A presença de
povoados castrejos na Foz do Douro é indiciada pela toponímia, nomeadamente a
Rua do Crasto, o que permite verificar a sua humanização desde muito cedo.
Concretamente,
sabe-se que, em 1145, D. Afonso Henriques doou a Frei D. Roberto e aos
confrades do cenóbio de Santa Maria e S. Miguel Arcanjo de Riba Paiva (Castro
Daire), tudo quanto possuía em S. João da Foz.
A fundação do
mosteiro de S. Miguel Arcanjo de Riba Paiva é dada como tendo acontecido na Era
de César de 1178 (1140 do ano da Encarnação), fundado por D. Roberto, monge
francês, da Ordem Premonstratense de Santo Agostinho, numa herdade da coroa. Em
1312, foi dissolvido o mosteiro tendo, até hoje, subsistido a igreja.
O historiador José
Mattoso havia incluído S. Miguel da Ermida de Riba Paiva, entre um conjunto de
eremitérios assinalados no século XII.
Após aquela doação,
seguiu-se uma outra feita por D. Mafalda, em 1211, de S. João da Foz a favor de
D. Mendo, passando, então, para a posse do mosteiro beneditino de Santo Tirso
de Riba d`Ave.
Uma vez confirmada a
doação por D. Mafalda, filha de D. Sancho I, fica designado o território por
“Couto da Foz”.
Naquela época,
Nevogilde, freguesia que abarca hoje a Foz Nova, era constituída por um pequeno
povoado de vocação rural, com 17 casais, enquanto, S. João da Foz, o actual
núcleo da Foz Velha, era um povoado de maior desenvolvimento, voltado para o
rio e para o mar, com 37 casais e 14 cabaneiros, número maior do que os
existentes, na mesma época, em Aldoar e Lordelo, as freguesias vizinhas.
Por aqui, em 1527,
contavam-se já 286 fogos em S. João da Foz e 12 em Nevogilde.
Por estas paragens existiu,
em tempos, um condado de Massarelos e de S. João da Foz.
“D. Afonso V fez, mercê a João Rodrigues de
Sá "do condado de Maçarellos e San Johan da foz, com outros lugares
que com elles soem andar".
Este condado não
correspondia a um território sob tutela de um conde, mas, sim, a um imposto que
se pagava sobre o pescado que se retirava do rio Douro.
O texto da carta
régia é bem claro nesse sentido:
" (…) temos por bem e queremos que a ele
(João Rodrigues de Sá) tenha e haja de nós desde o 1 de Janeiro que ora passou
desta presente era de 1469 em diante, enquanto for nossa mercê, o condado de
Massarelos e de S. João da Foz com outros lugares que com ele soem andar e a
dizima de Crestuma e porém mandamos aos vedores da nossa Fazenda a Luís Alvares
de Sousa, do nosso Conselho e vedor da nossa Fazenda em a dita cidade, e a
João Afonso nosso contador em ela metam logo de posse do dito condado e lhes
deixem arrendar a ele ou seu certo recado a haver a renda deles".
Aquele, João
Rodrigues de Sá, descendente do “Sá das Galés”, do tempo de D. João I, também
foi nomeado pelo rei D. Afonso V, em 1476, para governar o "condado
de Maçarellos e San Johan da foz” e ser, também, o governador do
Castelo de Matosinhos.
O "Sá das
Galés" já, em 1399, tinha sido nomeado "Senhor de
Bouças", por D. João I.
Francisco de Sá de
Meneses (1510-1583), neto do "Sá das Galés", embora não fosse filho
primogénito, herdou todos os títulos do pai por ser, à morte deste, o filho
mais velho vivo. Viria a ser, também, o primeiro Marquês de Fontes, título que, com D: João V, passaria a Marquês de Abrantes.
Assim, era esta linhagem de marqueses, que tinham morada, na Rua de Cima de Vila, no que foi chamado de Paço da Marquesa, que nomeavam o governador do Castelo da Foz do Douro e que usufruiam altos rendimentos provenientes do pescado.
Todos aqueles cargos eram muito apetecidos por causa dos pingues rendimentos que deles auferiam os que os exerciam.
Em 1580, o rei
Filipe I haveria de nomeá-lo também 1º Conde de Matosinhos. Tendo
morrido, provavelmente, em 1583, seria sepultado em Matosinhos, na igreja do
Convento de Nossa Senhora da Conceição.
Sá das Galés foi
alcaide-mor do Porto e obteve o cognome pelas suas proezas no mar e na luta contra
os castelhanos.
Seu filho, Fernão de
Sá herdaria os títulos do progenitor, “nosso criado cavaleiro e alcaide-mor do
nosso castelo da cidade do Porto” e, em 2 de Dezembro de 1433, receberia carta
de doação da Terra de Gondomar.
“João Rodrigues de Sá, conhecido como o das
Galés (Porto, 1355 - Porto, 1425), foi alcaide-mor do Porto e seguidor do
partido do Mestre de Avis durante a crise dinástica de 1383-85 em Portugal.
Era filho de Rodrigo Anes de Sá e de sua
segunda mulher Cecilia Colonna, neta paterna por bastardia de Sciarra Colonna e
meia-prima-irmã de D. Agapito Colonna, Cardeal-Bispo de Lisboa.
Durante o cerco imposto a Lisboa por João I
de Castela, João Rodrigues de Sá, vindo do Porto, lutou com sucesso contra as
galés castelhanas, o que lhe valendo o epíteto de o da Galés, pelo qual passou
a ser conhecido. Destacou-se, também, na batalha de Aljubarrota e na
reconquista de Guimarães que estava em poder dos castelhanos. A 29 de Março de
1384 foi feito 1.º Senhor de juro e herdade de Sever e do Barreiro, a 25 de
Outubro de 1385 1.º Senhor de juro e herdade de Castro Daire e a 24 de Janeiro
de 1386 1.º Senhor de juro e herdade de Neiva.
Como reconhecimento pelos seus serviços, D.
João I, entre outras honrarias, nomeou-o em 1386 seu camareiro-mor da Casa
Real, cargo que passaria aos seus descendentes. Foi seu Embaixador em Roma, nos
Estados Pontifícios, e, após difíceis negociações, conseguiu do papa Bonifácio
IX a autorização para que o rei contraísse matrimónio, a que estava
impossibilitado pelo facto de ser mestre e cavaleiro professo da Ordem de Avis.
A 2 de Março de 1387 sucedeu a seu pai como 2.º Senhor de juro e herdade de
Gaia e a 8 de Julho de 1391 foi feito 1.º Senhor de juro e herdade do Castelo
de Lindoso.
João Rodrigues de Sá ascendeu ao cargo de
alcaide-mor do Porto a 21 de Fevereiro de 1392, mas só em 1406 (passados 14
anos) é que o bispo D. Gil Alma, mediante a promessa de 3000 libras, desiste de
toda a soberania exercida até à data sobre o burgo. A governação do Porto é
entregue, por decisão de D. João I, a João Rodrigues de Sá, colocando um ponto
final nos conflitos entre a coroa e a diocese do Porto acerca da jurisdição do
burgo. Foi, ainda, entre outras coisas, governador de Entre Douro e Minho em
1397 e feito 1.º Senhor de juro e herdade de Bouças a 18 de Fevereiro de 1399.”
Fonte:
pt.wikipedia.org
“A recente descoberta realizada em Perafita,
pelo Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Matosinhos, de uma
fortificação com cerca de mil anos, muito provavelmente destinada a proteger as
populações costeiras do ataque de vikings, veio relembrar que, durante séculos,
a história desta região se fez também de piratas e pirataria. Normandos,
mouros, franceses, ingleses, holandeses…
Desde muito cedo profundamente ligada ao mar
pela pesca, produção de sal e construção naval, Matosinhos passará a
destacar-se também, a partir do século XII, como terra de afamados “homens do
mar” ligados ao comércio marítimo. E durante os séculos seguintes, nomeadamente
com a Expansão Marítima, esta será, cada vez mais, uma terra de marinheiros,
pilotos, contramestres, capitães de navios e… piratas. Com efeito, para fazer
face às pilhagens e assaltos das embarcações inimigas, os portugueses
responderam com o incremento dos corsários. Isto é, de piratas ao serviço de
grandes senhores ou da própria coroa. Um dos mais poderosos senhores nesta
região no século XV, João Rodrigues de Sá, alcaide-mor do Porto e donatário de
Matosinhos, tinha aqui fundeados barcos de corso”.
Fonte: C. M.
Matosinhos
No que respeita a S.
João da Foz do Douro, à data, existia onde hoje é o forte de S. João Baptista,
um complexo que possuía um pequeno mosteiro dos beneditinos de S. Tirso.
O governador do
condado de S. João da Foz e Massarelos, que provavelmente teria habitação junto
desse sítio, se mais não fosse, para poder mais facilmente controlar as cobranças
daqueles impostos teria, por isso, autorização para aproveitar o hospício dos
monges beneditinos de S. João da Foz do Douro, para aí estabelecer a sua
residência, sendo esta uma regalia que se estendia aos descendentes, recebendo
dois cruzados por cada navio estrangeiro que saísse da barra e, cinco tostões,
por cada barco estrangeiro que entrasse.
Para os navios
portugueses era aplicada uma taxa menor.
Os barcos de pesca
estrangeiros, que andassem na pesca nas nossas costas marítimas e que vendiam
o peixe na cidade do Porto, pagavam "do melhor que trouxessem", 2000
reis ao governador.
Para os barcos
espanhóis, o imposto a pagar era o de um cesto de sardinha, à entrada e um
tostão, quando saíam.
Os barcos que
andavam com outras cargas, como sal e cal, pagavam dois alqueires do produto à
entrada e um tostão à saída.
Como facilmente se
pode depreender, do que atrás fica dito, o cargo de governador de Massarelos e
de S. João da Foz do Douro era altamente rendoso.
Foi o futuro rei D.
João VI, quando ainda era regente, por doença de sua mãe, a rainha D. Maria I
que, em 1811, retirou a administração do castelo da Foz do domínio dos Sás.
Facto notável é o
da existência em S. João da Foz de um porto, o porto de Carreiros, que servia
de alternativa à entrada da barra do Douro, quando esta não era acessível.
No entanto, este
porto chegou a ultrapassar a função de refúgio de barcos de pesca.
De facto, durante o
cerco do Porto serviu para desembarque de bens de primeira necessidade, tendo
ainda o exército das tropas liberais sido reforçado por centenas de novos
recrutas aqui desembarcados.
Após o fim do
conflito, que colocou um fim no Cerco do Porto e na luta pelos ideais liberais,
a Foz do Douro seria elevada a Concelho.
“No primeiro
terço do séc. XIX, resultante da vitória dos adeptos de D. Pedro, terminou o
Couto, a Administração Beneditina na Foz do Douro. Foi assim criado o Concelho
de S. João da Foz do Douro, com uma só freguesia de área tão reduzida e
paredes-meias com a Cidade do Porto, que não podia subsistir muito tempo.
Dezoito meses foi a sua existência. A sua sede situava-se na Rua Direita
(mais tarde Rua Central e posteriormente rua do Padre Luís Cabral) numa
casa fronteira à Capela de Santa Anastácia. A primeira Comissão Municipal,
interina em 1834, era constituída por José Gonçalves Araújo, presidente,
António José Silva, vereador Fiscal e José Monteiro Salazar, vereador. Três
cidadãos que a 21 de Setembro do mesmo ano deram poderes e aceitaram o
juramento de fidelidade a Rainha e à Carta Constitucional de cinco elementos,
presididos por José da Silva Ferreira para iniciarem a municipalidade na Foz do
Douro. A primeira importante medida administrativa tomada, após a posse, tratou
a iluminação da Vila para a qual foi lançado um imposto de 2 reis em cada
arrátel de carne.
Fonte: “Retalhos da Velha Foz” do Dr. Fernando Russell Cortez, artigos
publicados no jornal O Progresso da Foz, em 1978/79"
Os habitantes da Foz
queixavam-se que os impostos cobrados pelo couto dos beneditinos eram muito
elevados, pelo que apoiaram a criação do concelho.
Após as eleições,
ficaram muito desiludidos pois, a câmara, logo que eleita, aumentou-os para que
fosse possível o pagamento dos ordenados do presidente e restantes membros da
autarquia.
Seria breve a
existência do concelho da Foz do Douro, que viria a ser integrado, no concelho
do Porto, dezoito meses depois.
No entanto, até hoje, o brasão da Foz continua encimado por
uma coroa mural com quatro torres – equiparando-a a vila – e não três, como
acontece nas restantes freguesias da cidade do Porto. Desde 2013, a Foz está
integrada na União de Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.
Na foto acima, está
a casa onde funcionou a Câmara Municipal e que foi também prisão, paredes meias
com uma capela do Senhor dos Passos.
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