Empresa Electro
Cerâmica, Limitada
A origem desta empresa foi uma pequena oficina que Joaquim Pereira
Ramos tinha estabelecido, em 1912, na Rua 24 de Julho, em Lisboa. Nesta oficina,
dedicava-se ao fabrico de aparelhagem elétrica, adquirindo na Vista Alegre as
necessárias porcelanas nuas.
Dificuldades verificadas no fornecimento destas porcelanas, levaram-no
a adquirir, na Quinta das Regadas, no Candal, em Vila Nova de Gaia, uma pequena
instalação cerâmica que se dedicava ao fabrico de estatuetas de terracota.
Aqui, tinha sido iniciada, em 1914, a firma Mourão & Companhia
Limitada, uma pequena unidade industrial para a produção das referidas
porcelanas elétricas, nuas e metalizadas, sob a administração de Joaquim
Pereira Ramos.
Por volta de 1915, com o intuito de expandir o negócio, o Sr. Joaquim
Pereira Ramos procedeu à transferência de Lisboa para as instalações do Candal,
em Vila Nova de Gaia, tendo para isso criado a “Empresa Electro Cerâmica,
Limitada” que, em 1919, passaria a “Empresa Electro Cerâmica, SARL”.
Em 12 de Março de 1921, era inaugurada festivamente a iluminação do Lugar do Candal, com 108 potentes lâmpadas, cuja energia eléctrica foi fornecida pela Electro-Cerâmica.
Para além do fabrico de pequena aparelhagem eléctrica de baixa tensão, a
empresa iniciou, em 1919, o fabrico de tubo isolante, e deu início às
instalações necessárias para o fabrico e ensaios de isoladores de alta tensão,
tendo iniciado a sua produção em 1922.
Cartaz da “Empresa Electro Cerâmica, SARL”
Isoladores de alta
tensão da “Empresa Electro Cerâmica do
Candal”
Por volta de 1930, a empresa começaria também a produzir louça
utilitária e decorativa.
“Empresa Electro Cerâmica, SARL”, em 1930
Publicidade à “Empresa Electro Cerâmica, SARL”
Interruptores
produzidos na “Empresa Electro-Cerâmica,
SARL”
Em 1936, a “Empresa Electro-Cerâmica, SARL” faz uma parceria com a
Fábrica de Porcelana da Vista Alegre, adquirindo, cada uma delas, 50% do
capital da Sociedade de Porcelanas de Coimbra (SP-Coimbra).
As peças produzidas, pelo menos até 1940, inclusive, ostentam o carimbo
com as letras EC sobrepostas, inscritas num losango, com a designação
Empreza/Electro/Cerâmica/VNGaia distribuídas pelos quatro lados.
Posteriormente, e até 1945, o carimbo simplifica-se reduzindo-se ao EC
inscrito no losango, sobressaindo o nome Candal. Estamos, pois, perante um
curto período de cerca de quinze anos de produção de porcelana utilitária e
decorativa.
Carimbo da Empreza Electrocerâmica, até 1940
Carimbo da Empreza Electrocerâmica, após 1940 e até 1945
Jarros da Electro-Cerâmica do Candal
Cinzeiro da Electro-Cerâmica do Candal
Serviço de chá, dos inícios de laboração da Electro-Cerâmica do Candal
– Ed. Esmeralda Bernardo
Prato para bolo da Electro-Cerâmica do Candal
Em 1945 a empresa foi comprada pelo Grupo Vista Alegre, tendo alterado
o seu objeto social para “exercício da indústria e comércio de porcelanas para
usos eléctricos e industriais e louças domésticas e todas as outras indústrias
e comércio com ele relacionadas, e bem assim o de todos os artigos em matérias
plásticas e metálicas”.
O Grupo Vista Alegre, procede a uma reestruturação, estabelecendo no
Candal, a produção «da pequena aparelhagem eléctrica, dos isoladores, das
tubagens em plástico VD para instalações eléctricas interiores e das tubagens
em tubo Bergmann para instalações eléctricas exteriores, isto é, tudo o que se
relacionava com electricidade» Assim, a Fábrica de Porcelana da Vista
Alegre e a SP-Coimbra cencentraram a produção de porcelana de mesa e decorativa
a nível nacional.
Material eléctrico do catálogo da EEC
O texto, que se segue, dá-nos uma ideia do percurso feito pela “Empresa
Electro Cerâmica” (encerrada em 1987) e o destino do seu complexo fabril entre
1945 e os dias hoje.
“1945 - 1989
Para a Fábrica de Porcelana da Vista Alegre e
para a Sociedade de Porcelanas reservou a produção de porcelana de mesa e de
porcelana decorativa. Aqui tem início o grande período áureo da vida industrial
da Empresa Electro Cerâmica. Beneficiou da eletrificação do país, da “abertura”
dos mercados coloniais, do crescimento económico internacional (exportações
para a Índia, Israel, Bélgica, Suécia, Europa do Sul e Estados Unidos da
América).
1989 - 2001
É nesta altura, em
1989 que a Empresa Electro Cerâmica inicia uma nova fase, procedendo à gestão
do seu património imobiliário do Candal, transformando as suas instalações num
Parque Empresarial.
Desta forma, a Empresa
Electro Cerâmica começou com 2 inquilinos em 1989, em 1993 tinha já 60
empresas, e desde 2000 conta com cerca de 110 empresas.
Em 1996 a empresa,
para se adaptar à sua nova atividade alterou o pacto social para “arrendamento
de bens imobiliários, promoção imobiliária, administração de imóveis por conta
de outrem, compra e venda de bens imobiliários.”
Em 1998, devido à contínua procura de espaços para arrendar, procedeu à
construção de um edifício para armazéns e escritórios com uma área total de
4.500 metros quadrados.
Em 2001, o Grupo Vista
Alegre Atlantis, com vista à concentração da sua atividade nas cerâmicas,
cristais e vidros (produtos complementares entre si, seja na mesa ou na
decoração), vende a Empresa Electro Cerâmica ao Fundo de Investimento
Imobiliário Aberto BPN Imonegócios, gerido pelo BPN Imofundos Sociedade Gestora
de Fundos de Investimento Imobiliário, S.A., pertença do Grupo BPN.
2001 – 2014
A nova Administração
entende manter a atividade da empresa nos mesmos moldes, pelo que desde essa
altura, tem-se verificado grande estabilidade na atividade da empresa.
Por força da sujeição
às regras da C.M.V.M., e de forma a adaptar a designação social à atual
atividade da empresa, procedeu-se em 2006 à alteração da Firma para “Candal
Parque Sociedade Imobiliária, S.A.”.
Desde 2014
A 28 de março de 2014,
o Centro Empresarial celebra 25 anos de existência e regista a data com a
apresentação de uma nova identidade corporativa e uma nova denominação social:
Candal Park – Centro de Negócios e Empresas”.
Fonte: “candalparque.pt”
Vista aérea das instalações da “Empresa Electro-Cerâmica
do Candal” – Fonte: catálogo da EEC
“Candal Park – Centro de Negócios e Empresas”. Antes, “Empreza Electro-Cerâmica”,
na Rua 28 de Janeiro, 350, V. N. de Gaia – Fonte: “facebook”
“Candal Park – Centro de Negócios e Empresas”. Antes, “Empreza Electro-Cerâmica”
– Fonte: Google maps
Fábrica Cerâmica do
Fojo
“A Fábrica Cerâmica do
Fojo, situada na Quinta do Fojo em Canidelo, foi fundada, em 1896, por José
Maria Rodrigues Ascensão. Em 1898 foi criada a firma Lopes & Ascensão,
sociedade entre o primeiro e Joaquim António Lopes. Especializou-se em telha
marselha, tijolo, grés e outros materiais para a construção, dedicando-se
também à faiança decorativa. Foi, na primeira década do século, uma das mais
mecanizadas e modernas do setor e na região do Porto, tal como descreveu Luís Ferreira
Girão. Em 1920 cede lugar à Empresa Cerâmica do Fojo, dedicando-se sobretudo à
produção de material de construção”.
Fonte: “reflexosdoporto.wixsite.com”
O que restava da Cerâmica do Fojo (2009) – Fonte: Google
maps
Fábrica Cerâmica de
Valadares (FCV)
Esta fábrica de cerâmica tem a particularidade,
relativamente às anteriores, de ser a única que ainda sobrevive, apesar de
percalços vários que teve nos últimos anos e que quase determinaram, em
definitivo, o seu encerramento.
“A Fábrica Cerâmica de
Valadares foi fundada em 1921 por uma sociedade de seis sócios e sob a firma
Fábrica de Cerâmica Valadares, Limitada. Sucessivas alterações no volume de
capital obrigaram a sucessivas alterações de estatutos e à sua transformação em
sociedade anónima em 1924. O período áureo de fabricação de louça decorativa
ocorreu durante os anos que se seguiram à sua fundação, organizando um catálogo
nos inícios dos anos 40 onde eram mais de 286 os tipos de peças de faiança
pintadas. Dedicou-se posteriormente, e com maior incidência a partir da década
de 50, quase em exclusivo à louça sanitária de construção, tornando-se um dos
maiores centros fabris nacionais”.
Fonte: “reflexosdoporto.wixsite.com”
Gravura do complexo fabril da FCV – Fonte: “archvaladares.com”
Artigos de barro vermelho (tijolos e telhas, fornos de cozer
pão, garfos, sifões, azulejos variados e loiça sanitária) produzidos na década
de 20, na FCV – Fonte: “archvaladares.com”
A partir dos anos 30, a FCV inicia a produção de loiça de
faiança, a que se iria dedicar por mais de 20 anos – Fonte: “archvaladares.com”
Prato da FCV – Fonte: CustoJusto.pt
Jarro da FCV
Em 1949, assume a presidência do conselho de administração
da empresa Augusto Serras que, nas décadas seguintes, irá dar-lhe um novo rumo ao
direcionar a produção, principalmente, para o fabrico de louça sanitária,
apesar de continuar a produzir peças para a construção civil, nomeadamente,
tubos de grés e outros artigos.
Com uma experiência grande no fabrico de faiança, o de louça
sanitária envolvia o conhecimento inerente à produção de grandes peças em
porcelana.
Busto de Augusto Serras da autoria do escultor Gustavo
Bastos, nos jardins envolventes à Cerâmica de Valadares
Em 1959, com a aproximação a uma empresa italiana, do mesmo
ramo, de Laveno, na Lombardia, que era conceituada na produção de peças em
porcelana, era atingido o pleno conhecimento da técnica respectiva.
Então, dezenas de trabalhadores de diversas categorias
(modeladores, oleiros, vidradores, etc), irão estagiar naquela fábrica italiana,
para perceberem na totalidade os segredos do fabrico de peças em porcelana.
Augusto Serras admite, nessa época, um sócio, o engenheiro
Boris Spohd, oferece-lhe uma quota e um lugar na direcção.
A Cerâmica de Valadares atinge o auge e apresenta mais de
2000 operários.
Expansão das instalações da FCV (vista aérea) – Fonte: “archvaladares.com”
A partir de 1980, a FCV dedica-se em exclusivo ao fabrico de
louça sanitária - Fonte: “archvaladares.com”
Nos finais do século XX, começam a desenhar-se, para a
empresa, os tempos de sobressalto futuros.
Em 1991, é adquirida por um grupo inglês voltando, um pouco
mais tarde, a mãos nacionais, mas, apesar do seu prestígio, acabará por entrar
em falência.
Na entrada da segunda década deste século, a situação foi de
luta árdua para os trabalhadores, e a FCV esteve encerrada entre 2012 e 2015, e
ressuscitaria para a actividade industrial, quando foi alvo de um novo processo
de gestão.
“No ano de 2012, a
Valadares enfrentou a maior crise dos seus então 91 anos de laboração. A 26 de
Setembro de 2012, a Valadares é declarada insolvente e fecha portas, a braços
com um passivo de 90 milhões de euros e deixando cerca de 340 operários fabris
sem emprego, com salários em atraso e sem resolução em vista para essa situação.
Durante três anos os fornos da Valadares não se ligaram, mas não sem que “muita
tinta corresse” nos jornais nacionais, em especial os da zona Norte, que nos
davam conta dos esforços que se faziam para a reerguer e, acima de tudo, das
lutas intermináveis de quem perdeu tudo numa fase em que a economia portuguesa
estava a atravessar uma grave crise — com a troika em Portugal –, e o capital
escasseava (2013). Em 2014, o Fisco, a Segurança Social e a Banca, principais
credores, acreditaram no sonho de Rui Castro Lima, administrador judicial, e
Henrique Barros e José Ferreira, dois ex-colaboradores da empresa, e a
Valadares renasceu. Ou melhor, uma nova empresa que ficou com a marca Valadares”.
Cortesia de Marta Sofia Moleiro
A partir de 2015, após três anos de encerramento, foi fundada a ARCH (Advanced Research Ceramic Heritage) SA, criada para concretização de uma nova realidade empresarial, cujo principal objectivo é a recuperação da actividade industrial e comercial da marca Valadares e a busca pela introdução no mercado de novos materiais cerâmicos.
Complexo fabril da ARCH, na Avenida António Coelho Moreira, Valadares
– Fonte: Google maps
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