segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

(Continuação 21) - Actualização em 04/01/2018, 03/09/2020 e 05/04/2021


Instituto de Ciências Empresariais e do Turismo - Ed. JPortojo



Mais à frente mais um edifício que, no entanto, não é dos referenciados pelo Igespar.
Para muitos, é apenas o Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo (ISCET) mas, o que muitos portuenses não sabem, é que a história do número 285 da Rua de Cedofeita não se esgota na actual função. Já lá moraram presidentes da Câmara do Porto e foi lá que Júlio Resende aprendeu a pintar.



“Foi um negociante estabelecido na Rua de S. João, no Porto, que, em 1856, requereu e obteve a licença de construção do edifício que ocupa atualmente o 285 da Rua de Cedofeita.
Joaquim Ferreira Monteiro Guimarães, nascido em Abril de 1819 em Santa Eulália de Barrosas, era um homem influente na cidade, membro da Direção da Mesa da Assembleia da Celestial Ordem da Trindade, e prestigiada figura do comércio de vinhos na cidade romântica de meados de oitocentos. O projeto tinha ficado a cargo de Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa, engenheiro portuense, professor, fundador da Associação Industrial Portuense e que, entre outros trabalhos de relevo, dirigiu as obras do Palácio da Bolsa, colaborou na construção do Palácio de Cristal e projetou o prolongamento da Avenida da Boavista.
A família Guimarães ocupou o edifício até meados da década de 70 do século XIX, tendo apenas sido construído cerca de 1/3 do desmesurado projeto original, altura em que o falecimento de Joaquim e da sua mulher Ermelinda Cândida Leite Ferreira altera o rumo da família, entretanto estabelecida essencialmente na burguesia industrial do Bonfim, graças aos casamentos das filhas com Carlos da Silva Ferreira e Joaquim Fernandes Pereira, proprietários de indústrias de tecelagem, no lado oriental da cidade. O edifício é então vendido em hasta pública à investidora Ana de Macedo que o transmite ainda em vida aos sobrinhos Porfírio de Macedo e Ana Júlia de Macedo. O edifício é ocupado na transição de século pela família Couto, devido ao casamento de Ana Júlia com o industrial portuense João Ferreira de Andrade Couto, proprietário de uma fábrica de conservas em Massarelos e um dos propulsores, juntamente com António da Silva Cunha e Carlos Afonso, da União dos Industriais do Norte, como consequência de uma cisão na Associação Industrial Portuense”.
Fonte – Site: archive-pt-2014.com



Em 1919, o edifício é adquirido por Ana Alice Fernandes, viúva do célebre bombeiro Guilherme Gomes Fernandes, e companheira do já referido António da Silva Cunha, principal sócio da Camisaria Confiança, na Rua de Santa Catarina, onde, em 1896, se rodou o primeiro filme português: “Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança”. Na década seguinte, e depois de Ana Alice Fernandes transferir a sua residência para o Pinheiro Manso, o edifício transforma-se no mais importante centro privado de arte no Porto, graças ao empenho de três personalidades distintas da primeira metade do século XX: Jacinto da Silva Pereira Magalhães, que havia sido presidente da Câmara do Porto e era o proprietário da “Fábrica de tecelagem do Jacinto”, fundada pelo seu avô homónimo, influente nas artes decorativas de interiores e renovador do estilo “casa portuguesa”; e, finalmente, Alberto Silva, pintor e professor de pintura, e motor fundamental do Salão Silva Porto até ao princípio da década de 40, período de maior fulgor da instituição que reuniu e expôs os principais artistas da época em Portugal.
Júlio Resende é o próprio a dizer que  foi ali que aprendeu a pintar, pela mão de Alberto Silva, que era seu professor.
Até meados da década de 60, então dirigido pela família Valverde, o salão Silva Porto, ainda que de forma menos exuberante e influente que nas décadas de 20 e 30, teve um papel importantíssimo na divulgação da arte contemporânea no Porto.



“O edifício da Rua de Cedofeita nº 285 passou assim por 3 períodos distintos: uma fase “residencial” (de 1860 a 1925), outra em que funcionou como “centro de exposições, lugar de tertúlia e de debate sobre cultura no Porto” (de 1925 aos anos 1960) e, por fim, uma fase escolar (até hoje).
Na primeira fase, o imóvel chegou a ser habitado por Francisco Pinto Bessa, o presidente da Câmara do Porto que mais tempo esteve ao serviço da cidade (1867-1878). “Viveu cá no período em que esteve no cargo e foi aqui que faleceu”.
Jacinto da Silva Pereira Magalhães, autarca do Porto entre 1907 e 1910, também morou no 285.
Durante a segunda fase, lá funcionou o Salão Silva Porto”.
Fonte - Alexandra Marques, In site: porto24.pt



“António Carvalho da Silva (Porto, 11 de Novembro de 1850 - Lisboa, 1 de junho de 1893 (42 anos)) foi um pintor português que mais tarde adoptaria para apelido o nome da sua cidade natal, ficando conhecido por Silva Porto.
Estudou na Academia Portuense de Belas Artes, estagiou em Paris (1876-1877) e em Itália (1879).
Em 1879 regressou a Portugal. Aureolado de prestígio, foi convidado para ensinar na Academia de Lisboa como mestre de Paisagem. Em 1880 realiza uma exposição de quadros paisagísticos inundados de luz, tendo D. Fernando adquirido o quadro Charneca de Belas. Fez parte do chamado Grupo do Leão, juntamente com António Ramalho, João Vaz, José Malhoa, Cesário Verde, Columbano e Rafael Bordalo Pinheiro. Entre outros galardões, recebeu a medalha de ouro da Exposição Industrial Portuguesa de 1884 e a primeira medalha do Grémio Artístico”.
In wikipedia.org



Silva Porto no Jardim de S. Lázaro



Casa onde nasceu Silva Porto na Rua da Ponte Nova – Ed. JPortojo




Chá dançante nos jardins do Salão Silva Porto, em 1932 - Fonte: CMP, Arquivo Histórico Municipal



Na sua última fase, a partir dos anos 60, o nº 285 passou a ser um espaço ligado ao ensino.
Em 1968, o edifício passou a albergar uma dependência do Liceu Carolina Michaëlis e, em 1974, ali se instalou a Escola Irene Lisboa e, após ficar vago durante algum tempo, foi ocupado, na década de 90, pelo ISCET.

“Uma breve nota para dizer que Irene do Céu Vieira Lisboa (Casal da Murzinheira, Arruda dos Vinhos, 25 de Dezembro de 1892 – Lisboa, 25 de Novembro de 1958) foi escritora, professora e pedagoga. Estudou na Suíça, França e Bélgica, onde se especializou em Ciências de Educação, o que a habilitou a escrever várias obras sobre assuntos pedagógicos. Durante a estadia em Genebra, mercê de uma bolsa do Instituto de Alta Cultura, teve a oportunidade de conhecer Jean Piaget e Édouard Claparède, com quem estudou no Instituto Jean-Jacques Rousseau. Foi afastada de exercer qualquer cargo pelo Ministério da Educação no tempo do Estado Novo pela sua tentativa de remodelação do ensino primário e ter recusado um lugar em Braga”.
Fonte: portojofotos.blogspot

À direita o nº 285 da Rua de Cedofeita




Confluência das ruas da Torrinha, dos Bragas e Cedofeita – Ed. JPortojo



No percurso que encetamos antes, encontramos agora a Rua da Torrinha e quase em frente a Rua dos Bragas (eram terrenos de José Ribeiro Braga). Voltados para Torre dos Clérigos, fica uma à direita e a outra à esquerda.
A Rua dos Bragas é uma homenagem a José Braga.




Confluência da Rua dos Bragas com a Rua de Cedofeita, ao fundo – Ed. “kantophotomatico.blogspot.pt”



Mesma perspectiva da foto anterior – Fonte: Google maps



Antecedendo esta série de prédios está a Capela dos Anjos.



Capela dos Anjos na Rua dos Bragas. À esquerda a antiga Faculdade de Engenharia, hoje de Direito



A Rua dos Bragas – Ed. JPortojo



Em frente à Rua da Torrinha esteve, em tempos, sob uma arcada do piso térreo de um prédio, a fonte de Cedofeita. Nesse prédio, que ainda existe, esteve a "Pensão La Fontaine" e a escola «Von Hafe Schule» fundada, em 1855, pelo padre Martin Richter.
Aquela escola, viria a dar lugar a um outro projecto, a partir de 18 de Novembro de 1901, que se designou por «Deutsche Schule zu Porto», sedeado na Rua da Restauração, nº 410, e que foi o embrião do Colégio Alemão.





Foto do edifício onde esteve o colégio Von Hafe, a pensão La Fontaine e a fonte de Cedofeita




Palacete dos Brito e Cunha
 

O Palacete da Rua de Cedofeita, 379, com projecto de 1859, que obteve a licença de construção nº 203/1859, foi a morada de António Bernardo Brito e Cunha, filho do mártir da liberdade, com o mesmo nome, executado na Praça Nova pelos carrascos de D. Miguel.
António Bernardo de Brito e Cunha nasceu a 20/10/1808, na Casa da Ruas das Taipas no Porto, casou a 23/04/1857 com D. Guilhermina Júlia Pereira da Silva, teve 4 filhos e uma filha, e faleceu a 30/07/1884.

 
 
Palacete dos Brito e Cunha (2009) – Fonte: Google maps
 

Palacete dos Brito e Cunha, actualmente – Fonte: Google maps




Casa de D. Laura Leitão



Residência de D. Pedro IV durante o cerco – Ed. JPortojo


Continuando a caminhada estamos frente ao nº 395 (frente e traseiras na foto), de um edifício com muita história. Durante o Cerco do Porto nas Lutas Liberais ou Guerra Civil, D. Pedro IV - o 1º Imperador do Brasil - acolheu-se a esta casa depois de ter sido bombardeado no Palácio das Carrancas (hoje Museu Nacional Soares dos Reis), onde tinha os aposentos, pela artilharia das tropas de D. Miguel situadas em Gaia.
A casa era a residência do bacharel Francisco Ribeiro de Faria, casado com Rosa Margarida de Lima, filha de Francisco José de Barros Lima, que foram progenitores de Francisco Ribeiro de Faria (com o mesmo nome de seu pai) que viria a ser, a partir de 14 de Dezembro de 1873, visconde de Barros Lima (título que ficou a dever ao prestígio de seu avô materno) e, ainda, de Eduardo Ribeiro de Faria.
A propriedade passando em herança na família Ribeiro de Faria, acabaria nas mãos de Arnaldo Ribeiro de Faria que, em 1911, exarou o respectivo testamento da sua metade, no que à casa dizia respeito.
À data da morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, seria ocupante da casa, Laura Pereira Leitão (que foi casada com Alfredo dos Santos Pessanha, moradora, na Rua de Cedofeita nº 333, à data do falecimento de sua mãe, em 1881, do qual foi inventariante).
Tal dedução fica a dever-se ao facto de, por morte de Arnaldo Ribeiro de Faria, em 1911, ter sido sua vontade, em testamento, de deixar a metade da casa que possuía, a sua sobrinha Maria José Faria, filha do seu irmão, Henrique Ribeiro de Faria e o usufruto a Laura Pereira Leitão.
Esta será a razão pela qual a casa é identificada nos arquivos municipais, por “Casa de D. Laura Leitão”.
A nomeada usufrutuária vai ocupá-la até ao seu falecimento em 1927, quando a casa era propriedade de Maria José Ribeiro de Faria (viúva de João de Melo Sampaio), falecida em 9 de Dezembro de 1951, indo parar às mãos de Júlia de Melo Sampaio de Lencastre, sua herdeira.
Esta vai arrendar a casa, que serviria como sede aos Tribunais Correccionais e, ainda, alojamento de uma Repartição das Finanças.
 
 
 
“Não se sabe como o edifício terá passado para Alfredo Leite da Silva, o senhor Citroen no Porto e após a sua morte para Augusto António Marques Tomé, o actual proprietário (dono de uma oficina de reparação de automóveis que fica pegada), que o recuperou, talvez ainda não no seu todo, da degradação em que se encontrava”. 
Fonte – Blogue: portojofotos.blogspot.pt






Casa de D. Laura Leitão – Desenho de J. Vilanova, c. 1833; In: gisaweb.cm-porto.pt

A casa actualmente – Fonte: Google maps 

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