D. João de Almada e
Melo (Troviscoso, Monção, 15 de Agosto de 1703 - Porto, 30 de Outubro de 1786),
senhor de Souto d' El-Rei, foi o grande obreiro da expansão urbana da cidade do
Porto no século XVIII e o principal responsável pela organização do espaço a
que hoje em dia designamos por Baixa do Porto.
Nascido no Alto
Minho, no seio de uma família com grandes tradições na carreira de armas, João
de Almada e Melo não fugiu à regra tendo assentado praça aos 15 anos em Viana
do Castelo. Em 1735 ascendeu ao posto de capitão, sendo destacado para
Portalegre. Passou ainda pelas praças de Monção e Elvas até que, em 1745, foi
promovido a coronel e colocado à frente do regimento de Cascais.
Contava já 49 anos
de idade quando contraiu matrimónio com Ana Joaquina de Lencastre na Quinta do
Paço, em Valadares, Vila Nova de Gaia. Deste casamento nasceriam dois filhos,
António José de Almada e Melo e Francisco de Almada e Mendonça.
Aquando do Terramoto
de 1755, como a guarnição militar da Corte foi desbaratada, coube ao regimento
de Cascais garantir a guarda ao rei D. José I, o que acabou por favorecer a
ascensão de Almada. Para além do grau de parentesco já existente com o Marquês
de Pombal, João de Almada conquistou também a sua confiança pessoal.
Deste modo, quando
em 23 de Fevereiro de 1757 eclodiu, no Porto, um motim popular contra a
Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, João de Almada e Melo
surgiu imediatamente como o homem indicado para pôr cobro à situação. Por
decreto de 27 de Fevereiro, Almada passou a ocupar o importante lugar de
Governador de Armas do Porto, cidade que já conhecia relativamente bem e, onde
vivia sua mãe.
Tendo controlado
rapidamente a situação com pulso de ferro, João de Almada acabou por permanecer
no Porto até ao fim da vida, empenhando-se, “de alma e coração” durante quase
três décadas, no engrandecimento da cidade. Soube, também, rodear-se de bons
conselheiros, como o cônsul britânico, John Whitehead.
Estava-se no ano de
1761, altura em que foi elaborado o projecto de modernização da zona norte da
cidade, exterior às medievais Muralhas Fernandinas. Desta iniciativa haveria de
surgir a actual Praça da Liberdade e um novo eixo de ligação à velha estrada de
Braga, que hoje perpetua a sua memória, a Rua do Almada.
A exposição ao rei
das dificuldades sentidas para concretizar as reformas urbanísticas
projectadas, levou o monarca a criar a Junta das Obras Públicas, em 1762,
estendendo ao Porto as medidas de excepção criadas para a reconstrução de
Lisboa após o terramoto. A Junta foi financiada localmente pela imposição de um
novo imposto lançado sobre o comércio do vinho: um real por cada quartilho
(meio litro) de vinho.
O poder de João de
Almada e Melo veio aumentar consideravelmente ao ser provido, em 1764, ao
importante cargo civil de Governador da Justiça e Relação do Porto.
Todavia, a sua vocação para o serviço da causa pública
ficará já bem patente quando ainda era apenas Governador de Armas, ao promover
o estudo para o Bairro dos Laranjais,
“para milhor comodidade, e furmuzura desta cidade”.
A acção da Junta das
Obras Públicas foi de transcendente importância, dado que, pela primeira vez,
se elaborou um plano estratégico para a cidade, definindo-se os grandes eixos
de escoamento de tráfego e respectivas ligações transversais, reformando-se as
calçadas e os aquedutos, fazendo o ordenamento da marginal do rio,
construindo-se fontes e mercados, implantando-se grandes edifícios públicos,
enfim, criando-se um novo modelo arquitectónico e um conjunto de normas para o
licenciamento das construções particulares.
Ficou célebre a sessão da Junta de 30 de Agosto de 1784, em
cuja acta são descritos os principais empreendimentos em curso. Ela constituiu
uma síntese das grandes linhas de orientação seguidas pelo Governador João de
Almada e, de alguma maneira, será o seu testamento político para a Cidade que
ajudara a recriar.
João de Almada e Melo morreu dois anos depois, a 30 de
Outubro de 1786, sendo levado a sepultar na Capela da Senhora da Rosa, na
Matriz de Monção.
No período entre 1758
e 1786, João de Almada e Melo conseguiu transformar a cidade, colocando o Porto
às portas da modernidade. Procedeu à abertura, prolongamento, rectificação ou
grande melhoramento, entre outros, dos seguintes arruamentos e logradouros:
Rua de Cedofeita;
Rua de Santa
Catarina;
Rua de S. João;
Rua Direita (hoje
Rua de Santo Ildefonso);
Praça da Ribeira;
Praça de São Roque,
demolida mais tarde, aquando da construção da Rua de Mouzinho da Silveira;
Rua Nova das Hortas
(troço inicial da Rua do Almada).
Por sua iniciativa
foram construídos grandes edifícios públicos, entre os quais:
Hospital de Santo
António;
Casa da Feitoria
Inglesa;
Real Academia da
Marinha e do Comércio (hoje edifício da Reitoria da Universidade do Porto).
Francisco de Almada
e Mendonça (Lisboa, 30 de Fevereiro de 1757 — Porto, 18 de Agosto de 1804) foi
juiz desembargador, corregedor e provedor da comarca do Porto, responsável por
importantes obras públicas em finais do século XVIII e inícios do XIX na cidade
do Porto e na Póvoa de Varzim.
Filho de João de
Almada e Melo e de Ana Joaquina de Lencastre e Moscoso nasceu na freguesia de
Santa Maria dos Olivais, em Lisboa. Doutorou-se em Leis na Universidade de
Coimbra, foi Comendador da Ordem de Cristo, Primeiro Senhor Donatário de Ponte
da Barca e Primeiro Alcaide-mor de Marialva e Fidalgo da Casa Real. Na comarca
do Porto foi Provedor, Corregedor, Presidente do Cofre, intendente da Marinha,
Presidente da Junta Administrativa da Fazenda, das Saboarias e do Tabaco,
Conservador no Juízo das Encomendas e do Sal, Avaliador das Obras Literárias
Produzidas, assim como nos Processos Policiais, Contrabando e Moeda. Foi
igualmente Juiz Geral das Coutadas do Reino e Inspector das obras Públicas do
Norte.
Realizou importantes
obras públicas no Porto, entre as quais se destacam:
Abertura da Rua do
Almada;
Construção do
quartel do Campo de Santo Ovídio (na actual Praça da República);
Abertura do Largo da
Arca d’Água;
Construção do Teatro
de S. João;
Construção das
estradas de ligação à Foz do Douro, a Matosinhos, Leça da Palmeira, Guimarães e
Braga;
Construção da Ponte
das Barcas;
Reparação e
pavimentação da maior parte das ruas da cidade;
Demolição de
diversos tramos das Muralhas Fernandinas e respectivas torres;
Reparação da Cadeia
da Relação.
Foi ainda responsável
por solicitar a Carlos Amarante a apresentação de um projecto para construção de
uma ponte em pedra a ligar a Serra do Pilar, em Vila Nova de Gaia, à Porta do
Sol, no Porto, que não foi realizada. Elevou ainda Paredes à categoria de vila,
mandando construir os seus Paços do Concelho.
Foi casado com
Antónia Madalena de Quadros Sousa e Sá — 12.ª senhora de Tavarede, senhora das
Lezírias de Buarcos — de quem teve dois filhos: Ana Felícia de Almada Quadros e
Lencastre, que casou com Tomás da Cunha Manuel Henriques de Melo e Castro; e
João de Almada Quadros Sousa e Lencastre, 1.º conde de Tavarede, que casou com
Maria Emília da Fonseca Pinto Albuquerque Araújo e Meneses.
Morreu pobre em 1804
no Porto, sendo sepultado na Igreja da Misericórdia. Em 1839 foi trasladado
para o Cemitério do Prado do Repouso a expensas da Câmara Municipal do Porto,
tendo-lhe sido erguido um mausoléu com um busto de Soares dos Reis.
É muitas vezes confundido
com o seu pai, João de Almada.
Sem comentários:
Enviar um comentário