigues de Frei­tas.”
Com a devida vénia a Germano Silva

Sobre este local da cidade, tem interesse do ponto de vista toponímico e não só, atentar no texto seguinte:




A seguir se representa alguns dos cruzeiros da via-sacra que se dirigia para o Monte de Godim.

O cruzeiro de S. Lázaro do Senhor da Consolação, actualmente no cemitério do Bonfim


7º Cruzeiro

8º Cruzeiro



O Jardim de S. Lázaro foi erigido para homenagear as mulheres do Porto por parte de D. Pedro IV. Em 1833, foi decidido avançar com a sua construção e, em 1834, no aniversário de D. Maria II, foi inaugurado ainda que, por concluir. Foi o primeiro jardim público da cidade.
O seu traçado é obra de João Baptista Ribeiro (1790–1868), pintor, desenhador, gravador e lente de Desenho, que ficaria conhecido por ter sido director da Academia de Belas Artes e da Academia Politécnica, e um dos fundadores do Museu Portuense. 




“…Neste jardim era proibido que nele entrassem, mendigos, homens com carretos às costas, crianças quando não acompanhadas ou com trajes menos decentes,…”
Eram estas as normas deste local gradeado, que fechava as suas 4 portas, colocadas em cada canto, após o pôr–do–sol e tinha um guarda em permanência.
As portas que davam acesso à actual Rua de Rodrigues de Freitas eram, e ainda são, servidas por escadaria, para vencer o desnível do terreno.
O regulamento citado foi deliberação da Câmara em 1838.




Jardim em 1899



“Todos sabem, e era matéria afluente nas conversações acerca de diversos recreios, quando se tratava de falar em aformoseamento desta cidade, que o único passeio público que podia merecer esse nome, era a alameda e paredão das Fontainhas; passeio que infelizmente, havendo sido uma das belas projeções de Francisco de Almada, peca no defeito capital da proximidade do matadouro geral, que torna o local incómodo, se não mesmo insadio, tanto pelo cheiro, e imundice, quanto pela asquerosa concorrência dos que traficam nesse modo de vida ainda tão fora de polícia e limpeza corporal em seu manejo; pois que se em algum ramo se conhece o atraso de melhoramentos municipais em comparação com Inglaterra, França, Bélgica e Holanda, que tantos emigrados observaram, é decerto nesta parte de similhantes trabalhos no uso dos misteres necessários ao uso da vida!
(…) Nesta falta de um passeio público digno da segunda capital do reino, enquanto se não leva a efeito o tão apregoado sistema da remoção do matadouro para o Monte Pedral, e dos pelames para diverso local acomodado, era forçoso lançar mão de outro sítio onde se pudesse formar um passeio que no entanto substituísse aquela insuficiência, cuja duração não se sabe aonde poderá ter seu limite.
(…) Tentou pois uma autoridade superior desta cidade, o fazer edificar um jardim em frente da livraria pública, criada por decreto do imortal duque regente, de saudosíssima memória, assim como da Galaria de Pinturas que se fundou com a denominação de Ateneu D. Pedro.
(…) Deu-se pois princípio a esta obra, debaixo da direção do Sr. J. B. Ribeiro, que teve a satisfação de ver no espaço de 3 meses correr água para o espaçoso tanque que se edificou no meio da praça, de que um quarto de configuração se ultimou logo, e de que até hoje, que pouco mais ou menos se contam 7 meses de trabalho, quasi metade está completo, incluindo-se a magnifica escadaria que deve servir de entrada principal do lado da Rua de Entreparedes.
A satisfação que toda a cidade mostrou no andamento desta obra tão popular, manifestou-se desde o princípio na continuada concorrência de todas as famílias do Porto, e de seus habitantes em geral, que todas as tardes, e principalmente nos dias festivos enchem o recinto deste sítio tão aprazível e agradável”.
In “Chronica Constitucional da Cidade do Porto”, de 14 de Outubro de 1834; Fonte: Nuno Cruz admin. do blogue “aportanobre.blogspot.pt”


Um visitante da cidade escreve a propósito do dia 31 de Dezembro de 1843:
 

In “Espaços de Lazer e de Turismo no Noroeste de Portugal”; Luís Saldanha Martins (2004); Ed. Afrontamento, p. 65




Planta do Campo de S. Lázaro e imediações em 1798 – Fonte: Nuno Cruz

Legenda:

A. Largo de S. Lázaro
B. Matadouro
D. Saída da actual Ponte do Infante



“Camilo Castelo Branco viveu próximo desta zona e foi neste jardim que recebeu das mãos de D. Pedro II do Brasil a Comenda da Ordem da Rosa. É um espaço de fisionomia romântica pejado de fontes e estátuas, frondosas árvores e canteiros, além de um pequeno coreto. Destaque especial para o antigo lavatório da sacristia do extinto Convento de São Domingos, em mármore.
O jardim é o único da cidade que ainda está envolvido por um gradeamento. Próximo da Biblioteca Municipal do Porto e da Faculdade de Belas Artes, é muito frequentado por estudantes e reformados”.
Fonte: mapas.infoportugal.pt


Do Largo de S. Lázaro partiria a Rua da Murta (Rua do Mede Vinagre), que faria a ligação ao Poço das Patas, pelo que, em 1858, seria decidida a demolição da capela do antigo convento dos Capuchos.
Daqui, tinha sido decidido desde da segunda década do século XX, de acordo com o plano de José Francisco de Paiva, fazer uma ligação (em novo alinhamento), à capela de S. Vítor e ao Seminário Maior, sita na Quinta do Prado, o que só viria a acontecer, apenas, no fim daquele século.
Mais célere correu a abertura da Rua de D. João IV, que começou por ser Rua da Duquesa de Bragança, embora, a empreitada tenha sido executada de Norte para Sul, com início no Largo do Moreira, por dificuldades em executar algumas expropriações e, em 1870, estava ainda por terminar.
A Avenida Rodrigues de Freitas, junto ao Jardim de S. Lázaro, antes, Rua de S. Lázaro, seria alargada (no último quartel do século XIX), pelo que teve que ser sacrificado parte do jardim.




Rua de S. Lázaro, c. 1900




Rua de S. Lázaro, no início do século XX



Na parte oriental do campo de S. Lázaro começou a ser construído em 1783 o convento dos frades Capuchos de Santo António da Cida­de. Depois da extinção das ordens religiosas, em 1834, pretendeu-se aproveitar o edifício do convento para nele se instalar o Hospital Militar, por ser um sítio alto, varrido pelos ventos, bom para a saúde. Por causa destas condições naturais do terreno, já antes se ha­via pensado em fazer nestes sítios o Hospital de Santo António. As instalações dos frades ca­puchos acabaram por ser aproveitadas para nelas se instalar a Biblioteca Pública Munici­pal. Nos primeiros tem­pos, além da biblioteca, também estiveram no mesmo edifício o Museu Municipal e a Acade­mia de Belas Artes.



Convento dos frades Capuchos








S. Lázaro, Academia de Bellas Artes e Bibliotheca Publica – Ed. Emílio Biel 1891 (fototipia 16x21,8cm do Museu Nacional de Soares dos Reis)




Quadro de Nadir Afonso



Acima uma pintura de Nadir Afonso sobre um concerto em volta do coreto do Jardim de S. Lázaro, divertimento que ainda acontecia nos anos 30 do século XX.



Coreto do Jardim de S. Lázaro actualmente – Ed. “bucolico-anonimo.blogspot.pt”



“Até aos anos 60 do século XIX, supõe-se não existirem bancos no jardim de S. Lázaro e a existirem, como alguns textos parecem referir, não se conhece o seu desenho. Acresce que durante os concertos no coreto eram alugadas cadeiras pelo Asilo de Mendicidade”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”


Camilo Castelo Branco frequentador do Jardim de S. Lázaro descreve o ambiente num dia de música no coreto.



“Se o leitor está no Porto, e vai apaixonado ao Jardim de S. Lazaro, e conhece a família da menina casadoura, por quem anda em brasa, faz a sua primeira cortezia, e foge de encontral- a segunda vez, porque repetir a cortezia é, além de provincianismo puro minhoto, cousa que cheira a inconveniência, e pôde ser até escândalo. Resta lhe o expediente commum, e salva assim a honra das familias : é amoutar-se como fauno por entre as murtas e bosques de acácias, lobrigando aqui, e além, a caça estranha. No Jardim de S. Lazaro os dous sexos dão ao passeio o que as sovinas municipalidades não teem querido dar-lhe ; isto é, uma luxuosa superabundância de estatuas, as quaes, tirante a alma, nem sempre se avantajam ás do mármore nacional. Sentam-se as meninas, mui bem compostas e ageitadas de mãos e cabeça, e alli se estão deleitando na vista do repuxo, em quanto o papá rufa com trez dedos na tampa da caixa do tabaco o compasso da modinha conhecida de Verdi ou Donizetti, que as trombetas bastardas estão executando. . . executando, sim, é a palavra”.
In, “doportoenaoso.blogspot.pt”




Alberto Pimentel descreve os Domingos em S. Lázaro quando o jardim já era frequentado por uma outra classe social.


“A única distracção que podia, n'esse tempo, animar os domingos, depois da missa da uma hora na Trindade, era o jardim de S. Lazaro, pequeno, fechado por grades de ferro e ladeado por edificios, que lhe tolhiam a vista. Tocava ahi uma banda regimental, que attraía a concorrência. Às três horas acabava a música no jardim de S. Lazaro. As familias gradas retiravam-se para as suas casas, indo jantar um pouco mais tarde do que o costume. Depois d'essa hora era alli que as criadas de servir ouviam as declarações amorosas dos Martes da guarda municipal, até que, descendo a noute, as criadas recolhiam apressadamente para ir lavar a louça do jantar, que, por concessão obsequiosa dos patrões, tinha ficado encastellada na cozinha”.
In, “doportoenaoso.blogspot.pt”

Este jardim deixou de ser frequentado pela gente grada da cidade quando, em 1865, se abriram os novos jardins do Palácio de Cristal. Passou a ser frequentado por soldados, sopeiras, empregados de comércio etc, como nos é narrado no texto anterior.




Jardim de S. Lázaro ao fundo à esquerda



A foto acima é de 1908 aquando da visita de D. Manuel II.



Fonte no Jardim de S. Lázaro vinda do convento de S. Domingos



Oficialmente, a Câmara deu ao jardim de S. Lázaro o nome de Marques de Oliveira, pintor notável que, apesar de ostentar desde 1929, o bus­to do artista modelado pelo génio de Soa­res dos Reis, popularmente, continua a ser o jardim de S. Lázaro. 



Busto de Marques de Oliveira, pintor e professor - Ed. MAC


O busto na foto acima é da autoria de Soares dos Reis.



Busto de Silva Porto no Jardim de S. Lázaro, de Salvador Barata Feyo - Ed. MAC




Entrada do jardim pela Praça dos Poveiros



Na foto acima c. 1950 a árvore em 1º plano já não existe.


Tanque central com repuxo

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