Instituto de Ciências Empresariais e do Turismo - Ed. JPortojo
Mais à frente mais um edifício que, no entanto, não
é dos referenciados pelo Igespar.
Para muitos, é apenas o Instituto Superior de Ciências
Empresariais e do Turismo (ISCET) mas, o que muitos portuenses não sabem, é que
a história do número 285 da Rua de Cedofeita não se esgota na actual função. Já
lá moraram presidentes da Câmara do Porto e foi lá que Júlio Resende aprendeu a
pintar.
“Foi um negociante
estabelecido na Rua de S. João, no Porto, que, em 1856, requereu e obteve a
licença de construção do edifício que ocupa atualmente o 285 da Rua de
Cedofeita.
Joaquim Ferreira
Monteiro Guimarães, nascido em Abril de 1819 em Santa Eulália de Barrosas, era
um homem influente na cidade, membro da Direção da Mesa da Assembleia da
Celestial Ordem da Trindade, e prestigiada figura do comércio de vinhos na
cidade romântica de meados de oitocentos. O projeto tinha ficado a cargo de
Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa, engenheiro portuense, professor, fundador da
Associação Industrial Portuense e que, entre outros trabalhos de relevo,
dirigiu as obras do Palácio da Bolsa, colaborou na construção do Palácio de
Cristal e projetou o prolongamento da Avenida da Boavista.
A família Guimarães
ocupou o edifício até meados da década de 70 do século XIX, tendo apenas sido
construído cerca de 1/3 do desmesurado projeto original, altura em que o
falecimento de Joaquim e da sua mulher Ermelinda Cândida Leite Ferreira altera
o rumo da família, entretanto estabelecida essencialmente na burguesia
industrial do Bonfim, graças aos casamentos das filhas com Carlos da Silva
Ferreira e Joaquim Fernandes Pereira, proprietários de indústrias de tecelagem,
no lado oriental da cidade. O edifício é então vendido em hasta pública à
investidora Ana de Macedo que o transmite ainda em vida aos sobrinhos Porfírio
de Macedo e Ana Júlia de Macedo. O edifício é ocupado na transição de século
pela família Couto, devido ao casamento de Ana Júlia com o industrial portuense
João Ferreira de Andrade Couto, proprietário de uma fábrica de conservas em
Massarelos e um dos propulsores, juntamente com António da Silva Cunha e Carlos
Afonso, da União dos Industriais do Norte, como consequência de uma cisão na
Associação Industrial Portuense”.
Fonte – Site: archive-pt-2014.com
Em 1919, o edifício é adquirido por Ana Alice Fernandes,
viúva do célebre bombeiro Guilherme Gomes Fernandes, e companheira do já
referido António da Silva Cunha, principal sócio da Camisaria Confiança, na Rua
de Santa Catarina, onde, em 1896, se rodou o primeiro filme português: “Saída
do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”. Na década seguinte, e depois de Ana
Alice Fernandes transferir a sua residência para o Pinheiro Manso, o edifício
transforma-se no mais importante centro privado de arte no Porto, graças ao
empenho de três personalidades distintas da primeira metade do século XX:
Jacinto da Silva Pereira Magalhães, que havia sido presidente da Câmara do
Porto e era o proprietário da “Fábrica de tecelagem do Jacinto”, fundada pelo
seu avô homónimo, influente nas artes decorativas de interiores e renovador do
estilo “casa portuguesa”; e, finalmente, Alberto Silva, pintor e professor de
pintura, e motor fundamental do Salão
Silva Porto até ao princípio da década de 40, período de maior fulgor da
instituição que reuniu e expôs os principais artistas da época em Portugal.
Júlio Resende é o
próprio a dizer que foi ali que aprendeu a pintar, pela mão de
Alberto Silva, que era seu professor.
Até meados da década de 60, então dirigido pela família
Valverde, o salão Silva Porto, ainda que de forma menos exuberante e influente
que nas décadas de 20 e 30, teve um papel importantíssimo na divulgação da arte
contemporânea no Porto.
“O edifício da Rua de
Cedofeita nº 285 passou assim por 3 períodos distintos: uma fase “residencial”
(de 1860 a 1925), outra em que funcionou como “centro de exposições, lugar de
tertúlia e de debate sobre cultura no Porto” (de 1925 aos anos 1960) e, por
fim, uma fase escolar (até hoje).
Na primeira fase, o
imóvel chegou a ser habitado por Francisco Pinto Bessa, o presidente da Câmara
do Porto que mais tempo esteve ao serviço da cidade (1867-1878). “Viveu cá no
período em que esteve no cargo e foi aqui que faleceu”.
Jacinto da Silva
Pereira Magalhães, autarca do Porto entre 1907 e 1910, também morou no 285.
Durante a segunda
fase, lá funcionou o Salão Silva
Porto”.
Fonte - Alexandra
Marques, In site: porto24.pt
“António Carvalho da Silva (Porto, 11 de
Novembro de 1850 - Lisboa, 1 de junho de 1893 (42 anos)) foi um pintor
português que mais tarde adoptaria para apelido o nome da sua cidade natal,
ficando conhecido por Silva Porto.
Estudou na Academia Portuense de Belas Artes,
estagiou em Paris (1876-1877) e em Itália (1879).
Em 1879 regressou a Portugal. Aureolado de
prestígio, foi convidado para ensinar na Academia de Lisboa como mestre de
Paisagem. Em 1880 realiza uma exposição de quadros paisagísticos inundados de
luz, tendo D. Fernando adquirido o quadro Charneca de Belas. Fez parte do
chamado Grupo do Leão, juntamente com António Ramalho, João Vaz, José Malhoa,
Cesário Verde, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro. Entre outros galardões,
recebeu a medalha de ouro da Exposição Industrial Portuguesa de 1884 e a
primeira medalha do Grémio Artístico”.
In wikipedia.org
Silva Porto no Jardim de S. Lázaro
Casa onde nasceu Silva Porto na Rua da Ponte Nova – Ed. JPortojo
Chá dançante nos jardins do Salão Silva Porto, em 1932 - Fonte:
CMP, Arquivo Histórico Municipal
Na sua última fase, a partir dos anos 60, o nº 285 passou a
ser um espaço ligado ao ensino.
Em 1968, o edifício passou a albergar uma dependência do
Liceu Carolina Michaëlis e, em 1974, ali se instalou a Escola Irene Lisboa e,
após ficar vago durante algum tempo, foi ocupado, na década de 90, pelo ISCET.
“Uma breve nota para
dizer que Irene do Céu Vieira Lisboa (Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos,
25 de Dezembro de 1892 – Lisboa, 25 de Novembro de 1958) foi escritora,
professora e pedagoga. Estudou na Suíça, França e Bélgica, onde se especializou
em Ciências de Educação, o que a habilitou a escrever várias obras sobre
assuntos pedagógicos. Durante a estadia em Genebra, mercê de uma bolsa do
Instituto de Alta Cultura, teve a oportunidade de conhecer Jean Piaget e
Édouard Claparède, com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau. Foi afastada
de exercer qualquer cargo pelo Ministério da Educação no tempo do Estado Novo
pela sua tentativa de remodelação do ensino primário e ter recusado um lugar em
Braga”.
Fonte: portojofotos.blogspot
À direita o nº 285 da Rua de Cedofeita
Confluência das ruas da Torrinha, dos Bragas e Cedofeita –
Ed. JPortojo
No percurso que encetamos antes, encontramos agora a
Rua da Torrinha e quase em frente a Rua dos Bragas (eram terrenos de
José Ribeiro Braga). Voltados para Torre dos Clérigos, fica uma à direita
e a outra à esquerda.
A Rua dos Bragas é uma homenagem a José Braga.
Confluência da Rua dos Bragas com a Rua de Cedofeita, ao
fundo – Ed. “kantophotomatico.blogspot.pt”
Mesma perspectiva da foto anterior – Fonte: Google maps
Antecedendo esta série de prédios está a Capela dos Anjos.
Capela dos Anjos na Rua dos Bragas. À esquerda a antiga
Faculdade de Engenharia, hoje de Direito
A Rua dos Bragas – Ed. JPortojo
Em frente à Rua da Torrinha esteve, em tempos, sob uma
arcada do piso térreo de um prédio, a fonte de Cedofeita. Nesse prédio, que
ainda existe, esteve a "Pensão La Fontaine" e a escola «Von Hafe Schule» fundada,
em 1855, pelo padre Martin Richter.
Aquela escola, viria a dar lugar a um outro projecto, a partir
de 18 de Novembro de 1901, que se designou por «Deutsche Schule zu Porto»,
sedeado na Rua da Restauração, nº 410, e que foi o embrião do Colégio Alemão.
Foto do edifício onde esteve o colégio Von Hafe, a pensão La Fontaine e a fonte de Cedofeita
Palacete dos Brito e Cunha
O Palacete da Rua de
Cedofeita, 379, com projecto de 1859, que obteve a licença de construção nº
203/1859, foi a morada de António Bernardo Brito e Cunha, filho do mártir da
liberdade, com o mesmo nome, executado na Praça Nova pelos carrascos de D.
Miguel.
António Bernardo de
Brito e Cunha nasceu a 20/10/1808, na Casa da Ruas das Taipas no Porto, casou a
23/04/1857 com D. Guilhermina Júlia Pereira da Silva, teve 4 filhos e uma
filha, e faleceu a 30/07/1884.
Casa de D. Laura
Leitão
Residência de D. Pedro IV durante o cerco – Ed. JPortojo
Continuando a caminhada estamos frente ao nº 395 (frente e
traseiras na foto), de um edifício com muita história. Durante o Cerco do Porto
nas Lutas Liberais ou Guerra Civil, D. Pedro IV - o 1º Imperador do Brasil
- acolheu-se a esta casa depois de ter sido bombardeado no Palácio das
Carrancas (hoje Museu Nacional Soares dos Reis), onde tinha os
aposentos, pela artilharia das tropas de D. Miguel situadas em Gaia.
A casa era a residência do bacharel Francisco Ribeiro de
Faria, casado com Rosa Margarida de Lima, filha de Francisco José de Barros
Lima, que foram progenitores de Francisco Ribeiro de Faria (com o mesmo nome de
seu pai) que viria a ser, a partir de 14 de Dezembro de 1873, visconde de Barros
Lima (título que ficou a dever ao prestígio de seu avô materno) e, ainda, de
Eduardo Ribeiro de Faria.
A propriedade passando em herança na família Ribeiro de Faria, acabaria nas mãos de Arnaldo Ribeiro de Faria que, em 1911, exarou o respectivo testamento da sua metade, no que à casa dizia respeito.
À data da morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, seria ocupante da casa, Laura Pereira Leitão (que foi casada com Alfredo dos Santos Pessanha, moradora, na Rua de Cedofeita nº 333, à data do falecimento de sua mãe, em 1881, do qual foi inventariante).
Tal dedução fica a dever-se ao facto de, por morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, em 1911, ter sido sua vontade, em testamento, de deixar a metade da casa que possuía, a sua sobrinha Maria José Faria, filha do seu irmão, Henrique Ribeiro de Faria e o usufruto a Laura Pereira Leitão.
Esta será a razão pela qual a casa é identificada nos arquivos municipais, por “Casa de D. Laura Leitão”.
A nomeada usufrutuária vai ocupá-la até ao seu falecimento em 1927, quando a casa era propriedade de Maria José Ribeiro de Faria (viúva de João de Melo Sampaio), falecida em 9 de Dezembro de 1951, indo parar às mãos de Júlia de Melo Sampaio de Lencastre, sua herdeira.
Esta vai arrendar a casa, que serviria como sede aos Tribunais Correccionais e, ainda, alojamento de uma Repartição das Finanças.
“Não se sabe como o edifício terá passado para Alfredo
Leite da Silva, o senhor Citroen no Porto e após a sua morte para Augusto
António Marques Tomé, o actual proprietário (dono de uma oficina de reparação
de automóveis que fica pegada), que o recuperou, talvez ainda não no
seu todo, da degradação em que se encontrava”.
Fonte – Blogue: portojofotos.blogspot.pt
A propriedade passando em herança na família Ribeiro de Faria, acabaria nas mãos de Arnaldo Ribeiro de Faria que, em 1911, exarou o respectivo testamento da sua metade, no que à casa dizia respeito.
À data da morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, seria ocupante da casa, Laura Pereira Leitão (que foi casada com Alfredo dos Santos Pessanha, moradora, na Rua de Cedofeita nº 333, à data do falecimento de sua mãe, em 1881, do qual foi inventariante).
Tal dedução fica a dever-se ao facto de, por morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, em 1911, ter sido sua vontade, em testamento, de deixar a metade da casa que possuía, a sua sobrinha Maria José Faria, filha do seu irmão, Henrique Ribeiro de Faria e o usufruto a Laura Pereira Leitão.
Esta será a razão pela qual a casa é identificada nos arquivos municipais, por “Casa de D. Laura Leitão”.
A nomeada usufrutuária vai ocupá-la até ao seu falecimento em 1927, quando a casa era propriedade de Maria José Ribeiro de Faria (viúva de João de Melo Sampaio), falecida em 9 de Dezembro de 1951, indo parar às mãos de Júlia de Melo Sampaio de Lencastre, sua herdeira.
Esta vai arrendar a casa, que serviria como sede aos Tribunais Correccionais e, ainda, alojamento de uma Repartição das Finanças.
Fonte – Blogue: portojofotos.blogspot.pt
Casa de D. Laura Leitão – Desenho de J. Vilanova, c. 1833;
In: gisaweb.cm-porto.pt
A casa actualmente – Fonte: Google maps
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