Na 2ª metade do século XX, quando começava a estar na moda o
rock and roll, surgiriam as chamadas discotecas, que eram lojas onde
eram vendidos os discos em vinil dos sucessos musicais, daquela época.
O conceito de discoteca, como local de dança e encontro,
apenas surgiria mais tarde, com o aparecimento das telenovelas brasileiras,
donde foi extraído. Antes, esses locais, por cá, eram as boîtes.
Em 1957, abriria na Rua de Santa Catarina, nº 360, a discoteca
Melodia e, em 1961, na Rua de Santo António, nº 35, uma outra loja Melodia.
Publicidade às lojas “Melodia”
Nesse tempo, quando pretendíamos comprar um sucesso musical
íamos a essas lojas, e ouvíamos em cabines insonorizadas (normalmente com amigos
ou amigas) o tema musical que o vendedor(a) reproduzia num “pick-up” ou
“gira-discos”. Só depois de apreciar o artigo, se tomava a resolução de
comprar ou, não, o vinil.
Antes do aparecimento daquelas cabines, eram as próprias
empregadas (os) da loja que procediam à reprodução dos discos, nos “pick-up” ou
“gira-discos”, na presença dos clientes.
Melodia, Rua de Santa Catarina, 360, Porto – Ed.
“campainhaelectrica.blogspot.com”
Melodia, Rua de Santo António, 35 (Rua 31 de Janeiro) - Ed.
“campainhaelectrica.blogspot.com”
Aquelas duas lojas eram propriedade da Rádio Triunfo, que
produzia os discos da etiqueta “Alvorada”
e, que, mais tarde, haveria de abrir loja, em Lisboa.
Para além da etiqueta “Alvorada”, deteve também a “Melodia”,
a “Harmonia” e “RT”.
A “Rádio Triunfo, Lda – Fábrica Portuguesa de discos” foi
fundada no Porto, em 23 de Março de 1946. O seu objecto era a produção
discográfica. Foi no ramo, pioneira em Portugal.
Logótipo da Rádio Triunfo
“A 23 de Março de
1946, Rogério Leal, e os sócios José Cândido Silva e Manuel Lopes da Cruz,
criaram a empresa Rádio Triunfo Lda com sede no Porto. Pouco depois, em 1947,
numa corajosa e inovadora atitude, construíram na Travessa Central do Seixo em
São Mamede de Infesta, em Matosinhos, a Fábrica Portuguesa de Discos da Rádio
Triunfo, a primeira a laborar em Portugal.
Fonte: “pt.wikipedia.org”
A sua fábrica foi aberta em 1947, em S. Mamede de Infesta,
onde esteve até 1986. Começando pelos discos de 78 rpm, passaria a produzir os
de 45 rpm e, em 1969, os esteriofónicos de 33 rpm.
Em 1956, a Valentim de Carvalho criou, também, a sua fábrica
de discos como resposta à Rádio Triunfo. Só estas duas companhias portuguesas
dominaram toda a cadeia vertical de produção fonográfica, desde a fábrica de
produção dos suportes e de reprodução dos discos, à tipografia e litografia, ao
armazém e ao comércio a retalho.
Na cidade do Porto a Rádio Triunfo utilizava os estúdios da
E.N. em V. N- Gaia e, a partir de 1965, os próprios, em S. Mamede de Infesta, e
em 15 de Fevereiro de 1974, inaugura os estúdios em Lisboa, na estrada da Luz.
O fundador e proprietário faleceria em 1879 e, em 1982, a
empresa foi adquirida por “Arnaldo Trindade & Cia. Lda.” da etiqueta “Orféu”, e José Marques Serafim,
proprietário da Movieplay Portuguesa e da Riso & Ritmo.
Arnaldo Trindade neste momento, já representava, também, a
Warner Brothers e a CBS.
Em 1985, a editora foi acusada de práticas ilegais e
verificou-se a consequente expulsão da Associação das Editoras (actual AFP) e
da IFPI. Com a crise instalada, a Rádio Triunfo perdeu muitas das etiquetas
internacionais que representava, acabando por decretar falência em 1986.
Nesta altura, Arnaldo Trindade entregou a “Orfeu” ao sócio lisboeta e divorciou-se
de vez do mundo discográfico. Ficaria para a história como «um homem do vinil».
Todo o espólio da “Rádio Triunfo, Lda – Fábrica Portuguesa
de discos” foi adquirido pela Movieplay Portuguesa.
Por seu turno, um dos compradores da Triunfo, em 1982, foi “Arnaldo
Trindade & Cia. Lda.”.
Esta firma tinha à sua frente Arnaldo Trindade, um
empresário do Porto, que detinha a etiqueta “Orfeu”.
Arnaldo Trindade criou em 1956 a editora discográfica “Orfeu”, que começou por gravar os
maiores vultos da literatura e avançou, depois, para os ícones da música
popular portuguesa.
Foi o principal editor discográfico de Zeca Afonso.
Arnaldo Trindade foi um editor importante na indústria
fonográfica das décadas de 1960, 1970 e 1980, em Portugal. No final da década
de 1990, após ter deixado a indústria fonográfica, ainda voltou ao mercado dos
eletrodomésticos (que tinha sido o começo de actividade da firma, ainda com o
seu pai), tendo adquirido a “SIUL” e
depois a “Produtos Estrela”, que
fundiu na “SIULPE”, mas, abandonou em
2001. Poucos anos antes, tinha vendido o estabelecimento de Santa Catarina por
seiscentos mil contos, «um grande negócio
na altura».
Publicidade à firma Arnaldo Trindade – Fonte: revista do
orfeão U. P. Março 1966
Rua de Santa Catarina, nº 117 – Aqui esteve durante algumas
décadas, do século XX, “Arnaldo Trindade & Cia. Lda.”.
Arnaldo Trindade, que foi aluno do conhecido estabelecimento de ensino portuense, o Liceu Alexandre Herculano, dá-se a conhecer no texto que se segue, publicado
no Diário de notícias, em Março de 2013.
“Arnaldo Manuel Albuquerque Trindade nasceu no Porto, em
1934. Filho de um comerciante de sucesso, com apenas 19 anos sucedeu ao pai,
que entretanto adoeceu, na condução dos negócios de família. Tomou então as
rédeas de uma famosa loja de eletrodomésticos, na Rua de Santa Catarina, mesmo
em frente ao Café Majestic.
Nasceu em berço de ouro - a família tinha tido negócios de
tabaco - e nada lhe faltou durante a infância e a adolescência.
«O meu pai arranjou a
representação da Philco, uma das principais companhias americanas em 1935,
eletrodomésticos que vendemos até 2001», lembra o editor, olhar azul brilhante,
reflexo da admirável lucidez dos seus 78 anos”.
Em 1956, resolveu partir para a editora discográfica Orfeu,
a princípio vocacionada exclusivamente para a gravação de escritores e
declamadores.
A “Orfeu” mudou de agulha e virou-se entretanto para a
música. Arnaldo Trindade resolveu apostar inicialmente no jazz ,
uma música que lhe fazia recordar as experiências vividas nos Estados Unidos,
quando visitava um tio engenheiro que lá trabalhava na General Motors.
Tornou-se representante em Portugal da “Tamla Motown”, “Durium”, “Island” e “Pye Records”.
Ao DN Arnaldo Trindade dizia a propósito de Zeca Afonso e da
etiqueta “Orfeu”:
«O Zeca era uma pessoa
fantástica. Tinha um humor extraordinário e uma simplicidade sem limites.»
Os discos editados na Orfeu não foram censurados. «Aí é que está um segredo», recorda
Arnaldo. «Através do José Niza,
negociávamos com um homem da Censura, Feitor Pinto, os textos que iriam ser
editados. O Niza levava alguns de propósito para serem cortados e assim
conseguimos gravar alguns subversivos, como, por exemplo, O Pintor Morreu , em que o Zeca
fala do assassínio do pintor José Dias Coelho pela PIDE.»
Uma revelação: Quim Barreiros tocou acordeão no álbum “Vou
Ser como a Toupeira.”
Vieram a fazer parte da “Orfeu”
talentos como Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, José Mário
Branco, José Jorge Letria, Luís Cília, verdadeiros ícones da cantiga de
intervenção. Uma das apostas no registo mais popular foi o Conjunto António
Mafra, que, ainda nos anos 1960, realizou uma digressão pelos Estados Unidos,
onde gravou em estéreo, tecnologia ainda inexistente em Portugal.
(…) Há todavia
pormenores menos divulgados de Arnaldo Trindade que era amigo desde a adolescência de Francisco Sá
Carneiro.
«Ele ia muito aos
dominicanos, era muito religioso, e eu era amigo de frei Bernardo, o mentor
deles. Foi lá que o conheci», recorda.
Eram da mesma idade. Numa ocasião em que Francisco precisou
de suporte financeiro para pagar a luz e a água da sede do PPD do Porto, pediu
ajuda a Arnaldo, que reuniu uns amigos e resolveu o problema. Sá Carneiro
nomeou-o presidente da Associação Social Democrata do Norte, que auxiliava o
partido financeiramente. «Quando foi
primeiro-ministro telefonava-me todos os dias. Depois queria que fosse
secretário de Estado, mas eu disse-lhe que não me metesse nisso porque não sou
político», revela o editor.
Mais tarde, Sá Carneiro quis divorciar-se e foi Arnaldo
Trindade quem intercedeu por ele junto do Vaticano, onde tinha conhecimentos.
Quando se aproximavam as eleições de 1979, o político comunicou-lhe que
necessitava de cinquenta mil contos para a campanha. Era muito dinheiro para a
altura. O empresário quis saber o que é que aconteceria se não conseguisse
juntar semelhante maquia. A resposta de Sá Carneiro foi curta: «Não há eleições...»”
Francisco Sá Carneiro (1934 - 1980), citado por Arnaldo
Trindade, foi um político do século XX, nascido no Porto, e que ainda foi contemporâneo,
de muitos de nós.
Se mais não fosse, os mais novos ouvem o seu nome, ao ser
mencionado o nosso aeroporto, que, desde há alguns anos deixou de ser, o
aeroporto de Pedras Rubras, para ser o Francisco Sá Carneiro.
Deste político do Porto é o texto que se segue, que fala da
cidade do Porto.
Extraído de “portoarc.blogspot.com”
Na Rua de 31 de Janeiro, no lado oposto à Melodia, à
esquerda no sentido descendente, existiu, após o fim da década de 1930, a
Vadeca.
Vadeca foi uma editora discográfica portuguesa fundada no
Porto, com ligações à família Valentim de Carvalho.
Era propriedade da J.C. Donas Lda, fundada em 1941, que
também deteve o selo Discos Roda, desde 1969.
J. C. Donas, Lda produtor e editor do vinil “P’ra Frente meu
Porto”, em 1979
Outra etiqueta da J. C. Donas, Lda. foi a "Roda
Rock".
Logotipo da Vadeca
“A meio da década de
quarenta a Valentim de Carvalho renegociou o seu contrato com a multinacional
EMI, passando a ser o único distribuidor nacional, com liberdade para
selecionar e gravar no mercado português. Como consequência ocorreu a abertura
de um estabelecimento comercial no Porto – a Vadeca – como resultado da falta
de concorrência directa, passando pouco depois a editar discos.
As lojas de discos
Vadeca chegaram a ser cinco, em 1978. Sendo três no Porto (Rua 31 de Janeiro,
Avenida da Boavista e Shopping Brasília) e outras em Lisboa (Drugstore
Alvalade) e Coimbra (Rua Ferreira Borges).”
Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki/”
À esquerda o reclame luminoso da Vadeca, com o símbolo
discográfico da “Voz do Dono” (cão escutando um gramofone)
Após o encerramento da editora, em 1986, a J.C. Donas e a
marca Vadeca continuaram a existir, dando continuidade à comercialização de
equipamentos da área da limpeza de diversas marcas (enceradoras e aspiradores)
e para a actividade de prestação de serviços na área da limpeza, ambiente e
Jardins.
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