Companhia Vinícola
Portuguesa
Em 1899, são transferidos para Matosinhos os armazéns e
oficinas da firma Meneres & Cª. com
as instalações a serem ligadas ao comércio de vinho (a construção decorreu
entre 1897 e 1901).
A empresa ficaria instalada numa área de 11 000 m2 no lugar
do Prado (actual Matosinhos-Sul) em 15 meses, entre princípios de 1897 e meados
de 1898, com entrada pela futura Avenida Meneres, que nessa altura, ainda não
existia.
Em 1899, no mesmo Prado de Matosinhos, com fachada principal voltada para a Rua Juncal de Cima (actual Rua Brito Capelo), instalava-se, bem perto da Meneres & Cª, a Real Fábrica de Conservas de Matosinhos de "Lopes, Coelho & Dias, Lda". A primeira de cerca de meia centena, que nas décadas seguintes se iriam implantar na então Vila de Matosinhos.
Em 1899, no mesmo Prado de Matosinhos, com fachada principal voltada para a Rua Juncal de Cima (actual Rua Brito Capelo), instalava-se, bem perto da Meneres & Cª, a Real Fábrica de Conservas de Matosinhos de "Lopes, Coelho & Dias, Lda". A primeira de cerca de meia centena, que nas décadas seguintes se iriam implantar na então Vila de Matosinhos.
Desenho da fachada principal da "Lopes, Coelho & Dias, Lda"
"Real Fábrica de Conservas de Matosinhos" durante a visita do rei D. Manuel II em 1908 - Ed. "Illustração Portugueza" (7 Dezembro)
Local onde esteve instalada a "Lopes, Coelho & Dias, Lda" - Ed. Graça Correia
À direita da foto, em 1945, em frente à "Lopes, Coelho
& Dias, Lda" (à esquerda), os armazéns de vinhos Dias Reis
O chamado Prado de Matosinhos ou Campo da Junqueira, era uma
vasta área plana onde tinha estado, até há alguns anos antes, um hipódromo, e
por onde corria em direcção ao mar, a ribeira do Prado, que resultava da
juncção de duas mais pequenas com nascentes e percursos distintos, chamadas de
Carcavelos e da Riguinha, respectivamente.
Ribeira do Prado em 1900 – Ed. Emílio Biel
Planta de Matosinhos,
de 1896, da autoria de Licínio Guimarães, no livro “A Indústria Conserveira em
Matosinhos”, de Lopes Carneiro
A planta acima teve como origem o blogue de José Magalhães que, por sua vez, a obteve através da
colaboração do Dr. António Lage Almeida, Bibliotecário da BMFL – CMM, do Dr.
Adriano Silva, Bibliotecário da BPMP, e do Dr. Albano Chaves.
Na planta pode
observar-se o desenho do hipódromo do Campo da Junqueira.
A propósito da
actividade desse hipódromo, O Tripeiro de 1972 (efemérides) noticiava:
“4 de Abril de 1872 – Corrida
de cavalos e garranos no Campo da Junqueira, em frente a Matosinhos,
organizado pelo Oporto Hunt Club”.
Nos terrenos daquele
hipódromo, começaria o Football Club do Porto, de António Nicolau de Almeida, em
1893, por dar os primeiros pontapés na bola.
Meneres & Cª, já como, Companhia Vinícola Portuguesa em
Matosinhos
Publicidade ao vinho do Porto “Victoria” em 1901, com a
gravura das novas instalações no Prado de Matosinhos
Em 18/12/1902 desejando conservar indivisíveis as propriedades que detinha e nas quais se incluíam cerca de 200 000 pés de sobreiros, Clemente Meneres registou então, notarialmente, a sociedade por quotas 'Clemente Meneres, Lda', associando a si a sua 2.ª esposa e outros familiares.
A sociedade por quotas, era um dispositivo jurídico
introduzido por lei de 1901 e pressupunha uma gestão empresarial.
Note-se que, desde a fundação (1902) até 1908, a gerência da
'Clemente Meneres, Lda', era assegurada
por Clemente Meneres e estava sedeada na Quinta da Avenida, em Vila Nova de
Gaia, onde morava a família, passando a partir de 1908 para o ex-convento de
Monchique (uma vez que esteve antes ocupado pela firma Meneres & Cª, e pela
Barbosa & Cª, sendo depois arrendado a vários inquilinos).
Além desse facto decisivo de só a partir daquela data o
ex-convento passar a integrar a Sociedade.
Quinta da Avenida ou Quinta do Meneres (identificada com 1)
– Fonte: Ana Rita Correia de Sousa Ramos Lima, 2013, Relatório de estágio de
Mestrado
Da primitiva Quinta da Avenida, junto à Avenida da República,
em 2014, restava uma casa e uma área verde envolvente, tudo em situação de
abandono.
Quinta do Meneres ou Quinta da Avenida em V. N. de Gaia com
fachada em 1º plano voltada para a Rua Luís de Camões – Fonte: Google maps
Avenida da República em V. N. de Gaia em 1934
Na foto acima, é visível à direita uma pequena porção do
Jardim do Morro, começado a levantar em 1927 com o derrube e grande
movimentação de terras que se elevavam num morro, à saída do tabuleiro superior
da Ponte Luiz I.
A Quinta da Avenida seguia-se a esta área, também à direita,
um pouco mais para Sul.
Entretanto, surge uma contrariedade na incapacidade da firma
Barbosa & Cª, pertencente a um genro, não ser capaz de lhe absorver a cortiça
produzida em Trás-os-Montes, o que leva á criação de uma nova fábrica em
Mirandela, sucessivamente apetrechada com maquinaria para calibrar, fazer
rolhas, caldeira e outros equipamentos.
Procedendo à legalização definitiva da unidade fabril, em 18
de Agosto de 1914, a Sociedade Clemente Meneres, Limitada, com sede em Mirandela,
requer, com assinatura de Clemente Meneres, na administração do Bairro Oriental
do Porto, licença para o estabelecimento da nova fábrica de cortiça e seus
derivados em Miragaia, no ex-convento de Monchique.
Porém, a 6 de Julho de 1918, verificou-se um incêndio na
fábrica de rolhas da fábrica Barbosa & Cª, de um genro de Clemente Meneres,
sedeada em Monchique, numa das dependências do ex-convento. O incêndio foi
enorme, tendo ardido toda a fábrica Barbosa & Cª e, ainda mais dois
armazéns acabados de reconstruir que tinham sido alvo de outro incêndio algum
tempo antes, bem como a ilha contígua que viria a ser conhecida como Bairro do
Ignez (constituído por 12 casas) e, além disso, ardido o andar superior da casa
que foi a moradia antiga da “Clemente
Meneres, Lda”.
Um prédio ocupado pela Guarda Fiscal e por um armazém de
madeiras foram, também, severamente atingidos.
O mirante do antigo convento colapsou.
Instalações no topo de um edifício em Monchique que foi sede
da firma antes das novas instalações
Armazém de cortiça
(guardada sobre o telhado) em prédio anexo ao antigo Convento de Monchique c.
1900, com traseiras para a Calçada de Monchique
Fábrica “A Varina”
Sobre a gravura acima diz José Oliveira Nunes, In “Jornal
João Semana”:
“Tratava-se de uma ilustração do princípio do
séc. XX, anunciando uma fábrica a vapor (A Varina, em Ovar) de conservas
de peixe, carne, frutas e legumes, da qual Clemente
Meneres foi sócio de 1903 a 1908. Esta empresa, com a denominação social de
Gomes, Meneres & C.ª Limitada, sedeada no antigo Largo do Mártir S.
Sebastião (actual Praça Almeida Garrett), inaugurou em 1905, durante a
permanência em Ovar de um filho deste empresário, de nome Agostinho, uma
sucursal ao sul da Praia do Furadouro (grande armazém de madeira, que veio a
ser do Mateiro), para a recolha e salga de sardinha capturada não só naquela
praia, mas ainda na Torreira, S. Jacinto, Costa Nova, etc.”
Por escritura de 1 de Junho de 1908, “A Varina” passou para
novas mãos, a sociedade Ferreira,
Brandão & C.ª.
Em 1903, durante a Exposição Agrícola do Palácio de Cristal, inaugurada pelo rei D. Carlos, em 17 de Setembro, a Meneres & Cia apresentou-se com um stand.
Em 1903, durante a Exposição Agrícola do Palácio de Cristal, inaugurada pelo rei D. Carlos, em 17 de Setembro, a Meneres & Cia apresentou-se com um stand.
Foi presidente da comissão Promotora da Exposição Agrícola,
cargo que ocupava em acumulação com a de presidente da Direcção do Palácio de
Cristal, o visconde de Guilhomil (José Geraldo Coelho Vieira do Vale Peixoto de
Sousa e Villas-Boas).
Actualmente, é conhecido pelo facto de um seu bisneto, de
seu nome André Villas-Boas, ter sido, há poucos anos, treinador do F. C. do
Porto.
Palácio de Cristal
Stand da Meneres & Cia na exposição Agrícola de 1903
Medalha comemorativa da “Exposição Agrícola e de Productos
Mineraes” de 1903
Jornal "A Voz Pública", de 18 de Setembro de 1903
Em 1905, é formada a firma 'Companhia Vinícola do Porto',
uma sociedade por ações com capital de 500 contos de reis e com sede no Porto
tendo sido fundada por Alfredo da Fonseca Meneres (ocupando cargo de Presidente
do Conselho Fiscal) e outros, cujo director continuou a ser o seu irmão José da
Fonseca Meneres e passando ele a ser o presidente do Conselho Fiscal.
Em Dezembro de 1905,
é interposta uma acção comercial por parte da Real Companhia Vinícola do Norte
de Portugal-Porto, vulgo Companhia Velha e, desde 1889, com aquela designação,
por uso indevido de designação comercial por parte da ‘Companhia Vinícola do
Porto’.
Em 1908 a empresa
passa, em sequência do litígio que decorria em tribunal, a designar-se ‘Companhia Vinícola Portuguesa’.
Como curiosidade diga-se que um eléctrico ligava a Companhia
Vinícola Portuguesa ao Porto de Leixões e fazia o transporte de vinho.
O edifício sofreria poucas alterações ao longo dos tempos,
tendo apenas tido uma ligeira ampliação em 1903 quando é introduzido um torreão
no extremo da fachada voltada para a Avenida Meneres e obras de decoração das
fachadas em 1929.
“A publicidade na
imprensa e a participação em exposições era uma preocupação de Clemente
Meneres, quer agora na Sociedade (Exposição de Paris, 1900; Exposição Universal
de S. Luís, Estados Unidos, em 1904; Exposição Permanente de Produtos
Portugueses, no Rio de Janeiro, 1906, Exposição do Rio de Janeiro, 1908;
Exposição em Toulouse, 1908; Imperial
International Exhibitions,
Londres, 1909), quer nas anteriores firmas com os filhos, das quais nos
chegaram excelentes cartazes dos finais do século XIX”.
Fonte: Professor Jorge Fernandes Alves
Painel de azulejos da Companhia Vinícola Portuguesa
O painel de azulejos da gravura anterior, que ainda se
encontra à entrada das antigas instalações, em Matosinhos (Casa da
Arquitectura), reproduz um cartaz de publicidade ao vinho do Porto Victoria, já
sobre a égide da Companhia Vinícola Portuguesa.
Cartaz de publicidade ao vinho do Porto “Victoria” – Autor: Eugène
Ogé (1861-1936)
Rótulo de garrafa do vinho do Porto da marca “Julio Diniz”
Rótulo de garrafa do vinho do Porto “Africa”
Clemente Meneres morre em 27 de Abril de 1916 na sua Quinta
da Avenida, que se situava junto à via-férrea, em V. N. de Gaia.
Escritório da “Real Vinícola Portuguesa”, c. 1910
Eléctrico dentro das instalações da Companhia Vinícola
Portuguesa que pela Rua Brito Capelo fazia ligação ao Porto de Leixões
Na segunda década do século XX, depois fortemente agravadas
pela Guerra, Agostinho Meneres fez um périplo pelos países nórdicos e Alemanha,
na tentativa de encontrar clientes não só para o vinho como para a cortiça. Com
o direito ao benefício do vinho do Porto, a Sociedade passou a vender também
vinhos às firmas inglesas sediadas em Gaia (Croft, Sandeman).
Agostinho Meneres
Já depois da morte de Alfredo da Fonseca Meneres, a
12/07/1917, a Real Companhia Vinícola Portuguesa entra numa rápida agonia e o
seu encerramento estava praticamente traçado.
Em 1922, a Companhia Vinícola Portuguesa acabará por ser absorvida pela Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal - Fonte: "realcompanhiavelha.pt"
Agostinho da Fonseca Meneres faleceria em 1926.
Como curiosidade, diga-se, que a “Real Companhia Vinícola do
Norte” teria também o seu vinho do Porto da marca Victoria
“Funcionou de seguida,
durante vários anos, como refúgio/albergue dos desalojados das casas demolidas
junto às margens do rio Leça em Matosinhos e em Leça da Palmeira por causa da
construção das Docas n.º 1 e n.º 2 do porto de Leixões, tendo aí nascido muitos
matosinhenses.
Curiosamente, várias
décadas depois e na sequência da descolonização de 1974/75, voltaria a
desempenhar as mesmas funções em relação aos retornados das ex-colónias
portuguesas em 1975.
1998: A Câmara Municipal
de Matosinhos adquiriu o imóvel, em estado de abandono, por 4 milhões de euros
(ou por 5 milhões em 2000?) tendo sido integrado no plano de urbanização de
Matosinhos-Sul (anterior a 2006) da autoria do arquiteto Álvaro Siza Vieira que
pretendia nessa altura manter o edifício como pólo duma praça maior 'à espanhola'
propondo-se a construção de equipamentos de turismo e lazer no edifício.
2008: Funcionaram neste
imóvel oficinas e salas de aula de disciplinas Técnicas e Práticas dos cursos
existentes então na Escola Secundária Gonçalves Zarco, devido às obras de
reabilitação da escola.
01/07/2013: Este conjunto
de 8 edifícios foi classificado como Monumento de Interesse Público pela
Portaria n.º 431-B/2013, DR, 2.ª série, n.º 124 (suplemento) que também fixou a
zona de especial proteção (ZEP) do monumento.
Outubro de 2014: O
projeto de intervenção nesta antiga unidade fabril, da responsabilidade do
arquiteto Guilherme Machado Vaz e resultante da proposta vencedora da QTCIVIL -
ENGENHARIA E REABILITAÇÃO, S.A. no valor de €2 999 105, terá espaços para
ateliers, biblioteca e auditório, acolherá a Orquestra de Jazz de Matosinhos
num dos 8 blocos do edifício, terá uma praça ao ar livre para restauração e
terá lojas que serão concessionadas; de acordo com a autarquia, o investimento
estimado para a empreitada ronda os 3 180 milhões de euros”.
Com o devido crédito a Jorge Fernandes Alves, Professor
catedrático da FLUP, In Revista da
Faculdade de Letras, Porto, III Série, vol. 8, 2007, pp. 113-155
Instalações degradadas da Companhia Vinícola Portuguesa,
antes da última reparação
Casa da Arquitectura - As instalações da Companhia Vinícola
Portuguesa recuperadas - Ed. Lucília Monteiro
Bom dia.
ResponderEliminarEstou a fazer um estudo sobre a Companhia Vinícola Portuguesa, e gostava de lhe perguntar onde encontrou a referência seguinte:"em 1922, a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal absorve a Companhia Vinícola Portuguesa e o seu encerramento estava traçado, a partir daqui."
Muito obrigado.
Os melhores cumprimentos,
Guilherme Vaz
Se já visitou as instalações da Real Vinícola na Rua Azevedo de Magalhães em V. N. de Gaia vai observar, que num hall de entrada, está em exibição numa parede, uma réplica do célebre painel de azulejos de publicidade ao vinho do Porto da marca “Victória”, exposto à entrada, do que são agora, as instalações da Casa da Arquitectura, em Matosinhos.
ResponderEliminarEntão, perguntei-me: O que é que a Real Vinícola tem a ver com a Vinícola Portuguesa?
A partir daí, foi-me fácil chegar à conclusão de que a Vinícola do Norte teria adquirido a Vinícola Portuguesa o que confirmei, certamente, mas que não sei precisar a fonte. Admito que poderei tê-la obtido junto da própria Real Vinícola.
Sabendo que as instalações que tinham sido, durante muitos anos, da Vinícola Portuguesa, encerram em 1930, o que confirmei no site “patrimoniocultural.gov.pt/”, a outra transacção deverá ser anterior.
Caso venha a obter uma confirmação mais precisa não deixarei de contactá-lo.
Entretanto, espero continuar a merecer as suas visitas a este blogue.
Cumprimentos
Américo Conceição
Muito obrigado pela informação.
ResponderEliminarOs melhores cumprimentos.
Guilherme Vaz
Finalmente, encontrei a prova do que inicialmente escrevi, no site da "realcompanhiavelha.pt/”, pelo que, irei disponibilizar a informação.
EliminarCumprimentos
Américo Conceição
Após o seu reparo, tenho tentado por todos os meios corroborar a minha afirmação inicial, sem qualquer êxito, razão pela qual a eliminei, até poder deslindar sem equívocos o que de facto aconteceu à Real Vinícola Portuguesa. Assim, farei um necessário ajuste do texto e introduzirei mais algum material, entretanto obtido.
ResponderEliminarCaso, pela sua parte, consiga obter algo mais sobre este assunto, muito agradecido ficaria, se de tal me desse conhecimento.
Com os melhores cumprimentos
Américo Conceição