segunda-feira, 4 de setembro de 2017

(Continuação 3)




O território da Prelada, que chegou a ir desde do Carvalhido até, para lá da Estrada da Circunvalação, ao lugar de Seixo, está ligado à família Pessoa e à família Noronha do morgadio da Quinta das Corujeiras, em Guimarães, instituído em meados do século XVI por D. Violante Correia de Mesquita.
Será António de Noronha, um sobrinho desta personagem, que irá ser o primeiro administrador do morgadio que tinha por cabeça a Quinta das Corujeiras.
Por outro lado, sabe-se que, em pleno século XVI, um tal Gonçalo Pessoa, escrivão da Fazenda e escudeiro de el-rei, casado com uma tal Catarina de Couros, tinha uma casa na Prelada.
Um membro da família Pessoa, de seu nome Luísa Pessoa, que contrairia matrimónio com um membro da família Figueiroa, tendo residência na Rua Nova, está também ligado à Prelada.
Por herança, o património de Luísa Pessoa vai passar para um seu sobrinho, Simão Ribeiro Pessoa, um homem importante na governança da Câmara do Porto.
Deambulando pela família Pessoa, a Prelada entra na órbita da família Noronha quando, em 1633, D. Bartolomeu de Noronha casa com Maria Pessoa de Vasconcelos, herdeira da Casa e Quinta da Prelada.
Em 1758, é D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo (7º morgado das Corujeiras), casado com D. Isabel de Noronha e Menezes, que vai incumbir Nicolau Nasoni de erguer o palacete da Prelada.
O título honorífico de “Dom” que precede o nome dos titulares da Prelada, após a entrada em cena da família Noronha, advém do morgadio das Corujeiras.



“Situada na freguesia de Ramalde, junto ao Carvalhido, na rota dos Caminhos de Santiago (antiga estrada para a Galiza), a Quinta da Prelada elege-se como um dos espaços mais notáveis e grandiosos do Porto.
De facto, trata-se da maior obra de arquitetura paisagística concebida pelo arquiteto e pintor italiano Nicolau Nasoni, concretizada, provavelmente, entre 1743 e 1748. Na Prelada, Nasoni criou um percurso desde os obeliscos, inicialmente situados no Carvalhido (a primeira entrada da Quinta), até à mata da propriedade (antigo Parque de Campismo), que perfazia cerca de 1,5 km. Devido às alterações urbanas que a zona do Carvalhido sofreu, os obeliscos acabariam por ser transferidos para o Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro, em 1937”.
Fonte: “jf-ramalde.pt”


O palacete da Quinta da Prelada teve, comprovadamente, o risco de Nicolau Nasoni e, também, no terreno envolvente, uma intervenção paisagística de relevo.


“Robert C. Smith sugere que o início da sua construção deverá ter-se iniciado entre 1743 e 1748, uma vez que a Casa da Prelada apresenta grandes semelhanças com outras residências construídas por Nasoni na mesma zona da cidade, nomeadamente no desenho do grande eixo central, assim como na utilização de emblemas heráldicos, que se salientam em diversas partes do conjunto”.
Fonte: José Manuel Lopes Cordeiro, In Jornal Público



“Até à abertura da Via de Cintura Interna (VCI), a Casa Nobre estava ligada ao recinto onde se eleva uma torre por um eixo com cerca de 400 metros de extensão. Vulgarmente designada por "Castelo", esta torre é considerada um testemunho iniciador do revivalismo em arquitetura. Em breve, parte deste percurso será refeito, até à VCI, dando origem a um novo espaço cuja designação será de “Jardim das Quatro Estações”.
Em 1758, Francisco Mateus Xavier de Carvalho, pároco de Ramalde, esclarece-nos, nas Memórias Paroquiais, sobre os diversos espaços que constituíam o conjunto paisagístico da “(…) Quinta, que passa pella melhor destas Provincias (…)” e refere-nos que “(...) as Cazas estão comesadas com riscos de Nazoni pintor italiano, que vive na cidade do Porto (...)”. Nesta altura, a propriedade pertencia a D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo, fidalgo da Casa Real e cavaleiro da Ordem de Cristo, e a sua mulher D. Isabel de Noronha e Menezes, irmã de D. Manuel de Noronha e Menezes, arcediago do Porto, que apadrinhou vários filhos de Nicolau Nasoni.
À semelhança do Palácio do Freixo, o projeto da Casa da Prelada previa quatro torres, tendo sido executado apenas um quarto da obra. O desenho e a gramática decorativa empregue nos vãos da Casa da Prelada, onde predominam os elementos heráldicos dos Noronha e Menezes, é facilmente reconhecível noutras obras de Nasoni.
O portão nobre, posteriormente intervencionado por Nasoni, e a primitiva casa devem respeitar à segunda metade do século XVII. Num desenho do litógrafo Joaquim Villanova, datado de 1833, vê-se a torre e o corpo central nasoniano, e, adossado a estes, uma construção mais baixa, restos da casa primitiva. Esta área foi demolida no século XIX e substituída por um volume que procurou rematar o edifício”.
Com a devida vénia a Artur Filipe dos Santos, In “Capelas do Porto”, Universidade Sénior-Contemporânea




Casa da Prelada em 1833 – Ed. J. Villanova



“O imóvel teve várias utilizações ao longo do século XX: Hospital de Convalescentes, em interligação e na dependência do Hospital de Santo António (1906-1960); Centro de Recuperação de Diminuídos Físicos (1961-1973); e, finalmente, Lar da Terceira Idade (1974-2003).
Em 1938, o lago, as fontes e a escadaria foram classificados como “Imóvel de interesse público”. Esta classificação foi revogada em 1977 e passou, também, a abranger a casa, os jardins e a mata.
Em 12 de junho de 2002, a Mesa Administrativa da Misericórdia do Porto deliberou criar-se na Casa da Prelada um polo cultural destinado a acolher o Arquivo Histórico e a Provedoria. Esta proposta foi apresentada por Estêvão Samagaio, então Vice-Provedor com os pelouros do Culto e Cultura. Seguiu-se o lançamento de um concurso, tendo sido escolhido o projeto apresentado pelo arquiteto António Leitão Barbosa.
A Casa da Prelada – D. Francisco de Noronha e Menezes reabriu ao público no dia 12 de maio de 2013, dia de Nossa Senhora da Misericórdia”.
Fonte – Site: “jf-ramalde.pt”


D. António de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo, seria eleito provedor da Santa Casa da Misericórdia do Porto, em 1756, e o seu neto D. Francisco de Noronha e Menezes viria a ser o "último fidalgo da Prelada".
O pai de D. Francisco de Noronha, D. Manuel de Noronha e Menezes de Mesquita e Melo, dotado de imensos bens de fortuna, face ao falecimento precoce do seu primogénito, distinguiu-o deixando-lhe a terça disponível, que incluía a Quinta da Prelada na freguesia de Ramalde, então nos arrabaldes da cidade do Porto.
A Casa da Prelada tinha propriedades em Monção, Braga, Guimarães e no Porto.
D. Manuel de Noronha e Menezes, atrás referido, vivia em Braga rodeado da sua criadagem e com a sua esposa, uma senhora francesa, de seu nome, Francisca Joana Ettenet de Noronha, de quem teve oito filhos.
D. Francisco casaria com D. Maria Cristina Pereira Gaio de Noronha, sua prima, que viria a falecer em 1883. Tiveram um filho, de seu nome D. Francisco de Noronha e Menezes Júnior, que faleceu em 1890, vitimado pela tuberculose.
Em 16 de Maio de 1903, já viúvo, D. Francisco de Noronha e Menezes, através do seu testamento, lega a Quinta da Prelada à Santa Casa da Misericórdia do Porto, com a obrigação, entre outras de, na Prelada, ser feito um sanatório para convalescentes.
Para uma sua criada, Maria José, que nos últimos anos lhe fez companhia, Francisco Menezes deixou o recheio da Casa da Prelada e o usofruto das suas propriedades de Guimarães.
Maria José haveria de casar com um empregado da Companhia Carris de Ferro e passaria a viver na Casa da Prelada.
D. Francisco de Noronha e Menezes morreria em 26 de Fevereiro de 1904.
Nos últimos anos de vida, ajuda o seu irmão António, que malbarata a legítima e vivia em Monção.
As visitas muito badaladas de D. Francisco de Noronha e Menezes e seu filho ao Café Lisbonense, situado na então Rua do Bonjardim são-nos descritas nos textos seguintes.


“Este fidalgo era D. Francisco de Noronha e Menezes, proprietário da Quinta da Prelada, uma das maiores e mais afamadas da cidade. Ele e seu filho eram exímios jogadores de bilhar e espalhavam esta sua arte em vários botequins da cidade, que atraía muito público masculino. O seu filho faleceu aos 25 anos em resultado de uma tuberculose. D. Francisco pouco lhe sobreviveu. Não havendo qualquer outra descendência deixou à S.C.M. do Porto a sua quinta com o desejo de aí ser construído um hospital para convalescentes. Faleceu em 1904”.
Fonte: portoarc.blogspot.pt


“Já vai perdido na recordação dos dias distantes o velho café Lisbonense que eu e outros meus companheiros frequentávamos todas as noites. O Café Lisbonense ficava na Rua do Bonjardim, do lado direito (no troço que hoje é Rua de Sá da Bandeira, entre a Rua de 31 de Janeiro e Sampaio Bruno). 
Um bom salão, que se dividia em dois, sendo o da frente para a especialidade do café com as suas mesas de mármore e cadeiras para os seus velhos frequentadores.
Atraía uma frequência numerosa e distinta, do meio intelectual do Porto. Numa das primeiras mesas do lado esquerdo era a nossa. Depois das 8 horas vinham chegando um por um. A nossa despesa diária era baratinha: uma chávena de café para cada um, a 30 reis por cabeça; bebidas brancas nenhumas. Nesta mesa havia alegria, mocidade e vida! Discutia-se tudo, nada ficava para a noite seguinte. O Lisbonense nessa época tinha boa música; um terceto completo de verdadeiros mestres. Os concertos do Café Lisbonense marcaram pelo sucesso de Arte que eles faziam todas as noites durante o Inverno.
No salão de trás ficavam os bilhares, também com a sua numerosa clientela. Quando o D. Francisco da Prelada jogava com o seu filho o número de espectadores crescia extraordinariamente para os ver jogar!”  
Fonte: portoarc.blogspot.pt; In “O Tripeiro” da Série III, de 15/10/1927




Casa da Prelada - Fonte: “portoarc.blogspot.pt”



Casa da Prelada




Labirinto do jardim da Casa da Prelada - Cortesia de Pedro Chichorrro







Lago e Castelo (torre)


Chafariz do Cágado e Torre ao fundo


Chafariz da Quinta da Prelada (desenho de Nicolau Nazoni) – Ed. JPortojo


Na foto acima a também chamada, segundo Rui Cunha (“portoarc.blogspot.pt”), Fonte de Bruguel com cabeça de medusa que lança água pela língua e cujos cabelos transformados em cobras deitam água pelos olhos”.

2 comentários:

  1. Caro Américo, não era necessário uma "vénia" mas obrigado por citar a fonte. Um abraço e parabéns pela qualidade do blogue e por ajudar à perpetuação da história e da memória da nossa cidade do Porto!

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  2. Agradeço as suas amáveis palavras, esperando que continue a seguir este trabalho que faço com todo o gosto.
    Quanto à citação das fontes é uma preocupação que tenho desde sempre, embora, por vezes, me seja impossível fazê-lo.
    Cumprimentos

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