21.6 Reitoria
da U. P. e antiga Faculdade de Ciências (Colégio dos Meninos Órfãos e Igreja de
Nossa Senhora da Graça)
O edifício situado na Praça de Gomes Teixeira e ocupado pela
reitoria da U. P., foi construído durante o século XIX, segundo projecto de
José da Costa e Silva, alterado depois por Carlos Amarante tendo, em termos da
sua ocupação como estabelecimento de ensino, aí começado por funcionar a
Academia Real da Marinha e do Comércio a partir de 1803, tendo passado em 1836
a Academia Politécnica, e a Faculdade de Ciências em 1911.
Foi construído no espaço do antigo Colégio dos Meninos
Órfãos de Nossa Senhora da Graça.
De arquitectura neoclássica, revela a influência do estilo
introduzido pela construção do Hospital de Santo António.
As vicissitudes do
edifício foram incontáveis, nele coexistindo, numa ou noutra época, o Colégio
dos Órfãos, a Academia Real de Marinha e Comércio, Hospital militar (durante o
Cerco do Porto), a Academia Politécnica, a Academia Portuense de Belas
Artes, o Liceu Nacional, o Instituto Industrial (antecessor do ISEP; até 1933),
a Faculdade Técnica (antecessora da FEUP; até 1937), a Faculdade de
Ciências desde 1911 e a Faculdade de Economia (até 1974).
Vista aérea do Edifício da Reitoria. À esquerda, é visível o
Mercado do Anjo
Nos sótãos, visíveis na foto acima, do Edifício da Reitoria,
se instalou a Faculdade de Economia do Porto, a partir de 1953, sucedendo ao
Centro de Estudos Económicos e Financeiros, da alçada da Associação Comercial, que
funcionava no Palácio da Bolsa desde Dezembro de 1947.
O professor Fernando Seabra seria o primeiro director da
Faculdade de Economia.
Edifício visto da Cordoaria na actualidade
Edifício visto actualmente da Praça Gomes Teixeira – Ed. “o_tripeiro.blogs.sapo.pt”
Em baixo, temos uma fotografia tirada do Largo do Viriato.
Vê-se a torre sineira e parte cimeira da fachada da Igreja de Nossa
Senhora da Graça e do Colégio dos Meninos Órfãos, edifício demolido
para a construção da actual Reitoria da Universidade do Porto.
Ao fundo a igreja de Nossa Senhora da Graça e à esquerda o
Hospital Santo António – Ed. Engº João Allen (Colecção de Alfredo Ayres de
Gouvêa Allen)
Vista da Praça dos Leões (Escola Politécnica em construção)
– Gravura de J. Villanova em 1833
Vista do Largo do Carmo (Escola Politécnica em construção) –
Ed. J. Villanova em 1833
Como se pode observar das gravuras anteriores, a fachada
principal da Igreja de nossa Senhora da Graça, estava voltada para o actual
Largo de Parada Leitão (antigo Largo do Carmo).
Em 1 de Abril de 1909, os moradores no Largo Sousa Avides,
naquele que tinha sido o Largo do Carmo e, antes, Passeio da Graça, solicitam
ao Município para que atribua o antigo topónimo ao local.
Planta da zona do Carmo
Legenda:
1. Oficina do Lopes, ferrador
2. Igreja de Nossa Senhora da Graça
3. Praça Carlos Alberto
4. Jardim da Cordoaria
5. Conjunto habitacional que seria demolido e onde surgiu a
Praça da Universidade, hoje Praça Parada Leitão
6. Conjunto habitacional que seria demolido e onde surgiu o
Largo da Escola Politécnica, hoje o Largo Abel Salazar
7. Colégio dos Orfãos
8. Viela do Assis
9. Casa do Assis
“Em frente das igrejas do Carmo e do seu terreiro,
interposta a rua que daqueles templos recebeu o nome, havia um largozinho com
uma casa térrea ao sul (a oficina do
Lopes ferrador); e à ilharga ocidental desse recinto e da oficina abria-se,
para o Campo da Cordoaria, a Viela do Assis — atalho
estreitíssimo(…)
Em 1861, quando eu fiz exame de instrução primária
funcionava o Liceu Nacional no antigo casarão dos Órfãos.
Fonte: Alberto Augusto de Almeida Pimentel
(1849-1925), Praça Nova Edição da Renascença Portuguesa, na
Tipografia da Renascença Portuguesa, rua do Mártires da Liberdade, 178. Porto
1916. (pág. 80, 81 e 82)
O escritor Alberto Pimentel recorda a zona e descreve a sua
evolução na transição dos séculos:
“As casas que desde a esquina da rua do Carmo contornavam
a oeste aquele insignificante largo, incluindo a do médico Assis, ainda hoje
estão de pé, e leves modificações teem experimentado.
Tudo o mais é diferente. Foi demolida a igreja da Graça,
completaram-se as fachadas norte e poente da Academia Politécnica,
desapareceram as casas dos Passeios da Cordoaria e a que, em frente das igrejas
do Carmo, era a oficina do Lopes. A Viela do Assis sumiu-se sem
deixar saudades a ninguém. Diante do largo do Carmo (muito ampliado) rasgou-se
a clareira que patenteia as árvores e canteiros do jardim da Cordoaria.”
Foto do início do século XX, com a Praça da Universidade,
depois, Parada Leitão
São visíveis na frente do quarteirão, à esquerda, a
Tipografia e Papelaria e o Hotel Portugal.
Vista da Cordoaria (Escola Politécnica em construção) – Ed.
J. Villanova em 1833
Nos anos 80 do século XIX o edifício da Academia apresentava
do lado Sul (virado para a Cordoaria) e Nascente, o aspecto da gravura
seguinte, com a respectiva fachada ainda incompleta.
João Barbosa de Lima, João Batista Coelho Júnior (?-1900) e
José Pedroso Gomes da Silva (1823-1890), Academia polytechnica do Porto in Archivo
Pittoresco, n.º 9, 1886. (pág.249)
Poucos anos mais tarde, estava já construído, o corpo
central da fachada Sul, que, na gravura abaixo, está em execução.
Pormenor de uma das gravuras do Álbum de
fotogravuras do Porto. Editor Leopoldo Wagner. Lisboa 1900
Como se pode apreciar a seguir, ainda faltava avançar para
ala poente do edifício.
Perspectiva da fachada Sul do edifício da Universidade
actualmente – Fonte: Google maps
O local onde seria erguida a Faculdade de Ciências era, à
data do começo da sua construção, ocupado pela Igreja de Nossa Senhora da Graça
e por um edifício anexo onde funcionou o Colégio dos Meninos Órfãos e, também,
em parte da sua superfície, pela Real Academia de Marinha e Comércio.
Durante o período do
Cerco do Porto (1832/1833), o edifício foi ocupado por um hospital militar.
Entretanto, as aulas da Academia do Comércio e Marinha decorreram no palácio do visconde
Balsemão, na praça então chamada dos Ferradores e hoje de Carlos Alberto.
À Aula de Comércio e Marinha sucederia a Escola Politécnica, em 1836, mas eram praticamente inexistentes os avanços na construção das novas instalações do complexo.
Entretanto, em meados do século, o projecto de Carlos Amarante seria reformulado para atender a uma nova ocupação da área a construir, em que teria uma acção de destaque o engenheiro Gustavo Adolfo.
Real Colégio de Nossa Senhora da Graça ou Colégio dos Meninos Órfãos
O Colégio dos Meninos Órfãos de Nossa Senhora da Graça ficou a dever-se ao padre Baltasar Guedes (1620-1693), que obteve autorização em 1649 da Câmara do Porto, para o instalar junto da Ermida de Nossa Senhora da Graça.
Em 25 de Março de 1651, foi o colégio inaugurado e, a partir desse momento, não mais parou Baltasar Guedes de percorrer o País e até por intermédio de um seu irmão, o Brasil, angariando donativos para a obra de bem-fazer. Registe-se a curiosidade relativamente ao tal irmão, Pantaleão da Cruz, de ser surdo-mudo de nascença, o que não o impediu de durante anos, no outro lado do Atlântico, de ter recolhido imensas esmolas e donativos que transferia para o Porto.
À data da inauguração, o colégio abriu com sete meninos, mas, pouco depois, já eram doze.
Em 25 de Novembro de 1651, já Baltazar Guedes lançava a primeira pedra para edificação da nova igreja, que teria inauguração em 1681.
Os proventos da instituição aumentariam quando o Cabido da Sé autorizou os meninos do colégio a serviram com cruz processional em enterros e festas religiosas.
Em 1671, o colégio era ocupado por 35 alunos.
In “O Tripeiro”, Volume 2, sobre o padre Baltasar Guedes escrevia-se:
“Todos os domingos e dias santificados fazia práticas públicas, para instrução e moralidade do povo.
Saía com os meninos pelas ruas da cidade, já a pedir esmolas para eles, já a buscar água que trazia às costas. Com os órfãos ia aos hospitais varrer as enfermaria e cuidar dos pobres repartindo com eles as esmolas que se davam aos seus pupilos.
Criou no seu aposento dois enjeitados – um de dois anos de idade, outro de 9 meses (este com leite de cabra). Com as mãos trabalhava em franjas, e com o pé embalava a criança, cuidando de ambos, como poderia fazer uma extremosa mãe. À sua caridade e diligência deve a idade do Porto a Casa dos Expostos".
O prestígio do padre, ordenado em 1644, era imenso e veio a morrer com a maior consternação dos portuenses em 1693.
Durante a sua vida, o padre Baltazar Guedes viu sair do seu colégio para servir a sociedade 212 religiosos, 39 sacerdotes, 8 mestres de teologia, 6 doutores de Cânones e Leis, 2 qualificadores da Inquisição e um Bispo.
Durante a sua vida, reedificou ainda a Igreja do hospital de S. Lázaro e instituiu três confrarias: uma de clérigos, de S. Pedro; outra de clérigos de S. Filipe Nery; e outra de seculares, da Senhora da Boa-Morte.
Em 1803, numa ala do colégio foi instalada a Aula da Academia do Comércio e Marinha, quando era reitor do colégio o Padre Bernardo Joaquim Gomes de Pinho.
Com projecto do engenheiro Carlos Amarante o novo edifício destinava aos orfãos um andar superior, o que nunca veio a acontecer. Então, os orfãos foram relegados para uma área interior, com condições muito precárias e o projecto do renomado engenheiro avançava muito lentamente.
Trinta anos depois, em 1832, devido ao estado de ruína em que se encontrava a igreja, já não foi possível realizar a festa a Nossa Senhora da Graça.
No relatório da
Câmara de 1873, lia-se que “os órphãos vivem em casa sem ar e sem luz,
parecendo que estão num cárcere ou numa penitenciária!”.
Em 1881, o mesmo
vereador da Câmara afirmava “este estabelecimento, edificado em terreno
pertencente aos órphãos, e que, segundo o decreto de 9/2/1803, devia ser
construído com o fim principal de os beneficiar, tornou-se, no tempo actual, o
seu maior inimigo”. Isto 80 anos depois do início das obras!
Tendo sido, o
colégio, indemnizado pelo estado, num valor de 58.755$200 reis, mudou para a
Rua dos Mártires da Liberdade, até que fossem para casa própria.
Em 1903, o Colégio deixou as suas instalações na Cordoaria e,
depois, da passagem pela Rua dos Mártires da Liberdade, n.º 237, onde,
actualmente, estão sedeados os “Albergues Nocturnos do Porto”, foi
ocupar o edifício do antigo Seminário de Santo António que tinha ardido durante
o Cerco do Porto, no Monte do Prado do Bispo, hoje Largo do Padre Baltasar
Guedes que nessa época foi Avenida do Padre Baltasar Guedes e
no local no antigo Olival, viria a ser construído o edifício da Universidade.
O Monte do Prado ficou célebre na história do Porto, além de
outros motivos, por ter sido por ele que as tropas anglo-lusas entraram na
cidade, em 12 de Maio de 1809, para expulsar os soldados franceses do general
Soult, que abandonaram o Porto em fuga desordenada. A escalada do monte foi o
culminar de uma hábil manobra das tropas portuguesas e inglesas, em que
colaboraram, com entusiasmo e muita dedicação, os próprios habitantes da cidade.
Sabe-se, por exemplo, que na véspera da chegada do exército
anglo-luso à margem esquerda do Douro, um barbeiro do Porto saiu da cidade,
ainda noite cerrada, dentro de um barquito que foi deixar no outro lado do rio,
junto da Capela do Senhor de Além. Horas mais tarde, o mesmo barbeiro, mais
dois outros indivíduos, vieram naquele barco ao cais do Porto buscar mais três
barcos maiores, que viriam a ser utilizados pelos oficiais e soldados
anglo-lusos para atravessarem o Douro.
O Monte do Seminário tem este nome porque, no edifício onde
agora estão os Salesianos e, antes, esteve o Colégio dos Órfãos, funcionou o
Seminário Diocesano de Santo António, velha pretensão do bispo D. João Rafael
Mendonça, desde 1783.
Seria fundado em 21 de Julho de 1804, pelo então bispo do
Porto, D. António de S. José de Castro, que conseguiu a provisão para a sua
construção em 29 de Dezembro de 1800.
As obras de construção prosseguiram mesmo durante a ocupação
francesa. O edifício era grandioso. Ainda hoje, domina o cume do monte com a
sua imponência. O primeiro ano lectivo do seminário foi o de 1811/1812. Em
1832, ano da entrada no Porto das tropas liberais, ainda tinha aquelas funções
e funcionava em pleno.
Completamente em ruínas, após as lutas do Cerco do Porto, este
edifício seria o destino do Real Colégio de Nossa Senhora da
Graça dos Meninos Órfãos da cidade do Porto, com a planta da nova obra a ser apresentada a
30 de Novembro de 1899 e o projecto aprovado a 13 de Setembro de 1900, após
o que aquela instituição, fundada por Alvará Régio de D. João IV, datado de 30
de Janeiro de 1650, ter passado por outros locais da cidade.
Assim, para o prédio da Rua dos Mártires da Liberdade (antiga Rua da Sovela), nº 237, foi o colégio em 1901 até que, em 1903, rumou ao Seminário, no Prado do Repouso.
Naquela morada, na antiga Rua da Sovela, se acabariam por estabelecer os Albergues Nocturnos do Porto, pois, em 1911, sob a acção do benemérito Arnaldo Ribeiro de Faria, o prédio seria adquirido e restaurado para o efeito pretendido.
O antigo edifício do Seminário de Santo António, em 1910, no monte a que deu o seu nome – Ed. Foto Guedes
Bairro de lata no Monte do Seminário, na década de 1940
O edifício do antigo Seminário à esquerda e o Areinho à
direita da Ponte Maria Pia
A capela do Seminário seria inaugurada em 1906, pelo Bispo do Porto D. António Barroso.
Estava dotada de quatro altares em talha, transferidos da antiga Igreja de Nossa Senhora da Graça.
O colégio, por sua vez, estava dotado de espaços oficinais para servir a aprendizagem dos alunos.
De entre muitos alunos que, mais tarde, se destacaram, uma referência especial para o arquitecto Rogério de Azevedo.
Em 1951, por proposta da Câmara Municipal do Porto, a
Direcção e Administração do Colégio foi entregue aos Salesianos que dão
continuidade à obra e às intenções do P. Baltasar Guedes, cujo método educativo
e destinatários estão em perfeita sintonia com os de S. João Bosco, seu
fundador.
Vista aérea, actual, do Monte do Seminário e do edifício
onde funcionou o Seminário
Igreja de Nossa
Senhora da Graça
A Igreja de Nossa Senhora da Graça teve a sua primeira
pedra lançada em 21 de Novembro de 1651, levantada no lugar em que há muitos anos se encontrava uma pequena ermida da mesma devoção, tendo a Câmara Municipal contribuído
com vinte mil reis para o arranque das obras.A igreja tinha onze altares e, num
deles, encontrava-se a Senhora da Conceição, pertencente ao regimento dos
militares da cidade, numa irmandade instituída em 1697, pelo coronel António
Monteiro de Almeida, tendo a sua celebração própria no quarto Domingo de Agosto,
«com todos os cultos eclesiásticos militares».
A igreja e o colégio recebiam água vinda
de Paranhos.
“Baltasar Guedes, morreu a 6 de outubro de 1693, e foi
sepultado «no pavimento da porta travessa que sai da igreja, do colégio para o
claustro». Numa parede próxima, gravou-se o singelo epitáfio: Aqui jaz o
primeiro reitor e fundador deste colégio dos órfãos Baltazar Guedes a seis de Outubro
de mil seiscentos e noventa e três. Como legado perpétuo, aos seus sucessores
deixou a obrigação de se cantar «uma missa de requiem pelas almas dos
justiçados, com cinco responsos no lugar de suas sepulturas, que é de fora da
porta do Olival, abaixo da primeira torre do muro à mão direita da parte do sul,
onde os vão rezar em comunidade os mesmos meninos órfãos com o seu padre
vice-reitor em uma capela que está junta ao mesmo cemitério»”
Cortesia de Nuno Cruz
Alguns anos antes do começo efectivo
da demolição da igreja, já ela vinha sendo paulatinamente desmantelada.
Assim, em 1885, três dos sinos das suas
torres, pois o quarto, pelas suas dimensões, não caberia no campanário de
destino, foram arrematados, em hasta pública, por 323.600 rs, e seguiram para o serviço da nova igreja de S. Paio de Oleiros que estava a ser edificada.
Na época constou que esta transacção
teve a intervenção de D. Antónia A. Ferreira…
A Igreja de Nossa Senhora da Graça,
começou a ser demolida em Maio de 1899, tendo a arte sacra nela existente
sido transferida a título provisório para o edifício dos Paços do Concelho.
Naquela Igreja de Nossa Senhora da Graça, entretanto demolida, além da imagem da padroeira oferecida pela rainha D. Mafalda, existia, também, uma imagem de S. Sebastião que tinha pendente da seta que atravessava o coração da imagem, uma chave de ouro que, segundo a lenda, pertencera à Porta do Sol da muralha Fernandina. Supostamente, a chave estaria ali, para que o santo protegesse a cidade da peste.
Todas a relíquias acabariam
por desaparecer sem deixar rasto, à excepção do cruzeiro.
Este cruzeiro, conhecido por “Senhor dos Assobios”, que
tinha já uma atribulada existência, encontra-se no cemitério Prado do
Repouso, na parte voltada para o rio Douro, numa espécie de miradouro.
Houve no Porto dois calvários. Um no local onde em 1704 se
levantou o convento das carmelitas e outro junto da Porta do Olival, denominado
Calvário Novo.
Coroava o Calvário Velho um antigo Cristo de granito,
velhinho de séculos, que foi transferido para o Recolhimento do Anjo em 1701 e,
que quando este foi extinto, passou para o Colégio dos Meninos Órfãos do Padre
Baltasar Guedes. A imagem foi para qualquer canto e a coluna talvez para
travejamento do edifício.
Quando em 1901 o colégio teve que abandonar as instalações
que vinha ocupando e enquanto não eram albergados na sua casa actual, ocuparam,
provisoriamente, instalações alugadas em edifício pelo Município, tendo a
imagem do Cristo sido levada
para o mausoléu das freiras de Santa Clara no cemitério do Prado do Repouso e,
posteriormente mudado para outro local, continuando dentro do próprio
cemitério.
“Com a vitória do Liberalismo, depois do
Cerco do Porto, os mosteiros foram extintos e alguns demolidos, como foi o
caso dos conventos de S. Bento da Ave-Maria e de Santa Clara, embora deste
tivesse sido salva a igreja, um das mais belas do Porto. Dos claustros dessas
casas conventuais, fez-se a inumação dos restos mortais das religiosas que lá
estavam sepultadas. E para recolher essas ossadas, digamos assim, a Câmara
mandou construir dois mausoléus no cemitério do Prado do Repouso: um para as
ossadas das monjas beneditinas, outro para os restos mortais das clarissas. O
primeiro ainda existe. Fica ao lado direito de quem entra no cemitério pelo
lado do Largo do Padre Baltasar Guedes, quase em frente à igreja, e está
ornamentado com uma porta manuelina levada também do convento. O outro ficava
um pouco mais adiante, era diferente, e tinha a ornamentá-lo, imaginem, a cruz
com o venerando Cristo do Calvário Velho.
Mas, um dia, o vereador municipal com o
pelouro dos cemitérios, Alfredo Cunha, o célebre Cunha da Rasa, foi ao Prado do
Repouso e pareceu-lhe que o mausoléu das freiras de Santa Clara ocupava um
espaço demasiado grande. E tomou uma resolução: mandou demolir o túmulo, se
assim se pode dizer, ordenou que as ossadas que ali se guardavam fossem
enterradas noutro local do cemitério e o espaço que ficou livre foi aproveitado
para a construção de vários jazigos.
A antiga cruz do campo do Calvário Velho
saiu incólume da destruição que atingiu o mausoléu das freiras de Santa Clara
e foi colocado na parte superior do mais novo talhão do cemitério do Prado do
Repouso. Está em destaque numa espécie de' varandim em forma de meia laranja e
passou a ser conhecido (sabe-se lá porquê), por Senhor dos Aflitos. A história
milenária desta veneranda relíquia portuense foi contada, pormenorizadamente,
pelo padre Francisco Patrício, nas páginas de "O Comércio do Porto"
de 22 de novembro de 1903”.
Com a devida vénia a
Germano Silva
Aquele cruzeiro,
também chamado do “Senhor dos Assobios” terá pertencido, segundo a lenda, à
capelinha mandada construir por D. Mafalda, mulher de D. Afonso Henriques, em
louvor de Nossa Senhora da Graça, em 1160, dizem alguns, sem quaisquer provas.
O Senhor dos Assobios actualmente
O Cristo do Calvário Velho ou Senhor dos Assobios
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