Evolução da Real
Companhia Velha
Até às lutas ocorridas para estabelecer o liberalismo, de
que ressalta como fundamental o Cerco do Porto, a Companhia foi cumprindo as
funções para a qual foi destinada.
O rio Douro era sulcado por rabelos que traziam para os cais
de V. N. de Gaia, e para os que a Companhia tinha também no Porto, os vinhos
para a respectiva comercialização.
“O barco rabelo é uma embarcação portuguesa,
típica do Rio Douro que tradicionalmente transportava as pipas de Vinho do
Porto do Alto Douro, onde as vinhas se localizam, até Vila Nova de Gaia -
Porto, onde o vinho era armazenado e, posteriormente, comercializado.
Sendo um barco de rio de montanha, o rabelo
não tem quilha e é de fundo chato, com um comprimento entre os 19 e 23 metros e
4,5 metros de boca. A sua construção, de tábuas sobrepostas, tábua trincada, é
nórdica, em comparação com a do Mediterrâneo.
Com uma vela quadrada, o rabelo era manejado
normalmente por seis ou sete homens. Quanto aos mastros, os primeiros só usavam
um, enquanto que os segundos usavam também um mastro à proa. Para governo,
utiliza um remo longo à popa – a espadela. Quando necessário, os barcos eram
puxados a partir de caminhos de sirga por homens ou por juntas de bois.
O barco rabelo passou a ter a sua identidade
bem definida, a partir de 1792, quando a Companhia Geral da Agricultura das
Vinhas do Alto Douro, publicou os alvarás e mais documentos que se relacionavam
com a notável instituição pombalina. Nessa publicação, conhecida vulgarmente
por "Leis da Companhia", encontram-se preciosas informações
referentes tanto ao barco como aos seus tripulantes, como ainda ao tráfego a
que se destinavam”.
Fonte:
“pt.wikipedia.org”
Em 16/8/1833, durante o cerco do Porto, a Companhia viu
arder cerca de 16.000 pipas, algumas com vinho antiquíssimo, cujo prejuízo foi
de 2.002.378$000, uma avultadíssima verba.
Durante aquele conflito tinha-se formado uma Comissão
Administrativa da Companhia, sob a tutela das autoridades liberais, no Porto,
que pouco depois deu lugar a uma Junta eleita. Passaria a existir, então, até
1834, um órgão de administração da Companhia, liberal, no Porto, e outro órgão
de administração da mesma, miguelista, na Régua, que tinha como provedor
Francisco de Sousa Cirne de Madureira.
Em 30/5/1834, saiu o decreto que abolia toda a legislação que
lhe atribuía prerrogativas e atribuições, e a extinguia.
Publicou os seus novos estatutos em 4/11/1834 e renovou-os
em 7/4/1838.
Com efeito, entre 1834-1838, adoptou a denominação de Companhia dos Vinhos do Porto.
Com dívidas ao Estado e a particulares de vários milhares de
contos de reis, dada sua robusta constituição financeira conseguiu sobreviver.
Conseguiu adiar e reestruturar algumas das suas maiores
dívidas e receber do estado vários créditos.
Conseguiu, após
muitas dificuldades, acabar por pagar a todos os seus credores.
António Barreto, na sua obra, “Douro”, irá concluir que "extinta" em 1834, "literalmente reorganizada em 1843, a
Companhia será definitivamente dissolvida em 1863".
Outros afirmam que a Companhia "passa a desempenhar exclusivamente as funções próprias de
qualquer firma comercial".
O certo é que a Companhia, "inoperante e desacreditada, atacada por forças poderosas, como a
Associação Comercial do Porto, acabará por ser extinta definitivamente em
1865".
A antiga Companhia Geral da Agricultura das Vinhas
do Alto Douro passa, então, a
utilizar o nome de Companhia Velha e
resolveu continuar os seus negócios.
Precisando: dado que a Companhia sempre foi uma sociedade
por acções ela funcionou sempre até aos nossos dias. Só podemos falar de
extinção, renovação, reforço ou redução quanto aos privilégios e poderes
concedidos ou delegados pelo Estado a esta Empresa.
Outras actividades da Real Companhia Velha
A Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro
não teve só intervenção na área do vinho, fez, também, grandes empréstimos ao
governo para obras importantes.
De 1789 a 1792, demoliu o Cachão da Valeira.
Interveio na reconstrução de Amarante muito destruída nas
invasões francesas.
Amarante c. 1900
Procedeu à construção da estrada Porto-Mesão Frio-Régua e à
construção/beneficiação de outras estradas no Alto Douro, nomeadamente
Régua--Santa Marta-Cumieira-Vila Real e Pinhão-Provesende.
Teve, ainda, intervenção decisiva na construção dos cais que
contiveram o rio Douro, desde da Ribeira até à Foz.
Para isso, cederam dos seus cofres, inicialmente, 400 000
cruzados referentes a acções da Companhia de que se perdera o rasto dos
titulares, e recolhendo e aplicando o imposto dos 100 réis por tonelada, aplicado
sobre as embarcações de comércio que entrassem na foz do Douro (1790-1834).
Com pedra na sua
maior parte extraída da pedreira da Arrábida foram levantados os cais, das
Padeiras, de Massarelos e a sua marginal, do Ouro e da Cantareira até ao Molhe
de Felgueiras.
Foi ainda devido à
sua iniciativa que se fundou, em 1803, a Academia Real da Marinha e Comércio da
Cidade do Porto (onde hoje está a Reitoria, nos Leões).
Este estabelecimento
bem como os que o antecederam nesse local (Aula de Náutica em 1762 e aula de
Debuxo e Desenho em 1779) funcionaram debaixo da sua inspecção e administração económica,
cabendo-lhe mesmo nomear os funcionários, com excepção dos lentes, professores
e substitutos, que propunha sob consulta ao rei.
“1921 – 1939 - A Companhia conhece uma época
muito favorável, com um elevado movimento de compras e vendas. O
desenvolvimento do comércio mundial, a depreciação da moeda e a guerra de
1914-1918 foram os factores que influenciaram positivamente a exportação nesta
época.
1960 - Em 1960, Manuel da Silva Reis adquire, com o apoio do banqueiro Pinto de Magalhães, a maioria do capital - assumindo assim a direcção da Real Companhia Velha.
1961 – 1974 - A Real Companhia Velha conhece um dos seus períodos de maior expansão, o qual se traduziu por profundas transformações: mudança das instalações da sede; aumento do capital; renovação de equipamentos e modernização tecnológica da vinificação; preparação, tratamento e conservação dos vinhos; e alargamento dos seus negócios.
1979 - Após períodos conturbados, a Companhia efectuou uma operação comercial envolvendo vinho generoso de várias colheitas, no valor total de 1 000 000 de contos - o que constitui a maior operação financeira jamais realizada na região do Douro. A Empresa volta, assim, a ocupar um lugar de relevo entre os exportadores do Vinho do Porto.
1986 - As vendas no País e estrangeiro atingem um volume considerável - 5 450 000 contos, o que constituiu um autêntico recorde, traduzido por uma quota de mercado de 18%”.
Cortesia de Rui Cunha
Assim, a Companhia Velha, a quase tri-centenária empresa,
continua a sua actividade, mas, agora, em instalações arrendadas.
A Companhia e o
ensino na cidade do Porto – Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia
Em 1831 construiu a
Real Casa do Asilo dos Náufragos, na Foz por ordem de D. Miguel I.
Real Casa do Asilo
dos Náufragos no Passeio Alegre
A Companhia
arrecadava ainda uma série de impostos, tarefa para a qual estava devidamente
mandatada pelo Estado.
“Para se fazer uma ideia dos montantes
arrecadados pela Companhia em nome do Estado, basta dizer que os rendimentos a
cargo da Junta, em 1825, de acordo com os balanços da receita e despesa do
Tesouro Público, atingiram 114 032$679 réis, mas, no ano seguinte, tal receita
atingiu os 536 432$193 réis, a maior receita do Tesouro Público a seguir às
receitas das alfândegas, décima e contribuição de defesa, e contrato do
tabaco”.
Com o devido crédito
de Fernando de Sousa - Professor Catedrático da Universidade do Porto
Nos textos
seguintes, dá-se conta do que duas personalidades (que narraram um pouco da
vida da cidade do Porto) disseram sobre a Companhia, em épocas distintas.
Companhia Geral de
Agricultura das Vinhas do Alto Douro – Cronologia
1756 – É instituída
por decisão régia a Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro,
portadora de uma série de privilégios que lhe são concedidos;
1758 – Início da
demarcação da zona vinhateira;
1808 – Alargamento da
área denominada por demarcação mariana ou subsidiária, passando a região
demarcada a comportar 87 paróquias;
1821 – As cortes
vintintas, pós revolução de 1820 retiram os primeiros privilégios à Companhia.
Instituem a Feira da Régua e os bilhetes de qualificação; fixam os preços para
os vinhos exportados e libertam a destilação da aguardente nas 3 províncias do
Norte, até então, privilégio da Companhia;
1834 – São extintos
os privilégios da Companhia. Decreto da instituição da Companhia dos Vinhos do
Porto por 12 anos;
Lista dos Provedores
da companhia entre 1756 e 1834 –
Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia
1838- Fim do período
começado em 1834, de transicção e mudanças, com o aparecimento de novos estatutos;
1843 – Costa Cabral
concede à Companhia um subsídio de 150 contos de réis, para compra de 20.000
pipas de vinho do Douro;
Presidentes da
Companhia entre 1834 e 1843 –
Fonte: Museu/Enoteca da Real Companhia
1858 – O Estado
deixa, a partir daqui, de intervir na Companhia;
1878 – A Companhia
passa a sociedade anónima e é estatutariamente prorrogada por 99 anos;
1888 – Instituiu-se a “Real Companhia Vinícola do Norte de
Portugal”, sedeada no Porto, com funções de agente intermediário entre a
produção e o comércio e de comerciante por conta própria, e que será integrada
na Companhia em 1963.
Entretanto, a “Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal” irá absorver, em 1922, a Companhia Vínicola Portuguesa, fundada por Clemente Meneres e com sede em Matosinhos;
Entretanto, a “Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal” irá absorver, em 1922, a Companhia Vínicola Portuguesa, fundada por Clemente Meneres e com sede em Matosinhos;
Fonte: “realcompanhiavelha.pt/”
1937 – A Companhia
acerta contas com o Estado, terminando o contencioso que durava desde 1834,
relativo à indemnizações dos prejuízos ocorridos no incêndio de 1833, em que
milhares de pipas foram deliberadamente incendiadas após os confrontos do Cerco
Do Porto e como vingança das tropas derrotadas de D. Miguel;
1953 – Neste ano, Manuel da Silva Reis adquire a empresa de
Vinhos do Porto, Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda., passando a ser o
proprietário da Quinta das Carvalhas.
Em 1851, Constantino do Vale Cabral tinha adquirido na qualidade de credor do Barão do Seixo, um lote grande de vinhos e vai fundar para a sua comercialização, a firma “Miguel de Sousa Guedes” que irá ser a proprietária da Quinta das Carvalhas, no Douro.
É esta firma, que quase passado que foi um século, já com a denominação de “Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda.”, vai acabar nas mãos de Manuel da Silva Reis;
Em 1851, Constantino do Vale Cabral tinha adquirido na qualidade de credor do Barão do Seixo, um lote grande de vinhos e vai fundar para a sua comercialização, a firma “Miguel de Sousa Guedes” que irá ser a proprietária da Quinta das Carvalhas, no Douro.
É esta firma, que quase passado que foi um século, já com a denominação de “Miguel de Sousa Guedes & Irmão, Lda.”, vai acabar nas mãos de Manuel da Silva Reis;
1960 - A Real Companhia Velha é adquirida, com o apoio do
banqueiro Pinto de Magalhães, por Manuel da Silva Reis, que assume sua direcção
e, até 1973, vai comprar doze empresas de vinho do Porto;
1961 – A Companhia
abandona definitivamente as instalações da Rua das Flores que ocupava no
Palacete dos Figueiroa, transferindo-se para a Rua da Carvalhosa, em V. N. de
Gaia;
1963 – A Companhia
adquire a Real Companhia Vinícola do Norte de Portugal e a Nicolau de Almeida
& CIA. Consegue ainda autorização para o transporte por estrada, em camiões
cisterna, dos vinhos do Douro;
1972 – A Companhia
Geral das Vinhas do Alto Douro e a Companhia Real Vinícola do Norte de Portugal
constituem-se numa única empresa comercial (Vinicolândia).
Fonte: “realcompanhiavelha.pt/”
1973 - A Empresa Miguel de Sousa Guedes & Irmão,
Lda., transfere para a Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro,
SARL todos os bens do seu activo, completando a integração naquela Companhia;
1974 - O Estado português interveio na Real Companhia Velha, lá permanecendo até 1978, quando Manuel da Siva Reis retoma as rédeas da empresa.
Assim, em resumo, no século XX:
1960 - Em 1960, Manuel da Silva Reis adquire, com o apoio do banqueiro Pinto de Magalhães, a maioria do capital - assumindo assim a direcção da Real Companhia Velha.
1961 – 1974 - A Real Companhia Velha conhece um dos seus períodos de maior expansão, o qual se traduziu por profundas transformações: mudança das instalações da sede; aumento do capital; renovação de equipamentos e modernização tecnológica da vinificação; preparação, tratamento e conservação dos vinhos; e alargamento dos seus negócios.
1979 - Após períodos conturbados, a Companhia efectuou uma operação comercial envolvendo vinho generoso de várias colheitas, no valor total de 1 000 000 de contos - o que constitui a maior operação financeira jamais realizada na região do Douro. A Empresa volta, assim, a ocupar um lugar de relevo entre os exportadores do Vinho do Porto.
1986 - As vendas no País e estrangeiro atingem um volume considerável - 5 450 000 contos, o que constituiu um autêntico recorde, traduzido por uma quota de mercado de 18%”.
Cortesia de Rui Cunha
A Companhia Geral da
Agricultura das Vinhas do Alto Douro na Régua
Actualidade
Nos nossos dias, destaca-se a abertura, em Agosto de 2018,
de um Museu/Enoteca, em parte das instalações que foram, durante décadas
ocupadas pela Companhia, na marginal de V. N. de Gaia e que ocupavam
praticamente um quarteirão.
Marca de delimitação exposta no Museu da Real Companhia
Velha (com entradas pela Rua de Serpa Pinto e avenida Ramos Pinto)
As caves primitivas
da Companhia sempre se mantiveram na Rua Azevedo Magalhães, em V. N. de Gaia,
onde a Companhia continua a exercer a sua actividade, porém, com um novo
enquadramento, no que diz respeito à gestão do negócio.
Um outro potentado do sector do vinho do Porto, a Fladgate
Partnership, detentora da Taylor's, comprou, em 2011, a Real Vinícola que
detinha os activos imobiliários da Companhia Velha e concentrou a actividade do
grupo na Quinta dos Barões (à face da Avenida D. João II, em V. N. de Gaia).
Aqui, passou a fazer
todo o engarrafamento dos seus vinhos e concentrou, desde então, também, toda a
actividade do grupo.
Entrada da Quinta dos Barões, na Avenida D. João II, em V.
N. de Gaia – Fonte: Google maps
“A Fladgate Partnership, detentora da
Taylor's, entre outras, é a nova dona da Real Vinícola. A empresa, proprietária
dos activos imobiliários da centenária companhia criada sob os auspícios do
Marquês de Pombal, foi comprada por 21 milhões de euros.
O negócio foi confirmado ao JN/Dinheiro Vivo
pelo director geral da Taylor's, Adrian Bridge. "Comprámos todas as
instalações da Real Vinícola em Vila Nova de Gaia. O negócio pressupôs a compra
da empresa sem pessoal, sem débitos e sem negócio", explicou.
A Real Vinícola (criada em 1889) passou,
assim, a integrar, desde o fim de Setembro, o portfólio da Quinta and Vineyard
Bottlers - Land Holdings. Segundo Adrian Bridge, a Real Companhia Velha
(fundada em 1756 por alvará régio de D. José I e detentora do negócio
vitivinícola, designadamente as quintas no Douro) continuará a operar no mesmo
espaço em Vila Nova de Gaia, que lhe será, agora, arrendado.”
Cortesia Ilídia
Pinto, In “Jornal de Notícias”, 23/10/2011
Entrada das instalações primitivas da Companhia Real
Vinícola do Norte, na Rua Azevedo Magalhães, em V. N. de Gaia – Fonte: Google
maps
Armazéns e caves da Real Companhia Vinícola do Norte, na Rua
Azevedo Magalhães, em meados do século XX – Fonte: Museu/Enoteca da Real
Companhia
Entrada de uma das caves da Real Companhia Velha, em antigas
instalações da Real Vinícola – Ed. Graça Correia
Vista de uma pequena parte das caves da Real Companhia
Velha, em antigas instalações da Real Vinícola – Ed. Graça Correia
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