O Bairro do Laranjal era constituído por um conjunto
edificado que, grosso modo, estava contido pelas actuais ruas (a nascente) do
Bonjardim e Almada e zona da Picaria (poente), e pelas praças da Liberdade
(sul) e Trindade (Norte).
A quase totalidade daquele edificado foi demolido, a partir
de 1916, para abertura da Avenida da Cidade chamada, por fim, Avenida da
Liberdade.
Legenda:
Oservações respeitantes às linhas coloridas: A preto, a Rua
do Almada; a azul, a Rua do Laranjal; a amarelo, a Rua D. Pedro.
A elipse branca contém o Bairro do Laranjal.
1 – Praça da Trindade
2 - Prédio do Hotel Francfort
3 – Câmara Municipal
4 – Rua da Cancela Velha
5 – Praça D. Pedro (Praça da Liberdade)
6 – Palacete Ferreirinha
7 – Travessa da Trindade
8 – Chafariz do Laranjal
À Praça da Trindade vinha dar a Rua do Laranjal, que
partindo das traseiras da antiga Câmara Municipal, situada na Praça D. Pedro,
cruzava a Rua dos Lavadouros, por onde hoje está o chamado edifício do
“Comércio do Porto”.
Sobre esta Rua do Laranjal, que começaria a desaparecer, após
1916, para a abertura da Avenida dos Aliados, transcrevem-se alguns textos que
o blogue “aportanobre.blogs.sapo.pt” extraiu da Revista “O Tripeiro”.
«Ainda estou a ver o
velho José Galiza, alquilador, com as suíças grisalhas e com os seus carros e
carroças, a mandar o seu pessoal lavar os rodados.
Ao lado, quasi em
frente, havia umas oficinas de louzeiros (sic) e ao fundo os fabricantes de cadeiras e outras mobílias de
madeira de pinho, que, no engraçado dizer do saudoso Guedes de Oliveira,
era mogno do laranjal!!! -
e mais ao fundo a velha cervejaria Bastos, que nas noites calmosas, oferecia
aos seus frequentadores cerveja de pipa, muito fresca.»
Fonte: João Moreira da Silva, In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª
Série
Hotel Francfort, em frente, no gaveto e, pela esquerda, o
início da Rua do Laranjal. Em frente, era a Rua D. Pedro, depois, Elias Garcia
– Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto
«Lembro-me muito bem
que era nesse largo que existia a afamada casa de vinhos e destilações "O Alambique" (fundada em
1860), bem como o alquilador José Galiza, que no mesmo largo fazia,
diariamente, grande estendal de cavalos, muares, carros e carroças; e ainda o
Café Primavera, com um pequeno palco, música e bailarinas.
A casa de três andares
que se vê na gravura, do lado direito, ao cimo da calçada, creio que era a que
fazia esquina para a rua de D. Pedro IV, desaparecida na mesma época em que
foram demolidos os prédios das ruas dos Lavadouros, Laranjal, e Viela do Cirne,
passeios favoritos da rapaziada de então e as de Adriano Machado e Cancela
Velha.»
Outras memórias
avulsas se colhe, por exemplo o Sr. J. Gonçalves: «Aquele chafariz estava
situado no centro dum terreno que marginava a rua do Laranjal e em frente à
rampa da Cancela Velha. Ao fundo havia um bom prédio, onde estava instalado "O Alambique", armazém de
vinhos que ainda hoje existe. Dos prédios contíguos, da parte de cima, saia um
cheiro terrível a amoníaco e
outras perfumarias das grandes lojas iluminadas a candeias de
petróleo e habitadas pelas chamadas mulas
do Galiza. Ou a de Augusto Coelho Pereira de Araújo, que refere: «A
fonte, antes de transformada em chafariz, existiu mais abaixo, constando de uma
fonte rasa, para a qual se descia por degraus abertos no pavimento da rua, a
qual era conhecida pela fonte do Olho
do c., e para que o povo perdesse o hábito do chamadoiro, a Câmara
mudou-a para o local agora mostrado na gravura, transformando-a num artístico
chafariz».
Fonte: V. Alves Moreira, In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª
Série
A Rua do Laranjal, já a montante do chafariz do Laranjal,
com a Igreja da Trindade em fundo, c. 1900
Nessa Rua do Laranjal, nº 101 (abaixo do Chafariz do
Laranjal, no Largo do Laranjal), em 1905, num prédio onde tinha estado, durante
muitos anos, o Hotel Central, instalou-se, em 28 de Novembro, o “Centro
Regenerador do Porto”, vindo de um pouco mais acima dessa mesma rua, do nº 185,
que estava a poucos metros do ginásio Lauret, entre o Largo do Laranjal e esta
sala de armas, quase em frente à entrada da Viela do Cirne, e já próximo do
Largo da Trindade.
O Dr. António Teixeira de Sousa (Sabrosa, Celeirós, 5 de
Maio de 1857 — Porto, 5 de Junho de 1917) era o chefe do partido Regenerador e
chefe do Governo, à altura da queda da monarquia, tendo vivido amargurado,
parte dos seus últimos dias de vida, bem perto daquele “Centro Regenerador do
Porto”, no Hotel de Francfort, devido aos acontecimentos de 1910.
Morada, em 1889, do Partido Regenerador, In “Jornal do Porto”
de 19 de Setembro de 1889
Na gravura de cima, baseada num cliché de Emílio Biel, vemos
o antigo Largo do Laranjal, depois, Praça da Trindade, num ângulo
obtido do local onde hoje se situa a fachada traseira da Câmara Municipal do
Porto. Repare-se no conjunto de casas que existia (esquerda na imagem) no local
que, mais tarde, passou a ser conhecido por "Pedreira da Trindade" e
que, actualmente, é um edifício de grandes dimensões. No espaço da pedreira
existiu, até à década de sessenta do século XX, a Rua de Cima do Muro, hoje, a
Rua dos Heróis e Mártires de Angola.
No quarteirão definido pelas Ruas Ricardo Jorge, Rua Heróis
dos Mártires de Angola (antiga Rua de Cima do Muro da Trindade),
Rua Alferes Malheiro e Rua do Almada existiu uma elevação de terreno conhecida
por Monte
da Doida.
A Travessa da Doida era o arruamento que ladeava a elevação
correspondente à Rua de Alferes Malheiro e Heróis dos Mártires de Angola e
tomou depois o nome de Rua de Liceiras.
A parte desta artéria que ligava à Rua do Bonjardim, foi Rua
do Visconde de Almeida Garrett.
“Foi na reunião da
Câmara de 13 de Outubro de 1835 que a Vereação portuense tomou a resolução de
homenagear personalidades que participaram no Cerco do Porto e que, por actos
de bravura, se distinguiram nessa heróica epopeia, dando o seu nome a várias artérias
do Porto. Alguns nomes foram dados a arruamentos novos. Outros substituíram
antigos topónimos.
Almeida Garrett foi um
dos 7500 Bravos do Mindelo. Integrou o Batalhão Académico que esteve
aquartelado no antigo convento dos Jesuítas, onde agora funciona o seminário
diocesano. O seu nome figurou em duas artérias. Por exemplo a actual Rua do
Alferes Malheiro chamou-se, em tempos idos, Rua de Liceiras, desde a Rua do
Almada até à esquina da Rua de Camões. Daqui até à Rua do Bonjardim chamava-se
Rua do Visconde de Almeida Garrett.
Outra artéria que
evocava o nome do autor de "O Arco de Sant'Ana" era a actual Rua do
Padre António Vieira, em Campanhã que se chamou noutros tempos Rua Garrett”.
In ruasdoporto.blogspot.
Rua de Cima do Muro da Trindade
Nas fotos acima, tirada da Rua de Cima do Muro da Trindade, em
Novembro de 1960, procede-se ao desalojamento dos habitantes para arranjo e alargamento
da rua. Como é óbvio, a Igreja da Trindade está à esquerda.
Na foto anterior, observa-se o Café Primavera, na esquina da
Rua do Alferes Malheiro e a Rua do Muro da Trindade, nas traseiras da Igreja da
Trindade.
Nas fotos anteriores, pode ver-se o derrube do casario para
alargamento da via, que originou aquilo que, por muitos anos, foi chamada a
"Pedreira da Trindade", que foi finalmente preenchida pelo edifício
que, actualmente, lá se encontra.
Para poente, o Bairro do Laranjal estendia-se até à Rua do
Almada, pela ligação da Travessa da Trindade à Picaria.
“A folha 14 do Livro
de Plantas da Cidade do Porto (número 2), que se guarda no nosso Arquivo
Histórico Municipal, representa a planta, de um projecto urbanístico de 1761
denominada Planta do Bairro dos Laranjais, da autoria do sargento-mor de
Infantaria, com o exercício de engenheiro, Francisco Xavier do Rego.
Aí estão delineadas
algumas artérias. Umas que já existiam, caso das ruas do Bonjardim e de Santo
Ovídio, esta agora denominada dos Mártires da Liberdade; outras em projecto,
que são as ruas do Almada e da Conceição; e uma que desapareceu. Chamava-se, na
altura, Rua de Santo António dos
Lavadouros depois ficou só dos Lavadouros e desapareceu com a abertura da
Avenida dos Aliados.
Na mesma planta está
prevista a abertura de mais duas novas artérias a que ainda não havia sido dada
qualquer denominação. Uma delas nunca chegou a ser rasgada. Ligaria em linha
recta a actual Rua dos Mártires da Liberdade a Liceiras. A outra unia duas praças também em projecto a Praça da Conceição, depois Largo da Picaria
e que é hoje o Largo de Mompilher,
com a Praça da Trindade, assim chamada por ficar diante da igreja da Ordem
Trinitária, que substituiu a Ordem Terceira de S. Domingos, extinta em 1755, na
sequência de um conflito com os dominicanos. Neste mesmo espaço, onde se ergue
a igreja daquela Ordem, riscada pelo arquitecto Carlos Amarante, faziam-se,
antes, duas importantes feiras: uma de
erva e de palha e outra de carneiros. Por isso também se deu a este largo o
nome de Praça da Erva.
Voltemos à rua
projectada para ligar o Largo de Mompilher à Praça da Trindade a actual Rua do
dr. Ricardo Jorge. Mas nem sempre teve esta nomenclatura. Inicialmente teve
duas designações. Entre a Praça da Conceição e a Rua do Almada chamou-se
Travessa do Pinheiro por causa da sua proximidade à rua deste nome. Da Rua do
Almada até à Praça da Trindade começou por se chamar Travessa do Laranjal, o que se compreende se tivermos em conta que
o largo em frente à igreja antes de se chamar Praça da Trindade foi Largo do
Laranjal. A partir de 1776, aparece denominada de Travessa da Rua do Almada.
Mas numa planta da
autoria do arquitecto Teodoro de Sousa Maldonado, datada de 1787, é designada
como a Travessa da Chancelaria. Só a
partir de 1846 é que aparece como a Travessa
da Trindade e, posteriormente, como Travessa
da Praça da Trindade.
A actual designação da
Rua Ricardo Jorge homenageia a memória de uma figura ilustre do Porto que toda
a gente conhece como médico higienista. Mas Ricardo Jorge foi também um
eminente escritor, historiador, crítico de arte e um purista da língua
portuguesa. O seu estudo sobre as origens e o desenvolvimento do Porto é a
melhor obra que até hoje se escreveu sobre esse complexo assunto”.
Com a devida vénia a Germano Silva
“É em 15 de Fevereiro
de 1798 aprovada a planta definitiva da Praça do Laranjal (hoje Praça da
Trindade), de Teodoro de Sousa Maldonado, pela Junta das Obras Públicas. De
notar que a ideia da praça data de 1760 (a urbanização das Quintas do Laranjal
de Cima e de Baixo foi ideia de João de Almada), datando as plantas de
Maldonado de 1787 e as de D. José Champalimaud (dos aquedutos) de 1788”.
Eugénio Andrea da Cunha Freitas, In “Toponímia Portuense”,
p. 333
As Escadas do
Pinheiro lançadas a partir do Largo Mompilher começaram a ser construídas
em 1775 e destinavam-se a ligar esse largo à Rua da Misericórdia,
actual Rua do Pinheiro.
“…Neste local existia
uma vasta propriedade, a Quinta do
Pinheiro, que compreendia muitos campos de cultivo, laranjais, hortas e
pomares. Começou a ser urbanizada no século XVIII incluída no chamado plano de
urbanização do Bairro dos Laranjais promovido por João de Almada e Melo e no
qual se incluía a abertura, por exemplo, da Rua do Almada, assim denominada em
homenagem ao promotor do projecto, bem como outras artérias adjacentes como as
actuais ruas da Conceição, de Ricardo Jorge e outras.
Uma das artérias que
também se abriu por esse tempo foi a actual Rua do Pinheiro onde se encontra a
pequena capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição.
A primeira referência
documental que existe relativa a esta propriedade é do ano de 1508.
Trata-se de uma
escritura que nos dá conta, de que, um tal João Rodrigues de Avelar e, sua
mulher, Grácia Luís, venderam o seu campo do Casal do Pinheiro, "que fica
junto aos Carvalhos do Monte, junto da cidade e da estrada
pública..."
Dava-se o nome de Carvalhos
do Monte ao sítio onde esteve a Quinta do Mirante e agora está a Faculdade de
Direito, entre a Rua dos Bragas e a Praça do Coronel Pacheco. A estrada
pública é a antiga Rua de Santo Ovídio, hoje dos Mártires da Liberdade, que
ficava, dizem documentos antigos, "arriba dos Ferradores, "ou seja
acima da antiga Praça dos Ferradores, que hoje tem o nome de Praça de Carlos
Alberto.
Antes de ter a
denominação que evoca a existência da Quinta do Pinheiro, esta artéria
chamou-se da Misericórdia.
Em 1725, o Casal do
Pinheiro, com os seus "campos da Porta Fronha e dos Carvalhos" estava
na posse da Santa Casa da Misericórdia do Porto que o emprazou (deu de aluguer)
a um Manuel Monteiro do qual passou para um seu descendente de nome João
António Monteiro de Azevedo, cidadão do Porto e celebrado autor de uma
interessante e, para quem se interessa pela história de Vila Nova de Gaia,
ainda hoje, muito útil" Descrição Topográfica de Vila Nova de Gaia",
que também contém muitas e importantes referências históricas à cidade do
Porto.
Pois foi
este João Monteiro de Azevedo que mandou fazer a casa que ainda existe na
Quinta do Pinheiro e a capela da invocação de Nossa Senhora da Conceição,
atribuída a Nicolau Nasoni e que, embora esteja no exterior da quinta, dela faz
parte integrante.
Esta enormíssima
propriedade, que compreendia, além das já mencionadas glebas da Porta Fronha e
dos Carvalhos, os campos do Pinheiro e da Pena de Arca, começou a ser retalhada,
para urbanização, nos começos do ano de 1747, nomeadamente para a abertura da
parte superior da Rua do Almada e de outras artérias como a Rua de Ricardo
Jorge, que antes se chamara Travessa do Pinheiro, e a criação do chamado
Bairro dos Laranjais, um ambicioso processo urbanístico da autoria de João
de Almada e Melo.
O emblema do antigo
Largo do Laranjal, depois Praça da Trindade, foi o chafariz que passou à
história, exactamente, com o nome do largo. Inicialmente era uma fonte, a Fonte
da Trindade, que funcionou desde 22 de Junho de 1844 até Maio de 1853. Neste
ano fizeram-se obras na já então denominada Praça da Trindade para rebaixamento
do leito e a fonte foi demolida. As suas pedras, provenientes da demolição,
foram recolhidas num terreno de Liceiras, para uma eventual reconstituição. Que
nunca chegou a fazer-se. Com efeito havia sido demolido, também, um chafariz
que, desde o século XVI, pelo menos, estava no meio do Largo de S. Domingos.
Foi este que acabou por ser reconstruído na Praça da Trindade. A sua
inauguração ocorreu no dia 11 de Março de 1854. Mas não ficou ali
definitivamente.
Novas obras na praça
em 1911 e, o chafariz, foi transferido para os jardins dos SMAS sendo
substituído por um simples fontanário "com água da Companhia". Só há
relativamente poucos anos (1960) é que voltou para a Praça da Trindade, agora
como mero objecto de decorativo. Gravada no bordo de uma das suas taças tem uma
legenda em latim "REIP - VSIV - DICATVM - COMMUNI". Que significa:
"Ao uso do povo".
Com a devida vénia a Germano Silva
O quiosque de Mompilher foi construído nos anos trinta do
século XX, em substituição de um outro de ferro que existia nesse largo desde
1910.
As últimas décadas do século XIX e as primeiras do século
seguinte, foram pródigas na construção de quiosques na cidade do Porto. Uma
situação que se compreende à luz da vida social e urbana da época, em que estas
micro-arquitecturas eram ponto de encontro preferencial para escritores,
poetas, intelectuais ou aristocratas.
A função comercial, que desde sempre lhes foi inerente,
mantém-se nos dias de hoje, embora as bebidas, as frutas e as flores, tendam a
ser substituídas essencialmente por revistas e jornais.
Estação Ferroviária da Trindade
A Estação Ferroviária da Trindade, na foto acima, que se
situava nas traseiras da Igreja da Trindade, viria a dar origem à actual
estação de Metro da Trindade.
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