Em 1855, na Praça de Santa Teresa nº 28, estava a tipografia
de Sebastião José Pereira, onde eram
impressos inúmeros livros.
Um poema herói-cómico oferecido às senhoras portuenses, na
pessoa das senhoras Cirnes, do palacete do Poço das Patas, foi, aí editado, por
um irmão de Almeida Garrett, de seu nome Alexandre Garrett.
Em 1868, pela Rua da Porta do Sol nºs 2 e 3, estava a Livraria Interessante, de Diogo de
Sequeira e Costa.
Capa e Contracapa de livro (custo 120 rs.) da Livraria
Interessante em 1868 – Colecção do Engº Amaral Gomes
À esquerda, o prédio onde esteve a Livraria Interessante, na
Rua da Porta do Sol, 2-3
Em 1877 a Livraria
Central de J. E. da Costa Mesquita – Editor, sedeada na Rua de D. Pedro,
87, editava de Alberto Pimentel, Guia do Viajante na Cidade do Porto e
seus Arrabaldes.
O mesmo Alberto Pimentel, que na sua obra “O Porto há 30
anos”, com a 1ª edição publicada em 1893 e a 2ª edição em 2011, pela
Universidade Católica Editora, faz, a determinada altura, referência às
livrarias existentes, à época no Porto, em meados do século XIX.
Eram tempos, em que o almoço correspondia ao nosso
pequeno-almoço. Jantava-se à hora do actual almoço e a meio da tarde, havia a
merenda. À noite, servia-se a ceia.
“Os jornais
publicavam-se de manhã. Quem, durante o resto do dia, queria saber notícias, ia
busca-las à Praça Nova, onde se reuniam os elegantes, os brasileiros e os
curiosos.
Algum telegrama
político que tivesse vindo de Lisboa, algum escandalozinho que se houvesse dado
na cidade, iam ali ter em primeira mão, e ali paravam à espera dos
alvissareiros oficiosos que tomavam a seu cargo informar os bairros afastados.
Quando chegava o
paquete do Brasil, discutia-se ali o câmbio, que era uma questão magna para o
Porto, como há-de ser sempre, não só para o Porto, mas para Portugal inteiro.
Muitas vezes os
telegramas eram falsos, os boatos também, mas numa cidade onde a vida derivava
monotonamente, compreende-se que o espírito precisasse distrair-se inventando
um caso, que não acontecera, mas que deveria ter acontecido por amor da
variedade.
A Praça Nova era,
pois, naquele tempo, o grande mentideiro do Porto.
Depois o número de
jornais foi crescendo, Urbano Loureiro publicara uma folha da tarde, e a Praça
Nova viu-se um pouco cerceada nas suas prerrogativas tradicionais, posto que
sempre lhe ficassem sendo reconhecidos uns certos direitos de antigo locutório.
À porta da livraria Moré estacionavam, de
preferência, os elegantes de maior idade, que viviam dos seus rendimentos:
entre outros, os irmãos A…, da Picaria, e os irmãos B…, de Sant’Ana.
Dentro da loja, José
Gomes Monteiro, gerente da livraria, o visconde de Azevedo e Camilo Castelo
Branco caturravam sobre assuntos de história literária, falando muito de
crónicas, de clássicos e de manuscritos raros.
A casa Moré era
naquele tempo a livraria da grande roda como então se dizia. A sua freguesia,
tanto em livros portugueses como franceses, era recrutada entre a melhor gente
do Porto.
A livraria Podestá entre a Rua do Bispo e a do Laranjal e a de José Luís de Oliveira na Rua de Santo
António, também vendiam livros franceses, mas estavam em segundo lugar, em
interesses e créditos, relativamente à Moré.
As três eram, em todo
o caso, as mais amplas e asseadas.
Havia outras livrarias
pequenas, escuras e poeirentas, que vendiam livros portugueses, tais como a do Cruz Coutinho, aos Caldeireiros, a do Novais e a do Jacinto, na Rua do Almada.
Esta última, ainda em
tempo do Jacinto pai, hoje representado pela viúva e pelos filhos,
reconstruiu-se com estantes novas e envernizadas. Mas as outras duas ficaram
estacionárias no seu feitio primitivo.
Estabeleceu-se depois
outra livraria, também de livros portugueses, na rua do Almada, em frente ao
botequim das Hortas. Era do Sr. Novais
Júnior, filho do velho Novais, actualmente instalado algumas portas mais
acima.
E ainda na mesma rua,
numa lojinha que parecia uma boceta, se estabeleceu como livreiro um sobrinho do Cruz Coutinho da Rua dos
Caldeireiros.
Já morreram ambos, tio
e sobrinho.
Nas Carmelitas estavam
expostos à venda, sob a muralha da Praça do Anjo, os folhetos da literatura de
cordel, que os lavradores costumavam comprar.
E nos Ferros Velhos, onde
veio a acabar a feira da ladra, apareciam às vezes livros usados, que tinham
algum valor estimativo.
No decurso dos anos
fundaram-se duas livrarias importantes, a do Chardron, no alto dos Clérigos, e a dos Srs. Magalhães & Moniz, no Largo dos Lóios.
A educação comercial
destes três livreiros fizera-se na antiga casa Moré, onde haviam praticado
largos anos.
Os brasileiros
estacionavam, na Praça Nova, à porta da loja do Pádua, do Fortuna &
Pimenta, e outros.
Dos elegantes, os que
não tinham por hábito encostar-se à porta do Moré, frequentavam a loja do Simão, nos Clérigos, e a da Maria Martins na Rua de Santo António”.
Fonte: Alberto Pimentel, 1893
Cruz Coutinho, referido por Alberto Pimentel no texto
anterior, foi um editor de Camilo Castelo Branco.
Obra de Camilo, de 1863, cujo editor foi Cruz Coutinho
No prédio, à direita, esteve, na Rua dos Caldeireiros, nº 26
(com o Largo dos Lóios, visível, à esquerda), a Livraria Cruz Coutinho.
Para aqui se mudaria o “Jornal do Porto”, que passaria a
dividir instalações com aquela afamada livraria - Fonte: Google maps
A Livraria Podestá pertencia a Paulo
Podestá, foi contemporânea da Moré, com a qual rivalizava, tendo o seu
proprietário ficado ainda conhecido por administrar um colégio.
Nos primórdios
ter-se-à chamado “Livraria Franceza e
Nacional”.
Publicidade à
“Livraria Franceza e Nacional”, no “Jornal do Porto”, em 1 de Outubro de 1867
Publicidade ao “Colégio
Francez e Portuguez” dirigido por P. Podestá, no “Jornal do Porto”, em 01 de
Outubro de 1859
A Livraria Podestá esteve no rés-do-chão do prédio de
esquina, à esquerda, tendo o seu espaço sido ocupado depois pelo Café Chaves
A esquina do prédio que albergou a Livraria Podestá, terá
como referência, nos dias de hoje, a estátua da “Menina da Avenida” – Ed.
Teófilo Rego
A Livraria Moré, de Nicolau Moré, esteve, durante muitos
anos, nos baixos do palacete das Cardosas, na esquina da Praça D. Pedro e do
Largo dos Lóios e teria sido fundada em 1835, de acordo com a publicidade
inserida no “Guia do Viajante na cidade do Porto e seus Arrabaldes (1877)” de
Alberto Pimentel.
“Na esquina do largo dos Loios, ficava a melhor livraria
do Porto, — a More, — onde, além dos livros, se vendiam «quinquilharias»
várias; a esquina da More foi um
lugar célebre de cavaco. Em frente deste vasto prédio, ao longo da
valeta, viam-se durante o dia barracas de pano cru e mesas volantes, sobre as
quais estendiam a sua sombra protectora gigantescos guarda-sóis de pano branco;
encontravam-se ali à venda, desde o bacalhau às guloseimas, os géneros mais
variados e as melhores pechinchas. Entre esta fila de vendedores e o edifício,
corria o passeio chamado sarcasticamente o Pasmatório dos Loios..”
Artur Magalhães Basto, In
“O Porto do Romantismo”, 1932
Em 1872, a livraria Moré editava, de Feliciano Castilho, uma
tradução do “Fausto” de Goethe que viria a dar brado.
A livraria Moré situou-se, no rés-do-chão, na esquina do
prédio, à direita
Aquela livraria Moré parece ter começado na, então, Rua de
Santo António.
Assim, em 24 de Abril de 1838, o jornal “Periódico dos
Pobres no Porto”, na sua capa, anunciava:
“Livraria Belga e
Francesa, na rua de Santo António 42-44, de Moré: acaba de receber, pelo hiate
Douradinho, um sortido de livros estrangeiros”.
(citação de Porto Desaparecido/facebook)
Face ao anúncio publicitário acima poder-se-á especular, que
a livraria nele mencionado, seria a precursora da Livraria Moré, que viria a
ocupar, mais tarde, uma loja no Largo dos Lóios.
Na década de 1840, o nº 32 da Rua de Santo António
assinalava um prédio que ainda hoje existe, que tem o nº 69 e que, desde 1848,
foi ocupado pela chapelaria Maia & Silva.
O prédio com a numeração de polícia, 42-44, ficaria no local
onde esteve o teatro “Baquet”, inaugurado em 1859, e onde hoje está a delegação
da Caixa Geral de Depósitos ou naquele que lhe é contíguo, a montante.
É provável que, a mudança da livraria Moré para os Lóios,
atendendo à data da inauguração do teatro, já se tivesse efectivado há alguns
anos antes.
A chapelaria Maia & Silva ocupava o prédio parcialmente
visível, à esquerda da gravura.
Aí por 1868, estavam em princípio de decadência as duas mais
importantes livrarias do Porto: a do Moré,
na esquina da Praça de D. Pedro (no palacete das Cardosas), e a do Podestá, aonde se havia de estabelecer
o café Chaves.
Praça D. Pedro c. 1890, antiga Praça Nova, com
a igreja dos Congregados parcialmente visível
Ernesto Chardron, que viera de França, para a livraria
Moré, conhecendo bem o gosto do público, tratou de abraçar outro projecto e
estabelece-se, por sua conta, ao cimo dos Clérigos, a fim de tentar uma nova
experiência.
“Fê-lo, e logo desde o
princípio viu desenvolver-se o consumo das suas edições, e aplaudida a escolha
da literatura, que lançara no mercado.
Desde então, a maior
parte dos autores portugueses trabalharam para ele: traduziam; ele negociava os
manuscritos, e o Teixeira, da Cancela
Velha, imprimia tudo.
Como iniciara a
publicação às cadernetas, todas as semanas, aquela casa era um verdadeiro
armazém a contar, a empacotar, a expedir, a escriturar e a guardar dinheiro!
Atrás da literatura
ligeira, importada da França, veio outra mais suculenta e séria, como as obras
de Camilo, o Dicionário de Fr. Domingos, e depois Eça, a literatura religiosa,
Teófilo Braga e outros, uma interminável lista, que abrange todos os nomes mais
evidentes da literatura do segundo quartel do século XIX.
Por esse motivo,
tornou-se aquela livraria, às tardes, o centro de conversa de todos esses
autores, os que viviam nesta cidade, e os que, por aqui, passavam, a
espairecerem, ou a tratarem de negócios.
Um dia saturou-se o
mercado dessa literatura de tradução barata, que cansara o Chardron, resolvendo
por isso, abandonar as obras de fancaria e dedicar-se, apenas, às de mérito.
A saúde também se lhe
abalara, e tão intensamente que a vida se lhe escoou, ainda no vigor da idade.
Passou, por isso, a
casa à firma Lugan & Genelioux, que, pouco tempo depois, a
transmitiu aos atuais proprietários, a respeitável firma Lello &
Irmão”.
Fonte: Jornal “O
Porto” de 4 de Julho de 1911; Com o devido crédito a Nuno Cruz,
administrador do Blogue “aportanobre.blogs.sapo.pt”
A Livraria
Internacional de Ernesto Chardron foi, então, fundada pelo cidadão francês
Ernesto Chardron, em 1869, tendo a sua sede na Rua dos Clérigos, nº 296-298,
passando ele a ser o editor principal das obras de Camilo Castelo Branco.
Em 1891, já alguns anos após a morte de Ernesto Chardron, a Livraria Chardron adquiria os fundos da
Livraria A. R. da Cruz Coutinho e,
bem assim, o espólio de outras duas antigas Livrarias desta cidade
pertencentes, respectivamente, a Francisco
Gomes da Fonseca e Paulo Podestá.
Em 1882, José Lello, associado a seu irmão, tinha
estabelecido a firma “José Pinto de
Sousa Lello & Irmão” nos números 18-20 da Rua do Almada.
A 30 de Junho de 1894 Mathieux Lugan, após o falecimento de
Genelioux, vendeu a antiga “Livraria Chardron” a José Pinto de Sousa Lello, que
com o seu irmão António Lello como sócio, manteve a Chardron com a denominação
social de "Sociedade José Pinto Sousa Lello & Irmão".
Em 1898, entrou para a nova sociedade o fundo bibliográfico
da Livraria Lemos & C.ª, fundada
pelos irmãos Maximiliano e Manuel de Lemos.
Em 1919, a “Livraria
Chardron” passa a designar-se por “Livraria
Lello & Irmão”, entretanto instalada desde 1906, em novo edifício da Rua das Carmelitas, que ainda hoje ocupa.
“Livraria Lello & Irmão” tem assim um historial
que assenta na “José Pinto de Sousa
Lello & Irmão” e, mais remotamente, na “Livraria Chardron” e na Livraria Internacional.
Em 1951, Arnaldo Leite na sua obra, “O Porto 1900”, sobre as
livrarias na cidade na transição de séculos, dizia:
“Calça-se melhor,
veste-se melhor (ou pior?) e come-se muito mais, é verdade. Mas lê-se muito
menos! O número de livrarias existentes no Porto em 1900, é sensivelmente igual
aos das que hoje abrem as suas portas à espera do raro e corajoso cliente que bem
se pode alcunhar o lá vem um. Se algumas novas livrarias abriram, fecharam
outras. Ler para quê?
Consultando os mapas
demográficos do nosso País, constata-se que a população quase duplicou nos
cinquenta anos deste século. E as estatísticas dizem-nos, igualmente, que
desceu imenso o número de analfabetos e vamos a caminho da reabilitação,
libertando-nos da vergonhosa situação de povo inculto e ignorante. Pois muito
bem. Há mais gente e mais quem saiba ler. E não há quem leia nem quem compre
livros! Nós não sabemos quem é mais digno de lástima e compaixão – se o que não
lê por ser analfabeto, se o outro que sabe ler e não lê por o dinamismo não lhe
dar tempo para isso!...”
“LIVRARIAS DO PORTO EM 1900
Académica – Rua de
Cedofeita, 46
António Dourado – Rua
do Carmo, 3
Arquivo Jurídico – Rua
do Bonjardim, 67
Camões – Rua do
Almada, 24
Católica Portuense -
Largo dos Lóios, 53
Centro de Publicações,
de Arnaldo Soares, Praça de D. Pedro, 125
Companhia Nacional
Editora, Largo dos Lóios, 41
Eduardo Tavares
Martins, Rua dos Clérigos, 8
Empresa de História de
Portugal, Rua de D. Pedro, 116-2º
Empresa Literária e
Tipográfica, Rua de D. Pedro, 178
Jacinto Silva (Viúva),
Rua do Almada, 134
José Lopes da Silva, Travessa
da Fábrica, 20
José Ribeiro de Novais
Júnior, Rua do Almada, 192
Livraria Chardron, Rua
dos Clérigos, 96
Livraria Elísio, Rua
Formosa, 282
Livraria Evangélica,
Rua Mouzinho da Silveira, 89
Livraria Moreira,
praça de D. Pedro, 42
Livraria Moreira da
Costa – Rua de Avis, 36
Nova Livraria
Económica, Largo de Santo André, 31
Popular Portuense,
Largo dos Lóios, 44
Portuense, Lopes &
Ca, sucessores de Clavel & Ca., Rua do Almada, 123
Portuguesa, Largo dos
Lóios, 55
Portuguesa Religiosa,
Rua do Almada, 24
Religiosa e
Científica, Rua de D. Pedro, 67
Sousa & Brito,
antiga Casa Barros & Filha, Rua do Almada, 104
Universal, de
Magalhães & Moniz, Largo dos Lóios, 12”
(CONTINUA)
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