quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Conclusão


Na Praça do Infante, a estátua do Infante D. Henrique, de Tomás Costa, inaugurada em 1900, com a 1ª pedra (extraída do promontório de Sagres) lançada em 4 de Março de 1894


“Aberto o concurso a artistas portugueses para a execução de um projecto de uma estátua em bronze do Infante D. Henrique, foram sete os estudos propostos: Invicta, do escultor Tomás Costa, em desenho; 1394-1894, do arquitecto Ventura Terra, também em desenho; Lusitânia, do arquitecto Marques da Silva, em relevo; Sagres, dos escultores José Joaquim Teixeira Lopes e António Teixeira Lopes, em relevo; Por mares nunca dantes navegados, do escultor António Teixeira Lopes, em relevo; Ad Gloriam, do arquitecto Adães Bermudes, em desenho, e um projecto anónimo, Utile Dulci, também em desenho. Estes dois últimos projectos ficaram fora do concurso.”
Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro, In “O Centenário Henriquino”


Para fazer face às despesas com a construção do monumento ao Infante D. Henrique, foram emitidas moedas comemorativas e selos.
Para além disso, foi elaborada uma bandeira e um hino para abrilhantar as cerimónias.



Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro (Prof. da Faculdade de letras da Universidade de Coimbra)



Integrado nos festejos, no dia 2 de Março, já tinha sido inaugurada no Palácio de Cristal a “Exposição Insular e Colonial”, com o apoio da Sociedade de Geografia.
Para a participação naquela exposição, tinha sido endereçado um convite aos Arquipélagos dos Açores e Madeira, a Cabo Verde, a S. Tomé e Príncipe, a Angola, a Moçambique, a Macau e à Guiné, numa clara procura de afirmação territorial e poderio colonial. Foi, assim, organizado um certame comercial, industrial e agrícola, dividido em onze secções, que tinha como objectivo “fazer conhecer, o mais rigorosamente possível, o estado tanto das colónias como das ilhas adjacentes”.



A medalha comemorativa da Exposição Insular e Colonial



A meio da tarde, do dia 2, a comitiva real passou também pelo campo do Oporto Criket and Law-Tennis Club, no Campo Alegre, conhecido por Campo dos Ingleses, onde assistiria aos últimos minutos do jogo de futebol entre o Foot-Ball Club do Porto e o Foot-Ball Club Lisbonense, no que seria um dos primeiros jogos de futebol efectuados no País e, em que, face ao resultado do mesmo, o troféu em disputa seria entregue à equipa lisboeta.



O rei D. Carlos preparando-se para assistir ao jogo de futebol no campo do Oporto Criket and Law-Tennis Club, no Campo Alegre



No dia 5 de Março, o rei visitaria e inauguraria, em V. N. de Gaia, durante a tarde, uma “Exposição Agrícola e Industrial”, tendo antes, estado na Biblioteca Municipal, onde em sessão solene, foi distribuído o “ Prémio Camões” instituído pelo jornal “O Commercio do Porto”.
Neste dia, pela manhã, a rainha tinha já visitado a Creche de S. Vicente de Paulo e o Recolhimento do Bom Pastor.
O jantar teria lugar no Paço, para algumas autoridades e oficiais de terra e mar, a que se seguiria um baile no Club Portuense”.




“Exposição Agrícola e Industrial” de V. N. de Gaia inaugurada, a 5 de Março de 1894, pelo rei D. Carlos – Gravura editada



No dia 6 de Março, o rei estaria presente num concurso de tiro, realizado no “Club de Caçadores”, ao Monte Pedral, onde foi recebido pela banda da Oficina de S. José, que executou o Hino Nacional.
As instalações daquele clube situavam-se onde hoje está localizado Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da C. M. do Porto, na Rua Alves Redol, no Monte Cativo.



Localização do Clube de Caçadores e da sua Escola de Tiro, em planta de Telles Ferreira de 1892


Legenda

1. Clube de Caçadores
2. Parte de instalações da Fábrica de Fiação e Tecidos de Salgueiros
3. Rua de Salgueiros
4. Escadas do Monte Cativo
5. Rua do Monte Cativo
6. Rua de Burgães
7. Fonte do Monte Cativo
8. Viela do Monte Cativo (Rua do Soajo)
9. Travessa do Monte Cativo (Rua do Gerês)




Terminado o torneio de tiro acontecido em Salgueiros, o rei foi almoçar ao Paço para depois se dirigir a S. Faustino de Gueifães para proceder à inauguração da escola primária “Príncipe da Beira”, que homenageava o Príncipe Luís Filipe e mandada construir pelo benemérito Joaquim Carlos da Silva.


Escola Primária "Príncipe da Beira", em Gueifães, Maia (2008) - Cortesia de Laura Branca Vilares O. Piedade



O monarca passaria ainda pela Rotunda da Boavista, onde assistiria a várias corridas de bicicletas, promovidas pelo “Club Velocipedista do Porto”.


Desfile na Rotunda da Boavista dos participantes nas corridas de bicicleta, em 6 de Março de 1894





Provas velocipédicas, na Praça da Boavista, em 6 de Março de 1894



As “Comemorações do V Centenário do Nascimento do Infante” encerrariam, neste dia (6 de Março), na “Sala de Sessões” da Câmara, transformada em sala de banquete para 161 talheres, e a “Sala dos Retratos” em sala de fumo, onde tocaram, durante o repasto, as bandas de Caçadores 7 e Infantaria 7, sendo que, a guarda de honra foi prestada por um piquete de bombeiros municipais.
A ementa apresentada esteve dentro dos padrões daqueles tempos e daquelas ocasiões, servida pela “Confeitaria Portugueza” de Júlio Cascaes, aquela que lançou no Porto, o famoso bolo-rei.



Ementa do jantar de encerramento das comemorações de “5º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique”



Os diversos negócios associados às comemorações fizeram-se sentir na cidade.


“Os adornos, os enfeites ou meras recordações noticiam-se em anúncios sugestivos. O lenço do centenário, estampado pela Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões, decalcava o desenho da bandeira do centenário que se vendia a 200 réis. Alfinetes comemorativos para senhora e para homem podiam comprar-se na Ourivesaria Reis. Os broches e alfinetes para gravata, em prata dourada e com a efígie do Infante, podiam adquirir-se nos grandes Armazéns Herminios onde se expunham ainda, em exclusivo, as bengalas e os guarda-chuvas com a gravura do homenageado em relevo. A Real Chapelaria Vapor satisfez a encomenda do rei D. Carlos de um chapéu henriquino e no Bazar Central expunham-se pratos de fantasia com o retrato do Infante”.
Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro, In “O Centenário Henriquino”



Moeda comemorativa do nascimento do Infante D. Henrique



O Hino do Centenário do Infante D. Henrique tinha poesia de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, autores do hino nacional “A Portuguesa”.


"Salvé! tu, Lavrador do infinito
Que rasgando oceanos profundos
Da ciência c'o germen bendito
Levantaste a seara dos mundos
Bendiz tua memória
A pátria ocidental
E solta a voz da História
Hosanna triunfal
Glória! Glória! a Portugal"



Bandeira do “V Centenário do nascimento do Infante D. Henrique”, com uma dedicatória da “Estamparia do Bolhão”


Durante os dias em que decorreram os festejos, as ruas primavam pelas ornamentações e a iluminação eléctrica ou a gás, produzia um efeito feérico, à noite.
Formaram-se comissões de moradores em quase todas as ruas do trajecto do cortejo cívico, que se empenharam nas decorações ao longo do percurso.
Entretanto, no que concerne ao monumento ao Infante D. Henrique, decorreriam mais de seis anos até ser inaugurado, sendo a estátua do infante sido fundida em Paris.


“Lavrou-se finalmente o despacho aprovando o contracto feito com o distinto escultor sr. Tomaz Costa, para a construção do monumento ao Infante D. Henrique.”
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 27 de Agosto de 1895 – 6ª Feira

“Ficou ontem completamente colocada a estátua «Fé». Na parte do monumento, que dá para a rua do Infante D. Henrique, foi também colocada a caravela”.
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 4 de Outubro de 1900


“Foi a cerimónia mais brilhante dos festejos, no dia 21 de Outubro, o acto da inauguração do monumento ao Infante D. Henrique.
O dia estava lindíssimo.”
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 23 de Outubro de 1900 – 3ª Feira


Mas, voltemos à corveta Estefânia e à descrição dos seus últimos momentos


Corveta Estefânia no Cais de Massarelos – Ed. Emílio Biel (1900)



«A nossa corveta que, como disse, tinha sido amarrada no Douro de forma a desafiar as maiores cheias, não pode resistir à sua má sorte. A cheia daquele ano [1909] foi a maior de quantas se têm visto, mas já o rio estava completamente limpo de embarcações e de navios que o ímpeto da corrente tinha arrastado, e ainda a Estefânia se aguentava no seu lugar por forma a deixar tranquilos aqueles que a guarneciam. Mas, no fim, quando o último vapor, partidas todas as amarras, ia pela água abaixo, procurando ainda resistir e endireitar-se manobrando com as suas máquinas, não o conseguiu e veio a toda a força lançar-se sobre a amarra principal da corveta, que imediatamente partiu. Depois já não havia acudir-lhe; os cabos da proa rebentaram um por um, o navio virou, começou a portar pelos cabos da popa, os quais foram sucessivamente estalando, e o navio, então, agarrado pela água, meteu ao eixo da corrente e seguiu rio abaixo. Como medida de prudência, a guarnição já tinha desembarcado e ainda se tentaram alguns esforços para o salvar, que nada deram. Os oficiais, embora sabendo que nada havia a tentar, foram, como a prolongar o adeus, acompanhando a pé ao longo da margem, esta marcha do abismo para o abismo. Um pouco depois da Cantareira, encalhou ele, fazendo nascer esperanças; mas estas duraram apenas segundos, findos os quais o navio seguiu para aquela temerosa embocadura que em dias de cheia e mau tempo é tão fantasticamente revolta que parece ocultar no seu seio alguma luta de monstros apocalíticos. E, efetivamente, ali se trava a luta monstruosa e titânica dos dois Hércules de fábula que são a corrente fenomenal, volumosa, rápida, horrível do rio engrossando precipitando-se sobre o mar, e a vaga alterosa do largo que, rugindo, é impelida pela fúria de um vento doido, avançando denodadamente a barrar-lhe a passagem. Mas o navio tudo transpôs serenamente.
Depois, veio a noite, que tudo tragou; e no dia seguinte, os primeiros alvores da manhã desvendaram à ansiedade de quem esperava, uma praia coberta pelos destroços de um grande navio de madeira. Tinha morrido a nossa Estefânia.
Esta magnífica madeira que o mar arrojou à praia, serviu depois para fazer os móveis que guarneceram a Escola quando definitivamente instalada em terra; e no fim, já depois de terem acabado estes serviços, ainda ali havia uma boa reserva dessas magníficas vigas. Era então segundo comandante um oficial extremamente económico, o qual em tudo poupava, até mesmo na lenha que os cozinheiros requisitavam para o seu mister, de forma que se veio mais tarde a saber que fora queimando magnífica madeira de teca, restos da corveta, que durante algum tempo se cozinhou o rancho dos marujos.
Assim como na Escritura se diz dos homens, em cinza se tornou aquele navio que tivera o nome da mais pura e amante das mulheres, por madrinha a mais excelsa rainha.”
Fonte: Óscar de Carvalho, revista “O Tripeiro” de 1952



Corveta Estefânia no rio Douro



“O vapor alemão Cintra partiu as amarras e foi chocar-se com a corveta Estephania, a qual seguiu desarvorada rio abaixo, indo encalhar ao norte no pharolim de Felgueiras, onde o mar a acabou.
Três dos tripulantes do Cintra pereceram nas ondas ao procurarem salvar–se n’um pequeno barco, o que cinco dos seus companheiros conseguiram.”
In ”Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910


Em Fevereiro de 1904, durante mais uma cheia do rio Douro, a corveta Estefânia já tinha sofrido alguns danos com a intempérie, quando o iate "Modelo" partiu amarras e foi chocar com ela. Do incidente resultaram dois mortos do hiate e um outro tripulante do navio-escola.
Quem já não assistiu a este incidente, foi o comandante das corvetas Sagres e Estefânia e da Escola de Marinheiros do Porto, conselheiro Ferreira de Almeida, falecido em 5 de Setembro de 1902, bem como à vitória que no dia 12 do mesmo mês e ano obtinha a "palhabote" "Lia", propriedade da Rainha D. Amélia, na regata atlântica entre Leixões e Cascais.
Esta prova, com início no dia 11, sob escolta da canhoeira "Berrio", viu os concorrentes e a canhoeira citada a retornarem a Leixões, na sequência de um violento temporal que, entretanto, se levantou ao largo.
O "palhabote" "Lia", no entanto, dado como desaparecido, acabaria por fundear em Cascais e ser dado como o grande vencedor, vitória que repetiria em 1904.




Cheia na Ribeira, em Dezembro de 1909, com o "Mendonça II" encalhado – Ed.  Joshua Benoliel, In ”Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910



Após a cheia de Dezembro de 1909, numa outra perspectiva do enquadramento da foto anterior



Aspecto da cheia de 1909 do rio Douro na marginal de V. N. de Gaia (Avenida Diogo Leite)



Destroços de embarcações junto do Posto Telegráfico da Cantareira – Ed. Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910



Vapor “Nestor” encalhado à saída da barra do rio Douro



Destroços da corveta Estefânia na Praia dos Ingleses

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