“Litografia do
Bolhão” ou “Empreza do Bolhão, Lda.”
A “Empreza do Bolhão, Lda.” foi fundada em 16 de Maio de
1923 e ficou sediada, na Rua Formosa, no Palácio do Bolhão.
Sucederia, nesse mesmo local, à empresa de Raúl Caldevilla
denominada “ETP-Empreza Técnica Publicitária”, fundada em 1912, como
“Organizações de Propagandas de Raul Caldevilla & Cia, Lda.” e que, para
aqui tinha vindo, em 1917, das suas primitivas instalações na Rua de Santo
António.
Em 1921, Raul Caldevilla, Eduardo Kendall, João Manuel Lopes
de Oliveira e António de Oliveira, criam a firma “Empreza Técnica Publicitária
Film Gráfica Caldevilla” ou “Caldevilla Film”.
Em 26 de Junho de 1923, estreia no “Salão Jardim Passos
Manuel”, o filme “As Pupilas do Senhor Reitor”, realizado por Maurice Mariaud
(1875-1958), por sinal o último.
Litígios vários entre os sócios levam à demissão de Raul
Caldevilla e por consequência ao fim da “Caldevilla Film”.
Cartaz do filme “As Pupilas do Senhor Reitor” – 1923
A partir de 16 de Maio de 1923, os restantes sócios
arrancavam com a “Empreza do Bolhão, Lda.”, dando sequência ao trabalho da
“ETP-Empreza Técnica Publicitária” de Raul Caldevilla, nomeadamente com a
publicida no exterior.
Cartaz de 1925
Cartaz de 1930
A partir de 1934, a “Empreza do Bolhão, Lda.” passa a contar
com a colaboração de António Cruz Caldas (1898-1975), ilustrador,
caricaturista, cenógrafo e publicitário, afilhado da pintora Aurélia de Sousa.
Teve actividade, ainda, nos jornais “Sporting” e “Cócórócó”,
“Comércio do Porto” e “Tripeiro”.
Colaborou com várias instituições da cidade do Porto, na
elaboração de cartazes para a “Empreza do Bolhão, Lda.”, casos do Orfeão do
Porto e do Teatro Sá da Bandeira.
Calendário de parede, em 1950
Raul Manuel Alves Machado de Oliveira, o filho de Raúl Lopes
de Oliveira, na década de 1960, assume a administração da “Empreza do Bolhão,
Lda.”.
Após a revolução de 25 de Abril de 1974, a situação difícil
que a empresa atravessou só foi possível ultrapassar por Raul Oliveira,
socorrendo-se da ajuda do Banco Borges & Irmão.
Após duas reestruturações de capital, em 1982 e 1988, Raul
Machado Oliveira sofre um acidente neste ano e, em 1990, falece.
Em 1991, a “Higifarma, SGPS, S.A.” torna-se a única
acionista da “Empresa do Bolhão, Lda.” e serão administradores, Caetano Beirão
da Veiga, Alexandre Martins e Hélder Bexiga Tomás de Almeida que virá a ser o
presidente da “Higifarma, SGPS, S.A.”.
A partir de 1994, a “Empresa do Bolhão, Lda.” passa
sucessivamente a “Sociedade do Bolhão, Lda.” e “Sociedade do Bolhão, S.A.” que
absorve a “Poligráfica”.
Surge, então, a “Packigráfica, S.A.” fruto da junção da
“Sociedade do Bolhão, S.A.” e da “Higifarma, SGPS, S.A..
Na gerência de Caetano Beirão da Veiga, em 1995, é decidida
a transferência da “Empresa do Bolhão, S.A.” para a Maia, para a Rua Dr.
Joaquim Nogueira dos Santos, n.º 135, Nogueira-Maia.
Packigráfica na Maia
Entretanto, em 1998, a Litografia Nacional, fundada por João
Ignácio da Cunha e Sousa (1821-1905) entra para a “Packigráfica, S.A.”.
A queda do “Banco Espírito Santo”, em 2014, traça o fim da
Packigráfica, S.A.”
A “Empresa do Bolhão, S.A.” chegava ao fim.
Durante um ano, o Museu de História e Etnologia da Terra da
Maia, promoveu uma exposição sobre a “Empreza do Bolhão”, com o espólio que
adquiriu, num leilão efectuado em 25 de Fevereiro de 1921, na sequência da
declaração de insolvência da Packigráfica.
Cartaz da Exposição promovida pelo Museu Municipal da Maia
Nota: No que toca ao texto referente à vulgarmente conhecida
por Litografia do Bolhão, foi baseado no blogue “Restos de Colecção”,
administrado por José Leite, a quem agradecemos desde já.
Litografia Nacional e
Litografia Lusitana
João Inácio da Cunha e Sousa (Ponte de Lima, 1821 - Porto,
1905), capitalista, irmão do caricaturista Sebastião Sanhudo, e sócio deste na Litografia
Portuguesa, resolve, em 1895, fundar a Litografia Nacional, em sociedade com o
seu filho, Inácio Alberto de Sousa.
Após o falecimento de João Inácio da Cunha e Sousa, o seu
filho primogénito, daria continuidade ao negócio litográfico.
Em 1910, a Litografia Nacional estava pela Rua de
Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga), nº 22 e Inácio Alberto de Sousa residia,
bem perto, no Largo do Padrão, nº 20, sendo, naquela data, o seu pai já
falecido há 5 anos.
Publicidade à Litografia Nacional na Rua de Malmerendas
Fachada da Litografia Nacional na Rua do Dr. Alves da Veiga,
nº 22 – Ed. Graça Correia
Pormenor da fachada da Litografia Nacional na Rua do Dr.
Alves da Veiga – Ed. Graça Correia
Naquela data, mais propriamente em 9 de Julho de 1910,
Inácio de Sousa solicita à Câmara do Porto, autorização para ampliar as suas
instalações da Rua Dr. Alves da Veiga.
Estas, acabariam por estender-se, mais tarde, até à Rua D.
João IV, cuja área lhe era contígua, pelas traseiras e, por aqui, continuariam
por muitos anos.
Litografia Nacional na Rua D. João IV – Ed. Graça Correia
Inácio Alberto de Sousa, que viria a ser comendador, casou com
Ângela Maria Bandeira Russel, e expandiria o seu negócio litográfico para a
zona da Boavista, para a Rua Particular de Agramonte.
Trecho de requerimento (19 Abr. 1921) solicitando licença de
construção de litografia em terrenos da Boavista, na Rua Particular – Fonte:
”Gisaweb”
Placa Toponímica da Rua Particular Meneses Russel – Ed.
Graça Correia
Alçado proposto em projecto pela Litografia Nacional à
Câmara do Porto, de vedação e acesso às instalações na Rua Particular de Agramonte
Aspecto actual da vedação e acesso às instalações na Rua
Particular de Agramonte, depois de demolição da primitiva, que se observa na
gravura anterior – Ed. Graça Correia
Litografia Lusitana, na Rua Particular Meneses Russel – Ed.
Graça Correia
Stand da Litografia Nacional durante a Exposição de Artes
Decorativas realizada no Palácio Foz, em 1949
A Litografia Nacional, nestas instalações junto da rotunda
da Boavista viria, anos mais tarde, a ser a Litografia Lusitana, sita à Praça
Mouzinho de Albuquerque, nº 197 (na Rua Particular Meneses Russell, 197) e, que,
até ao final da década de 80 do século XX, ainda era propriedade dos
descendentes – os Russel de Sousa.
Entretanto, uma “Real
Tipografia e Litografia Lusitana”, que tinha sido fundada, em 1865, por
Apolino da Costa Reis, em 1885, já era a firma Reis & Monteiro e ficava na antiga Rua D. Fernando, depois, Rua da Bolsa, em 1941, seria adquirida por Inácio Alberto de Sousa, que
a junta à sua Litografia Nacional, e o património daí resultante, em 1947, está
na rotunda da Boavista como Litografia
Lusitana, em local que já vinha sendo ocupado desde os anos 20.
Inácio Alberto de Sousa (1874-6/1/1948), que veio a ser comendador,
casou com Ângela Maria Bandeira Russell e desta teve dois filhos, dos quais o
primogénito, António Russel de Sousa (1897-24/7/1969), foi Presidente da
Comissão Concelhia do Porto da União Nacional, Procurador à Câmara Corporativa
(II Legislatura), Presidente do Grémio Nacional dos Industriais de Litografia e Fotogravura, Presidente da Comissão Municipal de Assistência do Porto, comendador,
financeiro e industrial gráfico.
Em 1976, esta empresa estava ainda nas mãos do comendador
António Russel de Sousa (neto de João Inácio de Sousa) que, depois da sua morte,
a deixará à sua filha Maria Gabriela Dias de Almeida Russel de Sousa.
A gestão da empresa passaria então a ser executada pelo marido
de Maria Gabriela Russel de Sousa, o Dr. Fernando Adolfo Rocha Martins Barbosa
que, em finais da década de oitenta, a acabará por vender a um grupo
estrangeiro.
O negócio litográfico e tipográfico teve durante a ditadura
salazarista um notável desenvolvimento, para o qual contribuiria a política de
propaganda de António Ferro, o ideólogo do regime, que se apoiava muito pela
mensagem através do cartaz. Eram épocas também, em que o regime, na mesma
senda, incentivava as grandes empresas a apoiar socialmente os seus operários.
Em 1935, tinha sido já apresentado um requerimento dirigido
à Câmara do Porto, por Inácio A. de Sousa e Filho, proprietários da Litografia
Nacional, solicitando que lhes fosse feita a vedação, arruamento e iluminação
do terreno do antigo Bairro Xavier da
Mota, um bairro operário que lhes tinha sido cedido, destinado a habitação
para os seus operários, como prémio anual do trabalho, situado no Monte Pedral.
Bairro "O Comércio do Porto" no Monte Pedral, que
haveria de ser chamado também de Monte Novo, no início do século XX
Em Abril de 1945, circulava na C.M. Porto uma informação do
arquitecto A. Losa, do Gabinete de Estudo do Plano Geral de Urbanização,
acompanhada de planta topográfica, sobre a zona onde se pretendia construir o
Bairro da Litografia Nacional, no Monte Aventino.
Assim, no âmbito desta política, no ano de 1956, seria
editada uma brochura para comemorar a finalização da segunda fase de construção
de um bairro habitacional destinado aos funcionários da Litografia Nacional.
“Bairro da Litografia Nacional”, ao Monte Aventino, na Rua
Inácio Alberto de Sousa – Fonte: Google maps
Cartaz da Litografia Nacional sobre C.F. da Beira-Alta, em
1920
Publicidade à Litografia Nacional, em 1935
Cartaz da Litografia Nacional, em 1944
Chalet Suisso no jardim do Passeio Alegre – Ed. Litografia
Lusitana (Postal nº 6)
Em 1998, a “Litografia Nacional” é absorvida pela
“Higifarma, SGPS, S.A.”
A “Litografia Nacional” foi dissolvida e liquidada em 2017.
(Continua)
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