terça-feira, 25 de setembro de 2018

25.9 Igreja de S. Pedro de Miragaia (Actualização em 04/03/2021)


Em tempos idos, o que conhecemos como Miragaia, nas traseiras da actual Alfândega Nova, era um vasto areal onde labutavam pescadores e armadores da indústria naval, que acabariam ao longo dos anos, fruto da expansão da urbe, por se deslocarem para zonas mais distantes do Porto, passando a ocupar por exemplo, Lordelo ou Afurada.
O areal de Miragaia naqueles tempos foi ocupado, então, por estaleiros navais, onde se construíram muitas das embarcações usadas na expansão portuguesa ultramarina e no comércio do Porto com o Norte da Europa.
A primitiva igreja existente em Miragaia devia ser, inicialmente, do tipo da igreja ve­lha de Cedofeita, em estilo românico, provavel­mente do século XIII.
Foi para Miragaia, onde acabaram por se estabelecer, que uma comunidade de arménios e alguns cristãos, fugidos de Constantinopla, que tinha sido tomada pelos turcos, em Maio de 1453, se acolheu, transportando consigo as relíquias de S. Pantaleão.
Da sua presença resta o topónimo de uma rua e as relíquias daquele santo, que acabaram em 1499 por ser recolhidas na Sé, tendo sido ele, durante largos anos, patrono da cidade.
Pantaleão tinha sido médico em Nicomedia, na Arménia, converteu-se ao cristianismo e foi martirizado na sua cidade natal, no ano 320, no tempo dos Imperadores Diocliciano e Maximiniano. O seu corpo seria, então, levado para Constantinopla e aí venerado.
Em 1672, o bispo D. Nico­lau Monteiro reformou a igreja existente em Miragaia, mas, 58 anos depois, em 1740, o templo ameaçava ruir e o cabido, aproveitando o período de sede vacante (diocese sem bis­po entre 1717 e 1741), mandou construir uma nova, a actual, "toda de pedra, bem obrada e ornada; toda de composição proporcionada com sua torre de quatro sineiras, escadas de pedra e abóbada, tudo em remates de estilo moderno".
Dedicada a São Pedro, a igreja de Miragaia apresenta fachada principal de tipologia que lembra as suas congéneres de Nossa Senhora da Vitória ou São Nicolau.
O custo das obras foi repartido entre o Cabido e os fiéis de Miragaia. A estes, por exemplo, coube pagar as obras da capela-mor, "a qual reformaram e acrescentaram: lhe puseram suas janelas de luzes e uma grande tribuna e retábulo dourado e cobriram o teto e lado da mesma capela com obras de talha e escultura dourada e lhe fizeram oferta de preciosos ornamentos para suas solenidades".


“No interior, a igreja desenvolve-se em nave única e transepto saliente, de grande simplicidade, contrastando fortemente com a opulência da talha barroca que reveste integralmente a capela-mor. Iniciada no século XVII, esta campanha decorativa prolongar-se-ia até ao século XVIII, como testemunham os elementos rococó que aqui se encontram. Juntamente com Santa Clara, ou São Francisco, é um exemplo significativo de igreja forrada a ouro. 
António Gomes e Caetano da Silva Pinto foram os responsáveis por esta obra que incluía ainda a tribuna, o sacrário e a banqueta. Pensa-se que os trabalhos de talha estariam concluídos em 1724 e o douramento, executado por Francisco Barbosa Monteiro, em 1730. O retábulo-mor, preponderante neste conjunto e muito semelhante ao de Santa Clara (embora menos escultórico), apresenta duas inovações, nomeadamente ao nível da base - mais alta e de madeira, que se tornaria modelo frequente para outras igrejas portuenses e nortenhas -, e ao nível do modelo do fuste das colunas - canelado, à semelhança dos modelos quinhentistas, mas revestido por fitas, festões, e outros (PEREIRA, 1995, p. 111).
Fonte: “portopatrimoniomundial.com”


Igreja de S. Pedro de Miragaia – Fonte: “portopatrimoniomundial.com”


“A igreja é muito simples. A fachada tem um portal com frontão e um grande janelão gradeado e é rematada por um frontão triangular com a legenda «Divo Petro Dicata» (Dedicada a S. Pedro) e encimado por uma cruz. As paredes foram revestidas de azulejos entre 1863 e 1876. A nave única da igreja é enriquecida apenas pelo altar de talha dourada dedicado a Nossa Senhora do Carmo e que pertenceu à igreja do extinto e arruinado Convento de Monchique e pelo altar de Santa Rita, do século XVII. A capela-mor é revestida de talha reforçada com elementos vindos de Monchique.”
Fonte: “pt.wikipedia.org”



Em 1808, a Confraria do Santíssimo de Miragaia compraria à Celestial Ordem da Trindade dois altares que estavam em arrecadação. Tal facto, talvez se tivesse ficado a dever à ocorrência de um incêndio na igreja de S. Pedro de Miragaia, algum tempo antes e, os mesmos, se destinassem à substituição dos destruídos durante o sinistro. 
Os referidos altares terão servido os trinitários na, há muito desaparecida, capela do Calvário Novo, que se localizava onde está o Palácio da Justiça.
A esta igreja de S. Pedro de Miragaia, está ligado, Pedro Augusto Ferreira (Lamego, Penajóia, Casa da Capela, 14 de Novembro de 1833 - Porto, 17 de Junho de 1913), abade de Miragaia (desde 1864) e publicista, que continuou a obra “Portugal Antigo e Moderno”, após a morte de Pinho Leal ocorrida em 1884.
Tendo possuído uma importante livraria, composta de 3.653 obras, de que se imprimiu um catálogo em 1902, no Porto, oferecê-los-ia à Biblioteca Municipal do Porto, que o considerou Cidadão Benemérito e deu o seu nome a uma das ruas da cidade.
Em meados do século XX (1941), foi executado um processo de demolição em construções adjacentes à igreja de S. Pedro.


Igreja de S. Pedro de Miragaia antes das demolições


Obras para a construção do Largo de S. Pedro


Demolição de prédios para a construção do Largo de S. Pedro



Perspectiva actual, após algumas demolições de prédios em torno da igreja de S. Pedro de Miragaia – Ed. JPortojo


Actualmente, visitando a igreja de S. Pedro de Miragaia, pode observar-se em exposição o “Tríptico do Espírito Santo”, originalmente pintado para a Capela do Hospital do Espírito Santo, que esteve numa área atrás do actual templo e de cujo complexo já só existem as paredes exteriores com a serventia de pequeno armazém.
Aquela obra de arte foi transferida para a localização actual no final do século XIX, sendo, segundo o Centro Nacional de Cultura, um “notável” exemplar do Renascimento flamengo e possivelmente de uma escola de Antuérpia.
A Direção-Geral do Património Cultural admite que o pintor flamengo Bernaert van Orley, comparado na sua época ao mestre italiano Rafael, seja o autor do tríptico.
 
 
“O Tríptico do Espírito Santo foi realizado na Flandres, porventura com participação de um pintor português e a sua data será entre 1512 e 1517;
em 1637 foi, possivelmente, incorporado num retábulo e, em 1887, foi trasladado para a Igreja de Miragaia devido ao estado de ruína da capela, alterando-se o retábulo que o emoldurava;
em 1914 foi para Lisboa, a fim de ser conservado e restaurado, intervenção que foi realizada por Luciano Freire, regressando à Igreja em 1926.”
Cortesia da investigadora Carla Ferreira
 
 
 
Cortesia de Filipa Brito
 
 
A obra engloba nos seus painéis várias representações religiosas: ao centro o Pentecostes; S. João Baptista e o doador, provavelmente João de Deus II (à esquerda de quem observa); e S. Paulo (à direita).
Quando fechado, o tríptico exibe a Anunciação.


 
Tríptico fechado – Cortesia de Filipa Brito

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