quinta-feira, 27 de setembro de 2018

25.10 O Rock and Roll chegou à cidade trajando vinil (Actualização em 30/12/2020 e 09/02/2021)


Na 2ª metade do século XX, quando começava a estar na moda o rock and roll, surgiriam as chamadas discotecas, que eram lojas onde eram vendidos os discos em vinil dos sucessos musicais, daquela época.
O conceito de discoteca, como local de dança e encontro, apenas surgiria mais tarde, com o aparecimento das telenovelas brasileiras, donde foi extraído. Antes, esses locais, por cá, eram as boîtes.
Em 1957, abriria na Rua de Santa Catarina, nº 360, a discoteca Melodia e, em 1961, na Rua de Santo António, nº 35, uma outra loja Melodia.


Publicidade às lojas “Melodia”


Nesse tempo, quando pretendíamos comprar um sucesso musical íamos a essas lojas, e ouvíamos em cabines insonorizadas (normalmente com amigos ou amigas) o tema musical que o vendedor(a) reproduzia num “pick-up” ou “gira-discos”. Só depois de apreciar o artigo, se tomava a resolução de comprar ou, não, o vinil.
Antes do aparecimento daquelas cabines, eram as próprias empregadas (os) da loja que procediam à reprodução dos discos, nos “pick-up” ou “gira-discos”, na presença dos clientes.
 
 
 


Empregada duma discoteca operando um gira-discos, diante de um cliente



Melodia, Rua de Santa Catarina, 360, Porto – Ed. “campainhaelectrica.blogspot.com”




Melodia, Rua de Santo António, 35 (Rua 31 de Janeiro) - Ed. “campainhaelectrica.blogspot.com”



Aquelas duas lojas eram propriedade da Rádio Triunfo, que produzia os discos da etiqueta “Alvorada” e, que, mais tarde, haveria de abrir loja, em Lisboa.
Para além da etiqueta “Alvorada”, deteve também a “Melodia”, a “Harmonia” e “RT”.
A “Rádio Triunfo, Lda – Fábrica Portuguesa de discos” foi fundada no Porto, em 23 de Março de 1946. O seu objecto era a produção discográfica. Foi no ramo, pioneira em Portugal.


Logótipo da Rádio Triunfo


“A 23 de Março de 1946, Rogério Leal, e os sócios José Cândido Silva e Manuel Lopes da Cruz, criaram a empresa Rádio Triunfo Lda com sede no Porto. Pouco depois, em 1947, numa corajosa e inovadora atitude, construíram na Travessa Central do Seixo em São Mamede de Infesta, em Matosinhos, a Fábrica Portuguesa de Discos da Rádio Triunfo, a primeira a laborar em Portugal.
Fonte: “pt.wikipedia.org”


A sua fábrica foi aberta em 1947, em S. Mamede de Infesta, onde esteve até 1986. Começando pelos discos de 78 rpm, passaria a produzir os de 45 rpm e, em 1969, os esteriofónicos de 33 rpm.
Em 1956, a Valentim de Carvalho criou, também, a sua fábrica de discos como resposta à Rádio Triunfo. Só estas duas companhias portuguesas dominaram toda a cadeia vertical de produção fonográfica, desde a fábrica de produção dos suportes e de reprodução dos discos, à tipografia e litografia, ao armazém e ao comércio a retalho.
Na cidade do Porto a Rádio Triunfo utilizava os estúdios da E.N. em V. N- Gaia e, a partir de 1965, os próprios, em S. Mamede de Infesta, e em 15 de Fevereiro de 1974, inaugura os estúdios em Lisboa, na estrada da Luz.
O fundador e proprietário faleceria em 1879 e, em 1982, a empresa foi adquirida por “Arnaldo Trindade & Cia. Lda.” da etiqueta “Orféu”, e José Marques Serafim, proprietário da Movieplay Portuguesa e da Riso & Ritmo.
Arnaldo Trindade neste momento, já representava, também, a Warner Brothers e a CBS.
Em 1985, a editora foi acusada de práticas ilegais e verificou-se a consequente expulsão da Associação das Editoras (actual AFP) e da IFPI. Com a crise instalada, a Rádio Triunfo perdeu muitas das etiquetas internacionais que representava, acabando por decretar falência em 1986.
Nesta altura, Arnaldo Trindade entregou a “Orfeu” ao sócio lisboeta e divorciou-se de vez do mundo discográfico. Ficaria para a história como «um homem do vinil».
Todo o espólio da “Rádio Triunfo, Lda – Fábrica Portuguesa de discos” foi adquirido pela Movieplay Portuguesa.
Por seu turno, um dos compradores da Triunfo, em 1982, foi “Arnaldo Trindade & Cia. Lda.”.
Esta firma tinha à sua frente Arnaldo Trindade, um empresário do Porto, que detinha a etiqueta “Orfeu”.
Arnaldo Trindade criou em 1956 a editora discográfica “Orfeu”, que começou por gravar os maiores vultos da literatura e avançou, depois, para os ícones da música popular portuguesa.
Foi o principal editor discográfico de Zeca Afonso.
Arnaldo Trindade foi um editor importante na indústria fonográfica das décadas de 1960, 1970 e 1980, em Portugal. No final da década de 1990, após ter deixado a indústria fonográfica, ainda voltou ao mercado dos eletrodomésticos (que tinha sido o começo de actividade da firma, ainda com o seu pai), tendo adquirido a “SIUL” e depois a “Produtos Estrela”, que fundiu na “SIULPE”, mas, abandonou em 2001. Poucos anos antes, tinha vendido o estabelecimento de Santa Catarina por seiscentos mil contos, «um grande negócio na altura».


Publicidade à firma Arnaldo Trindade – Fonte: revista do orfeão U. P. Março 1966


Rua de Santa Catarina, nº 117 – Aqui esteve durante algumas décadas, do século XX, “Arnaldo Trindade & Cia. Lda.”.




Arnaldo Trindade, que foi aluno do conhecido estabelecimento de ensino portuense, o Liceu Alexandre Herculano, dá-se a conhecer no texto que se segue, publicado no Diário de notícias, em Março de 2013.



“Arnaldo Manuel Albuquerque Trindade nasceu no Porto, em 1934. Filho de um comerciante de sucesso, com apenas 19 anos sucedeu ao pai, que entretanto adoeceu, na condução dos negócios de família. Tomou então as rédeas de uma famosa loja de eletrodomésticos, na Rua de Santa Catarina, mesmo em frente ao Café Majestic.
Nasceu em berço de ouro - a família tinha tido negócios de tabaco - e nada lhe faltou durante a infância e a adolescência.
«O meu pai arranjou a representação da Philco, uma das principais companhias americanas em 1935, eletrodomésticos que vendemos até 2001», lembra o editor, olhar azul brilhante, reflexo da admirável lucidez dos seus 78 anos”.
Em 1956, resolveu partir para a editora discográfica Orfeu, a princípio vocacionada exclusivamente para a gravação de escritores e declamadores. 
A “Orfeu” mudou de agulha e virou-se entretanto para a música. Arnaldo Trindade resolveu apostar inicialmente no jazz , uma música que lhe fazia recordar as experiências vividas nos Estados Unidos, quando visitava um tio engenheiro que lá trabalhava na General Motors.
Tornou-se representante em Portugal da “Tamla Motown”, “Durium”, “Island” e “Pye Records”.
Ao DN Arnaldo Trindade dizia a propósito de Zeca Afonso e da etiqueta “Orfeu”:
«O Zeca era uma pessoa fantástica. Tinha um humor extraordinário e uma simplicidade sem limites.»
Os discos editados na Orfeu não foram censurados. «Aí é que está um segredo», recorda Arnaldo. «Através do José Niza, negociávamos com um homem da Censura, Feitor Pinto, os textos que iriam ser editados. O Niza levava alguns de propósito para serem cortados e assim conseguimos gravar alguns subversivos, como, por exemplo, O Pintor Morreu , em que o Zeca fala do assassínio do pintor José Dias Coelho pela PIDE.»
Uma revelação: Quim Barreiros tocou acordeão no álbum “Vou Ser como a Toupeira.” 
Vieram a fazer parte da “Orfeu” talentos como Fausto, Vitorino, Sérgio Godinho, Francisco Fanhais, José Mário Branco, José Jorge Letria, Luís Cília, verdadeiros ícones da cantiga de intervenção. Uma das apostas no registo mais popular foi o Conjunto António Mafra, que, ainda nos anos 1960, realizou uma digressão pelos Estados Unidos, onde gravou em estéreo, tecnologia ainda inexistente em Portugal.
 (…) Há todavia pormenores menos divulgados de Arnaldo Trindade que  era amigo desde a adolescência de Francisco Sá Carneiro.
«Ele ia muito aos dominicanos, era muito religioso, e eu era amigo de frei Bernardo, o mentor deles. Foi lá que o conheci», recorda.
Eram da mesma idade. Numa ocasião em que Francisco precisou de suporte financeiro para pagar a luz e a água da sede do PPD do Porto, pediu ajuda a Arnaldo, que reuniu uns amigos e resolveu o problema. Sá Carneiro nomeou-o presidente da Associação Social Democrata do Norte, que auxiliava o partido financeiramente. «Quando foi primeiro-ministro telefonava-me todos os dias. Depois queria que fosse secretário de Estado, mas eu disse-lhe que não me metesse nisso porque não sou político», revela o editor.
Mais tarde, Sá Carneiro quis divorciar-se e foi Arnaldo Trindade quem intercedeu por ele junto do Vaticano, onde tinha conhecimentos. Quando se aproximavam as eleições de 1979, o político comunicou-lhe que necessitava de cinquenta mil contos para a campanha. Era muito dinheiro para a altura. O empresário quis saber o que é que aconteceria se não conseguisse juntar semelhante maquia. A resposta de Sá Carneiro foi curta: «Não há eleições...»”


Francisco Sá Carneiro (1934 - 1980), citado por Arnaldo Trindade, foi um político do século XX, nascido no Porto, e que ainda foi contemporâneo, de muitos de nós.
Se mais não fosse, os mais novos ouvem o seu nome, ao ser mencionado o nosso aeroporto, que, desde há alguns anos deixou de ser, o aeroporto de Pedras Rubras, para ser o Francisco Sá Carneiro.
Deste político do Porto é o texto que se segue, que fala da cidade do Porto.


Extraído de “portoarc.blogspot.com”



Na Rua de 31 de Janeiro, no lado oposto à Melodia, à esquerda no sentido descendente, existiu, após o fim da década de 1930, a Vadeca.
Vadeca foi uma editora discográfica portuguesa fundada no Porto, com ligações à família Valentim de Carvalho.
Era propriedade da J.C. Donas Lda, fundada em 1941, que também deteve o selo Discos Roda, desde 1969.



J. C. Donas, Lda produtor e editor do vinil “P’ra Frente meu Porto”, em 1979
 

 
Outra etiqueta da J. C. Donas, Lda. foi a "Roda Rock".
 
 
 
 
Logotipo da Vadeca
 
 

“A meio da década de quarenta a Valentim de Carvalho renegociou o seu contrato com a multinacional EMI, passando a ser o único distribuidor nacional, com liberdade para selecionar e gravar no mercado português. Como consequência ocorreu a abertura de um estabelecimento comercial no Porto – a Vadeca – como resultado da falta de concorrência directa, passando pouco depois a editar discos.
As lojas de discos Vadeca chegaram a ser cinco, em 1978. Sendo três no Porto (Rua 31 de Janeiro, Avenida da Boavista e Shopping Brasília) e outras em Lisboa (Drugstore Alvalade) e Coimbra (Rua Ferreira Borges).”
Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki/”
 
 
 
À esquerda o reclame luminoso da Vadeca, com o símbolo discográfico da “Voz do Dono” (cão escutando um gramofone)
 
 


 
 
 
Após o encerramento da editora, em 1986, a J.C. Donas e a marca Vadeca continuaram a existir, dando continuidade à comercialização de equipamentos da área da limpeza de diversas marcas (enceradoras e aspiradores) e para a actividade de prestação de serviços na área da limpeza, ambiente e Jardins.

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