quarta-feira, 21 de novembro de 2018

(Conclusão) - Actualização em 02/12/2019 e 25/01/2021


Companhia Vinícola Portuguesa

Em 1899, são transferidos para Matosinhos os armazéns e oficinas da firma Meneres & Cª. com as instalações a serem ligadas ao comércio de vinho (a construção decorreu entre 1897 e 1901).
A empresa ficaria instalada numa área de 11 000 m2 no lugar do Prado (actual Matosinhos-Sul) em 15 meses, entre princípios de 1897 e meados de 1898, com entrada pela futura Avenida Meneres, que nessa altura, ainda não existia.
Em 1899, no mesmo Prado de Matosinhos, com fachada principal voltada para a Rua Juncal de Cima (actual Rua Brito Capelo), instalava-se, bem perto da Meneres & Cª, a Real Fábrica de Conservas de Matosinhos de "Lopes, Coelho & Dias, Lda". A primeira  de cerca de meia centena, que nas décadas seguintes se iriam implantar na então Vila de Matosinhos.



Desenho da fachada principal da "Lopes, Coelho & Dias, Lda"



"Real Fábrica de Conservas de Matosinhos" durante a visita do rei D. Manuel II em 1908 - Ed. "Illustração Portugueza" (7 Dezembro)


"Lopes, Coelho & Dias, Lda" e as suas instalações




Local onde esteve instalada a "Lopes, Coelho & Dias, Lda" - Ed. Graça Correia



À direita da foto, em 1945, em frente à "Lopes, Coelho & Dias, Lda" (à esquerda), os armazéns de vinhos Dias Reis




O chamado Prado de Matosinhos ou Campo da Junqueira, era uma vasta área plana onde tinha estado, até há alguns anos antes, um hipódromo, e por onde corria em direcção ao mar, a ribeira do Prado, que resultava da juncção de duas mais pequenas com nascentes e percursos distintos, chamadas de Carcavelos e da Riguinha, respectivamente.




Ribeira do Prado em 1900 – Ed. Emílio Biel




Planta de Matosinhos, de 1896, da autoria de Licínio Guimarães, no livro “A Indústria Conserveira em Matosinhos”, de Lopes Carneiro




A planta acima teve como origem o blogue de José Magalhães que, por sua vez, a obteve através da colaboração do Dr. António Lage Almeida, Bibliotecário da BMFL – CMM, do Dr. Adriano Silva, Bibliotecário da BPMP, e do Dr. Albano Chaves.
Na planta pode observar-se o desenho do hipódromo do Campo da Junqueira.
A propósito da actividade desse hipódromo, O Tripeiro de 1972 (efemérides) noticiava:

“4 de Abril de 1872 – Corrida de cavalos e garranos no Campo da Junqueira, em frente a Matosinhos, organizado pelo Oporto Hunt Club”.

Nos terrenos daquele hipódromo, começaria o Football Club do Porto, de António Nicolau de Almeida, em 1893, por dar os primeiros pontapés na bola.



Meneres & Cª, já como, Companhia Vinícola Portuguesa em Matosinhos




Publicidade ao vinho do Porto “Victoria” em 1901, com a gravura das novas instalações no Prado de Matosinhos




Em 18/12/1902 desejando conservar indivisíveis as propriedades que detinha e nas quais se incluíam cerca de 200 000 pés de sobreiros, Clemente Meneres registou então, notarialmente, a sociedade por quotas 'Clemente Meneres, Lda', associando a si a sua 2.ª esposa e outros familiares.
A sociedade por quotas, era um dispositivo jurídico introduzido por lei de 1901 e pressupunha uma gestão empresarial.
Note-se que, desde a fundação (1902) até 1908, a gerência da 'Clemente Meneres, Lda', era assegurada por Clemente Meneres e estava sedeada na Quinta da Avenida, em Vila Nova de Gaia, onde morava a família, passando a partir de 1908 para o ex-convento de Monchique (uma vez que esteve antes ocupado pela firma Meneres & Cª, e pela Barbosa & Cª, sendo depois arrendado a vários inquilinos).
Além desse facto decisivo de só a partir daquela data o ex-convento passar a integrar a Sociedade.




Quinta da Avenida ou Quinta do Meneres (identificada com 1) – Fonte: Ana Rita Correia de Sousa Ramos Lima, 2013, Relatório de estágio de Mestrado



Da primitiva Quinta da Avenida, junto à Avenida da República, em 2014, restava uma casa e uma área verde envolvente, tudo em situação de abandono.



Quinta do Meneres ou Quinta da Avenida em V. N. de Gaia com fachada em 1º plano voltada para a Rua Luís de Camões – Fonte: Google maps


Avenida da República em V. N. de Gaia em 1934




Na foto acima, é visível à direita uma pequena porção do Jardim do Morro, começado a levantar em 1927 com o derrube e grande movimentação de terras que se elevavam num morro, à saída do tabuleiro superior da Ponte Luiz I.
A Quinta da Avenida seguia-se a esta área, também à direita, um pouco mais para Sul.
Entretanto, surge uma contrariedade na incapacidade da firma Barbosa & Cª, pertencente a um genro, não ser capaz de lhe absorver a cortiça produzida em Trás-os-Montes, o que leva á criação de uma nova fábrica em Mirandela, sucessivamente apetrechada com maquinaria para calibrar, fazer rolhas, caldeira e outros equipamentos.
Procedendo à legalização definitiva da unidade fabril, em 18 de Agosto de 1914, a Sociedade Clemente Meneres, Limitada, com sede em Mirandela, requer, com assinatura de Clemente Meneres, na administração do Bairro Oriental do Porto, licença para o estabelecimento da nova fábrica de cortiça e seus derivados em Miragaia, no ex-convento de Monchique.
Porém, a 6 de Julho de 1918, verificou-se um incêndio na fábrica de rolhas da fábrica Barbosa & Cª, de um genro de Clemente Meneres, sedeada em Monchique, numa das dependências do ex-convento. O incêndio foi enorme, tendo ardido toda a fábrica Barbosa & Cª e, ainda mais dois armazéns acabados de reconstruir que tinham sido alvo de outro incêndio algum tempo antes, bem como a ilha contígua que viria a ser conhecida como Bairro do Ignez (constituído por 12 casas) e, além disso, ardido o andar superior da casa que foi a moradia antiga da “Clemente Meneres, Lda”.
Um prédio ocupado pela Guarda Fiscal e por um armazém de madeiras foram, também, severamente atingidos.
O mirante do antigo convento colapsou.




Instalações no topo de um edifício em Monchique que foi sede da firma antes das novas instalações



Armazém de cortiça (guardada sobre o telhado) em prédio anexo ao antigo Convento de Monchique c. 1900, com traseiras para a Calçada de Monchique




Fábrica “A Varina”



Sobre a gravura acima diz José Oliveira Nunes, In “Jornal João Semana”:

 “Tratava-se de uma ilustração do princípio do séc. XX, anunciando uma fábrica a vapor (A Varina, em Ovar) de conservas de peixe, carne, frutas e legumes, da qual Clemente Meneres foi sócio de 1903 a 1908. Esta empresa, com a denominação social de Gomes, Meneres & C.ª Limitada, sedeada no antigo Largo do Mártir S. Sebastião (actual Praça Almeida Garrett), inaugurou em 1905, durante a permanência em Ovar de um filho deste empresário, de nome Agostinho, uma sucursal ao sul da Praia do Furadouro (grande armazém de madeira, que veio a ser do Mateiro), para a recolha e salga de sardinha capturada não só naquela praia, mas ainda na Torreira, S. Jacinto, Costa Nova, etc.”

Por escritura de 1 de Junho de 1908, “A Varina” passou para novas mãos, a sociedade Ferreira, Brandão & C.ª.
Em 1903, durante a Exposição Agrícola do Palácio de Cristal, inaugurada pelo rei D. Carlos, em 17 de Setembro, a Meneres & Cia apresentou-se com um stand.
Foi presidente da comissão Promotora da Exposição Agrícola, cargo que ocupava em acumulação com a de presidente da Direcção do Palácio de Cristal, o visconde de Guilhomil (José Geraldo Coelho Vieira do Vale Peixoto de Sousa e Villas-Boas).
Actualmente, é conhecido pelo facto de um seu bisneto, de seu nome André Villas-Boas, ter sido, há poucos anos, treinador do F. C. do Porto.




Palácio de Cristal


Stand da Meneres & Cia na exposição Agrícola de 1903




Medalha comemorativa da “Exposição Agrícola e de Productos Mineraes” de 1903



Jornal "A Voz Pública", de 18 de Setembro de 1903





 

Em 1905, é formada a firma 'Companhia Vinícola do Porto', uma sociedade por ações com capital de 500 contos de reis e com sede no Porto tendo sido fundada por Alfredo da Fonseca Meneres (ocupando cargo de Presidente do Conselho Fiscal) e outros, cujo director continuou a ser o seu irmão José da Fonseca Meneres e passando ele a ser o presidente do Conselho Fiscal.
Em Dezembro de 1905, é interposta uma acção comercial por parte da Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal-Porto, vulgo Companhia Velha e, desde 1889, com aquela designação, por uso indevido de designação comercial por parte da ‘Companhia Vinícola do Porto’.
Em 1908 a empresa passa, em sequência do litígio que decorria em tribunal, a designar-se ‘Companhia Vinícola Portuguesa’.
Como curiosidade diga-se que um eléctrico ligava a Companhia Vinícola Portuguesa ao Porto de Leixões e fazia o transporte de vinho.
O edifício sofreria poucas alterações ao longo dos tempos, tendo apenas tido uma ligeira ampliação em 1903 quando é introduzido um torreão no extremo da fachada voltada para a Avenida Meneres e obras de decoração das fachadas em 1929.


“A publicidade na imprensa e a participação em exposições era uma preocupação de Clemente Meneres, quer agora na Sociedade (Exposição de Paris, 1900; Exposição Universal de S. Luís, Estados Unidos, em 1904; Exposição Permanente de Produtos Portugueses, no Rio de Janeiro, 1906, Exposição do Rio de Janeiro, 1908; Exposição em Toulouse, 1908; Imperial International Exhibitions, Londres, 1909), quer nas anteriores firmas com os filhos, das quais nos chegaram excelentes cartazes dos finais do século XIX”.
Fonte: Professor Jorge Fernandes Alves



Painel de azulejos da Companhia Vinícola Portuguesa



O painel de azulejos da gravura anterior, que ainda se encontra à entrada das antigas instalações, em Matosinhos (Casa da Arquitectura), reproduz um cartaz de publicidade ao vinho do Porto Victoria, já sobre a égide da Companhia Vinícola Portuguesa.



Cartaz de publicidade ao vinho do Porto “Victoria” – Autor: Eugène Ogé (1861-1936)



Rótulo de garrafa do vinho do Porto da marca “Julio Diniz”



Rótulo de garrafa do vinho do Porto “Africa”



Clemente Meneres morre em 27 de Abril de 1916 na sua Quinta da Avenida, que se situava junto à via-férrea, em V. N. de Gaia.



Escritório da “Real Vinícola Portuguesa”, c. 1910




Eléctrico dentro das instalações da Companhia Vinícola Portuguesa que pela Rua Brito Capelo fazia ligação ao Porto de Leixões



Na segunda década do século XX, depois fortemente agravadas pela Guerra, Agostinho Meneres fez um périplo pelos países nórdicos e Alemanha, na tentativa de encontrar clientes não só para o vinho como para a cortiça. Com o direito ao benefício do vinho do Porto, a Sociedade passou a vender também vinhos às firmas inglesas sediadas em Gaia (Croft, Sandeman).


Agostinho Meneres



Já depois da morte de Alfredo da Fonseca Meneres, a 12/07/1917, a Real Companhia Vinícola Portuguesa entra numa rápida agonia e o seu encerramento estava praticamente traçado.


Em 1922, a Companhia Vinícola Portuguesa acabará por ser absorvida pela Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal - Fonte: "realcompanhiavelha.pt"

 
Agostinho da Fonseca Meneres faleceria em 1926.



Como curiosidade, diga-se, que a “Real Companhia Vinícola do Norte” teria também o seu vinho do Porto da marca Victoria



“Funcionou de seguida, durante vários anos, como refúgio/albergue dos desalojados das casas demolidas junto às margens do rio Leça em Matosinhos e em Leça da Palmeira por causa da construção das Docas n.º 1 e n.º 2 do porto de Leixões, tendo aí nascido muitos matosinhenses.
Curiosamente, várias décadas depois e na sequência da descolonização de 1974/75, voltaria a desempenhar as mesmas funções em relação aos retornados das ex-colónias portuguesas em 1975.
1998: A Câmara Municipal de Matosinhos adquiriu o imóvel, em estado de abandono, por 4 milhões de euros (ou por 5 milhões em 2000?) tendo sido integrado no plano de urbanização de Matosinhos-Sul (anterior a 2006) da autoria do arquiteto Álvaro Siza Vieira que pretendia nessa altura manter o edifício como pólo duma praça maior 'à espanhola' propondo-se a construção de equipamentos de turismo e lazer no edifício.
2008: Funcionaram neste imóvel oficinas e salas de aula de disciplinas Técnicas e Práticas dos cursos existentes então na Escola Secundária Gonçalves Zarco, devido às obras de reabilitação da escola.
01/07/2013: Este conjunto de 8 edifícios foi classificado como Monumento de Interesse Público pela Portaria n.º 431-B/2013, DR, 2.ª série, n.º 124 (suplemento) que também fixou a zona de especial proteção (ZEP) do monumento.
Outubro de 2014: O projeto de intervenção nesta antiga unidade fabril, da responsabilidade do arquiteto Guilherme Machado Vaz e resultante da proposta vencedora da QTCIVIL - ENGENHARIA E REABILITAÇÃO, S.A. no valor de €2 999 105, terá espaços para ateliers, biblioteca e auditório, acolherá a Orquestra de Jazz de Matosinhos num dos 8 blocos do edifício, terá uma praça ao ar livre para restauração e terá lojas que serão concessionadas; de acordo com a autarquia, o investimento estimado para a empreitada ronda os 3 180 milhões de euros”.
Com o devido crédito a Jorge Fernandes Alves, Professor catedrático da FLUP, In Revista da Faculdade de Letras, Porto, III Série, vol. 8, 2007, pp. 113-155




Instalações degradadas da Companhia Vinícola Portuguesa, antes da última reparação




Casa da Arquitectura - As instalações da Companhia Vinícola Portuguesa recuperadas - Ed. Lucília Monteiro

5 comentários:

  1. Bom dia.
    Estou a fazer um estudo sobre a Companhia Vinícola Portuguesa, e gostava de lhe perguntar onde encontrou a referência seguinte:"em 1922, a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal absorve a Companhia Vinícola Portuguesa e o seu encerramento estava traçado, a partir daqui."
    Muito obrigado.
    Os melhores cumprimentos,
    Guilherme Vaz

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  2. Se já visitou as instalações da Real Vinícola na Rua Azevedo de Magalhães em V. N. de Gaia vai observar, que num hall de entrada, está em exibição numa parede, uma réplica do célebre painel de azulejos de publicidade ao vinho do Porto da marca “Victória”, exposto à entrada, do que são agora, as instalações da Casa da Arquitectura, em Matosinhos.
    Então, perguntei-me: O que é que a Real Vinícola tem a ver com a Vinícola Portuguesa?
    A partir daí, foi-me fácil chegar à conclusão de que a Vinícola do Norte teria adquirido a Vinícola Portuguesa o que confirmei, certamente, mas que não sei precisar a fonte. Admito que poderei tê-la obtido junto da própria Real Vinícola.
    Sabendo que as instalações que tinham sido, durante muitos anos, da Vinícola Portuguesa, encerram em 1930, o que confirmei no site “patrimoniocultural.gov.pt/”, a outra transacção deverá ser anterior.
    Caso venha a obter uma confirmação mais precisa não deixarei de contactá-lo.
    Entretanto, espero continuar a merecer as suas visitas a este blogue.
    Cumprimentos

    Américo Conceição

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  3. Muito obrigado pela informação.
    Os melhores cumprimentos.
    Guilherme Vaz

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    1. Finalmente, encontrei a prova do que inicialmente escrevi, no site da "realcompanhiavelha.pt/”, pelo que, irei disponibilizar a informação.
      Cumprimentos

      Américo Conceição

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  4. Após o seu reparo, tenho tentado por todos os meios corroborar a minha afirmação inicial, sem qualquer êxito, razão pela qual a eliminei, até poder deslindar sem equívocos o que de facto aconteceu à Real Vinícola Portuguesa. Assim, farei um necessário ajuste do texto e introduzirei mais algum material, entretanto obtido.
    Caso, pela sua parte, consiga obter algo mais sobre este assunto, muito agradecido ficaria, se de tal me desse conhecimento.
    Com os melhores cumprimentos
    Américo Conceição

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