domingo, 4 de dezembro de 2016

(Continuação 15 ) - Actualização em 30/10/2019

“O Cais das Pedras recorda o velho cais de Massarelos onde as embarcações acostavam... e no sítio que o avô do embargante edificou a Fabrica da Louça corria hum regato aonde lavavão as lavadeiras e gente de Massarelos e havião pedras para amarração de navios existindo no terreno a uzo publico." (ADP-Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, 1807)”
In Blogue “Descobrir o Porto”



Cais das Pedras em 1900

Na foto acima à esquerda estão barcaças carregadas com carvão, para servir os navios ancorados perto.


Cais das Pedras e Praia dos Insurrectos na actualidade - Ed. José Paulo Andrade


Sobre a Praia dos Insurrectos pode ler-se no Tripeiro:

In O Tripeiro Série V, Ano XIII

Cais das Pedras 1905 - Ed. Porto Desaparecido


Gravura de Massarelos - A Ilustração Portuguesa, nº 44, 3º ano, 16 de Maio de 1887

Massarelos com igreja matriz (actual) à esquerda


Sobre este local da cidade, diga-se, ainda, que a Fonte de Massarelos construída em 1637 pelo mestre pedreiro Jorge Mendes, custou 18.000 réis e é aquela que está na Rua da Fonte de Massarelos, antes denominada Rua da Fonte que tinha sido conhecida também, por Rua da Fonte das Bicas de Massarelos.
A freguesia chegou a contar com várias fontes: a Fonte de Massarelos ou Fonte das Bicas de Massarelos; chafariz da Alameda de Massarelos; a Fonte da Rocha (na Rua do Cristelo); a Fonte do Bom Sucesso; a Fonte do Caco ou das Azenhas; a Fonte do Campo Alegre; a Fonte da Póvoa (situada na Rua da Pena); a Fonte do Bicalho; a Fonte Nova do Bicalho; a Fonte da Macieirinha; e a Fonte da Rua de D. Pedro V.
De todas estas fontes muitas estão secas e outras foram pura e simplesmente destruídas. Poucas restaram.
A Alameda de Massarelos foi durante várias décadas propriedade do governo central, que apenas em 1871 a cedeu à administração municipal.
Por outro lado, por ali existia, já na margem do rio Douro, o Cais da Paixão, na actual Alameda Basílio Teles e o Cais do Bicalho.
A Alameda Basílio Teles foi aberta no século XIX com o nome de Alameda de Massarelos (ao tempo Alameda do Armazém do Sal) mas, muito antes, foi a Rua dos Banhos ou Banhos de Massarelos.
Antes da construção da estrada marginal, obra de grande envergadura que se ficou a dever ao dinamismo do corregedor da cida­de, Francisco de Almada e Mendonça, era pela chamada Rua do Cristelo que se fazia todo o trân­sito de veículos e pessoas que, de ao pé da porta do Olival, na Cordoaria, se dirigisse à Foz ou a Matosinhos.
A Rua de Cristelo é uma das mais antigas do sítio de Massarelos, a par das ruas da Flora, dos Moinhos, do Casal do Pedro, do Outeiro, do Roleto, da Vie­la da Praia e do Largo do Rou. Algu­mas já desapareceram da rede toponímica da cidade.
Basílio Teles, que daria o nome à Alameda, nasceu em Massarelos em 1856 tendo estado envolvido na revolução de 31 de Janeiro, como militante republicano que era.  
À Alameda Basílio Teles vai dar a Rua D. Pedro V, que foi aberta em 1883, tendo sido de Lugar das Azenhas de Vilar e também Rua do Bispo, os anteriores topónimos.


Cais do Bicalho e Alameda de Massarelos



Alameda de Massarelos

Alameda de Massarelos - Ed. Arnaldo Soares



Massarelos, próximo ao Cais do Bicalho

Cais do Bicalho

Cais do Bicalho visto do rio

Vista recente obtida a partir do rio do cais do Bicalho

Como já ficou expresso, a colegiada de Cedofeita extraía grandes proveitos de Massarelos, tendo um aliado de peso no rei D. Dinis, que em 7 de Julho de 1280 interveio, de maneira a que à colegiada de Cedofeita fossem devidos os foros pelo sal extraído, em litígio que envolvia como outra parte, o bispo.
(Uma colegiada designa um conjunto de dignidades instituídas numa igreja paroquial e que a tornavam semelhante ao cabido de uma sé catedral; os seus dignitários eram conhecidos como raçoeiros, porque recebiam parte da ração, isto é, das prebendas da Igreja e, os párocos, detinham o título de priores ou reitores das colegiadas. Foram geralmente fundadas na sequência da Reconquista Cristã; as mais antigas tinham o direito de se intitularem insignes colegiadas; as que pertenciam ao padroado régio, insigne e real colegiada).
A colegiada de Cedofeita possuía também, os direitos de pescado na costa portuguesa desde Aveiro até à Galiza e no rio Douro desde a foz até Valbom. Os pescadores do rio Douro pagavam a Cedofeita o dízimo dos sáveis, das lampreias e demais pescado.
Ainda no século XVII a Paróquia de Cedofeita estendia-se a Massarelos e o Lugar da Pena, hoje Rua da Pena, ainda era dependente de direitos de Cedofeita em 1678.
Conjuntamente com a Quinta do Pacheco Pereira, na encosta oposta, a Quinta da Pena, foi geradora de toda a ocupação do Vale de Massarelos.

“Quinta de S. Vicente da Pena - que no século XVIII ainda pertencia à freguesia de Cedofeita -, e que o padre Agostinho Rebelo da Costa, na sua "Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto", publicada em 1789, referia ser uma das "três quintas de Vilar", então "propriedade de Vicente Pedrossem", onde residia. De acordo com Eugénio Andrea da Cunha e Freitas, este Vicente Pedrossem da Silva era então cavaleiro da Ordem de Cristo, fidalgo da Casa Real, e tendo falecido em 1806 legou esta propriedade ao seu afilhado, o capitão Francisco de Novais Moreira (1826), tendo passado depois para Custódio José Nunes (1843), avô do Governador de Cabo Verde (1900), de Macau (1902) e do Estado da Índia (1905), Arnaldo de Novais Guedes Rebelo (1847-1917) e promotor, juntamente com outros portuenses, da Companhia Geral de Iluminação e Gás.
Não se conhecem, a partir de então, as vicissitudes por que passou a referida quinta, nomeadamente quanto aos seus sucessivos proprietários. Pinho Leal refere em 1875, no "Portugal Antigo e Moderno", que pertencia ao desembargador Novais, e alguns anos mais tarde que já era propriedade de uma das famílias da colónia britânica que, como é conhecido, privilegiavam aquela zona da cidade para instalar as suas residências, sendo a casa da quinta, nitidamente de influência inglesa, foi mandada construir pelo Dr. Augusto Ferreira Novaes, um dos proprietários da quinta, em ano que se desconhece”.
Fonte: JOSÉ MANUEL LOPES CORDEIRO In Jornal Público


Casa da Quinta da Pena – Ed. Teófilo Rego




Quinta da Pena – Fonte: Google Maps

Em 1789, junto à Margem direita do rio Douro, decidiu-se construir os cais, de Monchique, de Massarelos, do Bicalho e da Arrábida. Em 1784 já se tinha começado pelo cais dos Guindais. Todas estas obras se ficaram a dever aos impostos que recaiam sobre o vinho, especialmente o do Alto Douro.


A Casa do Cais Novo ou Casa dos Saavedras e os Armazéns anexos foram mandados construir por José Pinto da Cunha Pimentel, senhor abastado de Provesende, antigo Concelho, hoje freguesia de Sabrosa, Vila Real e por um seu irmão, respectivamente.
Naquelas terras do interior, haviam herdado a Casa da Praça, que fora de um seu parente, o famoso Cardeal de Alpedrinha, Dom Jorge da Costa. Desta mesma Casa, viriam a descender os Cunha Pimentel, Senhores da Casa da Calçada, que também se haveriam de instalar no Porto, ocupando inúmeros cargos da governança da cidade e residindo num edifício do gaveto da Rua das Flores com o Largo de São Domingos, que ostenta o seu brasão-de-armas.
Nas muitas propriedades de Provesende, os Pinto da Cunha alicerçaram a sua fortuna, sobretudo no cultivo da vinha e na produção do vinho – do vinho fino do Douro: o Vinho do Porto.
Na realidade, a partir dos fins do século XVII, os vinhos do Alto Douro conheceram um crescente interesse estrangeiro, sobretudo britânico, o que permitiu uma importante expansão económica na região e na sua capital comercial: o Porto.
Este desenvolvimento económico trouxe alguma abundância às suas populações, que puderam construir e melhorar as suas residências, dando-lhe um novo cunho arquitectónico, com a introdução do estilo barroco. Por outro lado, fez com que algumas das suas famílias começassem a aproximar-se do Porto, aqui construindo residências e armazéns.
É, pois, por meados do século XVIII que os Pinto da Cunha chegaram ao Porto, onde passaram a estar sedeados, em detrimento de Provesende ou de Vila Real.
A partir de 1750, começaram a construir a sua nova residência: a Casa do Cais Novo, que ostenta o brasão dos Pinto e Cunha e poderá ser da autoria do pintor arquitecto, discípulo de Nasoni, José Figueiredo Seixas.
José Pinto da Cunha Pimentel casou com uma fidalga galega, D. Clara Saavedra, e o filho primogénito José Pinto Godinho da Cunha Saavedra já nasceu em S. Nicolau, freguesia do Porto, em 1756. 
Nesse mesmo ano de 1756, foi fundada por ordem do Marquês de Pombal a Real Companhia Velha, nome popular da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, sendo José Pimentel membro da primeira mesa administrativa.
Com a morte de José Pimentel, foi ao seu irmão Pantaleão que coube ser tutor dos filhos menores. Este ampliou a Casa e iniciou a construção dos armazéns em 1781.
Mas, foi já o filho primogénito, José Pinto da Cunha Godinho Saavedra, 11º Senhor da Casa da Praça e 2º Senhor da Casa do Cais Novo, nascido na freguesia de São Nicolau, em 1756, e casado, com Joseffa Nevill, 5 ª Senhora da Casa do Fôjo, de Vila Nova de Gaia, que as obras, em 1798, ficaram concluídas.
Por essa altura, o primogénito, José Pinto Saavedra era membro da 7ª Mesa da Companhia Velha.

 
 

Casa dos Saavedra
 
 
 

Armazéns da Casa dos Saavedras
 
 
A construção do Cais Novo no Rio Douro (ainda hoje é assim conhecido) foi obra da família e era aí onde os seus barcos atracavam para descarregar as pipas. A casa passou a ser conhecida como Casa do Cais Novo, assim como os armazéns.
Estes armazéns são realizados por um edifício de três pisos, todos com entradas independentes, apresentando uma estrutura resistente no interior. Aqui, desenvolvem-se duas naves, divididas por fortes pilares, sobre os quais assentam abóbadas. 
Onde esteve instalado o Museu do vinho do Porto, nos armazéns da antiga Casa dos Saavedras funcionou, em tempos, a chamada Alfândega de Massarelos, pois a que existia há muitos anos na Casa do Infante, mostrava ser insuficiente.
Mesmo assim as mercadorias ainda estacionavam à porta desta alfândega de substituição, no chamado cais da Paixão, mesmo por trás da Igreja matriz de Massarelos.
Até D. Afonso III, os direitos das mercadorias saídas ou entradas pela barra do Douro pertenciam ao bispado.
Este monarca ao aperceber-se da importância deste comércio fez construir em V. N. de Gaia o Almazem onde um juiz de sua confiança controlava o despacho de mercadorias.
O bispo tinha o direito a cobrar a “portagem da terra” que consistia em arrecadar 1% do valor de todos os objectos comprados no Porto pelas pessoas de fora da cidade e 1% do valor comercial de todos os produtos que entravam no Porto para serem vendidos.
Os comerciantes tentando escapar a estas pesadas taxas, rapidamente construíram os seus armazéns em Vila Nova, que já recebera a sua carta de foral.
Entretanto, em 1325 D. Afonso IV vai na margem direita do rio Douro mandar construir, contra a vontade do bispo, um edifício (o “almazém”) com funções de alfândega, tendo adquirido para o efeito, alguns prédios e almuinhas(hortas).
É incumbido da tarefa o almoxarife João Anes Gordo.
Segundo alguns historiadores, até aí, a igreja fazia o controlo das mercadorias lá para as bandas da Rua da Reboleira.
A litigância com o bispo atingia o seu auge, pois, este considerava-se o único detentor dos direitos de taxação das mercadorias. 
Em 1354 o caso vai a tribunal e sobe ao Papa Inocêncio VI, em Avignon, que leva a serem escolhidos 5 juízes para decidir o conflito. 
Estes decidem que o rei ficaria com as casas e armazém que tinha construído, mas teria de pagar um foro ao Bispo.
Em 1406 D. João I para serenar o ânimo dos bispos que se sentiam prejudicados chega a um acordo pleno com o bispado.
Como já se sabe, o edifício da alfândega primitiva, era constituído por duas altas torres e um pátio central, cuja localização ainda se pode identificar. Os pisos mais elevados da torre norte funcionavam como local de habitação. O desenvolvimento comercial reflectiu-se na progressiva monumentalização do edifício alfandegário. Logo no século XV, D. João I mandou construir um corpo avançado, cujo pórtico rematava por um lintel com uma inscrição e um nicho onde estava a imagem da Virgem, protectora das alfândegas.
A oriente do edifício principal havia um amplo recinto, onde funcionava a Casa da Moeda, cujas origens remontam também ao século XIV. Nas imediações foram-se concentrando outros importantes serviços da Coroa, como a Contadoria da Fazenda e o Paço dos Tabeliães.
A construção do cais de desembarque e a abertura da então Rua Nova (hoje Rua do Infante D. Henrique) são consequência deste desenvolvimento, e desempenharam um papel fundamental no ordenamento urbanístico da zona ribeirinha. Aí se localizavam também a Bolsa dos Comerciantes e numerosas casas de oficiais régios e de gente abastada da cidade.
Muitas vezes a quantidade de mercadoria era tal que era depositada em conventos, especialmente no de S. Domingos, casas e espaços amplos alugados.
No séc. XVIII, a velha alfândega do Porto (actual Casa do Infante) já não tinha capacidade e D. Maria I solicitou à Companhia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro a cedência das instalações no denominado Cais Novo para aí funcionar a alfândega desde 1822 até 1872. A ela chegou a estar agregado um “armazém das freiras“ agregado ao convento de Monchique.
Em 1822 os armazéns tornaram-se o principal depósito alfandegário dos géneros provenientes das colónias e do Brasil.
Passou a ser conhecida como a Alfândega de Massarelos. Mesmo assim as instalações já não correspondiam às necessidades do comércio marítimo.
 
Vários fatores contribuíram para o forte desenvolvimento dos Armazéns do Cais Novo e sua extensa utilização. Primeiro, a localização privilegiada: próximo da Alfândega do Porto, então instalada na Casa do Infante. Segundo, a existência de um cais próprio: o Cais Novo, com condições favoráveis ao embarque e desembarque dos navios que navegavam o Douro e o Atlântico. Terceiro, o envolvimento dos seus proprietários na direção da poderosíssima Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro. Quarto, o enorme desenvolvimento que o comércio do Vinho do Porto conheceu ao longo dos séculos XVIII e XIX.Não possuindo armazéns próprios, a Companhia Geral da Agricultura e Vinhos do Alto Douro confrontou a família Pinto da Cunha Saavedra com uma decisão de resposta em 48 horas: ou cedia parte dos seus armazéns, ou ficava sem a totalidade do edifício.”
In portoarc.blogspot
 
Por decreto de 1834, foi decidido construir um novo espaço que depois de várias hipóteses começa a ser construído em 1859 no sítio onde desaguava o Rio Frio na praia de Miragaia e em 1872, após a sua abertura, foram os armazéns da Companhia, do Cais Novo ou do Saavedra, nome, porque também eram conhecidos, por causa do casamento do primeiro proprietário com a senhora galega, devolvidos à família.
Entre 1999-2001, ocorreram obras de requalificação do edifício e realizaram-se intervenções arqueológicas no interior dos armazéns e feitas descobertas interessantes, ligadas às actividades anteriores.
No que se refere a espólio, foram encontrados vidros, metais e fragmentos cerâmicos com uma cronologia vinda desde o séc. XVI.
O espaço seria adaptado para Museu do Vinho do Porto, para o que foram realizadas obras entre 2001 e 2004, tendo sido inaugurado neste ano.
Em 2019, o Museu do Vinho do Porto transitaria para um prédio que foi remodelado, para esse efeito, na Rua da Reboleira.
 
O Armazém do Cais Novo, junto à Casa dos Saavedras, esteve entregue, desde 1858, à Guarda Nacional Republicana.  Foi construído entre 1761 e 1767, com o intuito de prover, com o seu arrendamento, maiores rendimentos ao convento da Madre de Deus de Monchique.
 
 
Armazém do Cais Novo

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