sexta-feira, 21 de setembro de 2018

25.8 Mercado da Foz do Douro - Actualização em 23/05/2019

A notícia mais recôndita que se conhece fazendo referência a um mercado, na Foz do Douro, faz-nos recuar à década de 60, do século XIX, de acordo com o que nos é transmitido na notícia abaixo.

“Principiou anteontem, na proximidade da praia de banhos, a demolição no local destinado a mercado público.
É um melhoramento importante para aquela vila.”
In “O Comércio do Porto”, de 23 de Agosto de 1862 - Sábado

O facto é que o mercado da Foz do Douro, havia de assentar arraiais, no Largo do Rio da Bica (antes Largo das Lavadeiras) local, do qual, o jornal “O Imparcial da Foz” nos dá um breve retrato, no texto seguinte.


“A velha rua Central, tortuosa e irregular, foi, em outro tempo, a principal da foz antiga, tanto em estabelecimentos comerciais de toda a espécie, como no movimento constante de transeuntes que, desde a madrugada até ao fim do dia, lhe davam um aspecto característico, comparado às grandes ruas das cidades populosas. Concorria muitíssimo para isto o haver um largozinho, no ponto em que se bifurcam diversas ruas que, da central, irradiavam para outros pontos da Foz, chamado “Rio da Bica”, onde se achava instalado o mercado local.
Este mercado consistia em um ajuntamento de vendilhonas de hortaliças, leite, frutas, etc., que, todas as manhãs se reuniam naquele ponto e ali efectuavam as suas transacções com a enorme quantidade de gente que o frequentava; não tinha ele condições algumas exigidas a um mercado de simples aldeia; nem amplidão de terreno, nem bancas ou coberturas que resguardassem os géneros expostos à venda do ardor do sol ou alagamento da chuva”.


Largo do Rio da Bica, actualmente – Fonte : Google maps



Na foto acima observa-se o antigo Largo das Lavadeiras onde esteve o mercado da Foz.
Sobre a direita, é possível divisar a fonte do Rio da Bica que era abastecida pelo manancial de Burgães.
O mercado da Foz do Douro acabaria, próximo da mudança de séculos, por ocupar um terreno nas proximidades.
E, mais uma vez, é o jornal “O Imparcial da Foz” que nos dá o retrato do local que, cedo, se mostrou sem as condições que os habitantes da Foz desejavam.


“Decorreram os tempos e a municipalidade portuense entendeu, numa febre de fomento e progresso, transformar muitas velharias da cidade e amodernizar tudo o que se lhe afigurasse fóssil e impróprio duma terra de primeira ordem.
Surgiram vários mercados novos em determinados locais, entre esses, o da Foz, que veio substituir o antigo Rio da Bica.
Comprou-se por bom preço, em condições algo onerosas para o município, um terreno encravado entre campos de cultura e ladeado por um rio.
Terraplanou-se, plantaram-se algumas árvores e deu-se-lhe, daí em diante, o nome de mercado, fazendo-se transferir para ali as vendilhonas do antigo. Nos primeiros tempos ainda se viam ali algumas bancas, nas quais eram pousados os géneros à venda.
A Câmara municipal mandava, de quando em quando, arrancar as ervas, que o terreno, de origem pantanosa, constantemente fazia brotar, mas veio depressa o cansaço por parte do município e a erva cresceu com todo o viço, luxuriante, proveniente do abandono em que a enxada e a vassoura camarária o deixou.
Assim, desde há muito tempo já, o nosso mercado é irrisório e vergonha de uma terra que, sendo a única estância balnear da cidade, é imensamente concorrida.
Pode dizer-se que a Foz, presentemente, não tem mercado. No terreno a que se dá este nome, reúnem pelas manhãs, uma dúzia de mulheres com bilhas de leite e algumas canastras de hortaliças, que vendem a outras, residentes nas circunvizinhanças. Desde as sete horas por diante, já género algum de venda ali se vê.
Transforma-se depois em secadouro de roupas, que as lavadeiras ali estendem sobre a relva, tentadora para o caso. E, como o camaleão, ainda não fica só nesta metamorfose! À noite transforma-se em viçoso prado e vêem-se nele, pastando, grande rebanho de bois, carneiros e cabras.”
In jornal “O Imparcial da Foz”, de 21 de Agosto de 1904


O jornal “A Gazeta da Foz” fazia também eco da falta de condições do mercado.

“Só, como ironia sarcástica, assim podemos chamar àquele quadrilátero relvoso, ali do Rio da Bica, vergonha e opóbrio desta encantadora Foz.
É indigno daquele nome o lugar a que o «Zé, cá do burgo» se habituou a chamar mercado, pelo simples motivo de ali darem poiso meia dúzia (se tantas…) de leiteiras e hortaliceiras”
In “A Gazeta da Foz”, de 9 de Junho de 1907 – 3ª Feira

Apesar da necessidade da existência de um mercado que servisse os interesses dos inúmeros lavradores da Foz e de Nevogilde, e que permitisse o escoamento das suas produções, só na década de 40 do século XX, tal foi possível, com a construção, finalmente, de um com instalações condignas.


“Efectuou-se ontem, sábado, 15 de Janeiro, às 9 horas, a inauguração oficial do novo mercado da Foz do Douro. O acto foi revestido de toda a simplicidade.
Simpáticas meninas, vestindo garrida e pitoresca indumentária minhota, cobriram de flores o presidente da Câmara e demais individualidades. Subiu ao ar o foguetório e as bandas do Asilo do Terço e do Internato Municipal executaram o hino nacional.
Tem 16 lojas laterais e 34 bancos centrais, estes destinados à venda de hortaliças.”
In “O Comércio do Porto”, de 16 de Janeiro de 1944 – Domingo


Interior do mercado da Foz – Fonte: Artur Filipe dos Santos


Porém, em 1953, já o movimento do mercado apresentava um acentuado decréscimo.
A agricultura como sector de actividade naquelas terras, dava agora lugar em grande escala, à construção civil.
O mercado da Foz do Douro acaba, assim, por ser entregue à Junta de Freguesia, em regime de concessão, em 1 de Outubro de 1953, por pressão dos locatários, tentando-se, deste modo, evitar o seu encerramento.


 “O Mercado da Foz, que completa hoje setenta anos de actividade, foi mandado edificar pela Câmara Municipal do Porto porque a Foz do Douro, e a sua área envolvente, era, à época, uma zona com muitos lavradores que sentiam necessidade de um local onde pudessem escoar os produtos agrícolas que produziam. Mas o município só decidiu construí-lo porque no Mercado Ferreira Borges se ia registando enorme perda de clientes. Esse Mercado esteve para ser transferido para a Foz do Douro em 1906, tendo em conta que já nessa altura havia na vereação quem defendesse que era a melhor solução. Mas nunca se deu tal transferência. Assim, para a construção do Mercado da Foz foi comprado um terreno pela Câmara Municipal, de lavradio, com 6.613 metros quadrados, sito à rua da Cerca, na parte que hoje é avenida do Marechal Gomes da Costa e o caminho da “Ervilha", conforme refere o Boletim Municipal do Porto, em 1936. Veio a ser inaugurado a 15 de janeiro de 1944, precisamente quatro anos depois da aprovação, pela edilidade do Porto, do projecto do arranjo urbanístico da zona da avenida do Marechal Gomes da Costa”.
Com o devido crédito a Agostinho Barbosa Pereira, publicado na página "A Nossa Foz do Douro", em 15/01/2014


Projecto para um mercado a construir junto da Rua do Gama e Caminho da Ervilha

Legenda
1 – Rua do Gama (actual Rua de Diu)
2 – Avenida Marechal Gomes da Costa
3 – Caminho da Ervilha
4 – Rua Côrte Real
5 – Mercado da Foz

O projecto para o Mercado da Foz foi da autoria dos arquitectos Mário Ferreira e Francisco Pinheiro da Mota Coelho, aprovado em 1943-04-08, com alteração ao projecto, aprovada em 1943-07-16.


Desenho da vedação da frente do Mercado da Foz


Mercado da Foz nos primórdios – Fonte: Agostinho Barbosa Pereira, "A Nossa Foz do Douro"


Mercado da Foz do Douro actualmente – Ed. “porto.convida.pt”


Importa referir que, alguns meses antes da inauguração do mercado da Foz, tivera lugar, portas meias com ele, a inauguração de uma outra estrutura de apoio às gentes do local – o Lavadouro Público.

“Inaugurado a 11 de Março de 1943, o novo lavadouro público sito no alto da rua do Gama, com a entrada para a rua de Corte Real e traseiras para a rotunda da Av. Marechal Gomes da Costa. Pode comportar 44 lavadeiras”.
In jornal “O Comércio do Porto”, de 12 de Março de 1943 – 6ª Feira


Lavadouro Público da Foz do Douro

















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