sexta-feira, 21 de outubro de 2016

(Continuação 1)



“José Marques da Silva nasceu no n.º 113 da Rua de Costa Cabral, no Porto, a 18 de outubro de 1869. Iniciou a sua formação como arquitecto na Academia Portuense de Belas-Artes, onde foi aluno, entre outros, de António Geraldes da Silva Sardinha, Marques de Oliveira e Soares dos Reis. Em 1889 partiu para Paris com o objectivo de ingressar na École Nationale et Spéciale des Beaux-Arts, cidade onde permaneceu até obter o grau de Arquitecto Diplomado pelo Governo Francês, em 10 de Dezembro de 1896.
Durante a sua estada em Paris, Marques da Silva desenvolveu a maior parte dos seus trabalhos académicos, que resultam em desenhos de arquitectura notáveis, num atelier livre externo à escola, sob orientação de Victor Laloux. Este atelier era então frequentado por uma comunidade internacional de estudantes de arquitectura, onde se destacam nomes como Charles Lemaresquier, futuro sucessor de Victor Laloux, Paul Norman, que viria a ganhar o Grand Prix de 1891, Charles Butler, o primeiro diplomado americano do atelier, em 1897, ou mesmo o do seu conterrâneo Miguel Ventura Terra. Deste período, a Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva possui um singular conjunto documental composto por 67 desenhos de arquitectura, que constitui um importante e esclarecedor registo das práticas arquitectónicas finisseculares (que diz respeito ao fim do século) no seio das Belas Artes.
Marques da Silva regressou a Portugal em 1896 para iniciar uma intensa actividade profissional que rapidamente lhe granjeou o reconhecimento público. Na Exposição Universal de Paris de 1900 obtém a medalha de prata e na Exposição do Rio de Janeiro de 1908 foi premiado com a medalha de ouro. Em 1908 é agraciado com o Grau Oficial da Ordem de S. Tiago de Mérito Científico, Literário e Artístico. Com projectos como a Estação de S. Bento (1896), o Teatro Nacional de S. João (1910), o Edifício das Quatro Estações (1905), os Liceus Alexandre Herculano (1914) e Rodrigues de Freitas (1919), os Armazéns Nascimento (1914), a Casa de Serralves (1925-1943) ou o Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (1909), moldou a fisionomia da cidade do Porto, mas a sua actuação também se estendeu a outra regiões do norte do país, em particular a Guimarães, cidade para a qual viria a projectar vários edifícios emblemáticos tais como a sede da Sociedade Martins Sarmento, o Mercado Municipal ou o Santuário da Penha. A sua obra, num momento de mudança das práticas construtivas, aliou aos valores da tradição beauxartiana as componentes da razão, traduzindo-se em projectos funcionais e adaptados às mecânicas da vida moderna e na defesa de um modo muito próprio de entender a construção da cidade.
A actividade docente de Marques da Silva iniciou-se em 1900, na qualidade de Professor de Desenho e Modelação no Instituto Industrial e Comercial do Porto. Em 1906 é nomeado professor de arquitectura na Academia Portuense de Belas-Artes, vindo a ocupar posteriormente o lugar de director da então já designada Escola de Belas-Artes do Porto (1913-1914; 1918-1939). Será ainda director e professor da Escola de Arte Aplicada Soares dos Reis (1914-1930).
O desenho, como instrumento central da prática do projecto e base de transmissão de processos metodológicos estáveis, mas capazes de reagir às múltiplas solicitações da sociedade, foi o motor do seu ensino. Esta estratégia garantiu-lhe a estima de várias gerações de arquitectos modernos que, partindo da base académica sedimentada por Marques da Silva, souberam reinventar a prática da arquitectura portuense.
Entre os muitos para os quais o seu exemplo foi determinante, pode destacar-se, Rogério de Azevedo.
Marques da Silva faleceu em 6 de Junho de 1947, na sua residência à Praça Marquês de Pombal, no Porto. Nas suas múltiplas frentes de actuação, este académico de mérito das Academias de Belas-Artes de Lisboa e Porto, membro do Conselho Superior da Sociedade de Belas-Artes, sócio n.º 1 da Sociedade dos Arquitectos do Norte, deixou um legado duradouro na cultura arquitectónica portuense, na paisagem da cidade, na cultura de projecto dos arquitectos, nas práticas de ensino, numa certa forma de fazer e pensar a arquitectura que se foi consolidando no Porto ao longo do século XX.
O espólio de Marques da Silva foi legado à Universidade do Porto por Maria José Marques da Silva (1914-1994) e David Moreira da Silva (1909-2002), sua filha e genro, também arquitectos, para criação do Instituto Marques da Silva. Em 1996, a Universidade funda o Instituto Arquitecto José Marques da Silva e em Julho de 2009 é reconhecida a decisão de transformação do instituto em Fundação Instituto Arquitecto José Marques da Silva (FIMS), uma fundação de direito privado que tem como missão a promoção científica, cultural, formativa e artística do património arquitectónico do arquitecto José Marques da Silva, inserido no contexto do seu tempo e aberto à cultura moderna de que foi precursor. A Fundação, sedeada na própria Casa-Atelier do arquitecto e no contíguo palacete da família Lopes Martins, e ocupando ainda um pavilhão existente no seu extenso jardim, acolhe igualmente o acervo literário, artístico, arquitectónico e urbanístico dos arquitectos Maria José Marques da Silva Martins e David Moreira da Silva. A FIMS articula as vertentes de conservação, valorização e tratamento da informação com a investigação e divulgação, estando disponível para acolher ou incorporar outros fundos ou unidades documentais de valor patrimonial, histórico, científico, artístico ou documental relativos, preferencialmente ligados à arquitectura e ao urbanismo portuense e português.
Em Maio de 2011, a Sociedade de Transportes Colectivos do Porto, em conjunto com a Fundação Marques da Silva, homenageou este autor, ao providenciar informação aos passageiros da Linha 22 dos Eléctricos do Porto sobre os vários edifícios projectados por Marques da Silva, pelos quais esta linha passa.

Lista de obras realizadas

Templo de São Torcato (1895), em Guimarães
Estação de S. Bento (1896-1916), na Praça de Almeida Garrett, no Porto
Bairro operário "O Comércio do Porto" (1899-1905), na Rua da Constituição/ Rua de Serpa Pinto, ao Monte Pedral, no Porto
Casa Augusto Leite da Silva Guimarães (1899), na Rua Latino Coelho/ Rua de Gil Vicente, no Porto
Mausoléu Clemente A. M. Lobo (1900), Cemitério de Agramonte, no Porto
Edifício da Sociedade Martins Sarmento (1903-1908), em Guimarães
Duas Casas David Soares da Silva Moreira (1904), na Rua D. João IV/ Rua de Fernandes Tomás
Edifício das Quatro Estações (1905), na Rua das Carmelitas, no Porto


Edifício 4 Estações na Rua das Carmelitas

Edifício das Obras Públicas (1905), em Braga
Casa Atelier Marques da Silva, na Praça do Marquês de Pombal, no Porto,  edifício projetado pelo próprio em 1909 e que viria a habitar entre 1914 e 1943.


Casa Atelier na Praça Marquês do Pombal - Fonte: Google Maps


Monumento aos Heróis da Guerra Peninsular (1909), na Praça de Mouzinho de Albuquerque, no Porto (Rotunda da Boavista)
Teatro Nacional S. João (1910-1920), na Praça da Batalha, no Porto
Edifício dos Grandes Armazéns Nascimento inaugurado em 1927, hoje Galerias Palladium, na esquina da Rua de Santa Catarina com Passos Manuel, no Porto

Galerias Palladium na Rua de Santa Catarina

Liceu Alexandre Herculano (1914-1931), na Avenida de Camilo, no Porto
Palacete Conselheiro Pedro Araújo (1917), também conhecido como Palacete Primo Madeira na Rua do Campo Alegre, no Porto
Palácio do Conde Vizela (1917-1923), na Rua das Carmelitas/ Rua do Conde de Vizela/ Rua de Cândido dos Reis, no Porto

Palácio do Conde de Vizela no gaveto das ruas Conde de Vizela, Carmelitas e Cândido dos Reis


Edifício da Companhia de Seguros "A Nacional" (1919-1924), na Avenida dos Aliados, no Porto
Liceu Rodrigues de Freitas (1918-1932), na Praça de Pedro Nunes, no Porto
Edifício António Enes Baganha (1919), na Rua do Rosário nº 127, no Porto
Jazigo de José Lopes Martins (1921), Cemitério da Lapa, no Porto
Jazigo de Ramiro Magalhães (1922), Cemitério de Agramonte, no Porto
Edifício Joaquim Emílio Pinto Leite (1922), na Avenida dos Aliados, no Porto

Edifício António Enes Baganha


Edifício Joaquim Pinto Leite na Avenida dos Aliados




Edifício “ A Nacional” na Avenida dos Aliados


Edifício do Jornal de Notícias (1925), na Avenida dos Aliados, no Porto
Edifício de Rendimento (1925-1928), na Rua de Alexandre Braga, no Porto


Edifício na Rua Alexandre Braga – Ed. MAC


Assinatura de Marques da Silva na entrada do prédio da Rua Alexandre Braga – Ed. MAC



Casa e Jardins de Serralves (1925-1943), na Rua de Serralves, no Porto
Moradia Joaquim Gouveia Allen (1927), na Rua de António Cardoso, no Porto
Mercado Municipal (1927-1947), Guimarães
Santuário da Penha (1930-1947), em Guimarães
Quinta do Mata-Sete (1935), Jardins de Serralves, na Rua de D. João de Castro, no Porto
Edifício na Rua Barjona de Freitas (1940), Barcelos”
Fontes: sigarra.up.pt; pt.wikipedia.org; cct.portodigital.pt

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