sábado, 23 de setembro de 2017

(Continuação 6) - Actualização em 16/01/2019, 26/03/2020 e 01/04/2021

21.7 Palacete Balsemão ou Palacete do Visconde da Trindade ou Palacete do Barão do Valado




Palácio do Visconde de Balsemão - Desenho de Carlos Alberto Nogueira da Silva, In «Archivo Pittoresco», 4, 1861, p. 393



Perspectiva actual da gravura anterior – Fonte: Google maps



A propriedade onde está implantado este palacete, na Praça de Carlos Alberto e que, antes, foi chamada de Largo dos Ferradores, em 1718, pertencia a Diogo dos Santos Mesquita e, alguns anos depois, surge na posse do negociante portuense Luís Correia dos Santos. Em 1762, o filho deste homem de negócios, Luís Correia Pacheco, sem herdeiros, deixa a casa nobre e seus terrenos à Santa Casa da Misericórdia, que a vende em hasta pública a D. Maria Manuel de Azevedo e seu filho Carlos Alvo Brandão Perestrelo Godinho Pereira de Azevedo, permanecendo nas mãos desta família até cerca de meados da década de 1840.
A casa passa a ser conhecida como Palacete Balsemão, a partir de 1800, quando Maria Rosa Alvo Brandão Perestrelo de Azevedo casa com o 2.º visconde de Balsemão, Luís Máximo Alfredo Pinto de Sousa Coutinho (Falmouth, 30 de Maio de 1774 — Lamego, 2 de Outubro de 1832).
Esta personalidade ficaria conhecida por franquear à população uma rica biblioteca que possuía no seu palacete no Largo da Feira das Caixas, facto realçado, em 1874, por Pinho Leal, na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”.
 
 


 
 
Face às lutas liberais e ao Cerco do Porto, o 2.º visconde de Balsemão retira-se para Balsemão onde, entretanto, falece e a sua biblioteca é confiscada.
Em 1834, decorreram no palacete, as aulas da Academia Real de Marinha, já que, as instalações próximas do Colégio dos Órfãos estavam a ser recuperadas da destruição que sofreram com o cerco do Porto.
Na década de 1840, António Bernardino Peixe alugou o palacete, transferindo a hospedaria que tinha na Rua do Bonjardim, para este local. O que celebrizou esta hospedaria, conhecida como Hospedaria do Peixe, foi a estadia, entre 19 e 27 de Abril de 1849, do exilado rei Carlos Alberto da Sardenha, antes de ir para a Quinta da Macieirinha (ao Palácio de Cristal), onde viria a falecer, em 28 de Julho de 1849.



Casa da Quinta da Macieirinha e rio Douro, In “Revista Popular”- Semanário de Litteratura e Industria – Ed. Imprensa Nacional, 1849



Em 1854, o palacete foi adquirido por José António de Sousa Basto, 1º Visconde e, mais tarde, 1º Conde da Trindade, grande proprietário e capitalista, que introduziu profundas alterações no edifício, vindo a casa a atingir o maior esplendor que se lhe conhece. 
A famosa hospedaria vai estabelecer-se, então, na Rua da Porta de Carros, nº 12, troço inicial da Rua do Bonjardim e, mais tarde, o início da Rua de Sá da Bandeira, facto que Alberto Pimentel relembre na sua obra "O Porto há 30 anos".
José António de Sousa Basto (Cabeceiras de Basto, Refojos de Basto 19/03/1805 ; Porto, Vitória 21/05/1890), partiu para o Brasil em 1823, com dezoito anos, em busca de fortuna, tendo-se dedicado à vida mercantil e criado com outros sócios a firma "Amorim & C.ª", que duraria até 1846 e, com a qual, obteve rápida e crescente prosperidade.
Regressa a Portugal, aportando em Lisboa, a 16 de Julho de 1850, tinha 45 anos. Vinte e sete anos de trabalho persistente aliados a uma série de empreendimentos felizes, permitiram-lhe amealhar considerável fortuna.
No mês seguinte fixou residência no Porto vindo, algum tempo depois, a comprar um palacete na Praça Carlos Alberto que pertencia aos Viscondes de Balsemão, que tinham transferido residência para Lisboa.
Segundo uma carta do Barão de Forrester ao Jornal Commercio, antes de 1854, o Visconde da Trindade habitava, ainda, o palacete que tinha sido do Barão de Forrester, na Ramada Alta. 
Proprietário e capitalista, Fidalgo da Casa Real, José António de Sousa Basto foi presidente da câmara, entre 2 de Janeiro de 1852 e 31 de Dezembro de 1855, num período muito delicado para a cidade.
De facto, a cidade viveu uma situação de cólera associada a uma crise alimentar provocada pelo aumento exagerado do preço do pão.
Para obstar a esta situação, a Câmara comprou algumas toneladas de milho que distribuiu a um preço acessível pelas camadas mais desfavorecidas da população.
Apesar da crise económica, o seu mandato ficou marcado pela abertura de algumas ruas.
Assim, a Rua da Boavista foi prolongada até à rotunda; a Praça da Batalha foi embelezada e a Rua da Restauração chegou à Cordoaria; foram criadas escolas primárias e as posturas municipais foram coligidas numa só legislação municipal.
Seria ainda demolido o Arco de Vandoma considerado um empecilho no avanço urbanístico da urbe e, em 1855, foi construído o Cemitério de Agramonte, para servir o lado ocidental da cidade.
De um 2º casamento com Josefa Rosa de Amorim, José António de Sousa Basto, entre outros, tem uma filha, Josefina Henriqueta de Sousa Basto, que viria a casar com Augusto Correia Pinto Tameirão, 3º Barão do Vallado.
Decorrente desta união, o palacete é por vezes designado como Palacete do Barão do Vallado, já que, o casal, fixou aí residência.
No palacete, haveria de nascer alguém que se viria a tornar uma figura típica da cidade (devido a uma característica física) e que na transição do século XIX para o século XX, pontificava no Porto – Jaime Valado.
Jayme Augusto Teixeira Correia Pinto Tameirão Valado, de seu nome completo, tinha nascido na freguesia de Santo Ildefonso, Porto, a 21 de Agosto de 1874, sendo funcionário da Direcção-Geral dos Caminhos-de-Ferro do Minho e Douro, distinto desportista, cavaleiro tauromáquico amador, e que acabaria por falecer, ainda em vida de seu pai, o 3º barão do Valado, a 10 de Março de 1913. 
Na gíria do povo, era: O Valado da cabeça ao lado!
Este epíteto era devido ao facto de a dita personagem ter a cabeça um pouco inclinada para um dos lados, embora isso, não o impedisse de apresentar um porte, segundo apreciação de Arnaldo Leite,
“dum verdadeiro gentleman, vestindo com distinção. Viam-no à tarde de fraque de cor e luvas amarelas; nessa mesma noite, se fosse inverno, chapéu mole e luvas brancas, a saírem das mangas dum varino avivado a vermelho; se ia aos touros, na sua charrette lustrosa e asseada – que dois cavalinhos levavam como um brinquedo de luxo – como bom aficcionado que era, colocava na cabeça o seu mazantini, de abas largas brunidas. Passadas duas ou três horas, o mesmo Jaime Valado,estava no teatro S. João a ouvir ópera, elegantemente vestido, correctíssimo na sua casaca impecável. Vestia bem.”
Como curiosidade, diga-se que o 2º Visconde da Trindade, José António de Sousa Basto Júnior, que nasceu a 5 de Julho de 1843, filho primogénito varão do segundo casamento de seu pai, casaria no Rio de Janeiro com D. Mariana Rochedo, actriz do teatro Baquet.
Em 1887, o palacete é arrendado ao Centro Comercial do Porto e, a partir de 1896, passa também a albergar, a Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto.
Em 6 de Julho de 1906, a filha do Visconde da Trindade, Josefina Henriqueta e o 3.º Barão do Valado, Augusto Correia Pinto Tameirão, arrendam o palacete da Praça Carlos Alberto, à Companhia de Gás do Porto, que tinha sido constituída em 1900 e, mais tarde, receberia os Serviços Municipalizados de Gás e de Eletricidade e a EDP.




Anúncio da “Companhia do Gaz do Porto” dando conta de mudança de morada – In jornal “A Voz Pública”, de 10 de Abril de 1907



Em 1959, a câmara Municipal do Porto compra o palacete, que a partir de 1995, passa a albergar a Direcção Municipal de Cultura.
Assim, está instalado desde 2010 no Palacete Viscondes de Balsemão, o “Banco de Materiais” que se destina a recolher e expor os mais variados exemplares decorativos e construtivos provenientes da arquitetura portuense como azulejos, estuques, ferros, etc, provenientes sobretudo de demolições, e que constituiu um verdadeiro museu.



Estantes de exposição de azulejos, no Banco de Materiais, instalado no Palacete Balsemão






Palacete Balsemão e estátua de Humberto Delgado – Ed. JPortojo



Escadaria de entrada - Ed. JPortojo


Estuques do tecto - Ed. JPortojo

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