Centenário da morte do
Marquês do Pombal
Os festejos evocativos do centenário da morte de Sebastião
José de Carvalho e Melo, Conde de Oeiras e Marquês do Pombal (Lisboa, 13 de
Maio de 1699 – Pombal, 8 de Maio de 1782), ocorreram um pouco por todo o País.
Na cidade do Porto, os festejos que se prolongariam por três
dias, iniciaram-se no dia 6 de Maio de 1882, com a inauguração solene no
Palácio de Cristal, da Sociedade Filantrópica-Académica do Porto, a que se
seguiu um passeio fluvial que, segundo a revista “Occidente”, nº 124, integrou muitos
barcos e teve a participação de pescadores e como convidados especiais, os
estudantes da Universidade de Coimbra.
Aliás, as academias do Porto e de Coimbra tiveram um papel
fundamental na organização dos eventos, que financeiramente teve o apoio do
município, da junta geral do distrito e da Associação Comercial, incrementado
pelo resultado do produto de uma subscrição pública e de um espectáculo levado
à cena no Teatro do Príncipe Real e, ainda, de um pequeno apoio do governo.
Era já noite, quando as embarcações desceram o rio, vindas
de Avintes, bem iluminadas e chegaram à Ribeira.
Durante os festejos, também na catedral da Sé se realizariam
cerimónias religiosas com Missa e Te Deum.
No dia 7 de Maio, um Domingo, fez-se então, uma imponente
procissão cívica ao longo das ruas ornamentadas, com desfile de diversas
agremiações e carros alegóricos.
Dos “espectadores
saíam incessantes saudações às Academias do Porto e de Coimbra, à Imprensa e à
Liberdade”, no entanto, as cerimónias não recolheram a unanimidade dos
Portugueses.
Os participantes teriam tido o apoio explícito da maçonaria
e sairiam conotados com o movimento republicano.
“Foi a comemoração do
centenário de Pombal que incitou toda essa agitação. Jornais como “O Sorvete”,
a “Folha Nova” e “A Palavra” reflectiram esse acontecimento.
O jornal “A Palavra”,
a 26 de Maio de 1882, refere-se a esse acontecimento como uma «pandorga da
rapaziada republiqueira» (pág. 24). Esta citação não agradou aos organizadores
da comemoração.
«Chegado o dia 8 de
Maio, organizou-se o cortejo» (pág.24). Tudo estava a correr bem até se chegar
ao largo da Aguardente, que tinha sido baptizado com o nome de Praça Marquês de
Pombal – onde iria decorrer a celebração. Subitamente «desaba um espantoso
aguaceiro» (pág. 24). Este episódio foi retratado pelo jornal satírico de
então, “O Sorvete”, da seguinte forma: «O Siríaco (Ciríaco Cardoso) estava sublime. Sem chapéu, indiferente à
impertinência do aguaceiro» (pág.25). Por sua vez, no dia posterior ao cortejo,
o jornal “A Palavra” refere-se a esse acontecimento como uma «corja de faias e
das vadias republicanas» ao qual «não se unira um verdadeiro homem de bem (…),
eram tudo anónimos sem honra, dignidade, ilustração, nem decoro» (pág.25).
Contudo, os visados por estas «violentas expressões» (pág. 25) dirigiram-se ao
escritório do referido jornal “A Palavra”, exigindo uma retratação.
O autor conclui que «vê-se
perfeitamente que, tanto a organização como a condenação dos festejos de Pombal
eram inspirados por motivos de ordem política e são um exemplo do aguerrido
combate e intensa renovação de ideias, em Portugal, na última década do séc.
XIX» (pág.26).
Para além disso, Artur
Basto apresenta uma figura que personifica a intensa actividade jornalística
que se viveu no Porto durante este período. O homem a quem Artur Basto se
refere era António Rodrigues Sampaio,
o antigo recluso do Aljube do Porto, em 1828, cuja morte determinou que se
fundasse, como homenagem, a Associação dos Jornalistas e Homens de Letras do
Porto, cujo patrono ele é. Apesar de ter ocupado um dos mais importantes cargos
da Nação, segundo o autor Sampaio morreu pobre. «Ele foi bem a encarnação do
verdadeiro jornalismo, no seu melhor sentido do verdadeiro jornalismo dessa
época e do de todos os tempos» (pág.27), exclama Artur Basto ao recordar
António Rodrigues Sampaio”.
Fonte: Resumo da obra “Três Fases do Jornalismo Portuense”, de
Artur Magalhães Basto - Separata do Boletim da Câmara Municipal do Porto, n.º
2, Setembro de 1939
Cortejo cívico na Rua de Santo António – Desenho de Isaías
Newton, In revista “Occidente”, nº 124
Na gravura acima, pode apreciar-se o desfile comemorativo do
centenário da morte do Marquês do Pombal.
Este cortejo seguiu, num chuvoso Domingo, pela Rua de Santa
Catarina até ao Largo da Aguardente, que passaria a Praça Marquês do Pombal,
onde foram proferidos os discursos alusivos ao acto e descerrado um busto do Marquês
de Pombal, em gesso, da autoria do aluno da Academia Portuense de Belas Artes,
Marques Guimarães.
Durante as cerimónias que se iam sucedendo, seria executada
uma marcha triunfal, escrita expressamente para aquele momento pelo maestro
Ciríaco Cardoso, que seria interrompida devido à queda de uma forte bátega de
chuva, que desmobilizou os participantes no desfile.
Carro da Ciência
Carro do Comércio
Carro da Indústria
Carro dos Actores do Teatro do Príncipe Real
“Foi em 1882, com o centenário
da morte de Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal e com as
grandes festividades que tiveram lugar na cidade que, por deliberação da Câmara
Municipal do Porto, o lugar se passou a designar como “Praça do Marquês de
Pombal”. Não nos parece que o nome tenha sido facilmente interiorizado, pois o
Porto nunca esqueceu a governação de “mão pesada” do Marquês de Pombal e a
forma como mandou castigar, em 1757, a gente do Porto que participou no Motim
dos Taberneiros.
Também, com a comemoração
do centenário, no dia do encerramento das comemorações (8 de Maio de 1882) e
debaixo de um enorme temporal que não largava a cidade há vários dias, foi
descerrado um busto de gesso do Marquês, na recentemente denominada Praça do
Marquês de Pombal. Talvez a chuva torrencial que caiu, durante os dias em que
se comemorou o centenário, tenha desfeito o busto do Marquês, porque… ninguém
sabe onde ele se encontra!”
Cortesia de Maximina Girão Ribeiro
Placa Toponímica
“A comemoração do
centenário da morte do Marquês do Pombal foi muito polémica no Porto de 1882,
pois existiam dois grupos antagónicos. Teve, no entanto, um cortejo triunfal e
as ruas por onde passou foram ricamente engalanadas, tendo terminado na praça
do Marquês, onde foi inaugurado um busto. As despesas foram pagas pela Câmara,
pela Associação Comercial e uma pequena verba vinda do governo”.
Cortesia de Rui Cunha (portoarc.blogspot.com)
No dia que se seguiu ao do cortejo cívico, as Praças de D.
Pedro e do Marquês, bem como as Ruas de Santo António e Santa Catarina, foram
profusamente iluminadas e, desta última rua, seriam lançados muitos foguetes.
A Praça do Marquês seria iluminada “à Minhota”, com as luzes
no meio da ramagem das árvores.
As cerimónias encerrariam com um sarau literário e musical,
levado a cabo pela comissão académica, no Teatro S. João, a que não faltaram a
música e os discursos patrióticos.
(Continua)
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