A Norte da Igreja do Bonfim próximo do hospital Joaquim Urbano, fica a
Capela do Senhor Jesus da Boavista, no antigamente chamado, morro do Fojo. No
cimo de um penhasco foram construídas, há muitos anos por viandantes piedosos,
nesse local, umas "alminhas" que no século XVIII, mais concretamente
em 1767, a generosidade do cónego da Sé do Porto José Maria de Sousa e as
esmolas do povo devoto transformaram numa capela sob a invocação do Senhor
Jesus do Fojo que, anos mais tarde, passaria a chamar-se Senhor Jesus da
Boavista.
Fojo é uma palavra que significa "cova funda com uma abertura
disfarçada para apanhar animais".
Fora a adoração àquele Senhor Jesus da Boavista, desde as invasões
francesas, existe uma imagem da Nossa Senhora do Porto muito venerada e alvo de
festas religiosas e profanas no mês de Setembro.
O nome de Senhor Jesus da Boavista, assim como o topónimo Montebelo (actual
Avenida de Fernão de Magalhães) têm a ver com o ambiente rural que naqueles
recuados tempos envolvia o Fojo.
A capela seria reconstruída em 1864.
Sobre a Senhora do Porto escreve Germano Silva:
“É bem curiosa a
história desta Senhora do Porto do Montebelo, ou do Fojo. Desta, porque há mais
duas imagens da mesma invocação: uma que é a da padroeira da paróquia da
Senhora do Porto, ao Monte dos Burgos; e a terceira que foi da Casa da Prelada
e está no Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto, na Rua das Flores…
Durante a segunda
invasão francesa, que ocorreu sob o comando do general Soult, no ano de 1809, a
cidade esteve a saque. Os soldados franceses, durante vários dias, além de
terem cometido toda a sorte de tropelias e vilezas para com os portuenses,
saquearam casas e igrejas de onde roubaram tudo o que tivesse valor.
Um certo dia,
ainda no decurso da ocupação, apareceu ali para os lados do Bonfim um soldado
francês a oferecer à venda, a quem com ele se cruzava, uma imagem de Nossa Senhora.
Passou por ele um funcionário da Câmara que ofereceu pela imagem um pinto,
moeda de prata corrente na época. Fez-se o "negócio" e o comprador
levou a imagem à capela do Senhor Jesus da Boavista onde ficou sob a invocação
de Nossa Senhora do Porto, que tem a sua festa anual exatamente no terceiro
domingo do mês de setembro.
Mas esta não é a
única festa que se realiza na capela. Importante também é a que se faz no
primeiro domingo de julho em louvor do próprio Senhor Jesus da Boavista, cuja
imagem ocupa o lugar de honra, se assim se pode dizer, do altar principal da
capela. Também esta imagem tem uma história. Foi seu autor o escultor portuense
Manuel Soares de Oliveira, que um dia fez a promessa de esculpir uma imagem do
Senhor Jesus da Boavista, em tamanho natural, que ofereceria à capela se
ficasse livre do serviço militar.
Assim aconteceu
e o artista cumpriu a promessa”.
Capela do Senhor Jesus da Boavista – Fonte: Site “olhares.sapo.pt”
Capela do Senhor Jesus da Boavista ainda sem edifícios ao
redor
Continuando pela freguesia do Bonfim, bem perto temos a Rua do Amparo,
que já foi Viela da Palha e que, a exemplo do Hospital dos
Entrevados, de Cima de Vila, pode ter esse nome relacionado com a Nossa Senhora
do Amparo, talvez, pela existência no local em tempos idos, de qualquer nicho
ou capela, onde se adorasse a Santa.
No século XVI, os terrenos que se estendiam desde o antigo
campo de Mijavelhas (Campo 24 de Agosto) até ao Monte do Seminário (contíguo ao
actual Prado do Repouso) eram atravessados por um ribeiro que corria a céu
aberto até se despenhar no Douro e ao longo do seu trajecto fazia mover
diversos moinhos – o ribeiro de Mijavelhas.
Nesta área da quinta dos Cirnes e do Prado tiveram lugar
combates importantes aquando das invasões francesas entre as tropas de Soult e
do general inglês Arthur Wellesley. Por isso nas imediações onde é a Rua Gomes
Freire, chamou-se anteriormente Rua Militar de Weslley, mudança
operada após o ultimatum inglês em
1890 e da revolta de 31 de Janeiro de 1891.
Nos terrenos da enorme propriedade que era a Quinta do Reimão,
abriram-se as ruas dos Duques de Palmela, Saldanha e da Terceira; do Conde
de Ferreira e do Barão de S. Cosme; a Rua de Joaquim António de Aguiar e a de
Ferreira Cardoso que foi, um dos compradores da propriedade e de entre tão
ilustres personalidades ligadas ao Liberalismo, foi um indivíduo que se
distinguiu, somente, por ser um abastado proprietário local.
No séc. XV toda aquela zona era de propriedades rurais e
vastos campos, a um dos quais se dava o nome de Vale Formoso e foi vendido no
final daquele século pela Câmara a um tal Pedro Anes de Santa Cruz e a um seu
filho chamado Gonçalo Reimão, tendo o sítio ficado com o nome deste
proprietário.
No séc. XVII a quinta era propriedade dos Cirnes à posse dos
quais tinha chegado por herança e por essa altura começou a ser a área
urbanizada.
Para estas bandas, havia duas feiras - a do gado bovino, que
se realizava às terças e sextas-feiras, já funcionava em 1833 e passou, em
1868, para o Largo da Póvoa de Cima, actual Praça da Rainha D. Amélia e a
feira de cavalos, que era mensal e que só em 1892 foi mudada para a Praça
da Corujeira”.
O Campo 24 de Agosto seria na transição do século XIX para o
século XX, um dos principais polos da industrialização que se verificou na
cidade.
Campo 24 de Agosto e as suas fábricas. Aqui vinha dar a Rua
de Montebelo
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