Outras empresas do
ramo livreiro, recentemente formadas
(Texto de Filomena
Abreu In JN 25 Dez 2016)
«Elas reinventaram o negócio dos livros
Amélia: Um amor aos livros difícil de imaginar
Amélia Coelho tinha 22
anos quando começou a trabalhar na Livraria Académica. Por lá ficou 25 anos,
mas em 2009 decidiu abrir um espaço só seu. "Esta livraria é como se fosse
o filho que eu nunca tive". E é por isso que afirma: "Todos os dias
me levanto com uma vontade enorme de começar a trabalhar. Se me tirassem isto,
eu morria rapidamente. É que tenho um amor aos livros que ninguém
imagina". Já com a gata Pucca nos braços, que é a mascote da loja, Amélia
faz um balanço à Paraíso dos Livros, que
tem morada na Rua de José Falcão.
"Para mim, o
negócio não está mau, graças a Deus. Até no Natal consigo vender para troca de
prendas. Se ficasse melhor não me importava, mas dá-me para não dever nada a
ninguém e para comer". Além disso, gaba-se de muitos dos seus clientes
serem jovens. "Eu vivo do balcão e tenho muita juventude a vir cá comprar,
principalmente banda desenhada". Com um grande sorriso termina como deve
ser: "Isto é um negócio bonito".
À direita, na Rua José Falcão, nº 214, a Livraria Paraíso do
Livro – Fonte: Google maps
Cláudia e Alexandra: Ficar com o bichinho e começar do zero
Durante quatro anos,
Cláudia Ribeiro trabalhou na Livraria Zarco, no Porto. Foi lá que ganhou o
gosto pelos livros. Em 2001, decidiu investir num espaço seu. Assim nasceu a Lumière. Depois de várias moradas
assentaram, desde agosto deste ano, na Rua Formosa. "Nunca me imaginei a
trabalhar nesta área, mas depois de ficar com o bichinho não me imagino a fazer
outra coisa", assegura. Para este mundo arrastou a sua irmã Alexandra, há
nove anos. "Começámos tudo do zero". Nas estantes da livraria cabem
todos os títulos, mas não o "arrependimento", apesar de o
"negócio andar parado", garantem. "A venda de livros banalizou-se
por causa das muitas feiras e mercados. As pessoas já não precisam de entrar
numa livraria para comprar livros". E isso, elas lamentam.
Livraria Lumière na Rua Formosa nº 197 – Ed. Sérgio Ribeiro
Paula e Fátima: Do
"deves estar louca" ao "estou contigo"
Foi há 18 anos, quando
Paula Cântara tinha 19. A fundadora da alfarrabista
Varadero, na Rua da Boavista, chegou a casa e comunicou à mãe, Fátima
Branco: "Vou abrir uma livraria com os teus livros". A jovem não
queria apenas estudar, queria também trabalhar. Do "tu deves estar
louca" ao "estou contigo" foi um instante, conta a mãe.
"Ela é muito aventureira e arriscou. Foi a primeira mulher neste negócio,
na cidade". Fátima Branco, que tinha sido empregada na Livraria Académica
pegou em tudo que aprendeu e passou à sua filha. Paula conta que nessa altura
os alfarrabistas já instalados até achavam piada por ela ser "tão
novinha". Boas relações que se mantiveram. Atualmente, diz que o negócio
vai parado. "As pessoas dedicam-se mais aos livros novos". Contudo,
mãe e filha asseguram que por terem tudo informatizado, "85% das vendas
são feitas pela Internet", o que tem ajudado muito ao negócio».
Livraria Varadero na Rua da Boavista nº 227 – Fonte: Google
maps
Alguns outros estabelecimentos abertos nas últimas décadas
do século passado vão-se aguentando com muito esforço e dedicação dos seus
proprietários.
Livrarias
Desaparecidas
Livraria ASA
(Encerrada) – Edições ASA
As Edições ASA foram criadas em 1951 por Américo Silva
Areal, e integradas desde 2007 no grupo LeYa.
Sobre Américo Areal diz o texto seguinte:
“De origem social
humilde, era filho de um professor primário e de uma lavradeira. Estudou dez
anos no Seminário do Porto e, ao descobrir a sua vocação para o magistério, de
modo a poder prosseguir os seus estudos, empregou-se como prefeito no Colégio
Brotero, na foz do rio Douro.
A trabalhar e a
estudar, sempre com as mais elevadas classificações, concluiu o curso do
Magistério Primário. Enquanto lecionava, obteve a sua primeira licenciatura, em
Geologia. Desde logo começou por publicar as sebentas das aulas que frequentava
na Universidade, obtendo assim os recursos de que necessitava para custear os
cursos de duas irmãs, uma que viria a ser professora primária durante 42 anos e
outra, Engenheira Química.
Foi autor de vasta
obra, que abrange desde títulos para o Ensino Primário até ao Superior, das
Línguas às Ciências Exatas. Tendo pertencido à oposição ao Estado Novo
Português, valeu-se de diversos pseudónimos para que as suas obras não fossem
apreendidas pela polícia política à época.
Fundou dois externatos
e, em 1951, as Edições ASA”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
Antes do 25 de Abril de 1974, os livros de Américo Areal,
que constituíam resumos dos livros oficialmente adoptados, para o ensino
secundário, tinham uma grande saída e aceitação, entre os estudantes.
A Livraria ASA funcionou neste prédio situado na esquina da
Rua da Fábrica e a Rua de Avis – Fonte Google maps
Capa de livro de Cálculo Integral, 1973
Como se vê pela digitalização acima, as Edições ASA tinham
tipografia na Rua dos Mártires da Liberdade 77-83, onde faziam também, venda ao
público.
Presentemente, nesta morada, está o conhecido alfarrabista
“Homem dos Livros” de A. Duarte.
Na Rua Mártires da Liberdade o “Homem dos Livros” de A.
Duarte
Livraria Figueirinhas
(Encerrada)
“Editor literário e
livreiro português, Mário Figueirinhas, nascido em 1926, no Porto e falecido a
21 de agosto de 2004, na mesma cidade.
Com apenas 18 anos,
teve de deixar o curso de Medicina devido a um problema na vista e resolveu ir
trabalhar com o pai na livraria que este havia acabado de montar na Praça da
Liberdade, no Porto, depois de já ter ocupado um espaço na Rua das Oliveiras.
Mário Figueirinhas
iniciou assim uma carreira de grande sucesso como editor e livreiro, tendo sido
o responsável pelo lançamento de obras de escritores como António Gedeão,
António Correia de Oliveira, Alice Gomes, Ilse Losa, Teresa Rita Lopes, Luísa
Dacosta, Irene Lisboa e Sophia de Mello Breyner Andersen, de quem editou os
contos infantis. Notabilizou-se também na edição de dicionários, como o
Dicionário da Língua Portuguesa, de Eduardo Pinheiro, o Dicionário de
Literatura, de Jacinto Prado Coelho, e o Dicionário de História de Portugal, de
Joel Serrão.
Em 1993, a família
Figueirinhas vendeu a livraria e a editora, e Mário Figueirinhas passou a
editar em nome próprio. Já perto de fazer setenta anos, montou um escritório na
Rua das Flores e passou a editar apenas aquilo que lhe dava gosto.
O último livro editado
por Mário Figueirinhas foi uma fotobiografia do cineasta portuense Manoel de
Oliveira lançada em 2002.
Mário Figueirinhas
chegou a tentar uma carreira na política, tendo sido durante algum tempo
vereador na Câmara Municipal do Porto. No entanto, não gostou da experiência e
ao fim de pouco tempo deixou as funções. Sempre se interessou pela política e
na época do Estado Novo organizava tertúlias clandestinas, na sua livraria, que
chegaram a reunir três centenas de participantes. Na altura discutia-se
religião, política e eram feitas críticas ao presidente António de Oliveira
Salazar”.
Fonte: “infopedia.pt”
Depois de passar pela esquina das ruas da Fábrica e da Rua
do Almada, a Livraria e Papelaria Figueirinhas acabaria por se alojar na Praça
da Liberdade, junto ao edifício da sucursal do Porto do Banco de Portugal.
Publicidade a obra literária lançada pela A. Figueirinhas,
Lda, sita na Rua das Oliveiras, em 16 de Maio de 1931 – In semanário Pirolito
Montra da Livraria Figueirinhas, na Rua das Oliveiras, decorada por Cruz Caldas
para o concurso de montras organizado pelo Jornal de Notícias
Projecto para as fachadas da Livraria e Papelaria
Figueirinhas na esquina das ruas da Fábrica e da Rua do Almada que obteve, em 1
de Maio de 1935, a licença de obra nº 1375
À direita, a fachada actual voltada para a Rua do Almada, do
prédio onde esteve a Livraria Figueirinhas, com a Rua dos Clérigos, em fundo
Frente de Horário Escolar da livraria Figueirinhas em 1952
Verso de Horário Escolar da livraria Figueirinhas em 1952
A Livraria Figueirinhas na Praça da Liberdade junto do Banco
de Portugal
Livraria Portugália
(Encerrada)
A Livraria Portugália como sucursal da livraria de lisboa
com o mesmo nome, fundada em 1918 por Heitor Nunes e José António Correia e
sita na Rua do Carmo, seria adquirida em 1937 por Pedro de Andrade e Raúl Dias,
abriria no porto em 21 de Março de 1945 e fecharia para sempre em 1951.
Por sua vez a casa mãe seria encerrada em 1954.
Publicidade à Livraria Portugália em 1945
Montra da Livraria Portugália na Rua de Santo António
Interior da Livraria Portugália na Rua de Santo António
Livraria Simões Lopes
(Encerrada)
Há muito que desapareceu uma conhecida livraria que tinha
morada na Rua do Almada, nº 119 e, cujo proprietário, Manuel Barreira, era uma
referência do meio.
Livraria Simões Lopes, na esquina das ruas da Fábrica e do Almada
“Roteiro da Cidade do Porto” – Ed. Livraria Simões Lopes,
1930
“O Romanceiro” de Garrett – Ed. Livraria Simões Lopes, 1949
Livraria Progredior –
Editora (Encerrada)
Esta firma ligada ao sector livreiro, teve morada na Avenida
Rodrigues de Freitas, 383, e Rua de Passos Manuel, 158-162.
“Gramática Portuguesa” – Ed. Livraria Progredior, 1932
“Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto” de Agostinho
Rebelo da Costa - Ed. Livraria
Progredior, 1945
Livraria Leitura
(Encerrada)
A Livraria Leitura
que começaria por se chamar Divulgação,
foi fundada em 1968, e acabaria por mudar-se, já fruto de algumas dificuldades
financeiras que enfrentou, para instalações na Rua José Falcão nº 78, contíguas
às que primitivamente tinha ocupado, na esquina daquela mesma rua com a Rua de
Ceuta, acabando, em 2018, por encerrar definitivamente.
“Eu não sabia nada,
quando me pediram que fizesse um trabalho sobre o espaço de trabalho que o
livreiro Fernando Fernandes estava prestes a abandonar, na Leitura, na Rua de
Ceuta. Mas, quando me pediram o trabalho, os chefes lá me explicaram que a
livraria era mítica durante os anos de ditadura, o local onde se podiam
encomendar os livros proibidos e discuti-los, abertamente. E isso foi o
suficiente para que eu partisse para a Leitura entusiasmada, com a certeza de que
aquele era um artigo que valeria a pena escrever.
Não me recordo da
conversa que tivemos, mas sei que foi longa. E que, de certeza, fiz muitas
perguntas ingénuas, talvez parvas até, porque, como já disse, eu sabia muito
pouco. Mas o livreiro foi paciente, respondeu a tudo, sem sobressaltos, e meses
depois, quando foi publicado um livro que o homenageava, enviou-me um exemplar,
com um cartão que guardo até hoje e que faz parte daquele repositório de
pequenos orgulhos que escondemos na gaveta. Eu, pelo menos, escondo.
A Leitura nasceu em
Setembro de 1968, com morada na Rua de Ceuta, pela mão de Fernando Fernandes e
do editor José Carvalho Branco. Dez anos antes, o livreiro já tinha sido o
fundador da Divulgação, que muitos recordam no tal livro de homenagem, editado
em 1999, escassos meses depois de o rosto da Leitura ter anunciado que se
reformava e que vendera a sua metade da livraria ao sócio.
De todos os
testemunhos que ajudam a perceber o que Fernando Fernandes significou para uma
geração portuense, reproduzo apenas a frase do professor e escritor Albano
Estrela, porque acho que ela diz tudo. “Evidentemente, ele tinha o que mais
ninguém tinha e, coisa ainda mais espantosa, sabia o que não tinha e… o que eu
precisava de ter!”
Tenho pena de não ter um livreiro como amigo. Adorava ter assim um amigo que,
como escrevia Manuel António Pina, na mesma obra, me levasse “pela mão ao
encontro das coisas essenciais”. Ainda que, confesso, goste de me perder na
confusão das prateleiras cheias de livros, de pegar num ou noutro de que nunca
ouvi falar, perder algum tempo com ele, e decidir comprá-lo, porque sim. Porque
acho que talvez valha a pena.
Depois daquela conversa com Fernando Fernandes quando ele já estava de partida,
voltei à Leitura. Gostava daquela livraria com duas entradas, uma pela Rua de
Ceuta e outra pela Rua de José Falcão, dos pequenos degraus que ligavam uma
sala à outra, de pegar em livros que ainda mantinham o preço com que haviam
sido marcados no dia em que ali entraram, não importava quantos anos tinham
passado.
Em 2006, a Leitura foi
vendida e hoje se a procuramos na Internet ela aparece identificada como
Leitura Books & Living. Mudou de nome e, com isso, parece ter também mudado
de sabor. Ou talvez não, se calhar continua a ser a mesma. Se calhar, ainda
ninguém nos diz um “não tenho”, quando lhe perguntamos por um livro, sem
esperança de que o venham a conseguir. Já não ia à Leitura há algum tempo e
decidi passar por lá.
A Leitura já não tem duas entradas. Agora, na esquina da Rua de Ceuta (que
sempre foi a morada oficial da livraria) com a de José Falcão, há um
cabeleireiro. A Leitura perdeu a origem, ficou apenas com a parte — maior, é
certo — do seu acrescento em José Falcão. Entrei, procurei um livro e não o
encontrei. Disseram-me que não havia e saí desconsolada. Eu gosto de livrarias
e não posso deixar de continuar a gostar da Leitura. Mas senti falta de quando
naquela esquina se vendiam livros. E muita falta de sentir que estava na casa
de um dos maiores livreiros do país”.
Com o devido crédito a Patrícia Carvalho, In Jornal Público,
28 Set, 2014
Fachada da Livraria voltada para a Rua de Ceuta - Desenho de
Nuno Sousa (Ilustração de 28 Set. 2014)
Fachada da Livraria voltada para a Rua José Falcão - Desenho
de Nuno Sousa (Ilustração de 28 Set. 2014)
Instantâneo idêntico ao do desenho anterior, vendo-se a
Leitura nas suas últimas instalações, na Rua José Falcão
“Com quase 50 anos de
vida cultural, fechou portas a livraria portuense frequentada por Mário Soares,
Marcelo Rebelo Sousa, Manuel Alegre, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, entre
outros. Perde-se, assim, um clube de pensadores e um baluarte de resistência
contra o Estado Novo.
Quem por esta semana
passou na Rua de José Falcão, no Porto, podia assistir à azáfama: caixas de
livros empilhadas eram levadas para o interior de camiões. Escrevia-se o último
capítulo da Livraria Leitura. O mítico espaço fechou e um vazio incomensurável
fica por preencher. Como uma cicatriz na cidade. Insanável. No ano em que
comemoraria 50 anos de uma existência dedicada à proliferação do pensamento e à
produção de massa crítica, o momento é de “luto”. O Porto diz adeus à Leitura,
onde foram escritas páginas douradas da cultura portuguesa da segunda metade do
século XX.
O desfecho é o
resultado da insolvência da empresa Bulhosa Livreiros, decretada a 15 de
janeiro pelo Tribunal Judicial da Comarca de Braga. Inaugurada em setembro de
1968, pelo livreiro Fernando Fernandes e pelo editor José Carvalho Branco, a
Leitura tornou-se numa das mais emblemáticas livrarias da Invicta, adquirindo
um significado cultural inestimável a nível regional e nacional. Destacava-se
pelo vasto catálogo, onde constavam nas prateleiras aproximadamente 120 mil
obras.
Atualmente, na Leitura
trabalhavam quatro pessoas - alegadamente sem salários desde há um ano. Em
2006, houve um virar de página. A livraria foi vendida, mudando o nome para
“Leitura Books & Living”, já sem Fernando Fernandes - aposentado desde 1999
- à frente do estabelecimento.
Diz a sabedoria
popular que é o homem quem faz o barco e, assim sendo, é impossível falar da
Leitura sem enaltecer o papel do seu histórico timoneiro. Atualmente com 84
anos, Fernando Fernandes foi um dos últimos livreiros na verdadeira aceção da
palavra e assumiu-se como figura de relevo no panorama cultural portuense da
segunda metade do século XX, como explica Mário Cláudio, à conversa com o
Expresso”.
Com o devido crédito a André Manuel Correia, In Semanário
Expresso em 26.01.2018
Com o Café Ceuta bem
perto a Livraria Divulgação, depois, Livraria Leitura, dividia
com aquele café, a atenção e o convívio de gente conotada com o meio artístico,
como nos narra o texto seguinte.
“Durante os tempos da Livraria Divulgação,
ali bem perto, foi palco de tertúlias literárias, animadas por Fernando
Fernandes, Manuel Pereira da Silva, Carlos Porto, Vítor Alegria, Luís Veiga
Leitão, António Emílio Teixeira Lopes, Orlando Neves que, com a sua esposa,
Maria Virgínia de Aguiar, fundou e dirigiu a revista "A Cidade - do Porto
e pelo Norte", o jornalista Pedro Alvim, os actores Dalila Rocha e João
Guedes, o Mestre António Pedro, Manuel Baganha, Luís Ferreira Alves, Jorge Baía
da Rocha, Carlos Ispaim e Eugénio de Andrade”.
Com o devido crédito
a “pereira-da-silva.blogspot.com”
“Chamaram-lhe “o Sr.
Livro”, “o poeta do livro”, e Agustina Bessa-Luís considerou-o mesmo "o
maior dos livreiros de Portugal”. Mário Cláudio não tem dúvidas de que ele foi
“o último grande livreiro da cidade do Porto” – Fernando Fernandes morreu na
manhã deste domingo na sua casa no Porto, aos 84 anos. Desapareceu duas décadas
depois de se ter reformado e abandonado a direcção da Livraria Leitura, que
durante quase meio século foi paragem obrigatória para quem queria colocar-se a
par da actividade editorial nacional e não só, principalmente nas áreas da
literatura, da arte, do cinema, do teatro, da arquitectura, da filosofia ou da
história.
A derradeira homenagem
a Fernando Fernandes pôde ser prestada esta segunda-feira no Palacete dos
Viscondes de Balsemão, mas sem a realização de qualquer cerimónia fúnebre, já
que o livreiro decidira doar o seu corpo ao Instituto de Anatomia Patológica da
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”.
SÉRGIO C. ANDRADE, 1 de Outubro de 2018, In Jornal Público
Livraria Sousa &
Almeida / Alfarrabista (Encerrada)
Na Rua da Fábrica nº 40 ficava esta livraria.
Joaquim de Oliveira Almeida, hoje com 90 anos foi o seu
fundador em 1956.
“A loja foi vendida
aos proprietários do Hotel Infante Sagres, que fica do outro lado do
quarteirão. "Querem abrir aqui uma ligação para o hotel", revela o
livreiro. As negociações formais ainda não começaram, mas Joaquim já foi
informado que querem que saia até novembro. "Que nos vão por fora, isso é
uma certeza", garante, enquanto percorre com os olhos as prateleiras
cheias de livros que cobrem as paredes. "Temos mais de 20 mil livros. Não
sei o que fazer com eles", confessa, com visível tristeza nos olhos.
A Sousa & Almeida
abriu as portas em 1956. A sua especialidade sempre foi os livros galegos e portugueses,
especialmente os dedicados à África Lusófona. O número 42 da Rua da Fábrica
também se tornou paragem obrigatória para quem procura livros com maior pendor
local e regional. E ainda hoje fornece regularmente algumas das principais
universidades mundiais como Harvard, nos Estados Unidos da América, ou a
Universidade de Santiago de Compostela. E o livreiro faz questão de mostrar com
orgulho os livros já embalados e prontos para serem despachados pelos correios
enquanto enumera destinos.”
Fonte: Tiago Rodrigues Alves, In JN, Fevereiro 2017
Livraria Sousa & Almeida – Ed. Teodósio Dias, 2017
Interior da Livraria Sousa & Almeida
Editora Educação
Nacional, de Adolfo Machado (Livraria encerrada)
Tudo começou em
Outubro de 1896, quando António Figueirinhas fundou o hebdomadário “A Educação
Nacional”, que tinha como principal objectivo “a defesa da causa da instrução
popular e dos legítimos interesses do professorado primário”. Com este jornal,
António Figueirinhas, promoveu o manifesto à “Imprensa Portuguesa”, diversos
congressos pedagógicos e a criação da Associação Montepio do professorado
primário. O Jornal passou a ser diário, mas não correspondeu ao êxito
pretendido, portanto cessou. Durante o período em que “A Educação Nacional” desapareceu
António Figueirinhas criou um outro, “O Meu Jornal”, para o substituir. António
Figueirinhas fundou a Casa Editôra A.
Figueirinhas em 1896 e, junto à livraria, montou a Tipografia Universal
(SILVA, 2010). No entanto, passado algum tempo desfez-se da casa editora e
fundou, desta vez na rua do Almada, a Livraria
Editôra A Educação Nacional, que passou a abranger o jornal, a livraria e a
tipografia.
Em 1902, António Figueirinhas viajou até ao Brasil, numa
tentativa de fazer face a “uma precária situação económica”pessoal e da
editora. A casa editora ficou confiada ao Dr. José Figueirinhas, seu irmão, e o
jornal ficou a cargo de A. Justino Ferreira.
À data da morte da esposa de António Figueirinhas, este
pediu a colaboração do seu genro António Lopes Pinto que passou a ser gerente
da editora.
Os livros editados até então, década de 30, são
caracterizados do seguinte modo por Tiago Fonseca: “obras de natureza
didáctica, umas visando desenvolver e aumentar o cabedal científico do
professorado, outras a transmitir aos escolares as noções que necessitam”.
António Figueirinhas defendia que os seus leitores só apreciavam livros estrangeiros
e que não gostavam de livros nacionais – uma das suas “superstições”. Um dos
contactos a que frequentemente recorria era as edições Bonne Press, e ainda
outras editoras a que se referia como defensoras de “ sã doutrina”. Em 1933, o
Dr. Figueirinhas separa-se do seu sócio Adolfo Machado, e este fica com
a Editora Educação Nacional por sua conta. A Editora passa a contar com três sócios,
o Dr. Machado, com a quota maioritária, o seu irmão, com uma quota insignificante
e ainda o Dr. Cristo.
Neste período, e sensivelmente até à década de 40, a
Editora teve um crescimento bastante significativo. À data, era um dos
principais fornecedores de manuais escolares para Portugal e para as colónias,
de tal modo que se formavam grandes filas à porta da editora para a compra dos
livros escolares. O Dr. Machado geriu a editora até 1970, altura em que adoeceu
e teve problemas com um filho. Este, terá dado um mau uso à fortuna do pai,
causando a paralisação da empresa.
Com o devido
crédito a Rute Margarida Rebelo de
Figueiredo (Relatório de Estágio da Universidade de Aveiro)
Livro de Ciências
Naturais
Sobre o livro
escolar acima é a narrativa seguinte:
“Autor: Tomas de Barros
Editora: Educação Nacional de Adolfo Machado: Porto
Data: S/D
O livro debruça-se sobre diferentes temas desde a
constituição do corpo humano ao longo de 12 capítulos, até à formação dos solos
passando pela divisão dos animais e a reprodução das plantas.
Nesta época o ensino tinha por base a memorização pelo
que os temas apresentados eram variados sem a preocupação de estabelecer
relações entre eles.
Neste livro o capítulo I descreve de forma elementar o
corpo humano; o capítulo II apresenta o esqueleto humano, o III as
articulações, o IV os músculos, o V o tórax e o abdómen, o VI a digestão, o VII
a circulação, o VIII a respiração, o IX o aparelho urinário, o X a pele, o XI
sistema nervoso, o XII uma síntese com os órgãos dos diferentes sistemas.
O livro fala também sobre a raça humana (no capítulo
XIII) distinguindo-a dos outros animais (capítulo XV). O capítulo XIV apresenta
a divisão e classificação do reino animal para referir no XVI a higiene, no
XVII o estado descritivo das plantas, no XVIII reprodução ou multiplicação das
plantas, no XIX as plantas úteis, plantas nocivas e no XX estudo dos terrenos –
Rochas – solo arável e subsolo, no XXI os minérios metálicos mais importantes;
e por fim e no capitulo XXIII Matéria – Corpo – Massa – Substancia e
respectivos apêndices”.
Fonte: “oslivrosdeoutrostempos.blogspot.com”
Livro para a 4ª
classe do Ensino Primário – Ed. Editora Educação Nacional (c.1960)
A empresa Educação
Nacional, de Adolfo Machado, depois do 25 de Abril, seria vendida a um
empresário retornado das ex-colónias e, em 1986, o Dr. Leonel M. Costa adquiriu
a editora.
De 1986 a 1991
houve uma evolução gradual, no entanto, em 1991, ocorreu uma estagnação de
investimento, devido a alguns contratempos que se prenderam com um investimento
feito numa gráfica. O Dr. Leonel M. Costa começou então a afastar-se da gerência,
por motivos de saúde, delegando-a no seu filho, o Dr. Leonel Marques da Costa.
A grande expansão
propriamente dita deu-se a partir de 2000, quando a empresa começou a apostar
nas co-edições e houve a decisão de abrir o catálogo.
Em Agosto de 2010 a
empresa mudou de instalações para um armazém na Rua das Ameixoeiras, 464, Gulpilhares,
Vila Nova de Gaia, junto à A29.
Em armazém está
também arrecadado um considerável espólio de livros antigos que remontam ao
início da editora e, ainda, até há pouco tempo, funcionou uma livraria no coração
do Porto, situada na Rua do Almada, n.º 125, que, entretanto, já encerrou.
Nos últimos anos a editora apostou em alguns projectos um pouco
diferentes, a que chamam “experiências editoriais” (como os guias turísticos,
os mapas e “O atelier do pão”).
Livraria Educação Nacional na Rua do Almada nº 125
Outras livrarias que
encerraram recentemente
Publicações Europa
América (Encerrada)
À esquerda da foto em 2014 as “Publicações Europa América”
na Rua 31 de Janeiro nº 225 – Fonte: Google maps
Esta editora foi fundada em 1945 por Francisco Lyon de
Castro, um conhecido militante antifascista e do Partido Comunista Português,
natural de Lisboa e que faleceu em 2004, em conjunto com o seu irmão Adelino
Lyon de Castro, um editor e fotógrafo amador de mérito.
Presentemente, a Publicações Europa-América, é uma pequena
empresa que funciona na Rua Francisco Lyon de Castro, nº 2 , em Lisboa.
“Foi em conjunto com
este seu irmão, Francisco Lyon de Castro, que fundou, em 1945, as publicações
Europa-América, naquela que viria a tornar-se uma das editoras de referência no
panorama editorial português do pós-guerra. A sua linha editorial assentou na
defesa da publicação de muitos autores proibidos pela Censura, além de ter
apostado na importação de autores estrangeiros, o que levou a incidentes
frequentes com a Censura e a PIDE. Em 1952, fundam o projecto do
periódico Ler, Jornal de Letras, Arte e Ciências, de que Adelino Lyon
de Castro viria a ser o editor, com a participação regular de nomes como
Piteira Santos, José Cardoso Pires, Maria Lamas, Mário Dionísio, António Quadros,
José Régio ou Orlando Ribeiro. Tendo usado como pretexto a morte prematura do
seu editor, Adelino Lyon de Castro, em 1953, a Censura viria a proibir a
publicação do jornal ainda nesse ano.”
Fonte: “museuartecontemporanea.gov.pt”
Livraria Lopes da
Silva (Encerrada)
Livraria Lopes da Silva na Rua Chã 101-103 – Fonte: Google
maps
Livraria Nelita (Encerrada)
Livraria Nelita na esquina da Rua do Almada e de Ramalho
Ortigão em 2014 – Fonte: Google maps
Livraria-Papelaria
Aviz (Encerrada)
Esta livraria foi fundada por Manuel Camanho da Mata Júnior
(1896-1985), nascido na freguesia da Sé. Fora ter sido editor e livreiro foi,
durante toda a sua vida, solicitador de profissão.
Com 18 anos, foi o fundador da “Folha Sport”, na qual
divulgava os acontecimentos desportivos acontecidos no Porto e região Norte.
A Livraria Aviz era conhecida pelas suas publicações
escolares e na qual surgiram os primeiros dicionários bilingues escolares para
o ensino secundário.
Ficava esta livraria na Rua de Avis nº 10. Em 2014 as suas
instalações já funcionavam como restaurante.
Restaurante Book – Ed. “viajecomigo.com”
Breve História da
Feira do Livro no Porto
A Feira do Livro do Porto é um certame que se realiza anualmente, desde 1930,
na cidade do Porto.
Desde 2014, a Câmara Municipal do Porto chamou a si a
organização da feira, que passou a realizar-se nos jardins do Palácio de
Cristal. Antes, até 2012, era organizada pela Associação Portuguesa de Editores
e Livreiros (APEL).
A feira tem passado, desde o seu início, por diversos locais
da cidade do Porto, tais como os Jardins
do Palácio de Cristal, a Praça da
Liberdade, a Praça do General
Humberto Delgado, a Praça de
Mouzinho de Albuquerque, o Pavilhão
Rosa Mota e a Avenida dos Aliados.
Em inúmeros stands, editores e livreiros apresentam
anualmente desde as últimas novidades, até fundos de catálogo e restos de
armazém, às vezes, a preços quase simbólicos. No decorrer da feira há também,
com frequência, espectáculos, concertos, lançamento de livros e sessões de
autógrafos.
A Feira do Livro do Porto decorria, em geral, entre os
últimos dias de Maio e os primeiros de Junho.
Em 2013, a Feira do livro não se realizou pela primeira vez,
desde a sua primeira edição em 1930, depois de um diferendo entre o presidente
da câmara Rui Rio e a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL),
depois do Presidente da Câmara se ter recusado a avançar com financiamento, e
depois da associação se ter recusado a obter outros modos de financiamento.
Em substituição da feira do Livro, nesse ano, funcionou um
simulacro de feira, denominado “Letras na Avenida”, que apenas contou com a
presença dos livreiros.
No ano de 2014, depois de novo desentendimento, agora entre
o novo executivo camarário da cidade do Porto e a APEL, o novo presidente Rui
Moreira, decidiu realizar a Feira do Livro sob organização da Câmara Municipal.
Ao contrário do habitual, a feira passou a realizar-se no
mês de Setembro nos jardins do Palácio de Cristal.
A Feira do Livro do Porto passou, também, a ser um grande
festival literário, com um extenso programa cultural e de animação que inclui
debates com autores conhecidos, sessões de "spoken words", exposições,
um ciclo de cinema e uma área infantil, com o apoio da Biblioteca Municipal
Almeida Garrett e da Galeria Municipal.
De 27 de Junho a 6 de Julho de 1931, decorreria junto à
estátua de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade a “Semana do Livro do Porto”, por
iniciativa do livreiro José Augusto da Costa, da Companhia Portuguesa Editora que, juntamente com Guedes da Silva e José Martins formaram a comissão organizadora desse certame.
“Na altura estavam na moda as semanas disto e daquilo. Ainda
se realiza anualmente com o nome de Feira do Livro, tendo sido a 1ª vez que se
realizou em Portugal tal iniciativa”.
Fonte: “O Tripeiro”
de Novembro de 1959, pag 224 (António M. Barbosa)
Livraria Moreira da Costa numa das primeiras "Feira do Livro" na Praça
da Liberdade
Livraria Moreira da Costa na Feira do Livro de 1936 na Praça
da Liberdade
Livraria Moreira da Costa na Feira do Livro de c. 1944, na
Praça da Liberdade
Feira do Livro (36ª edição), em 1966, na Praça da Liberdade - Fotograma de filme da RTP
Feira do Livro, em 1973, na Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista) - Fotograma de filme da RTP
Feira do Livro na Praça da Liberdade
Feira do Livro na Avenida dos Aliados
Feira do Livro no Palácio de Cristal
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