domingo, 10 de setembro de 2017

(Continuação 9)

20.10 Quinta da China


A Quinta da China, localizada junto ao rio Douro, na sua margem direita, já existia nos finais do século XVIII, sendo ocupada com uma brévia dos padres gracianos de Santo Agostinho de Belomonte.
 
 
 


In “Jornal de Notícias” de 9 de Fevereiro de 2020
 
 
As grandes intervenções que a tornaram numa das quintas mais notáveis do Porto realizaram-se, porém, já no século XIX. 
A estrutura da propriedade assenta numa hábil ocupação da escarpa que se ergue a partir do rio, obtido através da construção de muros de suporte e de um conjunto de outros elementos decorativos, sendo também de destacar o terraço ajardinado fronteiro à casa e voltado para o Douro, rematado por um parapeito de grande interesse. 
Em 1721 pertencia a João de Freitas que faleceu nesse ano a 8 de Setembro.
Em 1788 a quinta da China pertencia ao negociante João Lopes Ferraz e, alguns anos mais tarde, em 1869, foi adquirida por António Martins de Souza e Olinda Perez, pais de Aurélia de Sousa e Sofia de Sousa, ambas notáveis pintoras.
Filha de emigrantes portugueses no Brasil e no Chile, Aurélia de Sousa nasceu em Valparaíso, no Chile, em 13 de Junho de 1866, sendo a quarta de sete filhos do casal. Viria a mudar-se para Portugal juntamente com os pais, com apenas três anos, passando a habitar a Quinta da China comprada por seu pai, vindo este a falecer em 1874 quando Aurélia tinha apenas oito anos.
Aurélia em 1893 entrou para a Academia de Belas-Artes do Porto, onde foi aluna de João Marques de Oliveira, o qual muito influenciou a sua obra.
Em 1898, Aurélia mudou-se, acompanhada de sua irmã, Sofia, (mais nova do que ela 4 anos) para Paris, onde frequentaram na Academia Julian, os cursos de Jean-Paul Laurens e de Jean-Joseph Benjamin-Constant.
Sem direito a bolsas, que não eram atribuídas depois dos 25 anos, as duas irmãs só conseguem viver e estudar em Paris graças ao apoio financeiro dos seus cunhados, José Augusto Dias, casado com Helena, a irmã mais velha, e Vasco Ortigão Sampaio, casado com Estela.
A importante colecção de arte da família seria herdada e prosseguida por uma filha de Estela, Marta Ortigão Sampaio, também ela, pintora.
Parte do espólio das duas irmãs e da sua sobrinha pode ser hoje apreciado no museu de Marta Ortigão Sampaio na Rua Nossa Senhora de Fátima, antiga Rua das Valas, constituído por várias obras e pelo edifício doados à cidade, por aquela que deu o seu nome ao museu.
Com um acervo que, para lá dos espólios de Aurélia e Sofia de Sousa e da restante colecção de pintura de alguns outros autores, inclui obras de Marta Ortigão e das suas valiosas joias e, ainda, louças das Caldas da Rainha, móveis e reconstituições dos ambientes da grande burguesia portuense de meados do século XX.
O museu está instalado num edifício modernista da Rua de Nossa Senhora de Fátima, encomendado ao arquitecto José Carlos Loureiro, que o construiu nos anos 50 em diálogo com a sua obra-prima de arquitectura de habitação, o vizinho e contemporâneo Edifício Parnaso, pertença da irmã de Marta Sampaio, Maria Feliciana e do músico Fernando Corrêa de Oliveira.
Marta Ortigão que casou aos 54 anos e ficou viúva 4 anos depois acabaria por nunca viver no edifício da Rua Nossa Senhora de Fátima e por falecer com 81 anos, a 26 de março de 1978, na Quinta de S. Mamede, hoje, em dia, uma casa de apoio a crianças com deficiências intelectuais.


Casa da Quinta de S. Mamede na Rua Godinho de Faria nº 305


O rio Douro e o Areinho vistos da quinta da China por Aurélia de Sousa – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”


Aurélia de Souza (1866-1922) reproduziu a Quinta da China e as paisagens que daí se desfrutavam, em várias das suas telas.
 Na quinta da China viveu Aurélia com a sua irmã Sofia, que deixaria de exercer a sua arte após o falecimento com 55 anos de Aurélia de Sousa, ao que se disse, por doença pulmonar acontecida por contacto com os químicos exalados das tintas aplicadas nas suas telas.

Rio Douro visto a partir do Monte do Seminário – Lady Jackson, In: “Fairy Lusitania” em 1873

Outra panorâmica a partir do Monte do Seminário – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”


A Quinta da China, velha de muitos séculos, ainda existe e continua a ter uma privilegiada situação sobranceira ao rio Douro.
Sobre a quinta, Agostinho Rebelo da Costa na sua "Descrição topográfica e histórica da cidade do Porto", publicada em 1788, escreveu:

"na grandeza da sua casa, do seu terreno, jardins, árvores e muros tem poucas semelhantes".

O nome da quinta, segundo uma antiga tradição, tem a ver com a actividade comercial do proprietário, que negociava com produtos provenientes da China, nomeadamente louças e tecidos.
Durante o Cerco do Porto (1832/1833), foi montada ali uma bateria dos liberais e quando se construiu a estrada ao longo da margem direita do rio Douro, entre o Freixo e os Guindais, a parte mais baixa desta propriedade desapareceu. 
Nessa época desapareceria uma capela de planta poligonal revestida de azulejos.
Actualmente a propriedade é pertença do grupo Mota-Engil.

Casa da Quinta da China e Capela vista de Norte em 1969 – Ed. Teófilo Rego, AHMP; Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”

Próximo à Quinta da China - Ed. José Manuel Barbosa em 2012

Na foto acima a caminho do Rego do Lameiro ainda é visível o que sobrou de uma capela.

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