Um dos primeiros
projectos para a Avenida dos Aliados é do engenheiro Carlos de Pezarat de 1889,
ainda sob os auspícios da monarquia.
Nele, o novo
edifício da Câmara Municipal seria localizado na zona poente da avenida,
juntamente com o Governo Civil e outros organismos do Estado. Ao cimo da
Avenida dos Aliados, ficaria a ver-se a Igreja da Trindade e haveria o projecto
para a continuar até à Circunvalação.
Em 1915, o vereador
Elísio de Melo apresenta um projecto de uma avenida, como prolongamento da
Praça da Liberdade para norte, que prevê a demolição, entre outras, do edifício
de Monteiro Moreira, onde estava, à data, instalada a Câmara Municipal.
Em 1915, Barry
Parker, convidado pelo Presidente da Comissão Executiva da Câmara, Eduardo dos
Santos Silva, traça um outro projecto, tendo por base a maquete seguinte e que
propunha uma nova localização para os Paços do Concelho, que substituía uma
proposta existente, na qual a Câmara, por sugestão do arquitecto Marques da
Silva, sugeria uma área próxima do Carmo e da Praça Carlos Alberto, fronteira
ao edifício da Universidade e, para onde, anos depois, Fernando Távora propôs, em
vão, a instalação de um Centro Comercial.
Sobre a proposta de
Barry Parker, podemos ler o seguinte comentário no blogue
“doportoenaoso.blogspot”:
“Em primeiro
plano, à esquerda, a igreja da Trindade; à sua frente o edifício baixo proposto
para a câmara municipal e a avenida; ao fundo, o palácio das Cardosas.
Colocando-o no
topo da avenida - no exacto local onde acabaria por ser construído - o novo
edifício dos Paços do Concelho de Barry Parker tentava, simultaneamente,
dominar toda a composição e respeitar a igreja da Trindade. Para tal, Parker
propunha um edifício baixo, de apenas dois pisos e um mezanino. A torre da
Trindade surgiria por detrás, dando a ilusão de pertencer ao próprio edifício
da câmara a quem subisse a avenida. Tal como em todas as edificações que
projectou para o Porto, Parker usou na nova câmara uma linguagem de linhas
simples, inspirada no neoclássico portuense, aliás de origem inglesa.
A avenida é
definida pelos traçados que se abrem a partir da praça da Liberdade até à praça
do Município, conferindo-lhe uma forma triangular. Pretendia-se criar uma zona
comercial e de passeio, pelo que o edificado que acompanhava a avenida seria
composto por corpos alternadamente avançados e recuados. Em toda a extensão,
uma arcada daria acesso a estabelecimentos comerciais. Na placa central, duas
pérgulas, sombreadas pela vegetação, constituíam a hipótese de passeio.
Embora aprovado,
o projeto de Barry Parker foi profundamente alterado aquando da construção da
avenida, em particular a arquitectura das edificações. No entanto, permaneceram
ideias mestras, tais como: a localização do edifício dos paços do Concelho e o
traçado das ruas que o ladeiam; o eixo central unindo a estátua de D. Pedro com
o centro da fachada da nova câmara; a avenida em "forma de bacalhau";
a identificação das praças da Liberdade e do Município; entre outras.
Aquilo em que o
projeto de Barry Parker foi totalmente desvirtuado foi na arquitetura dos
edifícios e na imagem global da avenida. O proposto por Parker para os
edifícios ficava aquém das expectativas da administração e dos mais conceituados
técnicos da câmara, todos de formação francesa e beaux-arts. Por isso, acabou
por desaparecer a coerência do desenho de conjunto de toda a edificação, os
pátios e as arcadas, alterando radicalmente a ideia de Parker e transformando o
que seria um centro de comércio e de lazer, local central da animação e da vida
da cidade, num mero local de passagem”.
Em 1 de Fevereiro de 1916, começaram os trabalhos de
demolição do edifício da Câmara Municipal.
À esquerda, a demolição dos antigos Paços do Concelho. O edifício, à direita, na Rua do Laranjal, onde estava o Hotel Francfort e o Café Chaves, comecará a ser demolido em 1918
Antes das demolições, o edifício situado nas traseiras da Câmara, na esquina das ruas do Laranjal (à esquerda) e Elias Garcia (à direita), onde estava o Hotel Francfort e o Café Chaves
Na foto acima, a antiga Câmara, sita nos palacetes de
Monteiro Moreira e de Morais Alão, já foi demolida.
Vai ser rasgada a Avenida da Cidade, mais tarde, chamada Avenida das Nações Aliadas e, depois, Avenida dos Aliados. A meio da foto vê-se a Torre dos Clérigos.
Na foto anterior, o edifício da esquina é conhecido como “Edifício
da Nacional”. Pela avenida acima, seguir-se-á a construção do “Edifício do
Comércio do Porto”, “Edifício Garantia” e “Edifício Capitólio” como os mais
emblemáticos.
“ O modelo de
Barry Parker seria então historicamente mais correcto, mas Marques da Silva
tinha razão quando desdenhava da sua pouca monumentalidade, e percebe-se que
tenha procurado inspiração noutras paragens, noutro tempo e noutra
arquitectura, que também tinham estreita ligação ao Porto. O concurso para a
nórdica câmara portuense, ganho pelo arquitecto camarário Correia da Silva,
levou à construção dos actuais Paços do Concelho, iniciados em 1920 e
inaugurados apenas em 1957, já com o contributo de Carlos Ramos e, com eles, o
neoclássico projecto de Parker para a avenida foi sabotado. Em 1 de Fevereiro
de 1916 a obra começara, precisamente com a demolição dos antigos Paços do
Concelho. Em 1919, Marques da Silva faz um primeiro projecto para os dois
edifícios de gaveto que marcariam o seu arranque: o da Companhia de Seguros
Nacional, a ocidente, e o do Prédio Pinto Leite, hoje Banco BilbaoVizcaya, a
oriente. Sobretudo o primeiro, iniciado em 1920, interessa-nos, pois o prédio é
bem demonstrativo do que Marques da Silva pretendia para a novo coração cívico
citadino. De facto, o torreado edifício da Nacional é assumidamente
revivalista, flamengo e maneirista. Emprega abundantes elementos originários,
mas nalguns casos já em processo de mutação, da tratadística quinhentista:
desde a ordem jónica gigante e da serliana, até às cartelas, aos mascarões e ao
trabalho de couro; desde a o verticalismo de frontões e coberturas às lucarnas
e aos vãos guarnecidos com um arremedo da ordem "francesa" proposta
por De l'Orme. O prédio fronteiro, igualmente torreado e originalmente
designado por Prédio Pinto Leite, tem projecto de 1922, também de Marques da
Silva e, apesar de ser mais bidimensional, de maior simplicidade e menor
movimento, mostra uma nítida vontade de simetria com o da Nacional. Marques da
Silva, citado pelo investigador António Cardoso, autor de uma obra fundamental
sobre a obra do arquitecto portuense, refere, sobre o edifício da Nacional, que
"os seus elementos deveriam conjugar-se com a feição arquitectónica mais
preponderante no Porto. Essa feição sofre a influência da Renascença
Flamenga". Assim, Marques da Silva compreendeu a importância histórica da
arquitectura flamenga no Porto. A avenida ficará como um monumento a ela, mas
não só: em 1919-1920, contemporaneamente portanto ao edifício da Nacional, o
arquitecto Ernesto Korrodi projectara no gaveto formado entre a Praça de D.
Pedro IV e a actual Almeida Garrett, mais um edifício "flamengo",
para sede do Banco Nacional Ultramarino, que se articulou com a fachada dos
Congregados”.
Com a devida vénia a José Ferrão Afonso, In jornal “Público”,
10/1/12001
“Com um esboceto de
dois edifícios de gaveto, datado de finais de 1919, Marques da Silva acabará
por determinar o arranque da Avenida dos Aliados, então ainda designada Avenida
das Nações Aliadas. Eles vão fixar a imagem urbana e monumental que será tomada
como modelo para as construções seguintes, bem ajustada aos procurados valores
de prestígio e símbolos individualizadores deste centro representativo.
A seguradora "A
Nacional", que em Abril de 1918 havia comprado o terreno do cunhal poente
formado pelo alinhamento da praça da Liberdade e da nova Avenida, e que um ano
depois tem já aprovado o desenho para a sua nova sede da autoria do arquitecto
Oliveira Ferreira, não ficará indiferente à proposta de Marques da Silva e em Abril
de 1920 acaba por solicitar à Câmara a substituição do projecto”.
Fonte: “fims.up.pt”
Pelo lado poente da
avenida
O edifício de "A Nacional" teve projecto de 1919 e
foi concluído em 1925.
Em 1934, no rés-do-chão (esquina) d’ “A Nacional”, está a
“Casa das Casimiras” – Cortesia do arquitecto Ricardo Figueiredo
Em 1934, no rés-do-chão (Avenida dos Aliados) d’ “A Nacional”,
esteve o “Nacional Palace Restaurante” da
Casa Sandeman, produtores e distribuidores de Vinho do Porto - Cortesia do
arquitecto Ricardo Figueiredo
No 1º andar do Edifício d’ “A Nacional” esteve, desde 1927,
a delegação do Diário de Notícias.
Na foto acima vemos,
à esquerda, o Banco Aliança depois Banco Totta e Açores, em edifício que se
seguia ao de “A Nacional”.
O Banco Aliança já
tinha estado, também, no Palacete de Belmonte dos Pacheco Pereira.
Mais acima, na esquina com a Rua Ramalho Ortigão, sobressai
o “Edifício Garantia”, de 1955, da autoria de Júlio de Brito.
No terreno do Edifício
Garantia esteve, antes, um campo de basquetebol do F. C. do Porto.
Entre o edifício
Garantia e o edifício do Comércio do Porto, com projecto do arquitecto
Michelangelo Soá, de 1925, seria inaugurado em 1930, o chamado edifício do
“Café Monumental.
Pelo lado nascente da
avenida
Abaixo, é visível, a nascente da avenida, o “Edifício Pinto
Leite”, comprado pelo Bank of London & South America ao Banco Pinto Leite,
e objecto de obras de ampliação, no início da década de 30.
Por esse lado nascente da avenida, seguiam-se ao “Edifício
Pinto Leite”, o “Edifício do Café Sport”, o “Edifício do Banco Lisboa &
Açores”, o “Edifício do Banco Borges & Irmão”, o “Edifício Lima Júnior” e o
“Edifício do Montepio Geral”, juntando-se no quarteirão seguinte o “Edifício da
Caixa Geral de Depósitos”, o Edifício do “Jornal de Notícias”, o da “Lutuosa”,
o da “Casa de Saúde da Avenida” e, por fim, o “Edifício da Companhia de Fiação
e Tecidos de Fafe”.
Na área contígua ao edifício “Joaquim Pinto Leite”, onde
tinha estado um prédio de 4 pisos, passou a estar um outro de 5 pisos
O “Edifício Pinto Leite” ficaria, então, adossado ao tal
prédio de 5 pisos. Assim, todos os edifícios situados a nascente da Avenida dos
Aliados, nesse quarteirão, ficariam adossados aos existentes, a nascente, da
então Rua Elias Garcia.
Daí, a descontinuidade verificada, a nascente da avenida, no
seu alinhamento, a partir do “Edifício Joaquim Pinto Leite” para norte.
O projecto inicial do “Edifício Pinto Leite” foi requerido à
Câmara do Porto por Joaquim Pinto Leite, em 1922.
Em 1923, Pinto Leite completa o projecto com a parte em
falta, o betão armado. Em 1924, são introduzidas pequenas alterações ao projecto
inicial. A obra estava concluída em 1924.
Nos anos 30, com a compra do prédio pelo Bank of London
& South America, realizam-se obras de ampliação e transformação, sem
alterar a imagem inicial proposta pelo arquitecto Marques da Silva.
Na fotografia acima, de 1917, podem ver-se as fachadas dos
edifícios (que não seriam demolidos) da antiga Rua Elias Garcia, e que viriam a
ficar ocultas pelas novas construções (executadas para garantir o novo
alinhamento da Avenida). A única excepção a este modo construtivo seria a
do edifício do Banco Lisboa & Açores.
Um pouco acima do “Edifício Joaquim Pinto Leite”, ficaria o
edifício onde esteve o Café Sport, seguindo-se aquele onde esteve o Banco
Lisboa & Açores.
Na vista aérea, acima, podem observar-se os telhados dos
antigos prédios, agora recuados, relativamente ao leito da Avenida dos Aliados
e que, antes, tinham as fachadas voltadas para a Rua Elias Garcia.
No canto inferior esquerdo, é o “Edifício Pinto Leite”.
Com o nº 1 vê-se o único edifício que não tem qualquer outro
adossado nas suas traseiras, e ficou conhecido como “Edifício Lisboa &
Açores”.
É possível observar, também, que o “edifício do Café Sport”,
com o nº 2, está ligado ao “Edifício do Banco Borges & Irmão”, com o nº 3,
pelas suas traseiras.
“Com projeto inicial
de 1921, ao contrário dos edifícios deste quarteirão, o edifício do Banco
Lisboa e Açores não corresponde à justaposição de uma nova construção ao
preexistente, mas à construção total da área de implantação, numa distribuição
espacial que se organiza em células, e onde se recorre a pátios para melhoria
das condições de ventilação e iluminação”.
Fonte: “nocentenariodaavenida.up.pt”
Alçado de parte da fachada voltada para a Avenida dos
Aliados dos prédios (excepto o do Café Sport e do “Edifício Joaquim Pinto
Leite”) integrando o quarteirão entre a Rua de Sampaio Bruno e do Dr. Magalhães
Lemos
Observando o desenho, acima, da direita para a esquerda,
encontramos o edifício do Banco Lisboa & Açores, seguido do Banco Borges
& Irmão (abaixo representado), do Edifício Lima Júnior e por último o do
Montepio Geral.
“Em 1935 no edifício
que fora do Banco Borges e Irmão é instalada a sala de bilhares do Café Sport.
Apesar de, na fachada voltada para a Avenida, os edifícios não serem contíguos,
nas traseiras, isto é, nas fachadas voltadas para a Travessa dos Congregados os
lotes tocam-se”.
Fonte: “nocentenariodaavenida.up.pt”
Continuando a caminhar para norte da avenida, no quarteirão
seguinte encontrávamos, sucessivamente, vários outros edifícios.
O projecto do edifício da Caixa Geral de Depósitos
(fronteiro ao do Montepio) é de 1930, da autoria de Porfírio Pardal Monteiro
(1897-1957), arquitecto chefe daquela instituição.
Para albergar a sede do Jornal de Notícias, José Marques da
Silva projectou o prédio em 1925.
A construção do edifício da Casa de Saúde da Avenida é de
1930, com projecto de Francisco de Oliveira Ferreira, discípulo de Marques da
Silva.
Na foto acima, é possível observar que o “Edifício da Fiação
e Tecidos de Fafe”, a rematar o quarteirão em que ficará inserido, ainda não
tinha sido construído, o que só ocorreria no ano de 1948.
Vista aérea da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade,
em meados do século XX
Na foto aérea acima, pode observar-se a forma da avenida,
que muitos dizem ser de um bacalhau e, ainda, a sua placa central, à época,
ajardinada, onde se destacam duas esculturas.
Acima, uma foto da
estátua em mármore e pedra lioz, conhecida como "A Juventude", de
1929, dita a “Menina Nua”, do escultor Henrique Moreira.
Um pouco mais acima está, do mesmo autor, a escultura “Os Meninos - A Abundância” de 1931, em bronze.
A Menina Nua e a Avenida
da Liberdade com um visual que é uma saudade para muitos portuenses
Um pouco mais acima está, do mesmo autor, a escultura “Os Meninos - A Abundância” de 1931, em bronze.
“Os Meninos” ou “A
Abundância” - Ed. “pt.wikipedia.org”
Para memória futura, na foto abaixo, a Avenida dos Aliados, que começou por se chamar Avenida da Cidade e depois Avenida das Nações Aliadas e finalmente Avenida dos Aliados.
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