A instalação do edifício da câmara, na Praça Nova, em 1819,
a inauguração da Ponte de D. Luís em 1887, a extensão da via- férrea até S.
Bento em 1896 e a construção da Estação de São Bento, foram factores decisivos
para tornar, a então chamada Praça de D. Pedro IV, no centro político,
económico e social da cidade do Porto. Em meados do século XIX, a Praça era já
o "ponto predileto de reunião dos
homens da política e do jornalismo, da alta mercância tripeira e dos
brasileiros”.
Aqui predominavam os botequins do "Guichard",
"Porto Clube", "Camanho", "Suíço",
"Europa", "Antiga Cascata", "Internacional",
etc., progressivamente desaparecidos, para dar lugar a entidades bancárias,
companhias seguradoras e escritórios.
Em 1916, foi demolido o edifício que serviu de Paços do
Concelho, a norte da Praça da Liberdade, bem como diversos arruamentos vizinhos
— ruas do Laranjal, de Elias Garcia, etc. —, iniciando-se as obras de
construção da ampla Avenida dos Aliados, ao cimo da qual foram construídos os
modernos Paços do Concelho do Porto, amplo edifício em granito e mármore, projecto
de 1920, do arquitecto Correia da Silva.
A Praça da Liberdade
ficou, assim, ligada à nova Avenida dos Aliados e à Praça Sidónio Pais (depois
Praça do Município e desde 1975, Praça do General Humberto Delgado), num
conjunto urbano de grande monumentalidade e de particular interesse histórico e
artístico.
“Após a doação da
cidade ao bispo D. Hugo em 1120, o Porto dependia da autoridade eclesiástica,
que nomeava os funcionários para a administração do burgo. Durante os dois
séculos seguintes, foi-se desenvolvendo o embrião de uma administração, a
partir da resistência dos moradores do concelho à autoridade episcopal.
Importa referir que as
administrações locais eleitas são anteriores à própria fundação do Reino de
Portugal. Na Idade Média, os homens-bons de uma cidade, vila ou concelho
elegiam um conjunto de oficiais, encarregues de administrar a localidade. Como,
geralmente, esses oficiais se reuniam numa câmara, por extensão, passou a
chamar-se "câmara" ao próprio orgão de administração local, ali
reunido. A partir do Renascimento, as câmaras de algumas cidades mais
importantes passaram a ser conhecidas como "senado" ou "senado
da câmara".
A organização e a
composição da câmara de cada cidade, vila ou concelho era estabelecida,
normalmente, pelo respectivo foral, variando de localidade para localidade. De
acordo com as Ordenações Afonsinas estava prevista a existência de juízes
ordinários que presidiam à câmara, de vereadores responsáveis pela gestão dos
assuntos económicos e de um procurador do concelho que, normalmente, também
servia de tesoureiro. Nas cidades e vilas mais importantes, em vez de juízes
ordinários, passou a haver um juiz de fora, nomeado pela Coroa. Além dos
membros da câmara, propriamente ditos, dependentes dela existiam um conjunto de
funcionários locais, como os almotacés - fiscais da câmara -, os carcereiros,
os tabeliães, os escrivães, os porteiros - responsáveis pelas penhoras - e os
quadrilheiros.
A introdução da
Monarquia Constitucional e as reformas administrativas de Mouzinho da Silveira
levam, em 1832, à homogeneização da administração local do país. A partir de
então, as câmaras municipais passam
a ter uma organização única a nível nacional, sendo constituídas por um
presidente e por vários vereadores.
O mais antigo
documento do arquivo camarário que chegou até nós data de 1286. Trata-se de uma
carta dirigida pelo rei D. Dinis ao procurador do concelho do Porto, com a
cópia do foral dado pelo bispo D. Hugo ao burgo em 1123.
(…) Por volta de 1340,
o elenco da magistratura governante incluía juízes, vereadores e procurador da
cidade. A estrutura foi-se tornando mais complexa e vão surgindo referências a
outros cargos, como os de escrivão, tesoureiro, almotacé, procurador do povo.
Paralelamente crescem as funções e actividades da Câmara, regulamentadas por
disposições legais avulsas e pela legislação reunida nas Ordenações:
competia-lhe administrar os bens do concelho, construir e manter equipamentos
públicos, regular o abastecimento e venda de bens alimentares essenciais,
assegurar a defesa e a ordem pública, a assistência, a saúde pública, higiene e
limpeza, o pagamento das despesas municipais, a arrecadação de algumas receitas
da Coroa. Detinha, ainda, funções judiciais.
Se inicialmente a
jurisdição da Câmara do Porto se limitava ao concelho (excluídos os coutos e
honras), a partir de 1369 e até à reforma concelhia de 1834, estendeu-se a todo
o território do Termo do Porto. Esta designação englobava os actuais concelhos
de Matosinhos, Vila Nova de Gaia, Maia, Gondomar, Paredes, Penafiel e Santo
Tirso, sobre os quais o Porto teve jurisdição em áreas como a nomeação de
funcionários locais, o controlo das actividades económicas, o lançamento e
recolha de impostos, a defesa militar e a administração dos serviços de saúde.
Estas competências sobre os concelhos do Termo explicam a existência, neste
arquivo, dos forais novos que lhes foram concedidos por D. Manuel.
A seguir à Restauração
da Independência, o Senado da Câmara assume ainda o cargo de Capitão-mor, com a
tutela das companhias de ordenanças (corpo militar de segunda linha,
não-remunerado, que prestava apoio às tropas de primeira linha) em todo o Termo
do Porto. A Câmara do Porto assegurava o recrutamento e o treino militares e a
eleição dos oficiais. Esta situação manter-se-ia até à extinção definitiva das
companhias, em 1832.
O período liberal
trouxe grandes transformações em termos político-administrativos. A organização
e as competências das câmaras passaram a ser reguladas pelos sucessivos códigos
administrativos, conduzindo a avanços e recuos cíclicos na autonomia local.
Foram introduzidos órgãos tutelares, intermediários entre poder municipal e
poder central: o provedor da comarca, mais tarde substituído pelo administrador
do concelho, a Junta Geral do Distrito, o Conselho de Distrito, o Governo
Civil.
O cargo de presidente da câmara substituiu o de juiz de fora, de forma
permanente, na década de 1830. Ao longo do século, o número de vereadores
aumentou de 4 para 9, ao mesmo tempo que a organização dos serviços camarários
se foi tornando mais complexa, com a criação de repartições municipais
responsáveis pelas várias áreas de intervenção.
Entre 1887 e 1896, paralelamente ao Senado da Câmara, exerceu funções uma
Comissão Executiva, com competências deliberativas. Findo este período, o poder
voltou a concentrar-se no Senado.
Nas duas últimas
décadas da monarquia, a Coroa impôs um maior controlo sobre os municípios. A
Primeira República não trouxe a esperada inversão desta tendência, apesar de
algum reforço das atribuições da câmara, em termos de obras públicas,
instrução, saúde e segurança públicas. A composição dos órgãos camarários foi
alterada com a criação de uma comissão restrita, escolhida de entre os membros
eleitos para o Senado, com responsabilidades deliberativas, que, no Porto,
funcionou entre 1914 e 1926”.
Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt”
Voltando aos primeiros tempos, as instalações primeiras que
se conhecem para funcionamento da Câmara são de 1350, e dizem-nos que a
edilidade, nesse ano, reuniu numa casa de madeira, paredes meias com o edifício
da Sé. Esta construção devia ficar encostada à Sé, no que é hoje a sua galilé
lateral.
Por as condições serem bem precárias, foi decidido, nesse
mesmo ano, mandar construir um outro edifício que pouco tempo esteve de pé,
pois ruiu “sobre a cerca velha que
pertencia ao bispo”.
Talvez, tenha sido uma destas duas primeiras construções,
denominada por alguns como, o “Paço de Arcos”, construção
provisória e transitória em madeira, nas imediações da Sé.
Nesse terreno do bispo estava um cemitério, que um tribunal,
dando razão ao prelado, obrigou a cidade a reconstruir.
Este cemitério era destinado ao povo, pois, nesses tempos,
os poderosos eram sepultados nas igrejas.
A este cemitério, sucederia um outro, nas Malvas, conhecido
também por Cerro dos Enforcados, lá para as bandas dos Clérigos, mais
propriamente, em terrenos que viriam a ser ocupados pela torre dos Clérigos e
que, aí, se manteve, até ter sido doado um terreno próximo, a D. Helena Pereira
da Maia, para fundar o Recolhimento das Órfãos Donzelas ou Recolhimento do
Anjo.
Reportando novamente às instalações da edilidade só, em 1390,
a Câmara volta a decidir no “Sobrado da
Rolaçom”.
Este foi o nome dado ao edifício construído à entrada da Rua
de S. Sebastião, conhecido ainda por Casa da Câmara, Paço do Concelho ou Torre
do Concelho, e sobre as ruínas do qual, depois de várias intervenções ao longo
dos tempos, o arquitecto Fernando Távora fez nova construção, como tentativa de
reproduzir a inicial, chamada vulgarmente (mas erradamente), de Casa dos Vinte
e Quatro.
A primitiva Casa da Câmara, situada a apenas sete metros das
paredes da Sé do Porto, era construída em cantaria de granito com cem palmos de
altura (cerca de 22 m, pois 1 palmo são 22 cm) e era guarnecida de ameias.
Possuía vários sobrados contendo no seu interior elementos artísticos de grande
qualidade. Evidenciava entre outros, um exemplar tecto dourado, no salão nobre
superior.
A Casa da Câmara é o nome de um conjunto de ruínas (até há
poucos anos expostas aos elementos) junto do paredão de suporte do Terreiro da
Sé.
A parte inferior do imóvel, com a porta ogival, a nível da Rua de S.
Sebastião, é tudo o que restou da estrutura medieval.
Essas ruínas eram tudo o que restava da casa-torre onde, na
Idade Média, se reuniam os homens-bons da cidade, como representantes dos seus
ofícios (sapateiros, caldeireiros, torneiros, etc.) no que constituiu a
primitiva Câmara do Porto. Nos seus tempos áureos, a casa teria uma torre de 22
metros de altura, ameada, e porta principal virada para a Sé. Teria outras
duas, para a Rua de S. Sebastião, onde havia uma loja que se alugava e uns
armazéns onde se guardavam as armas que a Câmara mantinha para a defesa da
cidade.
O primeiro piso era a sala de audiências e o segundo era a
sala do senado, onde a Câmara reunia. Era uma sala totalmente decorada, com
tectos pintados com anjos e santos, e por detrás da mesa grande, figurava uma
pintura da Virgem com o Menino, as armas régias manuelinas e São Pantaleão,
primitivo padroeiro da cidade do Porto. O tecto do salão era uma cópia do
tecto do salão do castelo de Lisboa, e chegou a estar ornamentado com uma
pintura de S. Sebastião. No mesmo piso funcionava o arquivo do cartório
camarário, com as suas arcas de documentos.
À esquerda, a fachada da Casa da Câmara medieval e o que
dela restava, em 1934 e, à direita, uma mesma perspectiva, actualmente -
Ed. JPortojo
Uma intervenção na construção da casa data de c. 1450 (o
contrato entre a Câmara e o carpinteiro Gonçalo Domingues para a execução da
obra de madeiramento da casa-torre data de 1445).
A vereação reuniu nesta torre desde 1445 até 1784, com um
interregno entre 1539 e 1604 (por exemplo em 19 de janeiro de 1597 reuniu “na praça da Ribeira debaixo dos cubertos
dos Barbeiros…”), em que as reuniões tiveram lugar, em prédios provisórios
devido ao estado ruinoso da torre, motivo que determinou também o seu abandono
em 1784, sendo que, em 1795, foi demolido o piso superior.
Assim, em meados do
Séc. XVI, a Câmara já se havia mudado para o claustro do Convento de S.
Domingos, pois o edifício na Sé ameaçava ruína. Durante muito tempo e
quando de reuniões mais alargadas a edilidade já fazia essas reuniões no
“Alpendre do convento de S. Domingos”.
A Câmara viria a abandonar de vez a torre em 1805 (já há
alguns anos que ocupavam instalações do Convento dos Grilos) e a torre seria
arrendada a privados.
Os serviços da Câmara entre 1784 e 1806 estiveram no
Convento dos Agostinhos Descalços e entre 1806 e 1819 na Casa Pia, na Rua
Augusto Rosa e, finalmente, em 1819, mudaram-se para a Praça Nova das Hortas.
No ano de 1875, o prédio da Rua de S. Sebastião ainda
pertencia à Câmara do Porto, que o trazia alugado. O primeiro andar, onde
ficava o tal pomposo salão de excelentes madeiramentos, estava alugado a uma
associação da classe dos latoeiros, que ali tinha a secretaria e outros serviços
de caráter social. O espaço do rés-do-chão, com entrada pela Rua de S. Sebastião,
estava alugado a Francisco José Gomes de Carvalho, que ali explorava uma
refinaria de açúcar.
O prédio conheceria o seu fim quando, na noite de 25 de
Abril de 1875, foi pasto de um incêndio que o deixou no estado em que estava
até ao ano 2000, quando foi restaurada pelo arquitecto Fernando Távora.
Importa a propósito
referir que, em 1518, D. Manuel instituiu a Casa dos 24 do Porto, que era
constituída por 24 representantes dos 12 principais ofícios, e que passaria a
reunir na Casa da Câmara. Tinha por missão defender os interesses do povo.
As relações entre a
Casa dos 24 e a Câmara, foram, logicamente, quase sempre muito más.
A casa dos 24 viria
a ter uma influência decisiva na Revolta do Papel Selado, o que levou à sua
extinção em 1661 e restabelecida pouco depois.
“Assim em 1661 sendo regente do reino a
rainha D. Luísa de Gusmão, na menoridade de D. Afonso VI, seu filho, deu-se
ordem a todos os magistrados, para que não despachassem requerimento algum, que
não fosse escrito em papel selado.
Em 4 de Maio deste ano, logo pela manhã,
foram os revoltosos, tumultuosamente a casa dos seus procuradores, para que
estes pedissem ao senado da Câmara, que suplicasse ao rei a revogação deste
tributo.
A Câmara, porém, não só os desatendeu mas até
prendeu os procuradores, o que ainda mais enfureceu o povo, que gritava pelas
ruas – Viva El-rei, e morram os traidores.
Foram aos Arcos de S. Domingos, a casa do
tesoureiro da cidade, apedrejando-lhe as janelas e obrigando-o a lançar à rua
e, ali queimaram todo o papel selado que lá encontraram; e queimariam também a
casa se lhe não acudissem os frades de S. Domingos. Depois, queriam também o
papel selado que estava em casa do recoveiro, na Rua Nova.
A casa do juiz da alfândega foi também
arrombada e despedaçados, todos os seus móveis.
Obrigaram o corregedor da cidade a
entregar-lhes a provisão régia que criou este tributo.
Nesta conjuntura, os cónegos da Sé
lembraram-se de sair, com o SS. Sacramento, em procissão, a ver se aplacavam a
fúria do povo, mas nada conseguiram; e só terminou o tumulto com a soltura dos
procuradores do povo.
A força militar do Minho, marchou contra a
cidade, onde entrou a 17 de Outubro, era composta por quatro mil infantes e
quinhentos cavalos, sob as ordens do conde do Prado, o tributo foi então
imposto sem resistência.
Tirou-se devassa, não resultando outro
castigo aos sublevados, senão serem condenados – a açoites, um mulato da
Ribeira e um marujo a cinco anos de degredo, para o Brasil”.
Fonte: “geneapt.tripod.com”
Alguns meses depois,
a Casa do 24 foi restabelecida, mas voltou a influenciar a Revolta da Companhia
em 1757.
Os grandes
privilégios dados à Companhia Geral de Agricultura e Comércio das Vinhas do
Alto Douro por D. José I (ou pelo marquês de Pombal) davam-lhe, principalmente,
o exclusivo de vender na cidade e quatro léguas em redondo, todo o vinho
(maduro) que consumisse o povo, facto que desagradou aos taberneiros, que,
também, influenciados por alguns ingleses, negociantes de vinho, agregaram a si
muita gente das classes baixas, tanto homens como mulheres e se reuniram no
Largo da Cordoaria, na manhã de 4 de Fevereiro do ano de 1757 e dali se
dirigiram ao Largo de S. Domingos, onde morava o juiz do povo, ao qual, ainda
que doente, obrigaram a entrar em uma cadeirinha, levando-o a casa do chanceler
e regedor da justiça – gritando pelas ruas – Viva o povo e morra a Companhia!
“Os sinos da Sé e da Misericórdia tocaram a
rebate e o chanceler, instado pelo povo, e, temendo maiores desgraças, teve de
declarar livre a venda do vinho de ramo.
A determinada altura, da casa do procurador
da companhia partiram dois tiros de bacamarte, contra alguns dos amotinados. O
povo, ainda mais exacerbado com este facto, arrombou as portas da casa do
procurador e invadindo-a, esmigalhou todos os móveis, calcando aos pés tudo o
que era da companhia.
Pelas três horas da tarde todo o povo se
tinha pacificado”.
Fonte:
“geneapt.tripod.com”
Esta revolta, cujos
autores sofreram castigos muito mais severos do que o caso merecia, deu assunto
ao Ilustríssimo escritor Arnaldo Gama, para o seu brilhante romance histórico –
“Um motim há cem anos”.
Encerrada e
novamente restabelecida, a casa dos 24 foi, definitivamente, extinta em 7 de
Maio de 1834.
Sobre os privilégios
da Companhia escreveu o padre Agostinho Rebelo da Costa:
A propósito de
revoltas, houve uma, conhecida pelo Motim das Maçarocas, que teve lugar na
cidade do Porto em 1629. Tudo se deveu ao facto de o governo para fazer face às
despesas resultantes das guerras em que a Espanha se envolvia, pretender taxar
o linho fiado, com um imposto. Ora, as fiandeiras descontentes revoltaram-se e
correram à pedrada Francisco de Lucena, que fora ali encarregado de cobrar o
novo imposto. O referido cobrador começou por se esconder no convento de S.
Domingos, donde passaria pelas traseiras ao convento de S. Francisco e,
posteriormente, depois de sair pelo postigo do Pereira e atravessar o rio,
refugiou-se no convento da Serra do Pilar.
Por interferência do
governador de justiças (2º Conde de Miranda), esta revolta não teve
consequências para os intervenientes.
“ (…) Chanceler
da Câmara, que é a primeira pessoa da cidade, por ele governada na ausência do
Conde de Miranda, Embaixador na Corte Católica, que com o título hereditário
obtido do rei D. João IV por mercê das suas embaixadas feitas na Holanda, é por
sucessão perpétuo governador dela. O mesmo Chanceler manifestou a ordem
terminante recebida do Príncipe de Portugal para servir a A.S. que depois de
jantar veio a S. Bento para retribuir os obséquios. S.A. sentou-se junto da
grade, em cadeira de espaldar, ao lado sentaram-se sobre escabelos os dois
Cavaleiros e sobre escabelo semelhante sentou-se em frente o Chanceler”.
Crónica do Conde Lorenzo Magalotti (viagem de Cosme de Médicis a
Espanha e Portugal - 1668/1669) – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”
A Casa da Câmara (recuperada), junto à Catedral e,
impropriamente, chamada de Casa dos Vinte e Quatro
Foi só no século XIX, depois de ter andado a reunir pela
Casa Pia desde 1806 a 1819 (Rua Augusto Rosa, onde estava aquando da invasão de
Soult), vinda do Convento dos Agostinhos Descalços (Grilos) onde tinha estado
de 1784 a 30 de Junho de 1806 que, em 1815, foi resolvido comprar na Praça Nova
das Hortas, um edifício aí existente.
O edifício foi construído, por volta de 1721, para
residência de uma rica família burguesa. Mas, em 1752, os seus proprietários já
não o habitavam porque, nesse ano, funcionava nele o Tribunal da Relação.
Esse edifício era uma casa nobre mandada fazer por Monteiro
Moreira e sua mulher, Josefa Joana Salazar, moradores, ao tempo, na velha Rua
de S. Miguel. Pela morte deste casal, o edifício passou à posse de seu filho, o
capitão Manuel Eleutério Monteiro.
Em 1783, a vereação cobiçava a casa nobre da Praça Nova das
Hortas, para nela instalar os serviços da Câmara.
Era, ao tempo, "uma
grande casa com nobilíssima frontaria, com muitos e bons apartamentos e salas,
casas interiores, cozinhas, quartos baixos e um grande pátio dentro, por modo
de claustro".
Por essa altura, o edifício pertencia a Inácio Leite Pereira
de Almada Pinheiro Moreira, que residia em Guimarães. As negociações para a
compra do imóvel não foram fáceis.
Primeiro, foi a Administração do Tabaco que, em 1794, se
meteu no negócio. Desejava comprar o palacete para nele instalar, além do mais,
as fornalhas de uma fábrica de charutos. Protestou a Câmara e, em reunião de 30
de Dezembro, daquele mesmo ano de 1794, apresentou os argumentos que julgou
importantes para a aquisição do imóvel.
Além de considerarem como ideal a localização da casa da
Câmara, na Praça Nova das Hortas, "a
parte mais central e mais dinâmica da cidade", os vereadores
argumentavam que o edifício iria acolher, além dos serviços camarários, o
Depósito Público, instituído havia pouco, e o Senado da Relação, que havia sido
desalojado das casas da Cordoaria, ainda do tempo dos Filipes.
Mas, só em Outubro de 1815, há mais de 200 anos, a Câmara do
Porto obteve autorização para dispor da verba necessária à aquisição do
edifício, dada pelo príncipe regente, que era o futuro D. João VI. Seriam
utilizados na transacção os dinheiros do cofre da cidade onde se recolhiam "os sobejos das sisas".
Entretanto, a Companhia de Agricultura das Vinhas do Alto
Douro também apareceu como interessada na compra do palacete, que acabou mesmo
por adquirir, efectivamente, em 13 de Março de 1816.
Voltou a protestar a vereação municipal. À Companhia foi
mandada uma longa e pormenorizada exposição em que se procurava justificar as
razões da preferência da Câmara. A Companhia aceitou os argumentos e, no dia 23,
daquele mesmo mês de Março, cedeu o palacete à Câmara pelo mesmo preço pelo que
o havia comprado: 26 contos de réis.
Finalmente, a cidade ia ter uma nova casa da Câmara. As
obras de adaptação do edifício às novas funções duraram três anos. Os senhores
vereadores instalaram-se nos novos paços do concelho em 21 de Agosto de 1819,
vindos da Casa Pia, e a Câmara só abandonaria o novo poiso, em 1916.
As obras ainda não estavam completamente prontas. A
frontaria da casa, por exemplo, foi enobrecida posteriormente, com a colocação
"no cume do edifício" de uma figura esculpida em pedra representando
o Porto.
Durante o Cerco do Porto (1832/1833), os morteiros
miguelistas atingiriam o edifício. Os serviços da Câmara passaram então a
funcionar no edifício da Rua de Cedofeita com o número de polícia, 199, com as
sessões públicas a realizarem-se no edifício n° 35, da Rua da Torrinha.
Em meados do século XVIII, antes da chegada de João de
Almada e Melo à governação da cidade, a Praça Nova das Hortas tinha a
configuração mostrada na planta seguinte.
Legenda:
1- Caminho que viria a ser Rua D. Pedro
2- Rua do Bonjardim
3- Praça das Hortas
4- Convento dos Lóios
5- Convento da Ave-Maria
6- Porta de Carros
7- Rua das Hortas
8- Rua do Bispo
9- Convento dos Congregados
10- Tribunal da Relação (Palacete Monteiro Moreira)
11- Cerca do convento dos Congregados
12- Rua de Santo António dos Lavadouros
13- Mercado da Natividade, Rua de Entre-Vendas e Fonte da
Natividade
Na planta acima, o novo convento dos Lóios ainda não tinha
começado a ser construído, bem como o palacete de Morais Alão (contíguo ao
palacete Monteiro Moreira).
A antiga morada de Monteiro Moreira, que viria a ser Câmara
Municipal (identificada pelo nº 10), era à época, c. 1752, Tribunal da Relação.
Anos mais tarde (1864), a Câmara comprou o tal palacete,
contíguo ao que já ocupava, para instalação de novos serviços, conhecido por
palacete Morais Alão.
Este edifício pertencia a D. Maria da Natividade Guedes de
Portugal e Menezes, que morava em Coimbra.
Nos baixos do prédio contíguo, funcionava a drogaria de
Custódio José de Passos, pai do malogrado poeta do romantismo Soares de
Passos.
Na foto acima, ao fundo, a Câmara do Porto, na Praça D.
Pedro, já há muitos anos, estava instalada nos palacetes Monteiro Moreira e
Morais Alão. O prédio da esquina (hoje da Avenida dos Aliados e a Rua Sampaio
Bruno) da Rua Elias Garcia tem ainda 3 andares.
Na foto acima, o prédio da esquina da Rua Elias Garcia já
tem 4 andares.
A 3 Fevereiro de 1916, a Câmara transfere-se para o antigo
Paço Episcopal, pois, após a implantação da República, o bispo tinha sido
obrigado a deixar as instalações na Sé que, inicialmente, se pensou virem a ser
o Museu Municipal.
Em 28 de Fevereiro de 1916, por proposta de Elísio de Melo,
a Câmara resolve aproveitar a antiga fachada dos Paços do Concelho para a nova frontaria
do edifício de prolongamento da Biblioteca Pública, do lado da Avenida
Rodrigues de Freitas, o que não se concretizaria, acabando, porém, anos mais
tarde, por ir embelezar com alguns elementos arquitectónicos, o Jardim do
Roseiral no Palácio de Cristal.
Na Sé, se manteve a Câmara, até à ocupação das instalações
actuais em 1957.
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