18.11 Praça da Trindade,
Bairro do Laranjal e Igreja da Trindade
Praça da Trindade
Já na planta de Costa Lima de 1839, a Praça se denominava da Trindade, mas,
ainda em 1877, diz Pinho Leal, era conhecida, incluindo as suas imediações, por
Laranjal.
Na planta de Balck de 1813 era Largo do Laranjal.
Na planta de Balck de 1813 era Largo do Laranjal.
Foi ainda Praça da Erva.
Igreja da Ordem da Trindade
Em 1803, começava a ser edificada, sob o risco de Carlos Amarante, a popular igreja da
Trindade da Ordem Trinitária, denominada de acordo com fonte oficial como “Celestial
Ordem Terceira da Santíssima Trindade da Redenção de Captivos”.
Esta denominação tinha a ver com o resgate de navegantes raptados por piratas, iniciativas a que ficou ligada a figura do religioso João de Mata, que está representado numa estátua em granito na platibanda da fachada principal da igreja, bem como um outro, aí também figurado, Felix de Valois.
Aquelas duas personagens foram os precursores, entre o século XII e XIII, da formação de uma ordem religiosa militar para a execução daqueles ditos resgates.
Esta denominação tinha a ver com o resgate de navegantes raptados por piratas, iniciativas a que ficou ligada a figura do religioso João de Mata, que está representado numa estátua em granito na platibanda da fachada principal da igreja, bem como um outro, aí também figurado, Felix de Valois.
Aquelas duas personagens foram os precursores, entre o século XII e XIII, da formação de uma ordem religiosa militar para a execução daqueles ditos resgates.
A Santa Casa da Misericórdia do Porto, para além da Ordem da Trindade, teve também papel de relevo na cidade naquela missão de resgate de captivos capturados, principalmente por piratas do Norte de África.
A Ordem Trinitária ou da Santíssima Trindade substituiria, por mando do Papa Bento XIV, a Ordem Terceira de S. Domingos, extinta em 1755, depois de grandes conflitos com os Dominicanos, mas só nos alvores do século XIX, se veio aqui estabelecer no Laranjal.
A Ordem Terceira de S. Domingos tinha sido instituída antes, em 1676, no convento de S. Domingos.
Passam então e fugazmente pela capela da irmandade de S. Crispim e S. Crispiniano, na então denominada Rua da Biquinha.
Os antigos Terceiros Dominicanos, agora membros da Ordem da Santíssima Trindade acolheram-se, então, à capela de Nossa Senhora da Batalha.
Esta capela era aquela que ainda estava junto à Porta de Cima de Vila, a qual foi mandada demolir, por Francisco Almada, a quem é dirigido um aviso da mudança de local da capela em 21 de Junho de 1792, e que determinou a construção de uma outra a poucos metros da primitiva, no sítio de “umas casas velhas e caídas que foram de João Pereira Falcão e terreno a elas contíguo”, mudança verificada em 1799.
Por esta razão, os membros da ordem da Santíssima Trindade, em face das alterações que se perspectivavam para a capela da Praça da Batalha vão, por cautela, em 1786, encontrar novo poiso na capela do Calvário Novo (aglutinando no seu seio os membros da confraria do Calvário), junto do Hospício dos padres Antoninos do Vale da Piedade, na Cordoaria, com quem acabam também por entrar em conflito, numa luta acesa pela posse da dita capela e pretensão de, nesse local, construir um outro templo muito mais imponente.
Por fim, em 1802, instalaram-se no Laranjal.
Em 1804, no Largo do Laranjal, já existe uma capela provisória, mas terão que passar mais de cem anos para ser concluída a obra.
Entretanto, a nova capela na Batalha viria a ser demolida de vez, em 1924.
As Invasões Francesas e dificuldades surgidas em 1821, durante a abertura dos alicerces para levantamento do arco cruzeiro, quando foi encontrado um manancial de água, contra-tempo que, dada a sua dimensão, esteve quase por determinar o abandono de todo o projecto, aliado ainda às lutas do Cerco do Porto, atrasaram sucessivamente a obra.
A Ordem Trinitária ou da Santíssima Trindade substituiria, por mando do Papa Bento XIV, a Ordem Terceira de S. Domingos, extinta em 1755, depois de grandes conflitos com os Dominicanos, mas só nos alvores do século XIX, se veio aqui estabelecer no Laranjal.
A Ordem Terceira de S. Domingos tinha sido instituída antes, em 1676, no convento de S. Domingos.
Passam então e fugazmente pela capela da irmandade de S. Crispim e S. Crispiniano, na então denominada Rua da Biquinha.
Os antigos Terceiros Dominicanos, agora membros da Ordem da Santíssima Trindade acolheram-se, então, à capela de Nossa Senhora da Batalha.
Esta capela era aquela que ainda estava junto à Porta de Cima de Vila, a qual foi mandada demolir, por Francisco Almada, a quem é dirigido um aviso da mudança de local da capela em 21 de Junho de 1792, e que determinou a construção de uma outra a poucos metros da primitiva, no sítio de “umas casas velhas e caídas que foram de João Pereira Falcão e terreno a elas contíguo”, mudança verificada em 1799.
Por esta razão, os membros da ordem da Santíssima Trindade, em face das alterações que se perspectivavam para a capela da Praça da Batalha vão, por cautela, em 1786, encontrar novo poiso na capela do Calvário Novo (aglutinando no seu seio os membros da confraria do Calvário), junto do Hospício dos padres Antoninos do Vale da Piedade, na Cordoaria, com quem acabam também por entrar em conflito, numa luta acesa pela posse da dita capela e pretensão de, nesse local, construir um outro templo muito mais imponente.
Por fim, em 1802, instalaram-se no Laranjal.
Em 1804, no Largo do Laranjal, já existe uma capela provisória, mas terão que passar mais de cem anos para ser concluída a obra.
Entretanto, a nova capela na Batalha viria a ser demolida de vez, em 1924.
As Invasões Francesas e dificuldades surgidas em 1821, durante a abertura dos alicerces para levantamento do arco cruzeiro, quando foi encontrado um manancial de água, contra-tempo que, dada a sua dimensão, esteve quase por determinar o abandono de todo o projecto, aliado ainda às lutas do Cerco do Porto, atrasaram sucessivamente a obra.
Em 1822, é inaugurado um pequeno hospital associado ao templo existente, que se juntava também à existente e conceituada farmácia, para servir fundamentalmente os irmãos da ordem e, em 1842, é terminada a fachada
e a torre sineira.
Tendo sido os sinos benzidos em 1848, em 1852, dá-se início à construção da capela-mor que se
arrasta por 40 anos mais. Em 1857, é inaugurado o Liceu da Trindade.
In "Jornal do Porto" de 6 de Junho de 1871, pág. 2
É já no século XX, em 1901, que Marques da Silva, o famoso arquitecto, vai intervir e deixar o seu cunho no altar-mor.
Da obra de 1972 de Bernardo Xavier Coutinho (História documental da Ordem da Trindade), consta um documento curioso para a história da confraria antes de rumar ao Laranjal e das lutas com os frades antoninos de Vale da Piedade.
“Com efeito, a Ordem
da Trindade foi erecta na capela da Batalha (também já desaparecida) em 29 de
junho de 1781, transferindo-se para a do Calvário em 26 de Novembro de 1786. No
processo aglutinaram a confraria do Calvário: «... por isso fizerão aquelle comtracto,
com os da Comfraria do Calvario, de tomar conta, e posse da Capella e todos os
mais Bens, ficando a Comfraria extinta, emtrando para Irmãos terceiros todos
que erão, e possuiô a dita Comfraria ... declarando somente que no dia da Festa
da Santíssima Trindade no qual costumavam Festejar o Senhor do Calvario farião
comemoração do mesmo Senhor....»
Mas os vizinhos
Capuchos não deixaram de azucrinar a
cabeça, agora à Ordem da Trindade. E assim pediram ao Chanceler Governador
Roberto Vidal da Gama que lhes dispensasse a capela para nela poderem
confessar. Este acedeu ao pedido e «...forão os Padres com offeciais de Justiça
com hum comfencionario para emtravar a Capella ao que acodio o Reverendo
Capellão que nella se achava actualmente e a pontapés sacodio tudo pella porta
fora...»
A igreja da Trindade,
na verdade, poderia nunca ter sido erguida no local onde hoje se encontra, caso
os Capuchos não tivessem feito de tudo para ficar com aquela capela... Pois que
a Ordem, querendo construir uma igreja maior, obteve uma provisão para emprazar
terreno até à face da rua e com esse espaço mais o seu terreno próprio, teria
área suficiente para uma igreja de tamanho mais decente, em acordo com o número
de Irmãos. No entanto logo os Capuchos armaram desordem: «... e trabalhar já a
respeito de votar pedra - na testada já com o embargo sobre o tilheiro da Cal
de firmar sobre a parede da parte do Caminho, e no mesmo fazendo-se o aliserse
sahirão com paus nas mãos para darem em alguns trabalhadores e Bemfeitores que
depois do dia andavão no alicerse a tirar emtulhos para adiantamento da
obra...». Os Capuchos vieram argumentar junto da rainha que aquela igreja era
desnecessária por haver muitas à volta, que seria sumptuosa e assim esvaziaria
os cofres da Ordem... E a ordem saiu para «que se conservasse tudo no Estado
antiguo».
E assim, querendo os da Trindade se defender, «tractouse de mostrar a verdade
porem como esta he mansa e anda de Vagar» os Irmãos já não conseguiram reverter
a situação”.
Os capuchos que se
referem o texto eram os Franciscanos do Vale da Piedade, em Gaia, que
resolvendo construir um estabelecimento para a cura dos seus doentes,
requereram à camara faze-lo dentro da cidade. Em 1722 foi-lhes concedido um
local na praça da Cordoaria, onde segundo Sousa Reis construiram «huma
enfermaria ... e de tal forma a levantaraõ que veio a ser hum bom Hospicio bem
assente com otimas vistas, annexando lhe dous soberbos armazens de que colhiaõ
pingue alugueres». Este edifício, com a extinção das Ordens religiosas em 1834
foi escolhido para fundação da Biblioteca Pública Municipal do Porto, contudo
por ser desadequado, no mesmo foi depois estabelecida a Roda dos Expostos”.
Com a devida vénia a Nuno Cruz, In: aportanobre.blogspot.pt
Edifício da Ordem da Trindade - In A.H. da Câmara Municipal
do Porto
Na foto acima pode ver-se a Tinturaria da Trindade e a
Tipografia Sousa & Cª, com alguns populares à sua porta, na Rua da
Trindade.
Chafariz da Trindade que já foi Chafariz do Laranjal e chafariz de S. Domingos
Na Praça da Trindade, existe um chafariz que sucedeu a um
outro, do qual se aproveitaram alguns elementos e que inicialmente tinha estado
no Largo de S. Domingos e, depois, no Largo do Laranjal, na confluência das antigas ruas da Cancela Velha e do Laranjal. Entre este local e aquele que presentemente ocupa, esteve recolhido nos jardins dos SMAS na Rua de Nova Sintra.
Largo da Trindade
Na foto acima, temos uma vista de outros tempos
do Largo da Trindade,
obtida num ângulo em que podemos ver um conjunto de antigos edifícios, há muito
desaparecidos no local aproximado onde se encontra o colossal prédio que
durante anos foi conhecido por "Palácio dos Correios", e que nesses
tempos era o palacete da Ferreirinha.
Palacete da Ferreirinha e Largo da Trindade em 1900
O chamado palacete do Ferreirinha, na foto acima, era
constituído por um corpo central, com dois outros nas suas alas.
Foi começado a construir antes de 1825, pois, nesta data, já
estaria construída a sua ala, a sul (à direita da foto) que, em 1834, seria arrendada
à Assembleia Portuense.
Entretanto, António Bernardo Ferreira II (1812- Paris, 5 de
Novembro de 1844), marido de D. Antónia Adelaide Ferreira, compra o inacabado palacete
a Cristovão Guerner, um cidadão inglês.
Em 1840, é concluído o corpo central do edifício, que passa
a funcionar com salão nobre e salão de baile, embora diversas sessões dançantes
já viessem a ter lugar na agremiação.
Em 1842, António Bernardo Ferreira, solicita à Câmara do
Porto a licença respectiva para a construção da ala, a norte (à esquerda da
foto), mas, falecido em 1844, não teria usufruído dos cómodos do palacete.
Seria o seu filho, António Bernardo Ferreira III, que viria
a habitar a ala, a sul, pelo que a Assembleia Portuense teria que passar a
ocupar a ala, a norte.
Palacete Ferreirinha
Repare-se que na imagem acima ainda não existia qualquer
chafariz central, pois, nesta data, ele estava situado mais abaixo, no
enfiamento da Cancela Velha, desde 1854 até 1916 (pode dizer-se, que ficaria
hoje, uma dúzia de metros à frente da estátua de Almeida Garrett), no chamado Largo do Laranjal.
Também não existia o edifício dos Paços do
Concelho, que tendo sido inaugurado em 1957, andava já em construção
desde 1919.
No lado nascente do Largo da Trindade, esteve instalada até 1857, no
edifício das fotos acima exibidas, naquele que ficou conhecido por
Palacete Ferreirinha, a Assembleia Portuense e, seguidamente, durante 67 anos, o
Clube Portuense.
Ainda não se tinha começado a construir o Palácio dos
Correios
Na foto anterior o demolido palacete da Ferreirinha ficaria
à direita.
Rua do Laranjal e Bairro do Laranjal
Planta de Perry Vidal actualizada a
1865 em que a linha azul representa a Rua do Laranjal, o nº 8 o Palacete
Ferreirinha e a elipse amarela o Largo do Laranjal
À Praça da Trindade vinha dar a Rua do Laranjal que partia
das traseiras da antiga Câmara Municipal situada na Praça D. Pedro, cruzava a
Rua dos Lavadouros, por onde hoje está o edifício do “Comércio do Porto”.
Sobre esta Rua do Laranjal, que desapareceria em 1916 para a
abertura da Avenida dos Aliados, transcrevem-se alguns textos que o blogue
“aportanobre.blogs.sapo.pt” extraiu da Revista “O Tripeiro”.
«Ainda estou a ver o
velho José Galiza, alquilador, com as suíças grisalhas e com os seus carros e
carroças, a mandar o seu pessoal lavar os rodados.
Ao lado, quasi em
frente, havia umas oficinas de louzeiros (sic) e ao fundo os fabricantes de cadeiras e outras mobílias de
madeira de pinho, que, no engraçado dizer do saudoso Guedes de Oliveira,
era mogno do laranjal!!! -
e mais ao fundo a velha cervejaria Bastos, que nas noites calmosas, oferecia
aos seus frequentadores cerveja de pipa, muito fresca.»
Fonte: João Moreira da Silva, In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª
Série
Nessa Rua do Laranjal, em 1905, num prédio onde tinha estado,
durante muitos anos, o Hotel Central, instalou-se, em 28 de Novembro, o “Centro Regenerador do Porto”.
O Dr. António Teixeira de Sousa (Sabrosa, Celeirós, 5 de
Maio de 1857 — Porto, 5 de Junho de 1917) era o chefe do partido Regenerador e
chefe do Governo, à altura da queda da monarquia, tendo vivido amargurado,
parte dos seus últimos dias de vida, bem perto daquele “Centro Regenerador do
Porto”, no Hotel de Francfort, devido aos acontecimentos de 1910.
Hotel Francfort e, pela esquerda, o início da Rua do Laranjal
– Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto
«Lembro-me muito bem
que era nesse largo que existia a afamada casa de vinhos e destilações "O Alambique" (fundada em
1860), bem como o alquilador José Galiza, que no mesmo largo fazia,
diariamente, grande estendal de cavalos, muares, carros e carroças; e ainda o
Café Primavera, com um pequeno palco, música e bailarinas.
A casa de três andares
que se vê na gravura, do lado direito, ao cimo da calçada, creio que era a que
fazia esquina para a rua de D. Pedro IV, desaparecida na mesma época em que
foram demolidos os prédios das ruas dos Lavadouros, Laranjal, e Viela do Cirne,
passeios favoritos da rapaziada de então e as de Adriano Machado e Cancela
Velha.»
Outras memórias
avulsas se colhe, por exemplo o Sr. J. Gonçalves: «Aquele chafariz estava
situado no centro dum terreno que marginava a rua do Laranjal e em frente à
rampa da Cancela Velha. Ao fundo havia um bom prédio, onde estava instalado "O Alambique", armazém de
vinhos que ainda hoje existe. Dos prédios contíguos, da parte de cima, saia um
cheiro terrível a amoníaco e
outras perfumarias das grandes lojas iluminadas a candeias de
petróleo e habitadas pelas chamadas mulas
do Galiza. Ou a de Augusto Coelho Pereira de Araújo, que refere: «A
fonte, antes de transformada em chafariz, existiu mais abaixo, constando de uma
fonte rasa, para a qual se descia por degraus abertos no pavimento da rua, a
qual era conhecida pela fonte do Olho
do c., e para que o povo perdesse o hábito do chamadoiro, a Câmara
mudou-a para o local agora mostrado na gravura, transformando-a num artístico
chafariz».
Fonte: V. Alves Moreira, In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª
Série
A Rua do Laranjal, já a montante do chafariz do Laranjal,
com a Igreja da Trindade em fundo c. 1900
Igreja da Trindade
Na gravura de cima, baseada num cliché de Emílio Biel, vemos
o antigo Largo do Laranjal num ângulo obtido do local onde hoje se situa a
fachada traseira da Câmara Municipal do Porto. Repare-se no conjunto de casas que
existia (esquerda na imagem) no local que mais tarde passou a ser conhecido por
"Pedreira da Trindade" e que actualmente é um edifício de grandes
dimensões. No espaço da pedreira existiu até à década de sessenta do século XX
a Rua de Cima do Muro, hoje a Rua dos Heróis e Mártires de Angola.
No quarteirão definido pelas Ruas Ricardo Jorge, Rua Heróis
dos Mártires de Angola (antiga Rua de Cima do Muro da Trindade),
Rua Alferes Malheiro e Rua do Almada existiu uma elevação de terreno, conhecida
por Monte
da Doida.
A Travessa da Doida era o arruamento que ladeava a elevação
correspondente à Rua de Alferes Malheiro e Heróis dos Mártires de Angola e
tomou depois o nome de Rua de Liceiras. À parte desta
artéria que ligava à Rua do Bonjardim, foi Rua do Visconde de Almeida Garrett.
“Foi na reunião da
Câmara de 13 de Outubro de 1835 que a Vereação portuense tomou a resolução de
homenagear personalidades que participaram no Cerco do Porto e que, por actos
de bravura, se distinguiram nessa heróica epopeia, dando o seu nome a várias
artérias do Porto. Alguns nomes foram dados a arruamentos novos. Outros
substituíram antigos topónimos.
Almeida Garrett foi um
dos 7500 Bravos do Mindelo. Integrou o Batalhão Académico que esteve
aquartelado no antigo convento dos Jesuítas, onde agora funciona o seminário
diocesano. O seu nome figurou em duas artérias. Por exemplo a actual Rua do
Alferes Malheiro chamou-se, em tempos idos, Rua de Liceiras, desde a Rua do
Almada até à esquina da Rua de Camões. Daqui até à Rua do Bonjardim chamava-se
Rua do Visconde de Almeida Garrett.
Outra artéria que
evocava o nome do autor de "O Arco de Sant'Ana" era a actual Rua do
Padre António Vieira, em Campanhã que se chamou noutros tempos Rua Garrett”.
In ruasdoporto.blogspot.
Rua de Cima do Muro da Trindade - Ed.
monumentosdesaparecidos. Blogspot
Rua do Cimo do Muro da Trindade
Rua de Cima do Muro da Trindade - Ed.
monumentosdesaparecidos.blogspot
Nas fotos acima tirada da Rua de Cima do Muro da Trindade, em
Novembro de 1960, procede-se ao desalojamento dos habitantes para arranjo e
alargamento da rua. Como é óbvio, a Igreja da Trindade está à esquerda.
Café Primavera - Ed. monumentosdesaparecidos.blogspot
Na foto anterior o Café Primavera na esquina da Rua do
Alferes Malheiro e a Rua do Muro da Trindade, nas traseiras da Igreja da
Trindade.
Mesmo local da foto anterior
Estes tegúrios ocupavam a actual entrada do Hospital da Ordem
da Trindade – Fonte: JN
Pedreira da Trindade na encosta do Monte da Doida - Ed. monumentosdesaparecidos.blogspot
Nas fotos anteriores pode ver-se o derrube do casario para
alargamento da via, que originou aquilo que por muitos anos foi chamada a
"Pedreira da Trindade", que foi finalmente preenchida pelo edifício
que actualmente lá se encontra.
Planta de George Balck de 1813, onde se vê o Laranjal e a
Travessa da Doida
“A folha 14 do Livro
de Plantas da Cidade do Porto (número 2), que se guarda no nosso Arquivo
Histórico Municipal, representa a planta, de um projecto urbanístico de 1761
denominada Planta do Bairro dos Laranjais, da autoria do sargento-mor de
Infantaria, com o exercício de engenheiro, Francisco Xavier do Rego.
Aí estão delineadas
algumas artérias. Umas que já existiam, caso das ruas do Bonjardim e de Santo
Ovídio, esta agora denominada dos Mártires da Liberdade; outras em projecto,
que são as ruas do Almada e da Conceição; e uma que desapareceu. Chamava-se, na
altura, Rua de Santo António dos
Lavadouros depois ficou só dos Lavadouros e desapareceu com a abertura da
Avenida dos Aliados.
Na mesma planta está
prevista a abertura de mais duas novas artérias a que ainda não havia sido dada
qualquer denominação. Uma delas nunca chegou a ser rasgada. Ligaria em linha
recta a actual Rua dos Mártires da Liberdade a Liceiras. A outra unia duas praças também em projecto a Praça da Conceição, depois Largo da Picaria
e que é hoje o Largo de Mompilher,
com a Praça da Trindade, assim chamada por ficar diante da igreja da Ordem
Trinitária, que substituiu a Ordem Terceira de S. Domingos, extinta em 1755, na
sequência de um conflito com os dominicanos. Neste mesmo espaço, onde se ergue
a igreja daquela Ordem, riscada pelo arquitecto Carlos Amarante, faziam-se,
antes, duas importantes feiras: uma de
erva e de palha e outra de carneiros. Por isso também se deu a este largo o
nome de Praça da Erva.
Voltemos à rua
projectada para ligar o Largo de Mompilher à Praça da Trindade a actual Rua do
dr. Ricardo Jorge. Mas nem sempre teve esta nomenclatura. Inicialmente teve
duas designações. Entre a Praça da Conceição e a Rua do Almada chamou-se
Travessa do Pinheiro por causa da sua proximidade à rua deste nome. Da Rua do
Almada até à Praça da Trindade começou por se chamar Travessa do Laranjal, o que se compreende se tivermos em conta que
o largo em frente à igreja antes de se chamar Praça da Trindade foi Largo do
Laranjal. A partir de 1776, aparece denominada de Travessa da Rua do Almada.
Mas numa planta da
autoria do arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado, datada de 1787, é designada
como a Travessa da Chancelaria. Só a
partir de 1846 é que aparece como a Travessa
da Trindade e, posteriormente, como Travessa
da Praça da Trindade.
A actual designação da
Rua Ricardo Jorge homenageia a memória de uma figura ilustre do Porto que toda
a gente conhece como médico higienista. Mas Ricardo Jorge foi também um
eminente escritor, historiador, crítico de arte e um purista da língua
portuguesa. O seu estudo sobre as origens e o desenvolvimento do Porto é a
melhor obra que até hoje se escreveu sobre esse complexo assunto”.
Com a devida vénia a Germano Silva
“É em 15 de Fevereiro
de 1798 aprovada a planta definitiva da Praça do Laranjal (hoje Praça da
Trindade), de Teodoro de Sousa Maldonado, pela Junta das Obras Públicas. De
notar que a ideia da praça data de 1760 (a urbanização das Quintas do Laranjal
de Cima e de Baixo foi ideia de João de Almada), datando as plantas de
Maldonado de 1787 e as de D. José Champalimaud (dos aquedutos) de 1788”.
Eugénio Andrea da Cunha Freitas, In “Toponímia Portuense”,
p. 333
Travessa da Praça da Trindade com as suas casas de comércio
As escadas do Pinheiro lançadas a partir do Largo Mompilher
começaram a ser construídas em 1775 e destinavam-se a ligar esse largo à Rua
da Misericórdia, actual Rua do Pinheiro.
“…Neste local existia
uma vasta propriedade, a Quinta do Pinheiro, que compreendia muitos campos de
cultivo, laranjais, hortas e pomares. Começou a ser urbanizada no século XVIII
incluída no chamado plano de urbanização do Bairro dos Laranjais promovido por
João de Almada e Melo e no qual se incluía a abertura, por exemplo, da Rua do
Almada, assim denominada em homenagem ao promotor do projecto, bem como outras
artérias adjacentes como as actuais ruas da Conceição, de Ricardo Jorge e
outras.
Uma das artérias que
também se abriu por esse tempo foi a actual Rua do Pinheiro onde se encontra a
pequena capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição.
A primeira referência
documental que existe relativa a esta propriedade é do ano de 1508.
Trata-se de uma
escritura que nos dá conta, de que, um tal João Rodrigues de Avelar e, sua
mulher, Grácia Luís, venderam o seu campo do Casal do Pinheiro, "que fica
junto aos Carvalhos do Monte, junto da cidade e da estrada
pública..."
Dava-se o nome de
Carvalhos do Monte ao sítio onde esteve a Quinta do Mirante e agora está a
Faculdade de Direito, entre a Rua dos Bragas e a Praça do Coronel Pacheco. A
estrada pública é a antiga Rua de Santo Ovídio, hoje dos Mártires da
Liberdade, que ficava, dizem documentos antigos, "arriba dos Ferradores,
"ou seja acima da antiga Praça dos Ferradores, que hoje tem o nome de
Praça de Carlos Alberto.
Antes de ter a
denominação que evoca a existência da Quinta do Pinheiro, esta artéria
chamou-se da Misericórdia.
Em 1725, o Casal do
Pinheiro, com os seus "campos da Porta Fronha e dos Carvalhos" estava
na posse da Santa Casa da Misericórdia do Porto que o emprazou (deu de aluguer)
a um Manuel Monteiro do qual passou para um seu descendente de nome João
António Monteiro de Azevedo, cidadão do Porto e celebrado autor de uma
interessante e, para quem se interessa pela história de Vila Nova de Gaia,
ainda hoje, muito útil" Descrição Topográfica de Vila Nova de Gaia",
que também contém muitas e importantes referências históricas à cidade do
Porto.
Pois foi
este João Monteiro de Azevedo que mandou fazer a casa que ainda existe na
Quinta do Pinheiro e a capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição,
atribuída a Nicolau Nasoni e que, embora esteja no exterior da quinta, dela faz
parte integrante.
Esta enormíssima
propriedade, que compreendia, além das já mencionadas glebas da Porta Fronha e
dos Carvalhos, os campos do Pinheiro e da Pena de Arca, começou a ser retalhada,
para urbanização, nos começos do ano de 1747, nomeadamente para a abertura da
parte superior da Rua do Almada e de outras artérias como a Rua de Ricardo
Jorge, que antes se chamara Travessa do Pinheiro, e a criação do chamado
Bairro dos Laranjais, um ambicioso processo urbanístico da autoria
de João de Almada e Melo.
O emblema do antigo
Largo do Laranjal, depois Praça da Trindade, foi o chafariz que passou à
história, exactamente, com o nome do largo. Inicialmente era uma fonte, a Fonte
da Trindade, que funcionou desde 22 de Junho de 1844 até Maio de 1853. Neste
ano fizeram-se obras na já então denominada Praça da Trindade para rebaixamento
do leito e a fonte foi demolida. As suas pedras, provenientes da demolição,
foram recolhidas num terreno de Liceiras, para uma eventual reconstituição. Que
nunca chegou a fazer-se. Com efeito havia sido demolido, também, um chafariz
que, desde o século XVI, pelo menos, estava no meio do Largo de S. Domingos.
Foi este que acabou por ser reconstruído na Praça da Trindade. A sua
inauguração ocorreu no dia 11 de Março de 1854. Mas não ficou ali
definitivamente.
Novas obras na praça
em 1911 e, o chafariz, foi transferido para os jardins dos SMAS sendo
substituído por um simples fontanário "com água da Companhia". Só há
relativamente poucos anos (1960) é que voltou para a Praça da Trindade, agora
como mero objecto de decorativo. Gravada no bordo de uma das suas taças tem uma
legenda em latim "REIP - VSIV - DICATVM - COMMUNI". Que significa:
"Ao uso do povo".
Com a devida vénia a Germano Silva
Capela Nossa Senhora da Conceição junto às Escadas do
Pinheiro
Capela Nossa Senhora da Conceição e Largo de Mompilher na década
de 50 do século XX
Quiosque junto às Escadas do Pinheiro (visíveis atrás) –
Fonte: pt.wikipedia.org
O quiosque de Mompilher foi construído nos anos trinta do
século XX e em substituição de um outro de ferro que existia no largo desde
1910,
As últimas décadas do século XIX e as primeiras do século
seguinte foram pródigas na construção de quiosques na cidade do Porto. Uma
situação que se compreende à luz da vida social e urbana da época, em que estas
micro-arquitecturas eram ponto de encontro preferencial para escritores,
poetas, intelectuais ou aristocratas. A função comercial que desde sempre lhes
foi inerente mantém-se nos dias de hoje, embora as bebidas, as frutas e as
flores, tendam a ser substituídas essencialmente por revistas e jornais.
Estação Ferroviária da Trindade
A Estação Ferroviária da Trindade, na foto acima, que se situava
nas traseiras da Igreja da Trindade, viria a dar origem à actual estação de
Metro da Trindade.
Perspectiva actual da estação de metro da Trindade
Sem comentários:
Enviar um comentário