Junta de Freguesia de Massarelos à direita na década de 40
do século XX
Na foto acima, na Rua do Campo Alegre, as casas em banda encostadas
ao edifício da Junta de Freguesia, faziam parte do Bairro Passos José (José da
Silva Passos, irmão de Passos Manuel).
Localização do Bairro Passos José na
planta de Telles Ferreira de 1892
Legenda da planta anterior mencionando os topónimos actuais
1. Rua rainha D. Estefânia
2. Rua do Campo Alegre
3. Rua prof. Abel Salazar
4. Junta de Freguesia de Lordelo do Ouro e Massarelos
5. Rua Arquitecto
Marques da Silva
Local actual da foto anterior na Rua do Campo Alegre - Fonte:
Google Maps
O processo para a
construção do edifício da Junta de Freguesia de Massarelos (concluído na década
de 1940) começaria em 1936, pela expropriação amigável a Amélia Adelaide Magalhães
Botelho, de uma pequena área de terreno.
Em termos
religiosos, sabe-se que o Curato de Massarelos esteve sob a jurisdição
da Colegiada de Cedofeita desde 1148, quando D. Afonso Henriques lho doou,
juntamente com o seu amplo Couto de Cedofeita.
O curato era um
pequeno território com um pastor permanente que tinha a obrigação de ministrar
os sacramentos aos fiéis.
A história diz-nos, também, com base nos documentos
existentes, que D. Afonso Henriques, nosso primeiro rei e sua mulher, a rainha
D. Mafalda, fizeram doação do Sítio de
Massarelos, no ano de 1186, ao prior e cónegos da colegiada de Cedofeita.
Em 1237, D. Nuno, prelado de Cedofeita, deu aos seus
foreiros a sua lei de bem viver.
«Para conhecimento de
quantos virem a presente carta de foral: Eu, Nuno Soares, prelado da Igreja de
S. Martinho de Cedofeita, e os cónegos da mesma igreja, damos e concedemos às
terras da Igreja de Cedofeita, a todos, quer pescadores, ou quaisquer homens,
que quiserem aqui edificar casas ou quintas dentro destes limites, a começar no
rio Douro no porto de Crastelo, e pelo caminho que vai por cima da casa de Lourenço
Boi e daí para a vinha de Marco Garcia, e toca em Carrazedelo, debaixo deste
foro: os pescadores que aí vierem habitar, de cada fogo pagarão anualmente um
soldo da moeda do Porto, e um sável de cada barco à Igreja de Cedofeita, quando
os caçarem por meio de Abril. Pagarão foro das primeiras lampreias e peixes
reais, como costumam pagar à mesma igreja, e cada um deles fará uma viagem no
rio Douro, sustentando-os a Igreja, e aqueles que não forem pescadores, de cada
fogo pagarão anualmente um capão e um soldo, pelo S. Miguel. Se nestas terras
habitar algum caseiro que tenha burro, que possa fazer caminho, fará com ele
dois caminhos por ano às mesmas terras da Igreja, que lhes dará sustento. Se
algum dos moradores cometer homicídio ou calúnia, a pagará pelo foro da cidade
do Porto, assim como portatido. (?) Se o meirinho do couto desta Igreja quiser
penhorar alguém, o penhore, segundo o foro da cidade do Porto. Se algum homem
de fora vier a este porto com barco, e ali ancorar, pagará três dinheiros ao meirinho
do couto, e se aí vender pescado, dará peixe do pescado que vender. Damos, e
concedemos, dentro dos limites marcados a todos os povoadores, e aos que lhes
sucederem, o que possuírem de juro perpétuo. Se alguém destes povoadores quiser
vender a sua herdade, a poderá vender ou doar a quem continuar com o mesmo
foro, sem que da venda resulte prejuízo para a Igreja. E se alguém, tanto da
Igreja como dos moradores, quiser quebrar este novo foral, pague em duplicado
ao queixoso todo o dano, e as benfeitorias, e além disso duzentos áureos. Nós,
acima dito, Nuno, prior de Cedofeita, e cónegos da mesma Igreja, mandamos
escrever esta carta na presença de testemunhas idóneas, e por nossas próprias mãos
roboramos; e para que o presente foral tenha força e valor, vai selado com o
selo do prior e convento. Feita esta carta no mês de Setembro de 1237.»
Fonte: mjfs.wordpress.com
Só em 1789,
Massarelos se torna freguesia do Porto dado que, anteriormente pertencia à Comarca
da Maia e só passou a paróquia em 1862.
Quanto ao nome de Massarelos, era já usado em 1258 por Dom
Vicente de Mazarelos, aparecendo o nome da terra escrito, em vários documentos,
de várias formas, sendo as mais usuais as de "Mazarelos", nas
inquirições de 1258; e de "Maçorelos", numa carta régia de 1325.
Por meados do século XVI, Massarelos já havia alcançado uma
certa importância em termos populacionais e económicos. Viviam-se os áureos
tempos da epopeia marítima. Era terra de mareantes, pilotos, calafates,
pescadores e carpinteiros navais, que ocupavam especialmente a zona ribeirinha
onde, ao longo da margem direita do rio Douro, abundavam pequenos ancoradouros,
estaleiros para reparação de navios, e onde ficavam as célebres salinas de Massarelos.
Na parte superior da povoação, separada da parte inferior
por um pequeno ribeiro cuja água fazia mover as mós de algumas azenhas, estava
instalada a gente mais ligada à terra, ou seja, pequenos lavradores, criadores
de gado e produtores de frutas e hortaliças.
Desde a Torre da Marca até ao vale de Massarelos ladeando
a Rua de Entre Quintas existiram várias propriedades.
Uma delas é a Quinta do Meio (correspondente, em parte, à
Quinta TAIT) que, com a da Macieirinha, pertencem ao município e, ainda, a
Quinta do Passadiço.
Casa Tait (Quinta do Meio) – Ed. localporto.com
Quinta do Passadiço do século XVIII
Passagem da obra "Descrição Topográfica e Histórica da cidade do Porto" de Agostinho Rebelo da Costa
Quintas adjacentes à Rua de Entre Quintas - Fonte: Planta de Telles Ferreira de 1892
Contígua à Torre da Marca no fim da Avenida das Tílias
(Palácio de Cristal) e sobranceira ao Douro, situava-se a Quinta dos Sete
Campos.
Dentro de Massarelos havia ainda a Quinta de Jesus, a Quinta
do Mastro e a Quinta Verde.
Porém, a mais importante situava-se junto ao rio e era
conhecida pela Quinta do Regueirinho ou Quinta e Palácio de Massarelos.
Esta propriedade pertenceu à Coroa até 1469, ano em que D.
Afonso V a doou a João Rodrigues de Sá, alcaide-mor da cidade do Porto, que
vivia em Cima de Vila, na casa que passou a ser conhecida por Paço da Marquesa
por nela ter vivido a última marquesa de Abrantes.
Essa Quinta do Regueirinho viria mais tarde a pertencer a
Joaquim Augusto Kopke Shewerim de Sousa, feito 1º barão de Massarelos por D.
Maria II. Este barão haveria de oferecer uma grande área para ser rasgada a
Avenida Basílio Teles.
No terreno onde hoje está o Museu dos STCP localizava-se o Palácio
do Barão de Massarelos e a quinta do Regueirinho.
Bem perto, mas a uma cota superior, encontrava-se uma excelente
vivenda, conhecida por Casa dos Arcos, que foi propriedade de António Joaquim
de Carvalho de Pinho e Sousa, onde, mais tarde, durante os anos da ditadura
funcionaram, a partir de 10 de Fevereiro de 1942, os Serviços Sociais da Legião
Portuguesa, sitas na Rua da Boa- Viagem (Rua do Capitão Eduardo Romero) e Rua
do Bicalho.
A Legião Portuguesa (LP) foi uma organização nacional, integrando uma milícia, que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal, sendo constituída em 1936, com o objectivo formal de "defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo".
Não raras vezes, as forças legionárias também são
ocasionalmente empregues na dispersão de manifestações não autorizadas e no fecho
de organizações tidas como subversivas, colaborando com a Polícia de Segurança
Pública e com a Guarda Nacional Republicana.
A Legião Portuguesa (LP) foi uma organização nacional, integrando uma milícia, que funcionou durante o período do Estado Novo em Portugal, sendo constituída em 1936, com o objectivo formal de "defender o património espiritual da Nação e combater a ameaça comunista e o anarquismo".
Folheto anunciando um almoço promovido em 1948, pela Legião
Portuguesa, nas suas instalações em Massarelos e ementa respectiva – Fonte:
GISA - CMP
Como se pode observar no folheto exibido ele foi dirigido ao Presidente da Comissão Concelhia da União Nacional, o representante no Porto do partido fascista que estava à frente dos destinos da nação portuguesa, à data.
O almoço em causa destinava-se a comemorar a inauguração dos Serviços Centrais da Assistência Social da Legião Portuguesa do Porto, em Massarelos, em cujas instalações funcionava também uma cantina, numa nave enorme no 1º andar, cujas refeições a preços económicos eram pagas.
No andar de baixo, comiam também, com qualidade, mas sem que pagassem a refeição, os mais pobres.
No interior do folheto referido, para lá da ementa, o regime propagandeava o número de refeições servidas em todo o País, pela Legião Portuguesa, ao longo dos anos, de acordo com tabela abaixo.
Tal como a PIDE-DGS, o outro braço repressivo do regime
fascista, com o qual colaborava na recolha de informações, a Legião Portuguesa
não deixou, em geral, saudades aos portugueses.
Cartaz de promoção de uma festa da Legião Portuguesa,
durante a Exposição Colonial realizada no Palácio de Cristal em 1934
Desfile de veículo da Legião Portuguesa pela Avenida dos
Aliados, em meados do século XX. De notar que o Palácio dos Correios ainda não
tinha sido construído
Castelo do Queijo. Em 1949, foi cedido ao Núcleo da
Brigada Naval da Legião Portuguesa do Porto que ali esteve instalado até ao 25
de Abril de 1974
Entrada para o antigo quartel da Legião Portuguesa, na Rua
Pedro Hispano, hoje a sede da “Associação dos Deficientes das Forças Armadas” –
Fonte: Google maps
Massarelos na planta de Telles Ferreira em 1892
Mais abaixo, já junto ao rio, ficava a célebre fundição de
Massarelos, entretanto desaparecida que era propriedade do barão.
No séc. XIII, onde agora passa a Alameda Basílio Teles
existiram umas salinas que ficaram célebres por causa das demandas a que deram
origem entre os cónegos da Colegiada de Cedofeita, a Coroa e o próprio Bispo do
Porto, porque todos se julgavam com direitos aos foros provenientes do comércio
do sal.
Ao longo dos séculos vários reis concederam à igreja de
Cedofeita e ao seu abade muitos privilégios, como, por exemplo, os concedidos
por D. Dinis, que permitiam aos cónegos da Colegiada a faculdade de "tirarem o sal que quisessem das salinas que
estão em Massarelos".
O privilégio referido, concedido por D. Dinis ao Couto de
Cedofeita deu azo a prolongado conflito com o bispo do Porto, que considerava
as salinas propriedade da Mitra.
As salinas de Massarelos foram, portanto, durante muitos
anos a fio, objecto de disputas e contendas em que andaram envolvidos,
primeiro, os cónegos de Cedofeita e o bispo do Porto; depois, este e o rei e,
por fim, o próprio rei e os cidadãos do Porto.
Anteriormente, D. Afonso Henriques, para além de ter doado
aos cónegos "as herdades confinantes
ou próximas da igreja", concedeu-lhes ainda, direitos sobre todas as
pescarias que se fizessem no Douro, na parte em que o rio corria junto ao
domínio da Colegiada.
D. Afonso IV, por seu lado, escreveu aos administradores de
Gaia dando-lhes instruções para que "não
embaraçassem os pescadores de Cedofeita e do logar de Massarelos o pescarem no
mar e no rio Douro" porque o faziam por conta do D. Abade de
Cedofeita.
A exportação de sal durante os séculos XIV e XV foi de
importância vital para o comércio da cidade.
Entre o fim da actual Rua do Ouro e o Viaduto do Cais das
Pedras, temos a Alameda Basílio Teles, antiga Alameda de Massarelos.
A Capela da
Nossa Senhora da Boa Viagem
Foi em tempos a matriz da freguesia de Massarelos e ficava
ao fundo da Rua do Gólgota diante de um largo ao cimo da antiga Calçada da Boa Viagem, no local onde funcionou uma escola do 1º ciclo de Massarelos.
A Calçada da Boa Viagem, que leva ao antigo local onde a
dita capela esteve implantada, principia na Rua do Bicalho e termina, na Rua
Capitão Eduardo Romero. O nome ficou nos restos da calçada ligada à Rua do
Gólgota até 1571 que separava Cedofeita de Massarelos.
Por sua vez a Rua do Bicalho, bem próxima, teve origem na
Calçada da Arrábida.
O topónimo Bicalho, terá nascido na Rua da Bica que existia
no registo paroquial em 1684 e será, possivelmente, ainda mais antigo.
“Na era de 1397 (Ano
de Cristo de 1359), mandou o rei D. Pedro I construir uma torre no Bicalho, e
outra da parte de Gaia para lançar de lado a lado uma forte cadeia de ferro que
impedisse a passagem de navios inimigos. Opuseram-se os de Gaia, dizendo que
para nada serviria semelhante medida. E nada se chegou a fazer. Bicalho foi
outrora sede de uma importante Indústria de fundição de ferro. Assim por
exemplo, em 1895 laborava aí a fábrica de António Fernandes de Oliveira,
existente já há vinte anos antes, em 1874, com outra de Eugénio Ferreira Pinto
Basto, segundo nos informa Pinho Leal, no seu prestante Portugal Antigo e
Moderno....”
In "Toponímia Portuense" de Andrea da Cunha e
Freitas
Local onde esteve a
capela da Boa viagem – Fonte: Google maps
Com as suas quintas, Massarelos nunca deixou de ser uma
terra ligada às actividades marítimas e fluviais e era nesse tempo, como já se
disse, um Curato (aldeias e povoados com as condições necessárias para se
tornarem uma paróquia) subordinado à Colegiada de Cedofeita.
As rendas provenientes dos Curatos pertencem aos Curas, que
é um Pastor permanente incumbido de governar os fiéis e ministrar-lhes os
sacramentos. Esse Cura era da apresentação de Dom Prior de Cedofeita.
As populações de
Massarelos ligadas ao mar e à agricultura labutavam longe do centro de decisão
da colegiada de Cedofeita e ainda mais distante do burgo episcopal,
alcandorado, lá muito longe, no cimo do morro da Penaventosa.
Foi, tendo em conta
o factor do distanciamento e a sentida necessidade que a população local
manifestava, para ter a possibilidade de cumprir as suas obrigações religiosas,
que levou a colegiada de Cedofeita a autorizar a construção de uma ermida naquele
local.
E assim nasceu em data
que se ignora, a primitiva ermida em honra de Nossa Senhora da Boa
Viagem.
O primitivo templo,
que devia ser de dimensões muito reduzidas, foi construído por iniciativa dos
mareantes do sítio que contribuíam, também, com as suas esmolas e dádivas, para
a manutenção do culto.
A imagem da padroeira do templo era muito venerada pelos
mareantes. Acontecia que, por vezes, quando chegava um barco, a sua tripulação
acostava em Massarelos e seguia até à capela subindo a íngreme ladeira com o
comandante à frente, de cabeça descoberta, descalços e com a vela grande às
costas, para agradecer a protecção da virgem em alto mar.
Praticamente junto ao
terceiro quartel do séc. XVI, mais propriamente em 1570, a paróquia de Nossa
Senhora da Boa Viagem de Massarelos foi criada, por desmembramento da de S.
Martinho de Cedofeita e a referida capela da Boa Viagem foi transformada em
Igreja de Nossa Senhora de Boa Viagem, continuando a pertencer à Colegiada de
Cedofeita.
Seja como for, em
1699 era templo já antigo, essa igreja e, estando em situação de ruína,
o bispo da altura, D. Frei José de Santa Maria Saldanha, solicitou à confraria
que administrava o templo que desse início a uma campanha destinada à
angariação de fundos para com eles se custearem as obras de renovação da
igreja.
E o que aconteceu é que foi feito um templo novo.
Com efeito, em 1744, a obra da construção da nova igreja de
Nossa Senhora da Boa Viagem de Massarelos foi arrematada pelo mestre pedreiro
José Francisco mas nas obras também trabalharam os pedreiros João Moreira
Bouças (ou Boussa?), Manuel Luís e José Pereira Braga.
Com a construção desta nova igreja, o que antes era um
simples curato (templo ou povoamento pastoreado por um cura), passou a ser
uma paróquia (espaço ou igreja da responsabilidade de um pároco) e assim
nasceu, entre 1757 e 1758, a nova paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem de
Massarelos, antecessora da actual paróquia do Santíssimo Sacramento e o antigo cura passou, a partir daí, a
exercer funções sacerdotais mas ainda dependente da Colegiada de Cedofeita,
pois, Massarelos ainda não era freguesia e todo o seu território pertencia ao
Couto de Cedofeita.
In Memórias Paroquiais de 1758
“A igreja apresentava
três altares. No central figurava a imagem da padroeira – Senhora da Boa Viagem
– imagem antiquíssima, perfeita, e muito da devoção dos navegantes. No lado do
Evangelho, S. Gonçalo; no da Epístola, S. Miguel Arcanjo.”
Fonte - Horácio Marçal, Velho Bairro Piscatório de
Massarelos
O templo viria
novamente a necessitar de obras em 1804 e 1815.
Massarelos em 1829 – Painted by Lieat. Col.e Batty; Fonte:
“doportoenaoso.blogspot.pt”
Na gravura acima,
bem no meio, é possível observar-se a Torre da Marca e junto da lateral à
esquerda e do canto inferior esquerdo, o que poderá ser uma das raras representações visuais que se conhecem da Capela de Nossa Senhora da Boa Viagem, com a sua torre
sineira em destaque.
Numa outra gravura mais antiga temos uma outra perspectiva de Massarelos em que a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem está identificada com 1, a Torre da Marca com 2 e com 3 a igreja do Corpo Santo de Massarelos.
Numa outra gravura mais antiga temos uma outra perspectiva de Massarelos em que a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem está identificada com 1, a Torre da Marca com 2 e com 3 a igreja do Corpo Santo de Massarelos.
Em 1861, pouco mais de um século após a sua construção, a
igreja de Nossa Senhora da Boa Viagem estava em estado de extrema degradação.
Encontrava-se em tão mau estado que tanto as autoridades civis como religiosas
entenderam que não tinha condições para nela continuarem a ser celebradas
quaisquer cerimónias religiosas.
Mais, para salvaguardar a integridade física dos vizinhos,
entendiam que o templo devia ser demolido.
Em 1868 o estado de
ruína da igreja era bem notório o que levou que, a 12 de Março daquele ano, o
bispo João de França de Castro e Moura mandasse que o Santíssimo e
os bens da confraria fossem levados para a vizinha igreja da confraria das
Almas do Corpo Santo das Almas de Massarelos e “que a sede da freguesia ali se conservasse, enquanto se reedificasse a
velha matriz ou se não construísse outra”.
No ano seguinte à
transferência do S. Sacramento, Joaquim
Augusto Kopke, Barão de Massarelos (juiz da confraria do Corpo Santo), obteve licença do prelado, mandar demolir e
vender os restos do velho santuário de tanta devoção dos marinheiros do Douro.
Quase logo a seguir
à mudança, os terrenos, junto às Escadas do Gólgota, onde haviam estado a capela
da Senhora da Boa Viagem, a residência do capelão e o cemitério foram vendidos,
o que inviabilizou em definitivo a construção de um novo templo.
As ossadas do
cemitério foram trasladadas para o cemitério de Agramonte, já existente na
altura.
“Na capela da Boa-Viagem…Tudo foi vendido. O
que restava da capela; a casa do sacristão e terreno envolvente; sinos e até
algumas imagens. O comandante Coutinho Lanhoso, que escreveu um belo texto
sobre a igreja e o culto da Senhora da Boa Viagem, admitiu que uma das imagens
vendidas podia muito bem ter sido a de Santo António da Estrada que pertencera
à igreja do antigo convento das Carmelitas. Quando, por efeitos da lei da
extinção das ordens religiosas, as carmelitas tiveram que abandonar o mosteiro,
o dr. Pedro Augusto Ferreira, a pedido de António Alves da Cunha, conseguiu do
prelado autorização para que essa imagem fosse cedida à igreja da Boa Viagem. E
lá estava quando o templo entrou em ruínas. "Por onde andará agora?",
foi a pergunta feita por Coutinho Lanhoso nos anos 60 do século passado. E que
se mantém atual, pelos vistos”.
Germano Silva JN, 24-02-2013
Imagem de Nossa
Senhora da Boa Viagem na Igreja do Corpo Santo de Massarelos – Foto: Teófilo
Rego
Abaixo se dá conta
de notícia, de jornal diário, sobre a Igreja da Senhora da Boa Viagem que, no
ano referido, seria a Igreja do Corpo Santo.
Notícia inserida no
“Jornal do Porto” 1 de Janeiro de 1876
Sempre foi pensado
que seria construído um novo templo no lugar da igreja de Nossa Senhora da Boa
Viagem, mas a situação de impasse manteve-se até 1924, ano em que a
confraria mudou para a capela dos Marinhos, na Rua da Piedade saindo dali,
alguns anos depois, para o seu novo templo na Rua Guerra Junqueiro.
Da igreja da Boa
Viagem não há qualquer vestígio hoje!
No seu lugar esteve
durante várias décadas uma escola primária que em Abril de 2018 será vendida.
“A Câmara do Porto leva a hasta pública, a 17
de abril, a antiga Escola Básica de Gólgota, com o valor da base de licitação
800 mil euros, anunciou, esta segunda-feira, a autarquia.
Situada na Rua da Boa Viagem, na União de
Freguesias de Lordelo do Ouro e Massarelos, a antiga EB1 tem uma área coberta
de 249,60 metros quadrados e descoberta de 364.40 metros quadrados, refere
ainda a publicação no portal da autarquia”.
In JN, 2 Abril 2018
Panorâmica obtida sobre
a Barra do Douro a partir do Palácio de Cristal, c. 1860
Legenda:
1. Quinta do Sacramento, no Palácio de Cristal, onde faleceu o rei Carlos Alberto
2. Palacete do Barão de Massarelos, que já pertencera ao seu avô, Joaquim Köpke, consul de Hamburgo e outras cidades Hanseáticas
3. Capela da Boa Viagem
4. Quinta da Pena
5. Casa dos Arcos
A Igreja do S. Sacramento localiza-se na Rua Guerra Junqueiro e teve, então, a sua existência, intimamente ligada à capela da Boa Viagem.
Igreja do S. Sacramento (Rua Guerra Junqueiro) – Ed. portoarc.blogspot.pt
“A Paróquia do Santíssimo Sacramento foi
criada por provisão de D. António Barbosa Leão, Bispo do Porto, de 31 de Agosto
de 1927 com início de funcionamento paroquial a 15 de Setembro de 1927.
O seu primeiro Pároco foi Monsenhor António
Augusto da Fonseca Soares (de 1927 a 1976) a quem sucedeu o pároco, Monsenhor
José Pereira Soares Jorge.
Teve um primeiro projecto, mas este foi
abandonado por falta de verbas, tendo sido apenas construída a capela-mor. Em
1931 os arquitectos Korrodi retomaram o projecto, observando-o com olhos
diferentes, mais de acordo com as novas modas arquitectónicas dos anos 30. O
corpo da igreja foi inaugurado em 15 de Maio de 1938, sendo que a grande
novidade estava no tratamento das paredes laterais, rasgadas com enormes
janelas guarnecidas de vitrais de Ricardo Leone. A capela-mor da igreja foi ainda
enriquecida com um retábulo de madeira, inaugurado em 13 de Agosto de 1939”.
Fonte -
portoarc.blogspot.pt
A Igreja da Confraria das Almas
do Corpo Santo de Massarelos, por outro lado, teve em 1776 o seu início
de construção. Apenas passou a ser a igreja paroquial de Massarelos quando a de
Santa Maria da Boa Viagem, sede da freguesia caiu em ruínas na segunda metade
do século XIX.
Desçendo a Rua da Restauração, ao chegar ao seu fim
encontramos o Largo do Adro e a Igreja de Massarelos.
A Igreja da Confraria das Almas do Corpo Santo de
Massarelos, como é conhecida, também, começou por ser uma singela ermida erigida
em terrenos cedidos pelo capitão de um navio, resultante do seu agradecimento a
S. Pedro Gonçalves Telmo, em 1394, que o salvou de um naufrágio bem como os
respectivos navegantes, que tinham sofrido uma tempestade quando
regressavam de Inglaterra, que vendo-se em grande perigo, no mar da Biscaia,
nas vésperas do Natal, invocaram o auxílio de Gonçalves Telmo e chegaram sãos
e salvos à sua terra de origem.
Na continuação da viagem, os tripulantes do galeão fizeram
uma breve paragem em Vigo, na Galiza, e dali foram em peregrinação a Tui, onde
está o túmulo de S. Gonçalves Telmo. E foi diante dos restos mortais de S.
Gonçalves Telmo que os marinheiros prometeram construir um templo, em
Massarelos, em honra do seu santo protector.
No cumprimento da promessa feita foi erguida uma ermida
no “baldio de mato da Paxam” que era um pedaço de terra que o
capitão do barco tinha em Massarelos.
À ermida inicial sucedeu uma capela e, finalmente, a igreja
actual com traseiras para o Cais da Paixão, hoje das Pedras.
Aqui se estabeleceria a Confraria do Corpo Santo que se
dedicava à assistência e protecção dos navegantes e mercadores, bem como, à
defesa da costa dos ataques dos piratas argelinos, à realização de seguros
marítimos e tinha ainda funções bancárias.
Com barcos próprios, recebia grandes proventos dos seus
negócios e doações.
Um dos confrades terá sido o Infante D. Henrique.
Aquela primitiva capela, dizem, teria sido a inspiração para
uma outra localizada em Leça da Palmeira e denominada capela do Corpo Santo, em
honra do mártir São Pedro Gonçalves (Telmo), seria mandada construir em 1557
pelos tripulantes da nau “Nossa Senhora da Conceição” que, em viagem entre
Lisboa e Porto, sobreviveram ao naufrágio nos penedos de Leixões. Assim, a
história da sua implantação radica em factos idênticos aos já narrados, mas
acontecidos com outros intervenientes.
Antigamente, este templo, em Leça da Palmeira (Travessa do Corpo Santo e
próximo à Rua Direita), era dotado com um facho para orientação das embarcações
que se aproximavam da costa.
No Cais da Paixão, acima referido, ocorreu em 1911 um grande
acidente em que morreram 11 pessoas, quando descarrilou um eléctrico com dois
atrelados, que vinha de Matosinhos e, entre os passageiros habituais, vinham
alguns outros que tinham desembarcado do navio Antony proveniente do Brasil.
A igreja que conhecemos hoje, em Massarelos, tem um portal
com um nicho com o padroeiro, São Pedro González Telmo, também conhecido apenas
como São Telmo, frade espanhol da ordem dos dominicanos.
O enorme janelão central domina a
fachada rematada por uma cruz de pedra. As torres sineiras possuem relógios e
toda a fachada é guarnecida com azulejos. De uma só nave, tem um interior
relativamente modesto. Na parte de trás, virada ao rio, a Cruz da Ordem de
Cristo e um painel de azulejos onde figura o Infante D. Henrique dão voz à
tradição deste ter sido um dos confrades desta antiga instituição.
No tesouro da Irmandade existem diversas pratas e uma
custódia quinhentista muito bonita. Interessante é o quadro de São Telmo, a
óleo, que esteve na igreja, junto à porta, e se guarda hoje na sala das sessões
da Confraria. Merecem também referência algumas imagens e o arcaz da sacristia.
Possui ainda um presépio de Machado de Castro ou, pelo menos, da sua escola.
Em 1790, a Rainha D. Maria I oferece à confraria o véu do seu manto real, com pedras preciosas e uma custódia em forma de sol radioso, para a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
O Painel de azulejos, com a imagem do infante que se vê na fachada virada para o rio, foi mandada executar ao mestre Mendes da Silva, em 1960, para assinalar os 500 anos, sobre a morte do Infante D. Henrique.
Em 2018, foi inaugurado o Núcleo Museológico da confraria.
Possui ainda um presépio de Machado de Castro ou, pelo menos, da sua escola.
Em 1790, a Rainha D. Maria I oferece à confraria o véu do seu manto real, com pedras preciosas e uma custódia em forma de sol radioso, para a imagem de Nossa Senhora da Conceição.
O Painel de azulejos, com a imagem do infante que se vê na fachada virada para o rio, foi mandada executar ao mestre Mendes da Silva, em 1960, para assinalar os 500 anos, sobre a morte do Infante D. Henrique.
Em 2018, foi inaugurado o Núcleo Museológico da confraria.
Na foto abaixo, as traseiras da igreja, com vista do Cais das
Pedras, antigo Cais da Paixão.
Igreja Matriz das Almas do Corpo Santo de Massarelos
A freguesia de Massarelos, a partir de finais do século XIX,
passou, a exemplo de outras freguesias, a albergar uma multidão de
trabalhadores vindos do mundo rural, para ocupar lugares nas indústrias que
então despontavam e se desenvolviam, dando origem a uma miríade das chamadas
ilhas.
Em Massarelos, já
tiveram existência algumas ilhas, praticamente desaparecidas, que se
especificam pelos topónimos antigos:
Ilha da Belém (Rua dos Moinhos), Ilha da Dona Ana (na Rua
dos Moinhos), Ilha da Dona Rita (na Rua do Triunfo), Ilha da Penhorista (à Rua
da Piedade), Ilha de Santo António (na Rua da Piedade), Ilha do Arantes (na Rua
do Campo Alegre), Ilha da Parceria (no Campo Pequeno), Ilha do Castanheira (ao
Campo Pequeno), Ilha do Cordoeiro (no Campo Pequeno), Ilha do Marques (no Campo
Pequeno), Ilha do Miquelino (ao Campo Pequeno), Ilha do Cruzinho (na Rua do Bom
Sucesso), Ilha do Gabriel (ao Largo do Bom Sucesso), Ilha do Guimarães (na Rua
da Piedade), Ilha dos Boticários (na Rua da Piedade), Ilha do Doutor (na Rua da
Piedade), Ilha do Serafim (na Rua do Príncipe), Ilha do Teixeira (na Rua da
Arrábida), Ilha do Vintém (na Rua do Campo Alegre), Ilha dos Marinhos (à Rua do
Campo Alegre).
(CONTINUA)
Boa tarde. Diz que as quintas dos Arcos e do Horto Botânico se situavam junto à Rua de Entre Quintas. Conheço a referência às quintas, do livro de Agostinho Rebelo da Costa, mas não a ligação à R. de Entre Quintas.
ResponderEliminarEstou a pesquisar a localização da Quinta do Horto, pelo que gostaria muito de saber em que se baseia, pode indicar-me a fonte, por favor?
Antes de mais, devo transmitir-lhe o quanto agradecido estou pela questão que me coloca e ainda, pelo facto, de ter o prazer da sua visita a este blogue, que faço com todo o carinho.
EliminarTal não impede, por vezes, de ser confrontado com situações, possivelmente incorrectas e que urgem ser corrigidas.
Parece ser este o caso, pois não encontrei a fonte que me solicitou, tendo chegado, apenas, à conclusão que devo ter feito uma interpretação errada do trecho da obra “Descripção Topográfica e Histórica da cidade do Porto” de Agostinho Rebelo da Costa, na qual me baseei, inicialmente, ao localizar, a Quinta dos Arcos e do Horto Botânico, à Rua de Entre Quintas.
Penso que a Quinta dos Arcos está situada próximo das ruas da Boa Viagem e do Bicalho e dela fazia parte a Casa dos Arcos, que foi sede da Legião Portuguesa, a partir da década de 1940, o que especifico no blogue.
Quanto à Quinta do Horto Botânico, atendendo que a referência feita por Agostinho Rebelo da Costa será anterior à data de publicação da obra referida, o ano de 1788, ela tentará especificar uma unidade destinada ao cultivo de plantas medicinais, conforme narra Ilídio Araújo em “Jardins, Quintas e Parques de Recreio no Aro do Porto”.
No entanto, agora, fiquei deveras curioso sobre a localização da Quinta do Horto Botânico, referida por Agostinho Rebelo da Costa, da qual desconheço a localização.
Por esta razão, ficaria muito agradecido, se no âmbito das suas pesquisas e na hipótese de ser bem-sucedida, me fazia chegar essa informação.
Em resumo: está corrigida a informação errada, inicial.
Esperando continuar a merecer as suas visitas na consulta ao blogue, sou
Com os meus cumprimentos
Américo Conceição
Caro Américo,
EliminarMuito obrigada pela sua rápida e esclarecedora resposta.
Infelizmente, neste momento este é um assunto um pouco tangencial ao que estou a pesquisar, pelo que não consigo dedicar-lhe mais tempo, mas espero de futuro conseguir fazê-lo.
Diz que pensa que a Casa dos Arcos estava integrada na Quinta dos Arcos. É uma assunção lógica, pelos nomes, ou tem uma fonte que o confirma? Desculpe esta insistência nas fontes, mas já por várias vezes percebi estar a seguir caminhos errados por assumir ligações que me pareciam óbvias, mas que afinal não eram certas.
Cumprimentos e até breve,
Sandra Mesquita
De facto, a ligação da Casa dos Arcos à Quinta dos Arcos resultou, apenas, de uma dedução lógica. Quanto a outras deduções que a Sandra detectou que não são correctas, muito agradecido ficaria que mas apontasse sempre que tal se lhe deparar.
EliminarCumprimento e boas pesquisas.
Américo Conceição