Começaremos por definir Catedral (do latim cathedra que quer dizer cadeira) como
uma igreja onde está instalada o bispo como governante de uma diocese e onde
ele tem a sua cátedra. Aliás, esta mesma definição é válida para o vocábulo Sé,
referente a uma igreja episcopal ou patriarcal.
Sé e Catedral são, assim, sinónimos e a referência a Sé
Catedral, como muitas vezes é dito, não deixa de ser um pleonasmo, embora esta
designação esteja consagrada pelo uso.
Situada no topo do morro de Pena Ventosa, a Catedral
portuense é de fundação muito antiga, embora nada reste do tempo anterior à
fundação de Portugal. Anteriormente e no mesmo local, existiria uma ermida, chamada de Ermida de Santa Maria.
Acredita-se que a fundação da diocese do Porto data de
meados do século VI, logo após a conversão dos suevos, e tudo aponta para
Meinedo como ponto de partida tendo sido, aí, a primeira Sé da Diocese do Porto.
Posteriormente a diocese seria transferida para Portucale.
Pelo lado da lenda temos a presença de S. Basílio como 1º
bispo, primeiro com presença em V. N. de Gaia na capela de São Marcos e depois
na Igreja de S. Pedro de Miragaia.
A capela de S. Marcos situar-se-ia nas imediações do castelo
de Gaia.
Alguns estudiosos dizem que esses locais poderão ter sido
sede da diocese portucalense, antes da que viria a surgir depois na Pena
Ventosa.
A primeira notícia referente à vetusta Sé do Porto remonta
ao século VI - pois em 589, ano do III Concílio de Toledo, presidido pelo
monarca visigodo Recaredo, teve aí assento D. Constâncio, bispo da Igreja
Portucalense, de fé ortodoxa ariana, que vinha a governar desde o ano 569.
Suceder-lhe-ia, como resultado desse concílio, o bispo
Argiovitro que durante ele, tinha rejeitado o arianismo ortodoxo.
Já antes em 572 no II Concílio Bracarense, no qual
participou o bispo Viator, assinou as respectivas actas como bispo de Meinedo
“Viator Magnetensis Ecclesiae His Gestius Subscripisi”.
Magnetus é em latin Meinedo que é uma freguesia do Concelho
de Lousada muito antiga e a sua igreja Monumento Nacional.
In “portoarc blogspot” pode ler-se, um texto
interessante, sobre a Diocese de Meinedo:
"Durante a
ocupação da Península Ibérica pelos Suevos foi criado o primeiro Bispado de que
há memória na Diocese do Porto. Desse Bispado dá-nos notícias o II Concílio
Bracarense, ocorrido em 572. Este é, curiosamente, o ano em que também aparece
a menção daquele que, porventura, terá sido o primeiro bispo de Lamego:
Sardinário.
Na respectiva
acta, pode ler-se: "Viator, Magnetensis Eclesiae Episcopus, his gestis
subscripsi". Magneto é Meinedo, e o seu primeiro Bispo (residente) foi,
portanto, Viator.
Dada a sua
condição de Bispado, não se estranhe a existência de um Mosteiro em Meinedo.
Contudo, a Sé cedo seria transferida para o Porto com a chegada dos Godos à
Península...
Desde então e
ainda "hoje", nas actuais nomeações de bispos auxiliares de uma
determinada diocese, alguns deles, existindo vagatura, receberam (ou recebem) o
titulo de: Bispo Titular de Meinedo (ou de Magneto) e Auxiliar da Diocese de
... " In Meinedo blogspot
“Lista de bispos
de Magneto:
1. Basílio
2. Arisberto
(459)
Lista de bispos
titulares de Magneto (A actual sede titular foi restaurada em 1970):
1. Angelo Frosi,
S.X. (2 de Fevereiro de 1970 - 26 de Maio de 1978, depois bispo de Abaetetuba)
2. Armido
Gasparini, M.C.C.I. (15 de Março de 1979 - 21 de Outubro de 2004)
3. António
Francisco dos Santos (21 de Dezembro de 2004 - 21 de Setembro de 2006, nomeado
bispo de Aveiro)
4. Léon Kalenga
Badikebele (desde 1 de Março de 2008)” In Wikipédia
Como se verifica o actual Bispo do Porto, D.
António Francisco, foi Bispo Titular de Meinedo de 2004 a 2006”.
No século VIII, os muçulmanos conquistaram o Porto,
arrasando a primitiva Sé Catedral e mudando-se os bispos titulares para Oviedo
e outras dioceses do Norte da Península Ibérica. Mais tarde, reconquistada a
cidade para as armas cristãs, a Sé episcopal seria reconstruída com a presúria
de Vímara Peres, em 868. Após um período em que se declarou "sede
vacante", foram encarregados do governo da diocese uma série de
cónegos-arcediagos, sendo o bispo francês D. Hugo nomeado em 1114.
Em 1120, o bispo do Porto D. Hugo, homem oriundo de
Compostela impulsionou a construção de uma catedral românica recebendo
avultadas doações de D. Teresa e, posteriormente, de D. Mafalda (respetivamente
mãe e mulher de D. Afonso Henriques) procede à reedificação da nova Catedral ao
longo do século XII. Situada no topo do morro de Pena Ventosa, a catedral
românica portuense iria sofrer diversas metamorfoses ao longo dos séculos,
devido ao aumento populacional, ao seu estado de ruína ou ainda ao gosto
estético de cada época.
A primeira fase de recuperação foi iniciada nos meados do
século XII, contemplou a primitiva capela- mor, de acentuada influência
francesa, por ser em forma de abside, com três capelas radiais dedicadas a S.
Jerónimo, ao Divino Salvador e a Santa Margarida.
O projecto previa um corpo amplo de três naves, transepto,
cabeceira tripartida e um deambulatório de capelas radiantes, à maneira das
catedrais de peregrinação do Ocidente europeu.
Numa segunda fase, construiu-se o restante do corpo da
igreja que, exteriormente, tinha o aspeto de uma igreja-fortaleza, a que não
faltavam, sequer, as ameias, como ainda hoje se pode facilmente constatar.
Por razões ainda desconhecidas, o estaleiro abrandou o ritmo
de laboração pelos meados do século e só foi reanimado pelo bispo D. Fernando
Martins (1176-1185), que recrutou mão-de-obra em Coimbra, onde se incluía o
arquitecto Soeiro Anes. Terá sido ele a concluir a catedral, em particular o
seu portal românico (de que restam alguns vestígios), embora as obras tenham
entrado pelo século XIII, como se comprova pela rosácea já gótica, da
frontaria.
Nos anos do Gótico, a Sé foi ampliada com alguns espaços
hoje emblemáticos e que provam a vitalidade do burgo portuense, das suas
classes dirigentes e membros mais destacados da sociedade. O claustro data de
finais do século XIV, mandado erguer pelo bispo D. João, homem fiel à nova
dinastia de Avis. O produto final, de clara qualidade plástica fruto do tempo
em que foi levantado, segue a tipologia comum dos claustros góticos
portugueses, com vãos geminados sobrepujados por um óculo e ladeados por
contrafortes, como encontramos nas Sés de Lisboa e de Évora ou no Mosteiro de
Alcobaça. O segundo andar do claustro foi objecto de um revestimento azulejar
no século XVIII, da responsabilidade de António Vital Rifarto, que concebeu um
programa típico do ciclo dos Grandes Mestres, com cenas alusivas ao Cântico dos
Cânticos e dos Salmos. Igualmente gótica é a capela funerária privada de João
Gordo - que aqui se sepultou num túmulo com jacente - espaço que constitui o
"equivalente ideológico" à Capela de Bartolomeu Joanes na Sé de Lisboa.
Trata-se de uma obra do século XIV, lavrada em pedra de
Ançã, que muito poucos portuenses conhecem. A sua localização é fácil: para
quem estiver no amplo Terreiro da Sé, de frente para a catedral, a capela de S.
João Evangelista fica no interior do ângulo sul da Casa do Cabido, local que,
do exterior, pode ser facilmente identificado com a localização de uma estreita
fresta por onde se insinua no interior a luz do sol.
Actualmente, o acesso à capela faz-se através do claustro
gótico, cuja construção se iniciou em 1385, por iniciativa do bispo D. João
III. A arca tumular, bastante maltratada pelas iras do tempo e pelo desleixo
dos homens, assenta sobre o dorso de quatro leões. Na pedra que cobre o
sarcófago estende-se a estátua jacente de um guerreiro que veste o hábito e o
manto dos cavaleiros de Malta, cuja cruz é visível à altura do peito, do lado
esquerdo. Esta figura do guerreiro é, sem sombra de dúvida, das mais belas
expressões plásticas de estátuas jacentes do rico património tumular existente
na cidade. Nas três faces visíveis da arca sepulcral, esculpidas em alto-relevo
estão representadas cenas ligadas à vida de Cristo e de Maria. Assim, na face
principal, podemos apreciar a Última Ceia; na testeira inferior, o Calvário; e
na cabeceira a Coroação da Virgem Maria.
“Durante muitos anos a
capela de S. João Evangelista foi erradamente designada por Capela de S.
Martinho e do túmulo lá colocado dizia-se que guardava os restos mortais de um
tal Martins Mendes, cónego e Mestre Escola da Sé. Ouve, inclusive, quem tivesse
chegado a admitir que fora aquela capela que servira de primeira sede à Santa
Casa da Misericórdia do Porto, logo após a sua fundação em 1499.
Quem repôs a verdade
dos factos foi o dr. Artur de Magalhães Basto quando, nos meados dos anos
trinta do século passado andava no arquivo da Santa Casa à procura de elementos
que o iriam ajudar a escrever a "História da Santa Casa da Misericórdia e
descobriu que a capela que serviu de primeira sede à Santa Casa da Misericórdia
foi a capela de Santiago que ficava num espaço conhecido pelo Claustro Velho.
Segundo informa aquele ilustre investigador, a capela de Santiago tinha a porta
principal voltada para aquele claustro.
Quanto a João Gordo, o
mesmo historiador informa-nos de que viveu, efectivamente, no Porto, um
individuo de nome João Gordo que foi almoxarife do rei D. Dinis, "cargo
que abandonou quando era já vedro (velho) e fraco", vindo a morrer de
avançada idade no dia 10 de Dezembro de 1333.
É por demais evidente
que se trata do mesmo João Gordo, cavaleiro de Malta, que foi sepultado no
artístico sarcófago existente na capela de S. João Evangelista. Acontece ainda
que no século XVI eram ainda os descendentes de João Gordo que pagavam a um
capelão para dizer a missa no altar de S. João”.
Fonte: Germano Silva In JN
Vista aérea
Na foto anterior pode ver-se em 1, o claustro gótico e com o
algarismo 2 o claustro velho.
A actual capela-mor data dos inícios do século XVII, por
iniciativa do bispo D. Gonçalo de Morais e, é um espaço com cobertura em abóbada
de berço com caixotões, onde o mármore aparece como material decorativo mais
nobre. No século XVIII, o cabido encomendou o retábulo-mor (1727-1729) a Santos
Pacheco, que concebeu, então, uma obra inovadora, recorrendo à capacidade do
entalhador lisboeta Miguel Francisco da Silva. O espaço das naves mantém ainda
a sua fisionomia original românica, com apontamentos artísticos de épocas mais
recentes, como no caso da pia baptismal renascentista, ou os dois púlpitos de
mármore do século XVII.
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