segunda-feira, 21 de outubro de 2019

25.68 Um jornal de referência e de causas


No Comércio do Porto (1854 - 2005), fundado por Manuel de Sousa Carqueja (1821 -1884) e pelo Dr. Henrique Carlos de Miranda (1832 – 1902), esteve  a trabalhar a partir de 1880, na sua redacção, o Jornalista e Professor Universitário Bento Carqueja (1860 – 1935).
Os fundadores acima mencionados haviam-se reunido, no início do ano de 1854, numa casa da Rua das Flores, pertencente a Manuel Vaz de Miranda.
Eram tempos, em que saíam para as bancas os jornais: Braz Tisana, Periódico dos Pobres, O Nacional, O Jornal do Povo, O Eco Popular, A Monarquia, O Diário Mercantil, O Porto e a Carta e o Portugal, todos eles com afinidades políticas.
Manuel Carqueja e Henrique de Miranda pretendiam editar um jornal, apenas de cariz comercial.
Assim, em 2 de Junho de 1854, era publicado o primeiro número, com a redacção do jornal e oficina, ambas muito modestas, alocadas na Rua de S. Francisco, nº 10. 
Essa zona da cidade, em grande parte, foi intervencionada e demolida para a abertura da Rua Nova da Alfândega, tendo a Rua de S. Francisco sobrevivido. 
A periodicidade era tri-semanal. Saía às 2ªs, 4ªs e 6ªs Feiras.



“O Commercio” na Rua de S. Francisco, nº 10 – Gravura, In publicação comemorativa do centenário, em 2 de Junho de 1954



Em Janeiro de 1855, já o jornal "O Commercio" era diário e, em 1856, adoptou a designação de "O Comércio do Porto".
Em Novembro de 1857, são inauguradas novas instalações na Rua de Ferraria de Baixo, em prédio da família de Manuel Carqueja.
Os anos que se seguiram ficarão para sempre ligados à história da cidade do Porto, e grande parte dela é passada a partir de 2 de Junho de 1929, depois de ocupar as instalações na Avenida dos Aliados, após a compra, dois anos antes, do terreno que ia até à Rua do Almada, sendo que, na esquina desta rua com a Rua Elísio de Melo, seria construída e concluída em 1932, a célebre garagem de “O Comércio do Porto”, mesmo encostada ao edifício do jornal.
O projecto dos dois edifícios que ficaram adossados, foram ambos, da autoria do arquitecto Rogério de Azevedo.



Edifício de “O Comércio do Porto” na Avenida dos Aliados



Garagem de “O Comércio do Porto” em 1940 (Praça D. Filipa de Lencastre) – Ed. AHMP



Voltando aos primeiros anos, em 1858, junta-se ao projecto inicial, após abandonar os estudos destinados à vida eclesiástica, Francisco Carqueja (1840-1908) irmão de Manuel.
No ano de 1861, de acordo com um comentário de António de Azevedo Castelo Branco (1842-1916), sobrinho de Camilo Castelo Branco, chegado de Coimbra em férias escolares, instalado na Hospedaria do Sol, num 3º andar, à Praça da Batalha, dizia:
 
“O Comercio do Porto, único periódico que havia na nossa pacata hospedaria, era distribuído de tarde para poder publicar a correspondência de Lisboa, que todos os dias de manhã chegava ao Porto na malaposta.”
 
Em 1861, Júlio César Machado visita o Porto e, nessa ocasião, foi convidado para estar presente num sarau musical, levado a cabo pelo “Commércio do Porto”, ao qual se refere no texto seguinte. 




Júlio César Machado, na sua obra literária “Scenas da Minha Terra”, escrita após uma visita efectuada ao Porto, em 1861


O jornalista Custódio José Viera, referido no texto anterior, foi uma personagem nascida no Peso da Régua em 1822 e que faleceu no Porto em 1879.


“Custódio José Vieira distinguiu-se como advogado e como deputado. Formou-se em Coimbra, em 1843. Frequentava o 3° ano de Direito quando rebentou a revolução de 1846, à qual aderiu convictamente. O General Sá Nogueira, então visconde de Sá da Bandeira, nomeou-o comissário civil de uma das três circunscrições em que, ao tempo, foi dividido o Algarve. Mais tarde, voltou à Universidade, formando-se bacharel em Direito.
Abriu banca de Advogado no Porto, onde depressa se notabilizou. Em 1848, estreou-se no jornalismo, no jornal republicano Eco Popular, propriedade do livreiro José Lourenço de Sousa. Seguiu-se uma fase da sua vida jornalística, como redactor do Nacional, onde se distinguiu como polemista e escritor político, nervoso e apaixonado.
Filiou-se no Partido Regenerador. Fundou e dirigiu o jornal O Portuense, do qual também foi proprietário. Em 1867, foi eleito deputado e nessas funções teve grande fama. Em 1871, foi proposto para reitor do liceu do Porto. Em 1876, viria a ser deputado por Lisboa”.
Fonte: “teoriadojornalismo.ufp.edu.pt”



Bento Carqueja, que é a personalidade que se pretende destacar, depois de ter ocupado diversas posições na empresa, acabou por subir, em 1908, após a morte do tio, ao lugar de co-proprietário do jornal, passando então a desenvolver uma nova e inovadora política redactorial e social.



Caricatura de Bento Carqueja no número do jornal “O Comércio do Porto” comemorativo do centenário



«Bento Carqueja nasceu no dia 6 de Novembro de 1860 na Rua Direita, Oliveira de Azeméis. Era o mais velho dos quatro filhos de Bento de Sousa Carqueja, comerciante e actor amador, e de Maria Amélia Soares de Pinho, descendente da aristocrata família Soares de Pinho.
O sobrenome Carqueja procede da alcunha do seu bisavô Manuel de Sousa Bento, de Valbom, que trabalhava como aprendiz numa loja de solas na Rua das Congostas, no Porto (desaparecida com a construção da Rua de Mouzinho da Silveira), e era assim chamado pelos colegas para o distinguirem de um caixeiro também chamado Manuel.
(…) Os primeiros estudos realizados em Oliveira de Azeméis foram prosseguidos no Porto, cidade para onde se mudou aos dez anos com o apoio do tio e padrinho, Manuel de Sousa Carqueja. Nessa época vivia na casa dos tios Francisco e Paulina, na Rua da Ferraria (atual Rua do Comércio do Porto, resultante da junção das ruas da Rosa e da Ferraria de Baixo ou Ferraria Nova), e frequentava o Colégio Nossa Senhora da Glória. Neste colégio fez amizade com Luís de Magalhães e tornou públicos os seus dotes de escritor e orador. Por isso ninguém estranhou que o seu primeiro discurso fosse publicado quando tinha apenas quinze anos de idade. Nem que o seu primeiro artigo fosse publicado quando tinha apenas dezasseis.
Em 1878, matriculou-se no Curso Superior de Agricultura na Academia Politécnica do Porto, que terminou passados quatro anos com excecional classificação de 5 accessits.
Em seguida, ensinou no colégio onde estudara, do qual se transferiu, em 1884, para a Escola Normal do Porto, onde lecionou as disciplinas de Agricultura e de Ciências Físico-Naturais e instalou o "Jardim Botânico" e os laboratórios de Fisiologia Vegetal e Química Agrícola.
(…) Em 1898 foi nomeado professor da Academia Politécnica do Porto, onde permaneceu até 1915. Neste ano, com a instituição da Faculdade Técnica, atual Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, foi convidado a aí lecionar as cadeiras de Economia Política, de Contabilidade e de Legislação das Obras Públicas. Mais tarde, ascendeu ao cargo de Professor Catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto. A reforma chegou depois de 46 anos de ensino.
Por ser um benemérito, doou o seu salário de professor ao Instituto de Investigação Científica de Ciências Económico-Sociais.
Em paralelo com o ensino também se dedicou ao jornalismo no periódico portuense “O Comércio do Porto”.»
Fonte: “sigarra.up.pt”


O Colégio da Glória, frequentado por Bento Carqueja, era um estabelecimento de ensino, consagrado, situado na Rua de Cedofeita, nº 235 e em 1896, tinha como director António Domingues dos Santos que, nesse ano, haveria de se juntar com Manuel Francisco da Silva, na Escola Académica.
Vai ser pela mão de Bento Carqueja, que o jornal “O Comércio do Porto” vai ter um papel fundamental em diversas vertentes das áreas sociais.
Bento Carqueja com uma propensão inacta para se envolver nas questões de âmbito social, incrementou, a partir de 1889, a construção de bairros operários: o do Monte Pedral, em 1889, o de Lordelo do Ouro e o do Bonfim, em 1901.
De realçar, que os últimos anos do século XIX, foram de enormes dificuldades para os portuenses, em virtude dos surtos de tuberculose e da temível peste bubónica.
No campo da habitação, que se prendia também e muito, com questões de salubridade, o “Comércio do Porto” chamava a atenção, nas suas páginas, que aquelas habitações, naqueles bairros, não se destinavam a abrigar operários indigentes, mas, sim, para recolher os mais hábeis, mais assíduos e mais aplicados operários, como prémio dos seus méritos e, não, como auxílio às suas condições de existência, como os azulejos na fachada da «colónia» do Monte Pedral, proclamam: Labor, honor”.


“O jornal O Comércio do Porto promoveu uma subscrição pública entre a comunidade portuguesa emigrante no Brasil com o objectivo de construir um certo número de bairros operários, chamados «colónias operárias». Ao todo, foram construídas 121 casas.
Em 1901, foi construída a primeira «colónia operária» na Foz do Douro. Pouco melhor do que uma «ilha», era uma pequena fila de oito habitações de um único piso.”
Cortesia de Manuel C. Teixeira (Faculdade de Arquitectura da U. T. Lisboa), In “As estratégias de habitação em Portugal, 1880-1940”



A “Colónia Operária da Foz do Douro”, na Rua António Pinheiro Caldas, na Foz do Douro, próximo do Largo da Fonte de Cima – Ed. Manuela Campos


À «colónia operária» na Foz do Douro, seguir-se iam as Colónia Operárias do Monte Pedral (começada a construir em 1899), com 26 habitações (14 numa 1ª fase e 12 numa 2ª fase), a de Lordelo do Ouro (em 1903), com 29 habitações em banda e do Bairro do Bonfim (1901), com 40 habitações, de 3 tipos arquitectónicos.



“A construção do primeiro bairro operário - denominado do Monte Pedral -, localizado na proximidade de grandes fábricas, como a Companhia Fabril de Salgueiros, decorreu em duas fases. Na primeira, resultante da iniciativa d' "O Comércio do Porto", foram construídas 14 casas, sendo o projecto da autoria do arquitecto Marques da Silva, tendo começado a construir-se ainda em 1899. O segundo grupo de casas, situado junto ao primeiro e num total de 12, foi já da iniciativa da Câmara Municipal, que utilizou para o efeito o produto de uma subscrição feita junto da comunidade portuguesa em terras brasileiras, no Pará. Contrariamente ao que muitas vezes é afirmado, o projecto deste segundo grupo não foi elaborado por Marques da Silva, mas sim pelo arquitecto Tomás Pereira Lopes, tendo sido o único que se apresentou no concurso público aberto para o efeito”.
Cortesia José Manuel Lopes Cordeiro (16 de Julho de 2000), In jornal “Público” 


O Bairro do Bonfim (Antas):

“Era composto por três tipos diferentes de habitações: um, idêntico ao de Lordelo (ou seja, habitações em banda); outro, igualmente semelhante ao de Lordelo, "mas modificado segundo as indicações dos médicos Miguel Bombarda e Daniel de Matos", que o visitaram ainda na fase de construção, aquando da realização no Porto de um Congresso sobre a Tuberculose. Estes dois tipos foram projectados pelo já referido Manuel Fortunato de Oliveira Mota, sendo o terceiro da autoria do engenheiro Joaquim Gaudêncio Rodrigues Pacheco.
De todas as habitações então construídas interessa-nos destacar as da primeira fase do Bairro do Monte Pedral e as do terceiro tipo do Bairro das Antas. Efectivamente, ambas as soluções adoptadas, quer por Marques da Silva, quer por Rodrigues Pacheco, eram constituídas por habitações reunidas em grupos de quatro "formando um único edifício no meio de uma parcela de terreno dividida em quatro partes iguais. A cada habitação correspondia um ângulo do edifício, com duas fachadas livres e um jardim independente. Cada uma destas habitações, de dois pisos, era composta por uma sala de estar, uma sala de jantar, cozinha, dois quartos, e um pequeno jardim". No bairro das Antas, "cada grupo de quatro casas, com as respectivas latrinas, ocupa uma área de 150,56 m2 [cada casa e respectiva latrina ocupa uma área de 37,64 m2] ou sejam os oito grupos 1204,48 m2, sendo o restante terreno de 984,56 m2 ocupado pelos pátios das casas, tanque, poço, casa destinada ao forno e ruas". A razão fundamental do destaque atrás evocado reside no facto de ambas as soluções arquitectónicas terem adoptado um novo tipo de casa, inspirado nas habitações construídas por Emile Müller para a Société Mulhousienne des Cités Ouvriéres.”
Cortesia José Manuel Lopes Cordeiro (16 de Julho de 2000), In jornal “Público” 


A Colónia Operária do Monte Pedral tinha por objectivo premiar operários que se distinguissem no desempenho das suas tarefas laborais, tendo o respectivo aglomerado habitacional, sido também conhecido, como Bairro Xavier da Mota.
Por ter sido uma personalidade importante para a cidade do Porto, não sendo, porém, muito conhecida, se dá conta, a seguir, de quem foi Xavier da Mota.


“João Xavier da Mota (Braga, 1850 -Brasil, 1895) era, simultaneamente, homem de negócios e escritor. Numa relação estreita com o Ateneu Comercial do Porto, ofertou bastantes livros e moedas de ouro, prata e níquel à biblioteca desta instituição. Em 2 de Março de 1895, um mês após a sua morte, foi convocada uma assembleia geral extraordinária onde se deliberou que a data do seu falecimento passaria a ser um dia de luto para o Ateneu. Deliberou-se, também, que uma das salas da instituição portuense passaria a ter o seu nome, sala, essa, onde ainda hoje se encontra um retrato de Xavier da Mota. Foi igualmente instituído um prémio anual homónimo no valor de 30 réis, entregue todos os anos ao jornal “0 Comércio do Porto”, sendo este responsável pela sua distribuição. 0 objectivo era distinguir "o estudo, o trabalho e a virtude", três predicados que caracterizavam a postura moral de Xavier da Mota. Destinava-se aos alunos mais distintos da escolas do Porto, dando-se notícia no jornal de vários alunos de tipografia terem sido premiados.
O galardão era entregue em sessões com a presença de figuras ilustres portuenses, as quais patrocinavam prémios complementares tornando, assim, a data num dia de festa. Segundo consta no livro comemorativo do centenário de "0 Comercio do Porto, 1854-1954", nas páginas 38/39 relata-se, com destaque, um crescendo, na importância e na participação, da festa anual de atribuição deste "Prémio 'Xavier da Mota' e festa do trabalho", tendo começado a celebrar-se na nave central do Palácio de Cristal, para chegar a ser comemorado no já desaparecido, Estádio do Lima, com a presença do então Presidente da República, general António Óscar de Fragoso Carmona.”
Cortesia de Eduardo Filipe Valente Cunha da Silva Aires (Dissertação de Doutoramento em Design de Comunicação, apresentada, em 7 julho de 2006, à Faculdade de Belas-Artes da U. P.)


Xavier da Mota


Artigo do jornal “O Comércio do Porto” sobre a atribuição dos prémios “Xavier da Mota” em 1951


Através do jornal “O Comércio do Porto”, Bento Carqueja ajudou também a instituir as creches, chamadas de “Creches do Comércio do Porto”, para as quais angariou fundos, recorrendo a métodos inovadores.
Num deles, usando, por exemplo, um biplano (comprado em França, por um industrial portuense, de seu nome, António da Silva Marinho) que evoluiria durante 1 semana nos céus do Porto, partindo de improvisado aeródromo perto do Castelo do Queijo, entre 7 e 15 de Setembro de 1912.
Aquele industrial foi membro da Associação Industrial Portuense e seu Presidente entre 1908 e 1910.



“Entre 1910 e 1933 foram criadas as chamadas creches de “O Comércio do Porto”.
É curioso saber que a primeira creche funcionou numa sala da redacção do Jornal, para se aplicar o dinheiro que tinha sobrado de uma subscrição pública, ocorrida aquando das cheias de 1909.
Depois, seguiram-se outras inaugurações: a 5 de Maio de 1910, teve lugar a abertura da creche que se situava na Rua da Reboleira, nº 41; a creche no Lordelo abriu a 15 de Agosto de 1915 e, mais tarde, passou a ser denominada de António da Silva Marinho; a creche do Bonfim foi inaugurada a 1 de Setembro de 1930 e designou-se, posteriormente, de Laura Dias de Sousa. Quanto à creche da Foz do Douro, foi aberta em 27 de Agosto de 1932, designada Elisa Carqueja, o nome da mulher de Bento Carqueja.
Estas creches destinavam-se a recolher e a alimentar, durante o dia, crianças carenciadas, até aos 3 anos e eram administradas por uma comissão, eleita trienalmente, pelos sócios beneficentes.
Relativamente à creche do Bonfim, na Rua Dr. Carlos Passos, junto à Avenida Fernão de Magalhães, será interessante sabermos mais alguma coisa sobre ela, uma vez que o edifício de outrora, abandonado e muitas vezes vandalizado, tem, nos dias de hoje, outra utilização: é a Casa d’ Artes do Bonfim.
O edifício é da autoria do arquitecto Rogério de Azevedo (1898-1983) e o projecto desta creche foi feito para um pequeno terreno, cedido pela Câmara Municipal do Porto, pretendendo o arquitecto incluir um espaço maior de jardim, para recreio das crianças, o que não veio a acontecer, por dificuldades surgidas posteriormente. O edifício em causa, agora recuperado, mantém vários elementos decorativos característicos da Art Deco, quer nos painéis exteriores que ostentam relevos com temas de carácter lúdico/infantil, ou temas florais de grande sobriedade ou, interiormente, os apontamentos, em ferro, nas janelas”.
Cortesia de Maximina Girão Ribeiro, In “etcetaljornal.pt”


Creche do Bonfim



Creche “O Comércio do Porto”, actualmente a Casa d’Artes do Bonfim




Para além das citadas creches, localizadas no Porto, uma outra seria fundada, em V. N. de Gaia, na Afurada.
Uma vertente de apoio social à qual Bento Carqueja deu, também, o seu contributo, mais uma vez estribado no jornal “O Comércio do Porto”, aconteceu a partir de 1914, com a organização e estabelecimento para os mais desprotegidos, das sopas económicas, tendo-se chegado a distribuir mais de 70 000 refeições.
Aliás, foram várias as entidades que se dignaram abraçar essa causa.
Por exemplo, a 12 de Agosto de 1914, a Junta de Paranhos criaria uma Cozinha Económica, tomando a iniciativa de, desta forma, atenuar a miséria operária, aumentada pela guerra.



Pobres à porta de uma casa, em 1916 – Ed. Photo Guedes


Na foto acima, constante do acervo do Arquivo Municipal do Porto, observa-se um grupo de pessoas que esperam, possivelmente, pela entrega de uma sopa – “A sopa dos Pobres”.
Desconhece-se qual a rua em que se passa esta cena. A foto não a menciona e, até hoje, que se saiba, alguém o fez.
Poderá tratar-se de uma rua que desapareceu completamente, como são os casos das ruas da Cancela Velha, do Laranjal, dos Lavadouros, Elias Garcia, etc.
Entre outras intervenções na vida pública, Bento Carqueja usou, pela primeira vez, correspondentes no estrangeiro; contratou colaboradores de renome nacional; criou um museu para promoção das artes; estimulou a homenagem aos grandes vultos da cultura nacional já desaparecidos; criou bibliotecas e instituiu "O Lavrador" (1903), folha mensal gratuita dedicada aos agricultores, patrocinada por José Cláudio Mesquita, que também se envolveu na fundação de escolas agrícolas móveis.
Na sua terra de origem, fundou a Fábrica de Papel do Caima (1905), ajudou a implementar o abastecimento de águas (1906), edificou um asilo, instalou a iluminação pública, o caminho-de-ferro do Vale do Vouga, a Associação de Bombeiros e a Santa Casa da Misericórdia, assim como criou a Escola de Artes Gráficas e Ofícios (1927) e recuperou a Igreja matriz, o Parque La Salette e os Annaes Municipaes.


O jornal “O Comércio do Porto” viu a sua última edição ser impressa, em 30 de Julho de 2005.
Era o mais antigo jornal do continente português e a sua morte foi acompanhada da mais impávida indiferença por parte dos meios culturais, políticos e económicos.

“O Comércio do Porto” foi fundado em 2 de junho de 1854, saindo para as bancas com a designação de “O Commercio” e com periodicidade trissemanal: às segundas, quartas e sextas-feiras. Custava 40 réis. Foram seus fundadores Henrique Carlos Miranda e Manuel Souza Carqueja e sua linha editorial era clara: satisfazer a “necessidade sentida na praça do Porto dum jornal de commercio, agricultura e industria, onde se tratem as matérias económicas, históricas e instructivas”. Em 1855 passou a jornal diário e, no ano seguinte, adotou a designação de “O Comércio do Porto”. Após o 25 de abril de 1974 tornou-se um dos periódicos mais influentes em Portugal. As suas tiragens chegaram a atingir os 120 mil exemplares diários”.
Cortesia de Alexandre Parafita


O grupo espanhol Prensa Ibérica (cujo principal título é o jornal galego Faro de Vigo), passaria a ser o proprietário do “O Comércio do Porto”, do seu título e do seu espólio.
Por acordo entre as partes, o acervo do jornal passou a ser possível de consulta online, desde há alguns anos, encontrando-se sedeado, em V. N. de Gaia, no Arquivo Municipal Sophia de Mello Breyner.

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