quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

(Continuação 18) - Actualização em 15/11/2017, 11/04/2019 e 07/10/2020


A Freguesia do Bonfim foi criada por decreto de Costa Cabral, de 15 de Dezembro de 1841, em terras das vizinhas Santo Ildefonso, Campanhã e Sé. Foi declarada paróquia em 8 de Janeiro de 1842, pelo Bispo D. Jerónimo José da Costa Rebelo sendo a única freguesia do Porto criada por razões políticas.
Quem pretender estudar a toponímia da freguesia do Bonfim tropeça, forçosamente, em quatro antiquíssimas quintas, a de Sacais, a do Prado, a da Fraga e a do Reimão. Com excepção da segunda, que deu lugar ao actual Cemitério do Prado do Repouso, as outras quatro enormes propriedades foram todas urbanizadas.
A Quinta de Sacais é uma das muitas quintas que rodeavam o Porto antigo. Hoje, a sua propriedade imensa está urbanizada e imersa na Baixa portuense.
Com o rei D. Sebastião, partiu para África D. Ayres da Silva. Este prelado levou um amigo, proprietário desta quinta que ocupava o sítio chamado Campo da Oliveira. Aconteceu que o dono da quinta foi feito prisioneiro. E quando se soube da sua detenção, a propriedade passou a chamar-se Quinta do Cativo
A partir de 1788, a Quinta do Cativo aparece dividida, pela estrada que levava a Campanhã: uma, a sul, com uma bela residência, de Nicolau Francisco Guimarães Captivo, Cavaleiro da Ordem de Cristo, e outra a norte, do seu irmão António José Guimarães Captivo.
 
 

Localização das quintas (identificadas por 1 e 2) de Nicolau e António José Captivo, em planta da autoria de Teodoro de Sousa Maldonado, de 1799, já separadas pela estrada para Campanhã



 

Localização das quintas de Nicolau e António José Captivo em planta (1802) da autoria de Luís Inácio de Barros Lima, com o traçado do novo alinhamento para a rua entre a Capela do Senhor do Padrão e aquelas quintas
 
 
 
A primeira quinta, atrás referida, possuía uma moradia, de traça senhorial, dotada de uma capela anexa, setecentista, adossada à fachada e dedicada a Santa Quitéria. Uma inscrição gravada no lintel do portal principal da capela existe uma inscrição que indica que “ESTA CAPELA MANDOU FAZER O CAPITÃO MATHIAS ALVES RIBEIRO ANNO 1724”.
A casa da quinta localizava-se onde, hoje, está o Museu Militar e os terrenos da quinta confinavam, a poente, com a Quinta do Prado (cemitério do Prado do Repouso).



Palacete (Museu Militar) e, à direita, a capela


O prédio da foto acima onde está o actual Museu Militar, foi edificado para residência no fim do século XIX, tendo depois albergado uma comunidade de religiosas, mas, em 1936, já lá estava instalada a PVDE depois PIDE. 
A outra quinta, mais a norte, por terrenos onde, nos dias de hoje, passa a Rua António Granjo, ficou a ser conhecida como a Quinta de Sacais.
Segundo o Padre Agostinho Rebelo da Costa, na sua obra “A Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto”, a propriedade já é referida como Quinta de Sacais, do seguinte modo:

 
“(…) sita no campo da Oliveira, e de que é senhor Nicolau Francisco Guimarães, Cavaleiro professo da Ordem de Cristo; tem a sua Casa de Campo magnífica e proporcionada ao grande pátio interior, sobre que forma três fachadas, com janelas de cristalinas vidraças e portas correspondentes umas às outras; uma asseada capela, dedicada a Santa Bárbara, medeia entre as duas fronteiras que faceiam, uma com a Quinta do Prado, outra com a rua pública ou entrada principal da cidade, em que pega a quinta de António José Guimarães, Cavaleiro professo na Ordem de Cristo, irmão do sobredito, e que em tudo lhe é igual, ou seja na situação e grandeza, ou na bondade e mimo dos seus frutos.”
No entanto, a referida quinta, mais a sul de Sacais, pertencente a António José Guimarães (…)”. 
 
 
Sobre o texto anterior, alguns estudiosos dizem que a capela seria da evocação de S. Domingos.
Mas, mais importante é o facto de que, ou Agostinho Rebelo da Costa trocou a identidade dos dois irmãos de apelido Captivo ou a troca foi do arquitecto da cidade, Luís Inácio Barros Lima, como se pode observar em planta atrás mostrada.
Em 1848, a Quinta de Sacais já tinha outro proprietário, de seu nome Manuel José de Sousa Araújo, que morreu no ano de 1869, passando o imóvel a um indivíduo chamado Brandão. 


"A Quinta de Sacais de Nicolau Francisco Guimarães, em 13.04.1837 estava na posse de D. Margarida Guimarães Ribeiro. No seu testamento estabelece como principal testamenteiro, seu filho José Maria Ribeiro Pereira. Este não cumpre a partilha devidamente e é contestado publicamente, no Periódico dos Pobres, por seu meio irmão Boaventura José Vaz Murta (filho do 2º casamento de sua Mãe). Em 1848 José Maria é executado por processo litigioso com sua sobrinha de Braga e a Quinta de Sacais é arrematada por Manuel José de Sousa Araújo pelo valor de 10.951$ 000 ". 
Fonte: Leitor não identificado, In blogue “portoarc.blogspot.pt”


Os terrenos desta quinta, juntamente com os da vizinha quinta do Cirne, acabariam na posse do capitalista Ferreira Cardoso que os usou, em grande parte, no plano de urbanização da zona, aprovado em 1883. 
O restante da propriedade e da casa de Sacais acabaria, em 1913, nas mãos do banqueiro Francisco Borges que, em 1915, cede os terrenos para abertura da Avenida Camilo. 
Na quinta de Sacais, chegou a estar o Paço Episcopal, tendo ali vivido D. António Barroso os seus últimos anos de vida, existindo  ainda, como memória dele, uma ampla residência com um amplo jardim, com frente voltada para a Rua de António Granjo.
D. António Barroso (Remelhe, Barcelos, 5 de Novembro de 1854 - Porto, 31 de Agosto de 1918) foi missionário em África, bispo de São Tomé de Meliapor (India) e bispo do Porto, a partir de 1899. 
A foto seguinte é de 2 de Agosto de 1899, obtida aquando da chegada de D. António Barroso à cidade do Porto, pelas 16,30 horas, com milhares de pessoas a ocorrerem a aclamá-lo, para além das autoridades. Paramentou-se na igreja de Santo Ildefonso e aí recebeu as boas-vindas da cidade, por Lima Júnior. Sob o pálio, acompanhado do reverendo Fernandes, pároco de Meliapor, índio de cor bronzeada, fez um percurso apoteótico até à Sé, onde chegou pelas 18,30 horas.


 

Recepção, em Campanhã, a D. António Barroso, em 1899



Em 1911, na sequência da implantação da República, quando foi dada a conhecer a «Pastoral do Episcopado Português», em que se afirma desacordo com alguma Legislação do Governo, reaviva-se a luta anticlerical.
D. António Barroso é preso e exilado, voltando, apenas, em 1914.
Em 1917, exilar-se-á novamente, por curto período e, regressando ainda no mesmo ano, à sua diocese, aí virá a falecer, nove meses mais tarde.
No dia 28 de Agosto de 1918, é anunciado que o estado de saúde de D. António Barroso era muito grave, revelando os seus médicos assistentes, Dr. Gomes da Costa e Dr. Tito Fontes, já não haver quaisquer esperanças de o salvar. O falecimento acaba por ocorrer a 30 de Agosto.
No dia 31 de Agosto, o cadáver de D. António Barroso é exposto na Sala do Trono do Paço de Sacais.
Entretanto, começava a circular o rumor de que o seu sucessor seria D. António Barbosa Leão, bispo do Algarve.

 

Monumento a D. António Barroso, em Barcelos



Memorial dedicado a D. António Barroso, no Largo Primeiro de Dezembro, no Porto, na comemoração do 1º centenário da sua chegada à cidade



Palacete de Sacais – Fonte: Google maps


Vista lateral da casa da Quinta de Sacais, no início do século XX



“Em 24 de Março de 1914 uma comissão de senhoras gradas do Porto assinou um contracto de arrendamento do palacete e quinta de Sacais para a instalação do Paço Episcopal e residência de D. António Barroso, tomando o compromisso do pagamento da renda e outras despesas. Este palacete pertencia, ao tempo, aos irmãos António e Francisco Borges, fundadores do portuense Banco Borges & Irmão, nacionalizado em 1975 e comprado pelo BPI em 1989. D. António Barroso ocupou-o até à sua morte em 31 de Agosto de 1918.
Seu sucessor, D. António Barbosa Leão, aí residiu desde a sua entrada solene, em 8 de Setembro de 1919, até ao final desse ano quando o Paço Episcopal passou para a casa dos Terenas ou Monfalim, a erradamente chamada da Torre da Marca, onde se manteve até 1964.
Em 1914 os irmãos Borges cederam à C.M.P. 17.000 metros quadrados da sua Quinta de Sacais para a abertura da Avenida Camilo.
Em 1915 a Câmara decidiu chamar de Camilo, não à Rua de Santa Catarina como estava previsto, mas a esta avenida”. 
Fonte: “portoarc.blogspot.pt”


Ainda a propósito da Quinta de Sacais, o historiador portuense Germano Silva escreve que:

 “…estas difíceis condições, levaram a que o Dr. Ângelo de Sousa Vaz, deputado pelo Porto na legislatura das Constituintes de 1911, levasse a aprovar no Parlamento, em 1912, o projecto de lei que autorizava o empréstimo de 150.000$00 para a construção de um edifício próprio para o Liceu de Alexandre Herculano (Lei de 18 de Abril de 1912)… Em Julho de 1912 foi assinada a escritura de compra de 25.794 m2 de terreno, na Quinta de Sacais, pelo preço de 20.635$20 (a $70 cada metro quadrado).” 



O novo liceu de Alexandre Herculano abriu as portas no ano lectivo de 1921/22, em novas instalações parcialmente acabadas.
A propósito da Quinta do Prado importa dizer que D. Frei Marcos de Lisboa mandou, em Novembro de 1585, construir um local de recreio na Quinta do Prado, pertencente à Mitra. No séc. XVIII esta foi melhorada pelo Bispo D. Tomaz de Almeida.
D. João de Magalhães e Avelar, durante o primeiro quartel do séc. XIX, cedeu uma parte do terreno ao Seminário Episcopal. 
Sobre esta quinta dizia O Tripeiro, Série VI, Ano XII, página 105: 


“A Quinta do Prado pertencia aos bispos portuenses, que aí possuíam a sua faustosa residência para descanso e recreio durante a época estival. Eis o motivo de ser conhecida, também, por Quinta do Bispo…Por Lei de 5 de Março de 1838, foi concedido à C.M.P. na quinta do bispo o terreno indispensável à construção de um cemitério público – o do Prado do Repouso – devendo a mesma câmara, por tal concessão, indemnizar a Mitra. Assim, no dia 13 de Outubro do dito ano de 1838 a Câmara tomou posse do respectivo terreno, que sendo vastíssimo, era apenas uma parcela da enorme propriedade dos Bispos Portuenses. A parte sobrante da Quinta do Prado, a que se desdobrava, socalcada, até á margem direita do Rio Douro, foi posta em arrematação pública em 13 de Maio de 1867 e adquirida pelo opulento comerciante no Brasil, José Joaquim Leite Guimarães, Barão de Nova Sintra (Cintra na grafia da época). Por falecimento deste, foi a propriedade novamente vendida em 1871 em almoeda (venda em hasta pública). Adquiriu-a o banqueiro José Inácio Ferreira Roriz, com o intuito de ali montar – como de facto montou – a dois passos do rio, um imóvel para duas fábricas: uma de sabão; outra de moagem. Entretanto o banqueiro Roriz, que possuía a sua casa bancária na Rua das Flores, nºs. 1 e 3, falia estrondosamente em 1876…"


Nos finais do século XIX havia uma viela que ligava a antiga estrada do Bonfim, agora rua, com o Largo da Quinta do Prado, actual Largo de Soares dos Reis. Esse velho e tortuoso caminho rural viria a ser, posteriormente, substituído  pela Rua de Ferreira Cardoso. 
Por sua vez a Quinta da Fraga, que em 1805 ainda pertencia à família do sargento-mor Alexandre José da Costa, deve ter começado a ser retalhada, em quarteirões, nos finais daquele ano. Ao longo dessa propriedade, que era enorme, rasgou-se, por exemplo, a Rua de S. Vítor, cujo nome foi buscar à capela desta invocação que, por alturas do Cerco do Porto, andava a ser construída na Quinta do Prado, então ainda propriedade do bispo do Porto que ali tinha a sua casa de campo ou de recreio. 



Capela de S. Vítor à esquerda em desenho de J. Villanova em 1833



No desenho anterior pode observar-se, o estado de ruína do Seminário, após o cerco do Porto.




Quinta do Reimão (mais tarde, Quinta do Campo do Cirne) e Casa do Poço das Patas ou Palacete do Cirne



“…Em tempos muito recuados houve por ali uma vasta propriedade chamada do Vale Formoso. Quanto aos terrenos que vieram a constituir a vastíssima Quinta do Reimão, todos eles eram pertença da cidade e, como tal foram emprazados a Pedro Anes e Gonçalo Reimão, seu filho.
A seguir, por sucessão, entraram para a posse de Diogo Azevedo e de sua mulher D. Catarina Reimoa, respectivamente, genro e filha de Gonçalo Reimão.
No ano de 1548, estes proprietários resolveram vender as terras a António de Madureira e a sua esposa D. Maria Fernandes das Póvoas, aos quais a Câmara renovou o prazo (fateusim ou enfiteuse, ou seja, dado em aforamento perpétuo) pelo foro anual de 180 réis, com direito absoluto à água da Arca do Poço das Patas e à do ribeiro de Mijavelhas, não só para regadio, como para accionamento dos seus moinhos.
Este António de Madureira, que fora provedor da Santa Casa em 1554-1555 e vereador da cidade em 1535,1538 e 1550, com a compra deste lote de terrenos e com outros, que antes por ali perto antes possuía, formou a denominada Quinta do Reimão, mais tarde, mais conhecida, por Quinta dos Cirnes.
No vínculo, sucedeu-lhe seu filho primogénito Diogo de Madureira (o Novo), senhor da Torre de Atães, casado com D. Helena Miranda Soares, sem geração.
Como não houvesse outro parentesco em linha recta, passou a Quinta do Reimão a D. Maria de Madureira, sua filha bastarda (legitimada), que a houve de Catarina Faria, com fama de mourisca.
Faleceu D. Maria Madureira, antes de 1629, e era casada com Pero Vaz de Sousa Cirne.
Por via do casamento de D.Maria de Madureira com Pero Vaz de Sousa Cirne, efectuado nos primórdios do século XVII, transitou a Quinta do Reimão do ramo dos «Madureiras» para o dos «Cirnes», pelo que, mais tarde, vulgarizou-se com o nome de Quinta do Cirne ou dos Cirnes, designação que se manteve inalterável, até aos nossos tempos.
Deste casamento, sucedeu na Quinta do Reimão, um filho do casal, António de Sousa Cirne, passando deste, por herança, a diversos herdeiros até ao fidalgo, José de Sousa Cirne ou José Cirne de Sousa, como também era conhecido, que a possuía na última vintena do século XVIII (1787).
Um dos descendentes dessa família, Francisco de Sousa Cirne de Madureira, no ano de 1812, mandou construir num dos limites das suas terras, com frente para o Poço das Patas, um palacete de risco simples, constituído por um andar com seis janelas e mais uma sacada (no centro), flanqueada por sóbrias pilastras e que por ficar instalado em terreno alagadiço foi assente sobre estacas. No frontão, de certo aparato, figurava a pedra de armas dos Cirnes e ficou conhecida por Casa do Poço das Patas ou Palacete dos Cirnes.
Este Francisco de Sousa Cirne de Madureira era fidalgo da Casa Real, Senhor de Gominhães, do Morgadio do Freixo e da Quinta do Reimão, membro da Junta Provisional do Reino, provedor da Real Companhia dos Vinhos do Alto Douro e foi casado, com D. Rita Soares de Albergaria de Lemos e Roxas (faleceu em 1814).
Sucedeu-lhe seu filho secundegénito, Francisco de Diogo de Sousa Cirne de Madureira Alcoforado, (nascido em 1801), também fidalgo da Casa Real e Cavaleiro da Ordem de Cristo, casado com D. Maria Isabel de Bourbon; e, por morte deste, seu neto Francisco de Sousa Cirne de Madureira casado com D. Ana Maria Teixeira de Azevedo Cabral Canavarro, de cujo matrimónio houve, pelo menos três filhos: António, Maria Ana e José.
O primeiro, António de Azevedo Cabral de Sousa Cirne de Madureira, foi casado com D. Maria José de Almada Guedes Infante, herdeira da Quinta do Reimão.
A segunda, Maria Ana Isabel de Sousa Cirne Teixeira, casou em primeiras núpcias com José António Palha Blanco; e, em segundas núpcias, com o Dr. Joaquim Bernardo Santos. Foi também herdeira da Quinta do Reimão.
O último, José de Sousa Cirne de Madureira Azevedo Canavarro (1865-1931), foi casado com D. Carlota José de Mendoça, herdeira da Quinta do Freixo (Morgado de Guilhabreu em Vila do Conde)”.
Fontes - Horácio Marçal; Site: geneall.net


O casal acima referido, constituído por Francisco Diogo Sousa Cirne de Madureira Alcoforado e Maria Isabel de Bourbon da Silva Guedes, teve uma filha, Maria da Purificação Cirne de Madureira que casou com Manuel Carvalho Teixeira de Menezes Rebelo, nascido em 1830, e oriundo da casa do Poço, em Lamego, que após a morte do seu sogro vai ser o inventariante e cabeça de casal da herança.
Em 1882, Joaquim Domingos Ferreira Cardoso, grande proprietário e abastado capitalista, em sociedade com o negociante Eduardo Ferreira Pinheiro, compraram por 95 contos de reis, como então se dizia, a Casa e a Quinta do Reimão à  família Cirne, então representada por Maria Ana Isabel de Sousa Cirne Teixeira Blanco e seu irmão António de Azevedo Cabral Teixeira Cirne, bisnetos do fundador da casa do Poço das Patas. Entre 1878 e 1884 o edifício serviu de instalações ao Liceu Central do Porto.
Por aquelas terras, depois de deliberação da Câmara em 1883 foi decidido fazer passar os novos arruamentos: Rua Ferreira Cardoso, Conde Ferreira, Joaquim António de Aguiar, Duque Palmela, Duque Saldanha e Barão de S. Cosme.
Em 1890, a casa é comprada por 20 contos de reis pela Junta Paroquial do Bonfim, a que sucederia, mais tarde, a Junta de Freguesia do Bonfim.



Palacete do Cirne, em 1916


Em 1923, a Junta de Freguesia do Bonfim prestaria uma homenagem aos soldados da freguesia mortos em combate, durante 1ª Grande Guerra, com a exposição, no seu átrio de entrada, de um escudo metálico, alusivo ao acontecimento e, em 1925, com o descerramento de uma placa memorial, em mármore, com o nome dos soldados da freguesia, que tombaram naquele conflito e que, ainda hoje, pode ser apreciada aposta na sua fachada, à entrada.



Palacete actualmente


Sujeito o palacete a obras pela Junta de Freguesia na década de 1930, foi-lhe aumentado um piso, como se observa nas fotos anteriores. 

“Santos Pousada foi consultado sobre as modificações necessárias à adaptação do Palácio dos Cirnes, já que ele tinha sido adquirido pela Junta de Freguesia do Bonfim para aí se instalar, bem como as escolas primárias. Foi convidado António dos Santos Pousada, que depois de um estudo exaustivo redigiu o seu parecer num documento datado de 1888”.
In Almanaque Republicano; Fonte: ruasdoporto.blogspot.pt


Hoje funciona no antigo palacete do Cirne, e desde há algumas largas décadas, a Junta de Freguesia do Bonfim e ainda escolas do ensino básico.
No século passado funcionaram nas suas instalações duas escolas primárias, perfeitamente separadas.
Uma masculina (que frequentamos durante 4 anos) com entrada pela fachada principal do prédio e uma outra feminina com entrada lateral, virada para a Avenida Camilo.




Recreio da Escola Masculina da Junta de freguesia do Bonfim em 1958


Na foto acima o prédio que se vê para lá do muro, eram as instalações da secção feminina da Escola Primária e aquele muro dividia os dois recreios.
O brasão de armas dos Cirnes, influente e importante família portuense, um dos quais chegou a ser nosso Feitor na Flandres, figuravam no cimo da fachada principal da casa. Foi picado em 1890 e substituído por um simples adorno gravado no granito.
O nome desta paróquia (Senhor do Bonfim e da Boa- Morte) deve ter tido origem no facto de existir perto deste local uma forca onde eram supliciados os condenados por crime de roubo.
Sobre a existência por estas bandas der uma forca, o Dr. Artur de Magalhães Bastos refere-se a uma forca que existiu na Meijoeira, que foi sucessivamente Quebrantões e São Nicolau, passando em 1678 a serra do Pilar. Esta forca terá sido retirada em 1538 para a construção do mosteiro e depois, em Mijavelhas, hoje Campo 24 de Agosto, existiu a forca municipal até 1714.
A Santa Casa da Misericórdia do Porto, que tinha por missão enterrar os executados na forca, pediu à câmara para a desmontar, pois ficava muito longe do cemitério dos condenados, no Campo das Malvas, local onde está a Igreja e Torre dos Clérigos. Por vezes, quando havia mau tempo, os corpos ficavam alguns dias até serem sepultados.
Como já se viu as execuções passariam depois para a Ribeira e para o Campo do Olival.
A artéria que ligava a igreja da paróquia à Praça das Flores era a Rua da Prata. Nas imediações a Travessa das Eirinhas era a Travessa da Rua da Prata.




Demolições c.1960 na zona das Eirinhas - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal



Igreja do Bonfim

Em 1740, teve início o caminho da via-sacra no alto do Monte Godim, no caminho da estrada do Bonfim, que sempre constituiu importante eixo de saída da cidade para Valongo e Trás- os- Montes.
Por iniciativa do Frei Manuel Oliveira, franciscano, no alto daquele monte colocaram uma simples cruz de madeira com a designação de Bonfim e Boa Morte.
Exposta ao tempo e aos temporais, a cruz ia-se degradando, o que levou os moradores, em 1743, a solicitarem autorização para construírem no mesmo lugar, uma capela. A sua construção com as esmolas angariadas, no cabeço dessa elevação, foi autorizada, o que se prolongou por vários anos, tendo sido terminada por Maria Pinta que custeou todas as despesas e colocou protegido no interior uma imagem do Senhor do Bonfim e Santa Maria Madalena.
Tudo indica que durante anos, a referida ermida, não passaria de um telheiro, pois, em 1758, nas Memórias Paroquiais de Campanhã, ainda não era feita qualquer referência a uma capela de Senhor do Bonfim e a Confraria do Senhor do Bonfim e da Boa Morte só seria criada em 1760. Naquela data, aquele documento dizia, a propósito.


“Tem esta freguesia de Campanhã duas ermidas ou capelas cuja administração pertence ao páraco dela, por estarem dentro dos seus limites. Uma destas ermidas, chamada de S. Roque, está situada junto da estrada pública que vai da cidade para Trás-os- Montes…
E a outra capela ou ermida tem por orago o Príncipe dos Apóstolos São Pedro…Tem mais esta freguesia outras muitas capelas de pessoas particulares, a saber, a capela de S. Tomás na quinta do Prado…as duas capelas que estão na quinta da China, uma de Nossa Senhora da Vide, outra de Nossa Senhora da Graça… A capela de S. João Baptista que está na quinta do Freixo…A capela de Santo António que está na quinta de Pedro António da Cunha Osório, nas margens do rio Douro; a capela de Nossa Senhora da Conceição na quinta da Revolta; a de Santo André no Casal da Bessada; a de Nossa Senhora do Pilar no Casal de Furamontes; a de Santo António no Casal de Contumil; a de Nossa Senhora da Estrela no Casal de Salgueiros; a de Nossa Senhora dos Anjos no Casal de Vila Meã; a do Senhor do Bom Sucesso no Casal do Reimão e finalmente a capela de Santa Bárbara na fazenda de Sacais.”


Aquele telheiro, fruto de constantes melhoramentos, foi-se tornando uma verdadeira ermida, que se viria a tornar exígua, com o passar dos anos,  face ao acréscimo de movimento de fiéis e, assim, em 1779 depois de muita esmola e donativos recolhidos, foi decidido construir um novo templo mais amplo e, em 1780, já havia capela-mor e respectivo altar.
As obras duraram até 1791. Era uma capela com uma só torre sineira.
Em virtude da entrega das relíquias da mártir cristã, a romana Santa Clara, dádiva feita ao pintor beneditino José Teixeira Barreto (1782-1810), na época a estudar em Roma, as mesmas foram transportadas de barco para Portugal, em 1798, tendo sido depositadas, inicialmente, na Igreja de Nossa Senhora do Terço e Caridade do Porto e, mais tarde, trasladadas solenemente para a Igreja do Bonfim, no primeiro Domingo de Setembro de 1803.
 

 
 

Relíquias de Santa Clara, na igreja do Bonfim
 
 
 
Entre 1805 e 1813, seria, então, levantada a monumental escadaria.
Esta capela começou, também, a tornar-se incapaz de acolher todos os crentes, daquela que era uma das freguesias mais industrializadas da cidade. Por esse motivo, foi demolida em 1874, dando lugar à actual igreja, consagrada a Santa Clara e ao Senhor do Bonfim.
Assim, neste templo passam a ocorrer, no primeiro Domingo de Setembro, as festas em honra de Santa Clara e, na Segunda-Feira seguinte, em honra de Santa Ana.
Em 1894, os trabalhos estariam completamente concluídos, se bem que, apenas, com uma torre a sul.
O projecto foi de José Luís Nogueira Júnior e António Sardinha.
 
 
 
“O senhor José Luiz Nogueira, arquitecto da Câmara, é o encarregado de levantar a planta para a nova igreja e já deu princípio a este trabalho, que deve ficar pronto por toda esta semana.”
In jornal “O Comércio do Porto”, de 31 de Maio de 1871 – 4ª Feira
 
 
 
Em Janeiro de 1873, o jornal “O Comércio do Porto” continuava a noticiar os desenvolvimentos inerentes à construção da nova igreja do Bonfim.
 
 
 


 

“Começou ontem a abertura dos alicerces para a nova paroquial do Bonfim”.
In jornal “O Comércio do Porto”, de 04 de Março de 1873 – 3ª Feira



“Foi luzidíssima a festividade que ante-ontem se realizou na paroquial do Bonfim.
A transladação do Santíssimo e da imagem do padroeiro para o novo templo verificou-se com solenidade.
O templo acha-se ainda incompleto, mas pode já avaliar-se, pela parte construída, que virá a rivalizar com os melhores desta cidade. O altar-mor é de um primor admirável.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro, de 22 de Agosto de 1882 – 3ª Feira



Em Junho de 1899, a irmandade do Senhor do Bonfim e da Boa- Morte arrematou por 601 réis o órgão da igreja das freiras de S. Bento da Ave-Maria, datado de 1817, e construído por Frei Domingos Varela, um organista e organeiro notável. Era natural de Guimarães, e faleceu pouco antes do ano de 1839.


Orgão de tubos da paroquial do Bonfim


Em 1902, inicia-se a construção da segunda torre a norte, a cargo de Oliveira Torres. 




Igreja do Bonfim em pintura de António Carneiro de 1902



Na pintura acima está em construção uma torre sineira.
No cemitério, a norte da igreja, há dois cruzeiros de granito, ali colocados em 1869. Um deles é talvez do séc. XV e representa o Senhor da Consolação. Provém da Ramadinha, junto ao Jardim de S. Lázaro. O outro parece seiscentista e tem a particularidade do Crucificado estar com os pés afastados e não sobrepostos.
Esteve na Rua do Poço das Patas, no ponto em que principiava a via- sacra (a partir de 1740) que concluía na cruz (de madeira) do Bonfim.



A Capela do Bonfim em 1833 em desenho de J. Villanova




Desenho de Nogueira da Silva em 1862



Capela do Senhor do Bonfim e da Boa- Morte




Antiga Capela do Bonfim com uma torre sineira




Igreja do Bonfim em 1905 - Ed. Alberto Ferreira-Batalha-Porto




Na foto acima pode-se observar já a nova igreja com as duas torres sineiras, mas a situada à esquerda, começada em 1902, ainda não está dotada com os sinos e parece ainda não existir o troço da Rua de Barros Lima desde o Bonfim até à Avenida de Fernão de Magalhães (à data Rua de Montebelo).
Por sua vez o troço (que se desenvolveria à direita) unindo as estradas de Valongo e Campanhã, entre o local apresentado e a actual Rua do Heroísmo, datava de 1845.
Na foto é possível apreciar parcialmente, um carro eléctrico.




Festa de Santa Clara, em 1916 – Cliché de António Magalhães




 
Desde sempre, o morro onde está implantada a igreja foi uma preocupação.
A primeira intervenção que pretendeu estabilizar o morro onde se situava a primitiva capela do Bonfim aconteceu em 1820.
A obra, muito dispendiosa para a confraria, decorreria durante quatro anos, ficando concluída em 1824.
Com algumas anomalias na sua construção, a muralha de contenção de terras aguentou, porém, até ter sido instalada, nesse local, uma bateria de artilharia, durante o cerco do Porto imposto pelas tropas de D. Miguel em 1832/33.
Em 1834, a muralha, devido ao choque dos projectéis, desabou.
Em 1852, a confraria resolveu fazer as reparações que se impunham para restabelecer a normalidade anterior, no que à muralha dizia respeito, mas desistiria do seu intento, já que, a Câmara do Porto solicitada a ajudar na angariação dos fundos necessários, não se mostrou disposta a colaborar.
Em 1879, a Administração do Bairro Oriental intimou a confraria a proceder ao levantamento do muro. Respondeu a confraria dizendo que a derrocada e a ruína do mesmo, não era responsabilidade sua, e não tinha disponibilidades financeiras para acudir a tal empreitada. Aceite a reclamação tudo ficou inalterado.
Em 1907, as autoridades fizeram nova investida, mas a resposta da Mesa da confraria foi a habitual.
Finalmente, na década de 1940, reuniram-se as condições e a reclamada obra avançou.

 
 

No início de década de 1940, começa a ser, finalmente, levantado um muro de suporte para estabilização das terras do morro onde a igreja está implantada



Capela de Santo Antoninho da Estrada




Actual Igreja do Bonfim




À frente da palmeira está a Capela do Santo Antoninho da Estrada. Lá atrás a igreja do Bonfim



O espaço ajardinado à entrada da escadaria de acesso à igreja é a Alameda de Cláudio Carneiro, mas já foi Alameda do Bonfim.
Sobre a Capela do Santo Antoninho da Estrada segue texto da autoria da Junta de freguesia:

“A capela de Santo Antoninho do Bonfim (vulgo da Estrada) foi construída no princípio do século XIX, por um tal João Lopes da Silva Ferraz no extremo da Rua do Godim, do lado direito, perto já da Rua do Bonfim que ao tempo se chamava Rua da Prata. Situava-se quase em frente a um fontanário, de que resta o pilar que servia para pousar as vasilhas para enchimento de água. Este fontanário dava pelo nome de Fonte da Rua da Prata.
A 27 de fevereiro de 1828, este senhor João Lopes da Silva Ferraz, doou a um tal António Domingos dos Santos a imagem que ainda se encontra na Capela, na atual localização.
A 14 de setembro de 1836 este António Domingos dos Santos doou a imagem à Irmandade do SS. Sacramento e do Senhor do Bonfim e Boa- Morte.
Diante da imagem os viajantes que se dirigiam para Valongo, Amarante, Vila Real, pediam ao Santo proteção contra os assaltos.
Com o tempo a capela e o seu espaço envolvente foi-se degradando, e tornou-se em mictório, defecatório e sabe-se lá mais no quê. O seu estado chegou a um ponto que levou a Câmara a demolir a capela. Isto em 20 de março de 1924.
Quando os bonfinenses souberam da intenção da Câmara um grupo deles dirigiu-se à edilidade e pediu que em vez da demolição a transferisse para o local onde agora se encontra. A Câmara aceitou o pedido e transferiu-a a 13 de junho desse ano.
Em 1925 naquele dia, 13 de Junho, fez-se a primeira festa em honra do Santo. Festa de arromba, pois que até teve duas bandas de música a tocar em despique. No ano seguinte voltou a fazer-se a festa, e era com ela que se dava início às” Festas da Cidade”, ou dos “Santos Populares”.
 Obs. Nesta designação de santos populares, por tradição só se incluem o Santo António, o São João e o São Pedro. Mas convém não esquecer que o São Gonçalo, por ser o “casamenteiro das velhas” e o São Martinho por ser “o santo mais santo da corte celeste”, também são santos populares.
Depois de 1926 deixou de se fazer a festa em honra do Santo Antoninho do Bonfim. Em 1986 por iniciativa do Rancho Folclórico do Porto e o patrocínio da Junta de Freguesia do Bonfim voltou a ser feita, e por mais dezasseis anos.
Em 2003 por desistência de patrocínio da Junta de Freguesia do Bonfim a festa voltou a ser interrompida.
Em 2014 por iniciativa da Junta de Freguesia do Bonfim e promoção do Rancho Folclórico do Porto voltou a festa em honra do santo. Desejamos que não volte a haver interrupções para glória do santo e honra dos bonfinenses.”



9.9 Freguesia de Nevogilde



Nevogilde é uma freguesia do Porto que, pela Lei n.º 11-A/2013 de 28 de janeiro, foi integrada na União das Freguesias de Aldoar, Foz do Douro e Nevogilde.
A freguesia existe desde 1895, precisamente desde de quando foi terminada a Estrada da Circunvalação.
Nevogilde será um nome de origem gótica ou germânica.
Será segundo Guido de Monterey - Nevogilde (Leovigildus, no genitivo Leovigildi, isto é, terra de Leovegildo).
O nome de Nevogilde tem origem, portanto, no nome de um possessor de uma vila medieval do sítio, Lovegilde, tendo sido sempre uma área essencialmente agrícola.
Em 1836, Nevogilde passou a pertencer ao Concelho de Bouças, que antes foi, Julgado de Bouças.
Durante a existência do Julgado de Bouças até 1832, era na actual Rua do Convento, em Bouças de Baixo, e no que restava do antigo Mosteiro de Bouças, que se orientava a organização judicial e administrativa do Julgado de Bouças.


“Após a publicação do Decreto de 6 de Novembro de 1836, Diário do Governo nº 283 de 29 de Novembro, o Julgado de Bouças, já então transformado em Concelho, ficou com as seguintes freguesias: Bouças de Matosinhos, Guifões, Leça da Palmeira, Nevogilde, Ramalde, que detinha do anterior, mais as do concelho de Leça do Balio, extinto pelo mesmo decreto: Aldoar, Custóias, Infesta, Leça do Balio, Santa Cruz do Bispo, Lavra, Perafita e ainda a de Paranhos retirada do concelho da Maia.
A cabeça deste concelho estava no sítio de Bouças, lugar da Senhora da Hora, que, por alvará de 27 de Setembro de 1839, passou a denominar-se de “Vila de Bouças”.
Cortesia de Guido de Monterey – Porto 1



A seguir se mostra a introdução da Inquirição de 1258, versando Nevogilde.


“Aqui começa a inquirição da vila a que chamam Nevogilde (“Lovygilldus”) e da colação da igreja do mesmo lugar. Dom Durando, páraco da referida igreja, ajuramentado e perguntado a quem pertence a igreja, disse que é do mosteiro de Santo Tirso e do mosteiro de Pombeiro e à apresentação dos mesmos, o bispo portuense colocou-o nela. Interrogado se tem daí a carta de apresentação e de confirmação, disse que não, porque não é uso na terra.”



Aquelas inquirições indicam que o território que hoje é Nevogilde se reduzia a alguns poucos casais: o Rei tinha 4 casais, dois deles povoados e dois despovoados; o mosteiro de Santo Tirso possuía 5 casais, sendo um despovoado; o mosteiro de Pombeiro dois casais, sendo um desabitado; a Ordem do Hospital dois casais, ambos desabitados; a igreja de Vermoim da Maia um casal desabitado e os mosteiros de S. João da Tarouca e de Macieira, dois casais cada um.
Através da doação de D. João I, em 1399, o primeiro alcaide-mor do Porto, João Rodrigues de Sá (o “Sá das Galés”) fica com o senhorio directo de prazos em Nevogilde, que foram passando para os seus descendentes. Estes casais ou quintas foram emprazadas e subemprazadas a famílias que as mantinham produtivas, germinando à sua volta aldeias e lugares. O lugar de Nevogilde cresceu junto ao Casal da Igreja, que no século XVIII foi sendo emprazado parcelarmente, originando a Quinta do Padrão, prazo que passou para os descendentes de Tomás Pereira Morais, que por casamento ficaram unidos aos Andrade Vilares e depois aos Lacerda Lobo.
No século XVIII, Nevogilde mantinha-se um pequeno povoado com 36 fogos e 136 almas.
Da existência de uma igreja primitiva apenas se tem a informação que seria noutro local, a pouca distância e talvez românica. A actual construção (barroca) foi obra impulsionada pelo abade Pedro de Barros Ribeiro e atribuída ao mestre Domingos da Costa. Foi construída entre 1729 e 1750 e sofreu uns acrescentos entre 1934 e 1935. Está classificada como monumento de interesse público.



Localização de Nevogilde em mapa do concelho do Porto


Edifício da antiga Junta de Freguesia de Nevogilde na Rua de Fez, 123


Antes, a Junta de Freguesia de Nevogilde tinha estado no Forte de S. Francisco Xavier, vulgo Castelo do Queijo, entre 1944 e 1949 tendo sido despejada para cedência ao núcleo da Armada da Guarda Fiscal, que aí se manteve até 25 de Abril de 1974.
Após sofrer obras de restauro a fortaleza foi colocada à disposição do núcleo do Norte da Associação de Comandos.


Interior do Castelo do Queijo – Ed. JPortojo



Bandeira da freguesia de Nevogilde



Freguesia de Nevogilde (Cena de lavoura); Postal de 1890 – Fonte “Gisaweb”



Nas Memórias Paroquiais de 1758, do relatório do abade Dr. Manuel Pereira da Silva, conclui-se que o território em causa está situado em “campina alta e produz como frutos principais, milho grande, trigo, centeio e feijão.”
A partir de 1895 passa Nevogilde a ser uma freguesia do concelho do Porto quando, até aí, tinha pertencido sucessivamente ao julgado de Bouças, referido nas inquirições de 1258, mandadas fazer por D. Afonso III e, depois, ao Concelho de Bouças.
Em 1833, tinha sido formado o concelho de Bouças e extinto aquele julgado, tendo Nevogilde passado a pertencer àquele concelho.
Com a sua integração no Porto, o cariz rural da freguesia começa a ter alguns tons de urbano.
Em 1860, a população da Foz era constituída praticamente por pescadores e marítimos.
Nos meses de Verão o aspecto era, um pouco, mais citadino e urbano.
Foram, sobretudo, “os ingleses que puseram a Foz na moda”, ao instalarem-se nos meses de Verão, nas suas casa de praia, na Foz e em Leça da Palmeira.
Nos finais de oitocentos do século XIX, assiste-se à expansão da Foz no sentido de Nevogilde e assiste-se mesmo à construção de casas permanentes por algumas famílias abastadas do Porto.
É o caso de Henrique Andresen e do banqueiro José Augusto Dias ou ainda, do engenheiro António Silva, projectista de muitos dos palacetes e chalets aí implantados, nomeadamente o seu, na Rua de Gondarém.
Nessa época as habitações eram de quatro tipos; umas mais modestas, próprias das classes trabalhadoras; as de duas águas que eram abertas, normalmente, só na época de veraneio; as das famílias abastadas; e por último, as mais tradicionais e antigas, assim como os seus proprietários rurais, situadas à volta da igreja ou nas imediações.



Casa de Praia – Ed. Damião Velloso Ferreira



Igreja de Nevogilde – Ed. Damião Velloso Ferreira


Casa da família Alão no Largo de Nevogilde – Ed. Damião Velloso Ferreira


Casas dos condes de Paçô-Vieira no Largo de Nevogilde – Ed. Damião Velloso Ferreira


Não há muito tempo, a feição urbana da freguesia situava-se, assim, em volta da igreja Paroquial, com uma fisionomia campestre, ocupando ainda a faixa marítima que se estendia pelas avenidas do Brasil e de Montevideu e por ruas paralelas àquelas como a de Gondarém, Marechal Saldanha, Dr. Sousa Rosa e Corte Real e as respectivas transversais como sejam a da Agra, do Crasto e do Molhe e ainda as da Índia, Pero Alenquer e Funchal.
Acrescenta-se umas pequenas aglomerações na Avenida da Boavista.
A feição rural estendia-se a Norte, desde os campos da Circunvalação, pelos campos do Vieira, passando pelos campos da Ervilha e terminando na Avenida Marechal Gomes da Costa.
A actividade económica estava ligada, principalmente, à exploração agrícola e a uma outra, piscatória, centrada no Porto de Carreiros.








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