A cidade do Porto
tem uma longa ligação ao Hóquei em Patins.
Desde o dia 4 de
Junho de 1909, que se realizavam periodicamente nas instalações da Auto-Motora,
na Rua Heróis de Chaves, nº 369 (Rua D. João IV), aproveitando as excelentes
condições do piso para a prática de patinagem, que começava a despontar entre
as camadas mais privilegiadas da população, uma demonstração daquela nova
modalidade desportiva.
Um outro local usado
para o efeito era a nave do Palácio de Cristal.
Na cidade do Porto e
a expensas de particulares, mas com o objectivo de servir o FC Porto é
construído em 1914, junto ao campo da Constituição, um ringue que permitia a
prática de patinagem.
No entanto, o
primeiro jogo de hóquei em patins, no Porto, ocorreria em 11 de Junho de 1922, por
iniciativa da revista “Sporting”, na nave central do Palácio de Cristal,
exibindo-se os lisboetas Hóquei Clube de Portugal e o Lisboa Ginásio Club, num
jogo de demonstração da modalidade.
No entanto, o
primeiro grande momento vivido no Porto, no que concerne à modalidade, aconteceria
no Campeonato do Mundo de 1952 e teria continuidade com os Campeonatos do Mundo
de 1956 e 1958.
“A tarefa parecia difícil e melindrosa, tendo
em conta que os moçambicanos e os metropolitanos, bem pouco tempo antes, tinham
lutado encarniçadamente (mas de modo desportivo), uns contra os outros. Visto à
posteriori, a liderança inteligente, honesta e simples de Emídio Pinto,
conseguiu rodear “os de lá”, o Moreira, o Adrião, o Bouçós
e eu, com um lote de companheiros de estirpe elevada, o Edgar Bragança,
o António Matos, o Carlos Bernardino, o Vaz
Guedes, o Perdigão, o Trabazos e o Mário
Lopes.
Foi com este grupo, irmanado em franca
amizade, que viajámos para o Palácio de Cristal, hoje Rosa Mota, de
24 a 31 de Maio, a fim de enfrentar os nossos adversários, numa prova dura que
obrigava à disputa de 9 jogos em 8 dias.
Num aparte, lembro-me que nos encontrávamos
em plena campanha de eleições, com Humberto Delgado a
percorrer o país. O ambiente cinzento que encontrámos ao chegarmos à “Cidade
Invicta”, era sobremaneira carregado. As pessoas passavam com ar sério,
apressadamente, a resmungar, como se falassem para alguém. Estou plenamente
convencido que o Campeonato do Mundo teve um efeito moderador no espírito dos
portuenses. A Selecção Nacional, com as suas idas aos treinos, atraía mirones
com quem trocávamos palavras e cumprimentos e a imprensa dava enorme cobertura
aos acontecimentos. Tivemos a Televisão na Estalagem onde
realizaram um apontamento acerca do dia-a-dia da Selecção que ficou histórico
pois, como média, ainda se encontrava na sua meninice”.
Com o devido crédito
a Francisco Velasco (jogador e campeão mundial)
A selecção campeã do
Mundo de Hóquei em Patins de 1958 – Foto de Francisco Velasco
A foto acima, foi
obtida durante a visita de um grupo de estudantes à Estalagem do Lidador, no
Lugar das Guardeiras, Moreira da Maia, onde a equipa estagiou enquanto decorreu
o campeonato.
Programa da RTP em
Maio de 1958 quando dava os primeiros passos e a referência ao campeonato do
Mundo de Hóquei em Patins de 1958
Na gravura acima,
pode observar-se que a emissão da RTP, em 1958, abria às 21,00 H e fechava às
23,30 H.
Assistência ao
Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1958
Campeonato mundial
de Hóquei em Patins 1958
Vencemos a Alemanha
(8×1), a França (6×0), a Suíça (6×1), a Holanda (14×0),
a Itália (3×1), a Bélgica (2×1), arrancados a ferro e fogo, a
Inglaterra (6×0) e empatando com a Espanha (2×2), depois de
novamente estarmos a perder por (2×0) na primeira parte. O empate foi
suficiente para a conquista do título.
Seriam campeões do
mundo sob a liderança de Emídio Pinto: Moreira, Vaz Guedes, Adrião, Bouçós,
Velasco, Matos, Bernardino, Edgar, Perdigão, Trabazos e Mário Lopes.
O campeonato do
mundo, só voltaria ao Porto em 1968.
Entretanto, na
cidade do Porto já tinham sido disputados os campeonatos do Mundo e da Europa
em 1952, aquando da inauguração do Pavilhão dos Desportos (Rosa Mota) e os de
1956, que seriam, também, ganhos por Portugal.
Nos primeiros 20
anos (1936-1956), o campeonato do mundo foi disputado simultaneamente com o
“Europeu” e o vencedor conquistava, assim, dois títulos.
Neste período, a
prova conheceu um interregno após duas edições (1936 e 1939, ambas conquistadas
pela Inglaterra).
Naquele longínquo
ano de 1936, a competição, que teve como primeiro campeão do mundo a
Inglaterra, fora disputada por sete países e em simultâneo com a 9ª edição do
campeonato da Europa.
Quando foi retomada
a sua realização, em 1947, após a II Guerra Mundial, era disputada todos os
anos. E, apesar de já contar com países não europeus, até 1958, o campeonato do
mundo manteve a sua dupla função de Mundial e Europeu.
O campeonato do
Mundo de 1952, que nos é particularmente caro, era a 8ª edição, disputada
simultaneamente com a 18ª edição do Campeonato da Europa e decorreria entre 28
de Junho e 7 de Julho, na cidade do Porto.
Seria disputado no
Pavilhão dos Desportos, actualmente conhecido como Pavilhão Rosa Mota (ainda
com a abóbada incompleta).
Foi realizado com a
fachada principal do antigo edifício do Palácio de Cristal ainda de pé, pois
não tinha havido tempo para acabar a obra e o torneio decorreu, assim, ao ar-livre.
Pavilhão sem
cobertura – Ed. Alvão
Agradecimento público do Engenheiro responsável pela
construção do Pavilhão do Palácio – Fonte: "Diário de Lisboa", nº
10623, Ano 32, Domingo, 29 de Junho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares
No dia 28 de Junho, um Sábado, o campeonato arrancou e nessa
jornada inaugural, Portugal derrotou a Suiça por 7-1, tendo a equipa das quinas
apresentado os seguintes jogadores:
Emídio, Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos. (6º
jogador – Cruzeiro).
No dia seguinte, durante a tarde, prosseguiu o campeonato,
com a realização dos 2 jogos que estavam marcados, com os jogadores
intervenientes, a suportar um calor imenso, debaixo de um sol escaldante.
Pelas 17 horas, abateu-se uma trovoada seguida de forte
chuva, sobre a cidade, o que levou a que a jornada da noite, prevista começar
para as 20 h e 45 m, fosse adiada, um pouco, para limpeza do recinto.
Porém, durante o 2º encontro da noite entre o Egipto e a
Holanda, ao 1º minuto da 2ª parte, abateu-se sobre o ringue, tamanha
tempestade, que obrigou à limpeza do piso. O jogo ainda foi concluído, mas foi
impossível continuar com o torneio.
Quem tinha viajado de Lisboa para assistir ao jogo de
Portugal, em comboio especialmente fretado, voltou para a capital sem ter
assistido ao ansiado desafio.
Foi então decidido que, se no dia seguinte, as condições não
fossem as melhores, o campeonato prosseguiria num recinto improvisado, em
Matosinhos, que comportava apenas 1500 pessoas, o que acabou por acontecer,
dando à vila um aspecto de festa, mais parecendo que era dia de Senhor de
Matosinhos.
Em ringue coberto, realizaram-se os jogos, na tarde do dia
30 de Junho, mas, à noite, o campeonato prosseguiria já no Palácio.
Dizia o “Jornal de Notícias” que, em Matosinhos, os jogos
tinham decorrido num “armazém
improvisado”.
Já o jornal “O Norte Desportivo” salientava que, o “rink”
utilizado em Matosinhos, deixaria muitos clubes a “invejarem a sua qualidade”.
O jornal “Diário de Lisboa”, em 2ª Edição, do próprio dia 30
de Junho, destacava dos jogos efectuados nessa tarde, a vitória da Itália, por
3-2, sobre a Espanha, a vitória por 4-1, da Inglaterra sobre a Suiça e a
vitória de Portugal sobre a França, por 9-0.
Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10624, Ano 32, 2ª
Feira, 30 de Junho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares
Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10625, Ano 32, 3ª
Feira, 01 de Julho de 1952; Cortesia da Fundação Mário Soares
Lance ocorrido em ringue improvisado na Vila de Matosinhos -
Fonte: "Diário de Lisboa", nº 10625, Ano 32, 3ª Feira, 01 de Julho de
1952; Cortesia da Fundação Mário Soares
Local onde esteve o
armazém que substituiu, esporadicamente, o Pavilhão dos Desportos do Palácio de
Cristal no Campeonato Mundial de Hóquei em Patins em 1952 - Fonte: Google maps
Segundo o
matosinhense, Carlos Adão Cruz, o armazém (de algodão) em Matosinhos, que
recebeu uma jornada do campeonato do mundo de 1952, situava-se na esquina das
avenidas Villa Garcia Arosa e D. Afonso Henriques, onde hoje está uma loja do
hipermercado Continente e, antes, tinha estado uma loja da firma Fabio Lucci do
ramo têxtil.
Campeonato Mundial
de Hóquei em Patins de 1952
Os campeões do Mundo de 1952
Da esquerda para a direita: Cruzeiro, Jesus Correia, Capitão
Santos Romão (presidente da Federação), Emídio, Correia dos Santos, José Dias,
Raio, Edgar, Cipriano e Sidónio Serpa (seleccionador nacional).
Capa da Revista
Flama com os campeões mundiais de Hóquei em Patins de 1952
O Campeonato do Mundo de 1956 decorreu entre 26 de Maio e 2
de Junho de 1956, também na cidade do Porto.
Publicação alusiva ao Campeonato Mundial de Hóquei em Patins de 1956
Portugal e a taça de
campeão do Mundo de 1956 de Hóquei em Patins com o dirigente Moreira Rato e o
seleccionador Leonel Costa
Classificação do
campeonato mundial de 1956
A selecção em 1956 tinha como seleccionador, Leonel Costa,
guarda-redes, Matos e Vilaverde, como defesas, Edgar e Figueiredo, como médios,
Cruzeiro e Virgílio e avançados, Jesus Correia, Correia dos Santos, Perdigão e
Lisboa.
A equipa espanhola,
naquela época, tinha uma formação de grande categoria composta por, Zabalia,
Orpineli, Boronat, Puigbó e Parella (Gallen), mas insuficiente para nos fazer
frente.
Já antes, em 1947, tinha acontecido o primeiro título
mundial para Portugal, disputado no Pavilhão dos Desportos, no Parque Eduardo
VII, em Lisboa.
"Los portugueses ya son campeones", lia-se no “Mundo
Deportivo” de 23 de Maio de 1947.
O dia que marca a última jornada, do que foi o 3º Campeonato
do Mundo (simultaneamente 13º Campeonato da Europa), acabou em consagração.
O inédito título fora garantido na véspera, a 22 de Maio de
1947 (sem jogar).
No dia de folga dos portugueses, a Inglaterra, vigente
campeã do Mundo, perdia com a então o vice-campeã, a Itália, por 4-3 e a
matemática ditava um Portugal campeão, pela primeira vez na história da
modalidade.
Jogo Portugal vs Inglaterra do mundial de 1947 observando-se
Cipriano e Correia dos Santos
Classificação final do torneio
Os campeões em 1947 com o seleccionador José Prazeres –
Fonte: Arquivos da RTP
Tendo como seleccionador José Prazeres, foram campeões do
Mundo e da Europa, em 1947, Cipriano Santos, Álvaro Lopes, Sidónio Serpa, Jesus
Correia, Olivério Serpa (cap.) e Correia dos Santos e os suplentes que não
chegaram a actuar, Emídio Pinto e Manuel Soares (o primeiro seleccionado do
Norte).
Entretanto, em Junho de 1949, Portugal festejaria a vitória no campeonato Mundial (5ª edição) e Europeu de Hóquei em Patins, realizado no Pavilhão dos Desportos de Lisboa.
Fora de portas, em 1948, Portugal ganharia o título mundial, em Montreux, na Suiça, quando pela primeira vez participou um país fora da Europa, o Egipto e, em 1950, em Milão.
Descricao fantastica, contributo para a historia do hoquei em patins.
ResponderEliminarMuito obrigado. Vindo de um Paupério que, presumo, seja um Valonguense ou descendente de um, é um grande elogio, quando subjacente está o hóquei em patins. Espero continuar a merecer as suas visitas. Cumprimentos.
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