A Companhia Geral das
Vinhas do Alto Douro surgiu de uma determinação régia de D. José I e de um sonho de três portuenses.
São eles: Dr. Luís Beleza de Andrade, D. Bartolomeu Pancorbo
de Ayala e o dominicano padre mestre Dr. frei João de Mansilha.
Luís Beleza de Andrade convenceu o governador da cidade, ao
tempo, António Bernardo Alves de Brito, a informar o ministro de D. José I, da
enorme pobreza que grassava nas terras do Alto Douro, onde o pai possuía
algumas propriedades e das inúmeras adulterações que o vinho sofria na sua
qualidade.
Tendo levado a cabo reuniões com outros produtores daquela
região vinhateira, na qual esteve presente o tal Mansilha, decidiram da
necessidade de fazer a demarcação das terras onde o vinho era produzido.
Pancorbo seria escolhido para apresentar o projecto em
Lisboa, o que foi feito, mas, aquele acabou por sugerir ao Dr. Beleza de
Andrade que, dali por diante, fosse ele a dar, pessoalmente, seguimento ao
caso.
Beleza de Andrade acabaria por incumbir frei João de
Mansilha de proceder a diligências na capital para o que se comprometeu a
custear-lhe as despesas que fizesse nesse sentido.
As diligências foram coroadas de êxito no dia 1 de Junho de
1756, chegava ao Porto a notícia da formação da Companhia de que veio a ser
primeiro provedor o Dr. Luís Beleza de Andrade.
Eram privilégios da Companhia:
“A Companhia Geral da
Agricultura das Vinhas do Alto Douro recebeu a sua personalidade jurídica pelo
Alvará de 10 de Setembro de 1756, formada com o capital de um milhão e duzentos
mil cruzados repartido em acções de quatrocentos mil reis cada uma, e
propunha-se restituir o bom nome ao vinho do Douro, garantindo a genuidade,
elevar o nível de vida da região e sustentar o comércio de exportação do vinho
que era um dos mais importantes do Reino.
As vantagens que da
sua criação resultaram foram indiscutíveis, introduzindo o regime de demarcação
que os franceses também adoptaram quase um século depois (§ XXIX dos
Estatutos)”.
Com o devido crédito a “ruisaeguerra.blogspot.com”
A Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro
começou por ter o seu escritório ou casa do despacho, como era uso
dizer-se, na Rua Nova (hoje, do Infante D. Henrique).
Entretanto, em 1761, acabaria por arrendar na Rua das Flores
uma casa a
Manuel Pamplona Carneiro Rangel Veloso Barreto Miranda de
Figueiroa, herdeiro de seu padrinho, sem descendentes, Manuel Figueiroa Pinto
(1721 – 1775).
Aquele Manuel Pamplona venderia por 23 contos de réis, em 1
de Dezembro de 1809, o prédio à Companhia Velha.
A Companhia da Agricultura das Vinhas do Alto Douro foi
fundada, como é sabido, pelo nosso rei D. José I ou, melhor dizendo,
pelo seu primeiro-ministro, Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês
de Pombal, no ano de 1756.
Nos seus três primeiros anos de existência foi
administrada por uma junta composta por, um Provedor e 12 deputados que
eram coadjuvados por seis conselheiros.
No Porto, a Companhia instalou a sua primeira
Administração ou Sala de
Despacho, como então se dizia, numas casas da Rua Chã, pertencentes a
Manuel de Figueirôa Pinto.
Foi a estas casas que se dirigiram os revoltosos que,
na manhã do dia 4 de Fevereiro de 1757, percorreram as ruas
do Porto protestando contra uma das medidas que haviam sido
tomadas pela recém-criada Companhia e que tirava aos taberneiros da cidade
e arredores o direito da venda do vinho a retalho. Por essa razão o
motim passou à história como a Revolta dos Taberneiros. Da Rua Chã a sede da
Companhia transferiu-se, pouco tempo depois, para a Rua das Flores, para
um edifício que também pertencia a Manuel Figueirôa Pinto.
Luís Beleza de Andrade foi o primeiro Provedor da Companhia.
Natural do Porto, vereador da Câmara no ano em que se fundou
a Companhia, Beleza de Andrade era também um grande produtor de vinho com
boas e vastas propriedades em Valdigem, na região do Douro. Com o
religioso dominicano, D. frei João de Mansilha, e com o negociante
biscainho, D. Bartolomeu Pancorbo, que vivia na Rua Nova, hoje Rua
do Infante D. Henrique, Luís Beleza de Andrade foi um dos três
impulsionadores da ideia para a criação da Companhia.
Diz-se que tendo ido a Valdigem para as vindimas de
1756 sentiu de tal modo "a desgraça da terra do vinho" que
imediatamente convocou os mais importantes viticultores durienses para
uma reunião da qual saiu o projecto da Companhia de que viria a ser
o primeiro Provedor.
A família Beleza de Andrade viveu numa casa das Escadas do Monte dos Judeus, na esquina
com a Viela da Ilha do Ferro,
muito perto portanto dos armazéns da Companhia. A casa ainda lá está agora
recuperada depois de ter estado muitos anos ao abandono.
O brasão que figurava na fachada desapareceu corroído pela
acção do tempo.
Armazéns de vinhos e
Caves
É através da voz do povo e da gíria comercial, que a pombalina, Real Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro fundada em 1756, começa a ser conhecida por Real Companhia Velha, e a utilizar essa
designação como marca comercial a partir dos finais do Século XIX, sendo a sua
designação comercial de Real Companhia
dos Vinhos do Porto.
No que diz respeito à armazenagem dos vinhos, aquando
da fundação da Real Companhia Geral da
Agricultura das Vinhas do Alto Douro, a norma que vigorava há séculos, era
que eles fossem armazenados na margem esquerda do rio Douro, em V. N. de Gaia,
na sequência de importantes questões quanto ao pagamento de impostos.
Após a fundação do reino de Portugal, as duas povoações de
Gaia e de Vila Nova mantiveram-se autónomas. Gaia recebeu Carta de Foral
passada pelo rei D. Afonso III, em 1255, seguindo-se Vila Nova, por D. Dinis,
em 1288.
Em 1383, no entanto, ambas foram integradas no julgado do
Porto, perdendo a sua autonomia.
No final das guerras liberais, Gaia e Vila Nova foram,
finalmente, agraciadas com autonomia política e, ao fundirem-se, nasceu o
actual concelho de Vila Nova de Gaia com o Decreto n.º 23, de 16 de Maio de
1832.
Assim, até à atribuição do foral a Gaia, em 1255, pelo rei
D. Afonso III, todos os direitos relativos ao comércio que era feito pela barra
do rio Douro aproveitava, apenas, ao Bispo e ao Cabido.
Este senhorio da cidade do Porto nascera da doação, ao Bispo
do Porto D. Hugo, e a seus sucessores, feita por D. Teresa, em 1120 (era 1158)
e confirmada, mais tarde, por D. Afonso Henriques em 1138.
Na sequência da primeira doação e dos direitos que ela lhe
conferia, promulgou D. Hugo, em 1123, o Foral da cidade do Porto, que ordenava
a cobrança de vários impostos, entre os quais a “Portagem da Terra”, somente
extintos por D. João VI, em 11 de Junho de 1822, sendo que, contra eles, haviam
reclamado os comerciantes da cidade, nas Cortes Constituintes de 28 de Agosto
de 1821.
O pagamento de impostos sobre o vinho foi, assim, o primeiro
motivo para a instalação dos armazéns e caves em Gaia e Vila Nova.
Os vinhos de exportação que da região Duriense vinham nos
típicos barcos rabelos, sempre se armazenaram, por isso, em V. N. de Gaia.
Largo D. Luís I, em V. N. de Gaia, em perspectiva idêntica à da gravura anterior
Anteriormente ao século XVII, o nosso comércio de exportação
de vinhos fazia-se pelos portos do Norte, principalmente pelo de Viana, para os
vinhos com proveniência no Minho, com uma participação principalmente dos
comerciantes ingleses e, ainda, pela barra do rio Douro.
Só em 1678, se regista o primeiro embarque, no montante de
408 pipas, feito pelos ingleses.
Fundada a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto
Douro, em 1756, a descarga dos vinhos do Douro fazem-se nos cais da cidade do
Porto.
Em 1777, primeiro ano do reinado de D. Maria I, um litígio judicial
promovido pela igreja representada pelo bispo do Porto, bispo de Penafiel,
bispo de Bragança-Miranda e o Cardeal Patriarca de Lisboa contra aquela companhia,
reclamava dela o pagamento em atraso (quase 20 anos) dos direitos devidos ao
bispo do Porto, sobre as descargas efectuadas nos cais da Ribeira do Porto e respectiva
comercialização do vinho.
A razão seria dada aos reclamantes, pelo que o pagamento
passou a ser feito em terras do bispo do Porto até 1821 e foram, entretanto,
liquidadas as dívidas em atraso.
Porém, os restantes negociantes de vinho do Porto, procurando
fugir à jurisprudência que aquele caso poderia despoletar, com consequências
nefastas para as suas bolsas, trataram de transferir os seus armazéns e cais de
descarga para a margem esquerda do rio Douro, pois, aí, em Gaia, funcionava o
foral de D. Afonso III e o território estava fora do alcance dos bispos e do
foral de D. Teresa que cobria a margem direita daquele rio.
É, nestes tempos, que se irá assistir a uma procura de
terrenos para instalação de armazéns de vinhos, na margem esquerda do Douro,
sobretudo na encosta que ia desde do lugar das Devezas até ao rio, todo ele
pertencente à imensa Quinta das Devezas que, no século XVI, também era
conhecida pela Quinta do Estado e, depois, ficou conhecida pela Quinta do Conde
das Devezas.
A partir daqui, os armazéns que iam surgindo para escoar
pela barra do rio Douro a produção dos vinhos finos, que se juntava à dos
vinhos tradicionais, acabaram por se localizar na margem esquerda do rio Douro.
Os britânicos que tinham a sua feitoria no Porto passaram,
também, a guardar os seus vinhos em V. N. de Gaia e muitas das famílias
britânicas escolheriam o Candal para viverem ou, por aí, instalarem as suas
quintas de férias.
Para além da localização dos armazéns de vinhos na margem
esquerda do Douro, decorrente do alívio no pagamento de impostos, juntava-se,
também, uma justificação tecnológica.
Aqueles terrenos estando voltados a norte, eram abrigados
dos ventos fortes da barra, disfrutavam de um clima ameno e fresco, um pouco
húmido e dotados de imensas minas de água.
Cais de V. N. de Gaia por onde foram surgindo os armazéns de
vinho do Porto – Cortesia de “Gaia à la carte”
A própria Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto
Douro, por aí, haveria de ter, então, os seus armazéns, no entanto, haveria de
decidir montar, também, armazéns na margem direita, em Miragaia.
Com efeito, no ano de 1807, depois de já ter construído
armazéns na Régua, junto á margem do rio Douro, em Vila Real de Santo
António, no Algarve, no Pinhão e junto ao Tua, e no Vimieiro,
na margem esquerda do Douro, a Companhia comprou uma série de casas
térreas e vários barracões que havia no areal da praia de Miragaia que
mandou demolir para, em seu lugar, construir os seus armazéns.
O edifício, ainda existente, na actual Rua de
Miragaia, era enorme.
Inicialmente tinha capacidade para guardar mais de 4.000
pipas de vinho.
Posteriormente, porém, essa capacidade viria a ser
aumentada para poder acolher cinco e seis mil pipas.
Os armazéns de Miragaia para além das amplas e arejadas
dependências que possuía para arrecadação dos vinhos provenientes do
Alto Douro e dos escritórios, dispunha de grandes oficinas de tanoaria;
dependências onde se procedia á destilação da aguardente; e um terceiro
mas não menos importante sector para a fabricação de vinagre.
Aos armazéns de Miragaia e aos de V. N. de Gaia, chegavam os
vinhos transportados desde o Alto Douro nos barcos rabelos, barcos próprios de
rio de montanha. O rabelo, por essa razão, não tem quilha e é de fundo chato.
Com uma vela quadrada, era manejado por seis ou sete homens. Para manobrar,
utiliza um remo longo à popa - a espadela.
“A Real Companhia
Velha conta com mais de 250 anos de história, um marco ímpar para empresas do
ramo. Para trás, fica o registo de uma história fabulosa e de um passado
glorioso. Para o futuro, existe a vontade de manter a elevada qualidade dos
produtos e a confiança numa Companhia onde o rigor e a vontade de continuar a
escrever a história do Vinho do Porto são uma preocupação constante.
Os ingleses, radicados
na cidade do Porto, realizaram várias experiências ao adicionarem aguardente
aos vinhos Durienses, com o intuito de os preservar nas longas travessias
marítimas.
Para sua surpresa e
graças a uma série de circunstâncias felizes, dá-se a descoberta do Vinho do
Porto.
Em 1749 a exportação de Vinho do Porto
atinge o expressivo número de 19.000 pipas.
Em 1756 a 10 de
Setembro de 1756, por Alvará Régio de El-Rei D. José I, sob os auspícios do seu
Primeiro-Ministro, Sebastião José de Carvalho e Mello, Conde de Oeiras e
Marquês de Pombal, foi instituída a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas
do Alto-Douro, também denominada, Real Companhia Velha.
Formada pelos
"principais lavradores do Alto Douro e Homens Bons da Cidade do Porto, à
Companhia foi confiada a missão de sustentar a cultura das vinhas, conservar a
produção delas na sua pureza natural, em benefício da Lavoura, do Comércio e da
Saúde Pública".
De entre os inúmeros serviços prestados pela
Companhia à causa pública, destaca-se como o mais notável a chamada
"Demarcação Pombalina da Região do Douro", levada a efeitos entre
1758 e 1761 pelos deputados da Junta da Administração da Real Companhia
Velha.
Mercê desta medida de grande alcance
económico, foi delimitada a Região dos Vinhos de Feitoria do Douro, que é a
mais antiga Região Demarcada do mundo.
A importância do Vinho do Porto para a
economia portuguesa é tal que, em 1799, o Vinho do Porto representa mais de 50%
das exportações portuguesas.
A Companhia passa a operar em mercado livre
quando, a 7 de dezembro de 1865, por Alvará Régio do Regente D. Fernando, é
declarada livre a exportação através da barra do Porto de todos os vinhos
produzidos em Portugal.
Em 1960, Manuel da Silva Reis adquire, com o
apoio do banqueiro Pinto de Magalhães, a maioria do capital - assumindo assim a
direção da Real Companhia Velha.
Entre 1961 – 1974, a Real Companhia Velha
conhece um dos seus períodos de maior expansão, o qual se traduziu por
profundas transformações: mudança das instalações da sede; aumento do capital;
renovação de equipamentos e modernização tecnológica da vinificação;
preparação, tratamento e conservação dos vinhos; e alargamento dos seus
negócios.
Em 1979 após períodos conturbados, a
Companhia efetuou uma operação comercial envolvendo vinho generoso de várias
colheitas, no valor total de 1 000 000 de contos - o que constitui a maior
operação financeira jamais realizada na região do Douro. A Empresa volta,
assim, a ocupar um lugar de relevo entre os exportadores do Vinho do
Porto”.
Fonte:
“realcompanhiavelha.pt”
Em 19 Maio 1872, p. 2, o “Jornal do Porto” noticiava:
“A Rampa de Miragaia:
concluiu-se ontem a rampa mandada construir em Miragaia para estabelecer
comunicação entre a rua de Miragaia e a Nova Alfândega”.
Em 14 de Junho de
1872, o “Jornal do Porto” informava os seus leitores de que, construída a
rampa de acesso dos armazéns da Companhia à Nova Alfândega, a Junta
d’Obras tinha aprovado que a contribuição da Companhia dos Vinhos
deveria ser 200$000 reis.
Uma outra rampa, mais a poente, seria também construída.
Acesso ao bairro de Miragaia, junto a Monchique, c. 1907, em foto estereoscópica - Ed. H. C. White Co.
Em 1888,
instituiu-se a “Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal”, sedeada no
Porto, com funções de agente intermediário entre a produção e o comércio e de
comerciante por conta própria, e que será integrada na Real Companhia Velha, em
1963.
O povo começa a identificar duas Companhias Reais, como a
Nova e a Velha.
A “Real Companhia
Vinícola do Norte de Portugal” vai ter os seus armazéns em V. N. de
Gaia.
Localização dos
armazéns da Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal, actuais instalações
da Real Companhia Velha, na Rua Azevedo Magalhães
Após a associação,
em 1963, da Real Companhia Velha e da Real Vinícola do Norte de Portugal, as
caves e instalações da Real Companhia Velha acabaram por ser sedeadas, na Rua
Azevedo Magalhães, nº 314, que tinham pertencido à sua associada.
Actualmente, estão
sobre a alçada da Real Companhia Velha as quintas das Carvalhas, Acipestres,
Cidrô, Casal da Granja e Síbio.
Em 1976, as
instalações que já foram da Real Companhia Velha e da Real Companhia Vinícola
do Norte, no Cais de V. N. de Gaia, na Avenida Ramos Pinto, passaram a museu da
Companhia
(Continua)
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