“A primeira metade do
século XX portuense caracteriza-se por um acentuado crescimento demográfico
acompanhado pelo alastrar de uma urbanização generalizada que progressivamente
se foi subordinando às novas exigências do trânsito motorizado e às crescentes
preocupações com o planeamento urbanístico concretizadas em numerosas e
variadas propostas de planos. Ficaram mais conhecidos o "Plano
Regulador" de Antão de Almeida Garrett (1952), o "Plano
Director" de Robert Auzelle (1962) e, na última década do século, o
"Plano Director Municipal" de 1993.
Nas primeiras décadas
do século XX a implantação industrial e o êxodo dos campos continuaram a ser
factores decisivos do crescimento da cidade. A conclusão da Avenida da Boavista
por volta de 1915 (iniciada em meados do século XIX) — uma longa artéria de 5
km de extensão e 40 m de largura cortada pela ampla Rotunda da Boavista —
representou uma nova direcção de expansão do crescimento da cidade para
ocidente em direcção ao mar e aproximou-a do Porto de Leixões, inaugurado em
1895. Na Baixa, a abertura da Avenida dos Aliados, em 1916, implicou a
demolição do edifício dos antigos Paços do Concelho e o desaparecimento do
bairro do Laranjal e desencadeou a transferência da banca e das empresas
seguradoras do antigo centro São Domingos- Rua do Infante para a zona da Praça
Nova, que se tornou também polo financeiro. Mais tarde, a partir de 1957, com a
transferência da Câmara Municipal do Paço Episcopal, onde funcionava desde
1916, para o actual edifício, esta área passou a ser centro do poder local”.
Fonte: mensagens-invictacidade.blogspot
Rua dos Clérigos em 1906
Na foto acima, o eléctrico em 1906 faz o percurso
ascendente, pois o trânsito ainda se fazia pela esquerda. Só em 1928 se começou a circular pela
direita.
Na arquitectura do início do século XX salientam-se grandes
edifícios dispersos pela Baixa, representativos da influência do estilo francês
que inspirou os projectos do arquitecto Marques da Silva, formado na escola de
Paris. São exemplos a Estação de São Bento, o quarteirão das Carmelitas, o
Teatro de S. João e várias fachadas de edifícios da Avenida dos Aliados.
Marginal do rio Douro em 1930
Na foto acima vê-se a marginal do rio Douro com a ponte
Maria Pia ao fundo.
No pós-guerra o urbanismo sofreu a influência dos princípios
decorrentes da "Carta de Atenas" publicada em 1941, cujas orientações
apontavam para a divisão das cidades em espaços exclusivos para as quatro
funções básicas — habitar, trabalhar, lazer, circular — e para uma tipologia de
construção em que dominava o bloco de andares isolado com amplos espaços à
volta. Esta concepção opunha-se ao conceito tradicional de cidade, onde as
diferentes funções se misturavam e a rua, tal como a praça, representava o
elemento básico organizador do espaço urbano.
Surgem novos e grandes equipamentos como a zona industrial
de Ramalde, a Ponte da Arrábida (inaugurada em 1963), a via rápida de ligação a
Leixões, o aeroporto de Pedras Rubras.
Aeroporto de Pedras Rubras
Infra- estruturas de circulação mais recentes como a Via de
Cintura Interna - VCI, as novas pontes de S. João (ferroviária -1991) e do
Freixo (rodoviária - 1995) vêm condicionar e determinar outras áreas de
expansão da cidade do Porto e dos seus subúrbios.
A partir dos anos 1950 verificou-se a disseminação de
bairros sociais pela periferia de feição rural, que ainda ocupava largas
extensões do interior da cidade. Aparecem então bairros como os de Fernão de
Magalhães, Pasteleira, Ramalde, Francos, e muitos outros surgirão depois. Estes
novos tipos de urbanizações vêm instalar-se predominantemente nas freguesias
até então de dominante rural como Campanhã, Paranhos, Lordelo do Ouro, Aldoar e
Ramalde.
Na segunda metade do século XX a proliferação generalizada dos
blocos de cimento armado alterou profundamente o perfil da cidade tradicional,
até então dominada pela proeminência das torres sineiras e das construções de
granito. Sobretudo após os anos 1960/70 as implantações dominantes são prédios
em altura, muitas vezes numa escala desproporcionada em relação à envolvente.
Também depois dos anos 1970 a acelerada evolução do sector terciário contribuiu
para o aparecimento de novos centros como o da Rotunda da Boavista que atraiu
sedes de empresas e bancos.
Nas últimas décadas do século XX acentuou-se na cidade do
Porto e nomeadamente, no seu centro antigo, a perda de população, sobretudo da
população jovem. As novas urbanizações invadiram os arrabaldes da cidade onde
se formaram subúrbios que se estendem muito para além dos limites
administrativos desta. A mancha urbana tornou-se polinucleada e a vaga de
expansão, cada vez mais tentacular e periférica, deu origem a um crescimento
anárquico que os planos não têm tido capacidade de disciplinar.
Condicionada aos limites do rio Douro, do oceano Atlântico e
da estrada da Circunvalação, a cidade do Porto — cujo território, de uns meros
42 km², coincide exactamente com o do respectivo concelho —, passou a
posicionar-se como cabeça de uma extensa e dinâmica Grande Área Metropolitana
do Porto, com cerca de 1.760.000 habitantes, polarizadora de toda a Região
Norte do país e com potencialidades de atracção e irradiação por todo o
Noroeste Peninsular.
Metro do Porto
Casa da Música.
Remise da Boavista agora a Casa da Música
Estação de Recolha dos STCP. Local onde se levantaria a Casa
da Música
“Os primeiros anos do
novo século foram pródigos em grandes investimentos em obras públicas, nem
sempre geridos da melhor forma e, quase sempre, envoltos em controvérsia.
Logo em 2001, o Porto,
em conjunto com Roterdão, foi Capital Europeia da Cultura. O programa cultural
gizado pela Porto 2001, a sociedade criada para gerir o evento, foi acompanhado
por um forte investimento na recuperação do espaço público — Jardim da
Cordoaria, Praça da Batalha, Praça de D. João I— e em novas construções —
Edifício Transparente e Casa da Música. Algumas das intervenções não foram
concluídas a tempo, outras sofreram grandes atrasos na sua execução e
derrapagens orçamentais, e quase todas foram controversas.
Investimento
estrutural para o Grande Porto foi o Metro do Porto, aberto em 2002 e que foi
sendo aumentado nos anos subsequentes. Contou com a adesão imediata dos
portuenses que o viram como uma infra- estrutura da máxima importância, que só
pecava por tardia. Igualmente válida parece ter sido a modernização e o
alargamento do Aeroporto Francisco Sá Carneiro — responsável por um significativo
aumento de turistas estrangeiros na cidade —, bem como a construção de uma
miríade de vias rápidas e auto- estradas — nomeadamente a Via de Cintura
Interna, só integralmente concluída em 2007 — que foram desencravando o
trânsito do Grande Porto, propiciando a fixação das pessoas mais longe do seu
local de trabalho, incentivando o uso do transporte individual e o fácil acesso
aos shoppings que foram proliferando.
Integrado na
organização do Campeonato Europeu de Futebol de 2004, em Portugal, a cidade
recebeu vários encontros, nomeadamente o jogo inaugural. Para este evento foram
efectuados grandes investimentos, nomeadamente a completa remodelação e
ampliação do Estádio do Bessa e a construção do novo e sofisticado Estádio do
Dragão, projecto da autoria de Manuel Salgado, que veio substituir o já
ultrapassado Estádio das Antas. Nova celeuma em torno da pertinência destes
investimentos e da alegada promiscuidade entre o poder autárquico e o mundo do
futebol que acabou por propiciar a ascensão de Rui Rio à presidência do
município.
A tendência de
desertificação da Baixa, que já se fazia sentir nas últimas duas décadas do
século XX, acentuou-se. À diminuição da população, seguiu-se o encerramento dos
estabelecimentos comerciais e a decadência do edificado no centro da cidade. Em
fins de 2004 foi criada a Porto Vivo - Sociedade de Reabilitação Urbana, com a
espinhosa missão de inverter esta situação.
Para além de perder
gente para os concelhos periféricos, o Porto, tem perdido também grande parte
do protagonismo político e económico que tinha amealhado ao longo da sua
história, em favor de Lisboa. Vê escaparem-se-lhe bancos, empresas e cérebros,
vive crises de identidade e questiona-se sobre o seu lugar no país e na Europa…”
Fonte: historiadacidadedoporto.blogspot
Planta do centro da cidade
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