No jornal “Periódico dos Pobres”, do Rio de Janeiro, que se
publicava às 2ªs, 4ªs e Sábados, nºs 7 e 8, de 29 de Abril e 1 de Maio de 1850,
era transcrito um artigo, publicado no portuense jornal “O Nacional”,
intitulado “O que é o Porto?"
De autor não identificado, há quem afirme que o escriva foi
Camilo Castelo Branco.
Na peça jornalística era traçada uma imagem da cidade do
Porto e do portuense de meados do século XIX.
Na sequência da última parte do texto anterior, onde o autor
caracteriza a mulher do Porto, o excerto de um outro texto, da autoria de
Alberto Pimentel vai, nesta capítulo, explicitar as características das
portuenses dos arrabaldes da cidade.
Alberto Pimentel, In “Guia do Viajante na Cidade do Porto e
seus Arrabaldes” (1877)
Mulher dos Arrabaldes da cidade, c. 1900
Por sua vez, Firmino Pereira, sobre um Porto que já era
apenas uma memória, escrevia:
Firmino Pereira, In “O Porto d’Outros Tempos”
Firmino Pereira (Porto ???? – Porto 1918) deixou-nos uma
obra de leitura obrigatória para quem se interessa pela história da cidade do
Porto, da qual é apresentado um pequeno trecho, acima, tendo sido ainda, para
além de escritor, jornalista e teatrólogo. Usou o pseudónimo F. P..
Firmino Pereira, em “O Porto d’outros tempos”, olha
para trás, para o que tinha sido a sua cidade e vê-a transformar-se a uma
velocidade incrível.
Lugares, costumes, formas de viver e estados de alma, tudo
se ia alterando e, por vezes, até desaparecendo. Aliás, sempre assim foi
através dos tempos.
Interveniente na “Procissão dos Fogaréos”, realizada pela
Misericórdia do Porto, até 1835, em 5ª Feira da Semana Santa
Palácio de Cristal (demolido)
Interior da nave principal do Palácio de Cristal
Um olhar sobre a Pedra Salgada (à direita) a partir da
Quinta da China – Pintura de Aurélia de Sousa
Solar da
Quinta da Torre Bela, na margem esquerda do Douro, no lugar da Pedra Salgada – Desenho
de Cesário Augusto Pinto (1825 – 1895), In “As margens do Douro – colecção de
doze vistas”, 1848, editada pela litografia de Joaquim Vitória Vilanova
Quinta da
Pedra Salgada, actualmente
Cais
da Quinta da Pedra Salgada, actualmente
Passeio em barco valboeiro de Avintes – Pintura de Silva
Porto
O Entrudo (período de três dia que precedem a Quaresma) era
uma festa popular em que as pessoas se divertiam lançando farinha e baldes de água,
uns aos outros
Fachada do Convento de S. Bento da Ave-Maria (local da
actual Estação Ferroviária de S. Bento) virada para a Rua do Loureiro. Do cimo
desta rua para as instalações do convento e vice-versa, lançavam os namorados
os seus sinais, num namoro à distância
Estação Ferroviária de S. Bento em 1916
Afurada em 1885
Decoração da Rua Mouzinho da Silveira para as Festas de S.
João em 1886
Banda da Guarda
Municipal em dia de festa, à porta da Câmara Municipal do Porto, na
Praça D. Pedro (demolida em 1916) – Ed. Foto Guedes
O texto anterior da autoria de Firmino Pereira tenta
retratar a 2ª metade do século XIX, na cidade do Porto e, o que se segue, em
registo idêntico, pretende dar uma imagem da cidade do Porto no período de
transição do século XIX para o século XX e, ainda, da primeira metade deste.
“Num curto espaço de
tempo, após meados do séc. XX, tudo virou de pernas para o ar.
Então, acudiram as
lágrimas. A memória do séc. XIX. A saudade…
O Porto das procissões
de clamores; o Porto do Palácio de Cristal; o Porto dos carros americanos, da
máquina, dos carros eléctricos; o Porto das Romarias, Senhora da Hora, Senhor
de Matosinhos, Senhor da Pedra, Senhor do Olho Vivo; o Porto do pão-de-ló e do
Doce de Paranhos; o Porto do peixe frito, dos melões e das melancias; o Porto
das bruxas e dos videntes; o Porto dos chafarizes, dos jardins e das alamedas;
o Porto do S. João, alhos-porros, plumas, ramos de cravos, molhos de cidreira,
na Lapa, Cedofeita, Bonfim, Largo dos Lóios, ruas das Hortas, do Almada, da
Sovela, Foz, Rua do Paraíso e Bairro Alto; o Porto dos passeios no rio Douro,
orquestra Sabá a refinar; o Porto
das assadeiras de castanhas; o Porto dos aguadeiros, das galinheiras, das
peixeiras, dos amoladores, dos compõe- louças e guarda-chuvas, das lavadeiras,
das doceiras, das leiteiras, dos vendedores de azeite, das tremoceiras; o Porto
do entrudo, mascarados, serpentinas, confeitos, farinha; o Porto dos cortejos
dos Fenianos; o Porto dos pregões; o Porto dos cafés, dos restaurantes, dos
salões de bilhar; o Porto do sável e da lampreia; o Porto dos lampiões a gás; o
Porto das feiras do pão e dos criados; o Porto das bandas de música, dos
ranchos e das rusgas; o Porto e a procissão do encontro no Campo Lindo; o Porto
dos escarnicadores na Fonte dos Ablativos; o Porto dos Passeios à Foz (linha
17), a Gondomar (linha 10//), a S. Pedro da Cova (linha 10/), à Ponte da Pedra
(linha 7); o Porto dos teatros e das exposições; o Porto dos banhos, das
praias, das barracas, das camarinhas, da língua da sogra; o Porto sem poluição,
ares e águas; o Porto da saudade…”
Cortesia Guido de Monterey, (In Porto 1)
Carro “Americano” na Praça da Batalha. Este serviço de
transporte foi inaugurado em 1872 e extinto quando apareceram os carros
eléctricos
Torre dos Clérigos e Jardim da Cordoaria ainda com o chalet
(à esquerda)
Chafariz das Virtudes – Cortesia Manuel de Sousa
Aguadeiro da cidade do Porto
Galegos a exercer como aguadeiros junto a uma fonte
Cesteiro, Aguadeiro, Sardinheira (assando peixe) e Lavadeira
Na Praça Almeida Garrett um candeeiro, de um conjunto de
três, que foram iluminados a gás e depois electrificados – Ed. Armando Tavares
O carro eléctrico na Praça D. Pedro c.1901, é um carro de 4
janelas, com o nº 26. Antes tinha o nº 14 e tinha sido importado da Alemanha
Desfile de Carnaval da banda de música da “Casa Guimarães”,
no Palácio de Cristal, em 1905
Feira de pão na Praça Santa Teresa, em 1900
Venda de regueifas na Praça de Santa Teresa - Ed.
Illustração Portugueza (4 Maio 1908)
Aspecto da Praça de Santa Teresa durante venda de regueifas -
Ed. Illustração Portugueza (4 Maio 1908)
Rua das Carmelitas e Mercado do Anjo (à direita). À esquerda,
os Armazéns do Anjo, seguindo-se a Livraria Lello & Irmão, em 1911. O carro
eléctrico parece ter o nº 100 (CCFP), o que a ser verdade, é do tipo de 6
janelas, construído na “Constructora”
No Porto, o pão-de-ló era, de facto, o rei
Venda de pão-de-ló, nos Anjos - Ed. Illustração Portugueza
(4 Maio 1908)
Praça D. Pedro c. 1912, observando-se, ainda, um carro
eléctrico do tipo Inglês
(Continua)
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