O “Castelinho” de Leça, outrora chamado de “Miramar”, esteve inicialmente situado
na foz do rio Leça, na margem direita, e servia para dar “senha” aos barcos de pesca que passavam à vista da costa.
Em 1870, um grande benemérito de Leça da Palmeira, João Pinto
de Araújo, mandou construir o referido miramar junto da chamada “chaminé”, que
então já existia, mesmo ao lado.
Até esse momento, o funcionamento dessa 'chaminé' consistia
em acender à noite uma fogueira para orientação nocturna.
Com a entrada em funcionamento do “Miramar”, foi possível
ter uma melhor observação do mar e usá-lo como torre semafórica, durante o dia, utilizando
bandeiras e, assim, dar senha aos barcos de pesca que passavam junto da costa,
em dias de mar bravo”.
“Leça é nos suburbios
do Porto a praia preferida pela colonia ingleza, cujos hábitos, cavalos, trens,
toilettes imprimem ao sitio a principal animação do seu aspecto exterior.
Na praia há um miramar
com este dístico:
«Real sociedade humanitária.
João Pinto de Araujo,
A bem da classe
pescadora, mandou edificar
em 1870»
O miramar é destinado
a dar senha aos barcos de pesca que passam à vista da costa em dias de mar bravo.”
Fonte: Ramalho Ortigão, em 1876, In "As Praias de
Portugal - Guia do banhista e do viajante"
“Castelinho" de Leça – Gravura (1876) In "As Praias de
Portugal - Guia do banhista e do viajante" de Ramalho Ortigão
Na gravura acima, à esquerda, é possível observar a chaminé
onde primitivamente se acendiam fogueiras e servia, assim, de sinalização às
embarcações.
Sobre o “Castelinho" de Leça é, também, a notícia que se
segue sobre a sua inauguração.
“No dia 21 de Outubro de 1870, pelas 10 horas
da manhã, foi inaugurado com toda a
solenidade o mira-mares de Leça da
Palmeira, a que assistiu a direcção da primeira comissão auxiliadora da Real
Sociedade Humanitária local e várias pessoas consideradas, que para esse acto
foram entretanto convidadas.
O melhoramento, que
ficou a dever-se ao senhor João Pinto de Araújo e por ele custeado na íntegra,
é uma obra verdadeiramente filantrópica, que honra aquele senhor e patenteia os
seus generosos sentimentos.
O fim do mira-mares é
servir de observatório para conhecer a criação dos mares na penedia de Leixões,
os quais costumam afrontar todo o litoral, pondo em risco de serem viradas as
embarcações, que vem procurar abrigo na foz do rio Leça.
É no espaço que decorre
de uns a outros mares, que o prático observa a ocasião de chamar os batéis de
pescaria para entrarem a salvamento, tornando-se assim esta obra de grande
utilidade para a desventurada classe a quem o seu generoso autor acaba de
oferece-la”.
In “Comércio do Porto” – Fonte: José Rodrigues
“Castelinho" de Leça, no seu local primitivo, com o Forte de
Nossa Senhora das Neves, ao fundo
"Castelinho" de Leça no seu primitivo local
“Castelinho" de Leça e novo Posto Semafórico (à direita), c.
1900, com perspectiva obtida a partir da margem esquerda do rio Leça – Ed. Estrela Vermelha
De local antigamente situado na margem direita do rio Leça, a perspectiva, actual, obtida sobre o local em que esteve primitivamente o "Castelinho", na qual o posto
semafórico está, parcialmente, escondido pelas árvores – Fonte Google maps
"Castelinho" de Leça, sobre a esquerda
Eléctrico em Leça da Palmeira, c. 1920, com Castelinho de Leça, à esquerda, parcialmente visível, bem como, ao fundo, à direita, o Posto Semafórico
Vista de Leça da Palmeira e da foz do rio Leça, com Posto
Semafórico (à esquerda) e ponte do comboio (à direita)
O "Castelinho" de Leça, que antes tinha estado na foz do rio
Leça, está, agora, no meio da praia, a poucas centenas de metros do local primitivo
e do paredão do Molhe Norte
O "Castelinho" de Leça que resistiu à construção do Porto de
Abrigo, inaugurado em 1892, e coexistiria com o novo Posto Semafórico (conforme
se observa em postal acima), não iria resistir à ampliação das instalações
portuárias, que conduziriam à transformação daquele porto de abrigo num verdadeiro
porto comercial e, seria transladado para a praia balnear, contígua ao paredão
Norte, como memória de outros tempos.
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