João Allen foi o fundador deste museu, ao tempo, conhecido como
Museu Allen ou Museu da Restauração.
João Allen, nascido em 1785, era o penúltimo filho de dez
que seu pai, Duarte Guilherme Allen, teve de um primeiro matrimónio com Joanna
Mazza, aparentada com o Papa Clemente XIV.
Duarte Allen foi cônsul da Grã-Bretanha em Viana do Castelo
e no Funchal, sendo que, nesta cidade, foi o seu filho mais velho, cónego.
Uma irmã de João Allen (que viria ser a baronesa da
Regaleira) casaria com José Monteiro de Almeida, que construiu a casa onde
esteve o Correio Geral, na Rua de S. Bento da Vitória que, depois, foi dos
herdeiros de José Gaspar da Graça.
Uma outra irmã casou com José Ferreira Pinto Basto, o
fundador da Vista-Alegre e um conhecido e importante “setembrista”.
João Allen, aos doze anos, foi mandado para Washington, nos
Estados Unidos, onde estudou num colégio católico, mas com uma organização
militar, dirigido por clérigos franceses.
De volta ao Porto, serviu no exército anglo-luso, lutando
contra os franceses, vindo a receber a medalha da Torre e Espada.
Após a Guerra Peninsular, João Allen estabeleceu-se em
Londres e, depois, no Porto, como principal sócio da casa “Monteiro Dixon &
Cia”, por morte do seu cunhado, José Monteiro de Almeida, cuja firma ficaria a
ser, “Dixon, Allen, Figueiredo & Cia” e, mais tarde, “Allen, Morgan &
Cia”.
Ainda solteiro, João Allen deu início, na sua residência, na
Rua da Restauração, nº 281, a um museu, vindo a casar, em 1823, com Leonor
Carolina Amsink, filha de Rodolfo Amsink, cônsul de Hamburgo, no Porto.
Em consequência do seu vício de juntar coisas, João Allen
foi aproveitando as suas muitas viagens pela Europa, especialmente pela Itália,
para enriquecer a sua colecção de armas, medalhas e louças.
Fruto da sua convivência com o pintor portuense Joaquim Rafael,
adquire-lhe algumas telas, a que junta quadros de Pillement.
Como os salões da sua casa, sita na Rua da Restauração, nº 281
(no gaveto
da actual Rua Alberto Aires de Gouveia com a Rua da Restauração), começassem
a estar cheios, mandou, em 1836, edificar nos terrenos contíguos uma nova
casa, com três grandes salas e luz directa, onde colocou as suas colecções.
A casa de habitação tinha sido começada a construir c. 1831,
pois é desse ano o pedido de construção à Câmara.
D. José de Urcullu, que viria a ligar-se à família, autor do
"Tratado Elementar de Geografia", no seu 2º volume, inclui uma
ilustração e descrição da casa e do Museu Allen, tendo escrito:
“Só depois de
concluído o prolongado cerco desta cidade é que o sr. Allen se resolveu a fazer
uma casa destinada exclusivamente ao Museu. Teve a fortuna de que os projecteis
que lançaram os sitiadores não caíssem onde estavam guardados os objectos raros
e preciosos que em muitos anos tinham juntado. O edifício que serve de Museu e
situado no fundo do jardim da casa em que mora o Sr. Allen; consta de três
salões iguais de 22 palmos e meio de altura, 47 de comprimento e 26 e meio de
largura. A luz entra em todos eles por clarabóias bem- dispostas no tecto.
Todos os domingos,
João Allen abria a porta do seu Museu a quem o desejasse visitar, servindo o
proprietário, graciosamente, de cicerone.
E se tudo corria bem
no aspecto da arte, enriquecendo o seu Museu com peças que ia adquirindo ou lhe
ofertavam, a verdade é que, a traição de um dos seus sócios, em Inglaterra, e a
falta de amizade dos que lha deviam, em Portugal, acabaram por o obrigar a
liquidar as suas casas comerciais”.
Como se lê, acima, João Allen, após ter sido obrigado a
liquidar a sua actividade comercial, profundamente desgostoso, retirou-se para
a sua Quinta de Campanhã (que ainda hoje existe na posse da família) e, aí,
faleceu a 19 de Maio de 1848.
João Allen era um negociante portuense de ascendência
britânica, tendo a sua actividade centrada na exportação de vinho do Porto. Foi
membro da Feitoria Inglesa, tendo sido um dos fundadores do Banco Comercial do
Porto e da Associação Comercial do Porto.
Dois anos após a sua morte, resolveu o conselho de família
vender o recheio do museu, mas um movimento gerado na cidade, levou o município
a adquiri-lo, ficando, no entanto, instalado nos mesmos edifícios,
graciosamente, durante um ano.
Segundo Alberto Pimentel a respectiva compra cifrou-se em 12
contos de reis.
A verdade é que só, em 11 de Abril de 1852, abriu ao público
com o nome de Museu Portuense, da
Rua da Restauração, com a cooperação inteira e gratuita de Edmundo Augusto
Allen, filho do fundador da Companhia do Palácio de Cristal, mais tarde,
honrado com o título de Visconde de Villar d’Allen.
O Museu abriu, pela
primeira vez, em 11 de Abril de 1852, primeiro, ao Domingo, depois, duas vezes
por semana, isto é, aos domingos e quintas-feiras (1856) e, desde 1867,
diariamente. Até ao falecimento de Augusto Allen, o museu seria beneficiado com
várias obras de outros artistas, destacando-se as do pintor Alberto Aires de
Gouveia, também conhecido por Gouveia Portuense, por contraposição a um outro famoso pintor - Vieira Portuense.
“Alberto Aires de
Gouveia (Porto, 3 de Março de 1867 - Candal, Vila Nova de Gaia, 2 de Outubro de
1941) foi um pintor nascido no seio de uma família portuense ligada ao negócio
dos vinhos. Teve uma educação esmerada, tendo frequentado o Instituto Minerva,
o Colégio de S. Carlos e o Colégio Inglês de Nossa Senhora da Providência.
Exerceu actividade
comercial na firma António Caetano Rodrigues & C.ª, onde esteve pouco
tempo. A sua verdadeira paixão era a pintura, razão pela qual ingressa na
Escola de Belas Artes do Porto e tem como professor o mestre da pintura
naturalista Marques de Oliveira.
Participou em
exposições coletivas e individuais.
Parte das suas obras
podem ser vistas no Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, no Museu
Nacional de Arte Contemporânea de Lisboa e no Museu Grão-Vasco, em Viseu”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
Uma vez falecido, em 1899, Augusto Allen, começou o museu a ser conhecido como Museu Municipal do Porto, acabando por
ser transferido, em 1905, para o edifício onde funcionava a Biblioteca Pública Municipal do Porto e
o Ateneu Portuense ou Ateneu D. Pedro,
localizado no antigo Convento de Santo António da Cidade, tendo sido reaberto
ao público, apenas, em 1912.
A residência e o museu Allen já não existem tendo sido
demolidos em 1962, e no local que anteriormente ocupavam, encontra-se,
hoje, um moderno imóvel que, entre outras coisas, serve de centro de
escrutínio dos jogos da Santa Casa da Misericórdia.
O antigo Museu Allen
e o antigo Ateneu D. Pedro, pertencentes ao Município Portuense e ao Estado,
respectivamente, assim continuariam em S. Lázaro, dividindo instalações,
durante boa parte do século XX.
O acervo do Museu Municipal do Porto viria, então, a integrar
o do Museu Nacional de Soares dos Reis, trazendo-lhe, entre muitas maravilhas,
o "Caim" e a "A Flor Agreste", de Teixeira Lopes, a
"Crucificação", de Vieira Portuense, e "A Virgem e o
Menino", de Frei Carlos, para além de uma sumptuosa colecção de
numismática.
Interior do Museu Municipal do Porto (Museu Soares dos Reis, desde 1911 e, desde 1932, Museu Nacional Soares dos Reis), em S. Lázaro
Museu Municipal Portuense, nas instalações de S. Lázaro - Ed.
Foto Guedes, negativo em vidro 13 x 18 cm – Fonte: AHMP
A meio da foto, editada, observa-se a casa dos Villar
d'Allen, sendo visível, atrás, parte do edifício do quartel
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