Até 1583, no Porto,
dentro do perímetro das chamadas muralhas fernandinas, havia apenas uma
paróquia - a de Nossa Senhora da Assunção, ou da Sé. Da parte de fora do muro
defensivo havia duas; a de Santo Ildefonso, que era enorme; e a de Miragaia.
O acto mais
significativo da administração de D. Frei Marcos de Lisboa, bispo então
recentemente nomeado, foi a criação, em 1583, das novas paróquias de Nossa
senhora da Vitória; S. Nicolau e de S. João de Belomonte.
“O rei Filipe I nomeou para a cátedra
portucalense D. Frei Marcos de Lisboa, também conhecido por D. Frei Marcos de
Betânia, que entrou solenemente no Porto, pela porta Nobre, ou Nova, como era
costume, no Domingo de Ramos de 1582.
D. Frei Marcos de Lisboa, como o apelido o
deixa adivinhar, nasceu em Lisboa no seio de uma família muito humilde. Tinha
apenas treze anos quando entrou para a ordem franciscana, no convento de Santa
Cristina, em Tentúgal. Estudou Teologia em Coimbra e dedicou-se à pregação.
Anos mais tarde, foi nomeado cronista da
ordem em que professara e nessa qualidade deslocou-se a Roma, a pé, pedindo
esmola para seu sustento, cumprindo dessa forma a letra dos estatutos da ordem.
Nessa longa viagem, frequentou cartórios e livrarias, recolhendo informações
que o habilitaram a publicar em 1562 a primeira parte da crónica da sua ordem,
que ofereceu à rainha D. Catarina, viúva de D. João III e regente do reino
durante a menoridade de D. Sebastião.
Em 1574, D. Frei Marcos de Lisboa, ainda um
simples frade, agora do ramo dos Capuchos, para onde entrara em 1568,
acompanhou D. Sebastião a África, onde chegou a ser nomeado bispo de Miranda,
nomeação que, no entanto, não chegou a ser efetivada”.
Fonte: Germano Silva
Foi D. Frei Marcos
de Lisboa que governaria a diocese entre 1582 e 1591, quem mandou construir,
junto ao claustro da Sé, a capela inicialmente denominada de Nossa Senhora da
Saúde e que é hoje a capela de S. Vicente, onde são sepultados os bispos do
Porto. Foi ainda, na sua administração, que se começou a construir a Casa do
Cabido, pegado à catedral.
Em 1583, a freguesia
da Sé (a única existente até então) é fraccionada a partir daí, em quatro
novas: Sé, S. Nicolau, Vitória e Belomonte.
Vinte anos depois e
após a extinção da freguesia de Belomonte, o espaço intra-muros passa a ser dividido
em três freguesias: Sé, S. Nicolau e Vitória.
Em 1758, segundo as
Memórias Paroquiais, a freguesia da Sé, então a mais importante e populosa das
cinco (intra-muros e extra-muros: Sé, Vitória, S. Nicolau, Santo Ildefonso e
Miragaia) tinha cerca de 8287 habitantes.
Até 1836 o Porto
tinha sete freguesias: Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia,
Massarelos e Cedofeita.
Pelo decreto de
26/11/1836 foram-lhe anexadas Lordelo do Ouro, Campanhã e S. João da Foz e por
carta de lei de 27/8/1837, nova anexação, a de Paranhos.
Por portaria de
13/2/1838, procedeu-se a nova demarcação, fixada por uma comissão onde entrava
o bispo, a câmara e delegados das juntas de paróquia e a freguesia de Santo
Ildefonso.
Então, uma área
enorme foi desmembrada, criando-se à sua custa uma nova freguesia, a do Senhor
do Bonfim.
O arredondamento
paroquial de 1838 só foi sancionado pelo decreto de 11/12/1841, sob o referendo
de Costa Cabral.
Em 1895 Ramalde e
Aldoar são integrados no concelho do Porto, como freguesias.
Cronologia da formação de freguesias na cidade do Porto
-Antes de 1583 - Sé
-Em 1583 - Sé, S.
Nicolau, Vitória e Belomonte
-Em 1603 - Sé, S.
Nicolau e Vitória
-Até 1758 - Sé, S.Nicolau,
Vitória, Santo Ildefonso e Miragaia
-Antes de 1836 - Sé,
S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos e Cedofeita
-Em Novembro 1836 -
Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita,
Lordelo, Campanhã e S. João da Foz
-Em 1837 - Sé,
S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo,
Campanhã, S. João da Foz e Paranhos
-Em 1838 - Sé,
S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo,
Campanhã, S. João da Foz, Paranhos e Bonfim
-Em 1895 - Sé,
S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo,
Campanhã, S. João da Foz, Paranhos, Bonfim, Ramalde e Aldoar
Construída a estrada
da Circunvalação, o Decreto de 21 de Novembro de 1895, estabeleceu como limite
da cidade aquela estrada, ficando, porém, a pertencer ao concelho de Bouças e
Gondomar os lugares exteriores que então faziam parte das freguesias de
Paranhos e Campanhã, lugares que, pelo decreto de 13 de Janeiro de 1898, foram
incorporados no concelho do Porto.
Freguesias do Porto
No fim do século
XVIII, na “Descripção Topográfica e Histórica da Cidade do Porto” o padre
Agostinho Rebelo da Costa diz que a cidade do Porto tinha 10 freguesias:
Sé; S. Nicolau;
Vitória; Santo Ildefonso; S. Pedro; Senhora da Boa Viagem; Cedofeita; Campanhã;
Santa Marinha e S. Cristovão de Mafamude.
Em termos de
administração do território, após a guerra civil que teve como palco principal
a cidade do Porto em 1832/33, ainda em Ponta Delgada, antes do embarque para o
Porto, D. Pedro IV promulgou o decreto de 16/5/1832, pelo qual dividiu o país
em círculos judiciais, estes em comarcas, estas em julgados e estes em
freguesias.
Já no Porto, em
4/12/1832, dividiu a cidade em 3 distritos ou bairros: Cedofeita, Santo Ovídio
e Santa Catarina. O de Santa Catarina incorporava o concelho de Gondomar e os
julgados de S. Pedro da Cova, Avintes e Grijó.
A partir do desfecho
do Cerco do Porto e com a vitória dos liberais, a divisão administrativa sofreu
sucessivos arranjos, alterações e rearranjos.
Junta de freguesia e junta de paróquia
“Ao longo do tempo, na tradição
político-administrativa portuguesa e em algumas obras historiográficas,
encontram-se referências contraditórias sobre a designação das circunscrições
territoriais. Embora não pareça existir discussão quanto à distinção entre
concelho e município, da mesma forma não acontece com paróquia e freguesia.
Neste último caso, como ambas as instituições se incluem no mesmo âmbito
territorial, por vezes coincidentes enquanto circunscrição, devemos entender
primeiro a sua formação e evolução.
De criação mais remota que os concelhos, as
paróquias tiveram a sua origem na divisão eclesiástica do território, e
formam-se desde o momento que num local onde exista uma população estável seja
edificada uma igreja e nela se apresente um pároco. A importância da paróquia,
tanto na estrutura eclesiástica como no quotidiano das populações, torna-se
evidente quando se pretende delimitar administrativamente um território. É
neste instante que surge a dificuldade quanto às designações a tomar. Como aos
fiéis da igreja paroquial está associada a designação de fregueses, desde logo
se refere a unidade territorial como freguesia e passa indistintamente a ser
utilizada qualquer das designações.
As paróquias e freguesias estão intimamente
ligadas na sua génese e evolução, mas hoje já não se confundem. É extremamente
difícil, no entanto, definir correctamente quando uma freguesia foi criada,
principalmente se a elevação de um núcleo urbano de certa importância a
freguesia tiver sido anterior à do município em que se enquadra
administrativamente. Se exceptuarmos os casos de freguesias criadas no final do
século XIX e durante o século XX, no cumprimento do estabelecido no Código
Administrativo e, mais recentemente, na legislação a esse respeito sobre as
autarquias locais, para as restantes devem ser utilizadas algumas cautelas
quanto à determinação da origem.
A paróquia tem hoje a sua posição na divisão
eclesiástica do território e a freguesia existe enquanto circunscrição
territorial num contexto político-administrativo determinado por lei. Nem
sempre foi assim, motivo pelo qual devemos atender a questões de natureza
legal.
Em 1830,
pelo Decreto de 26 de Novembro, são instituídas as juntas de paróquia,
as quais pretendiam substituir os juízes das vintenas, ou dos limites, e os
juízes eleitos. Só teve execução em parte dos Açores, onde estava o Governo da
Regência.
Em 1832, na
reforma da organização administrativa iniciada por Mouzinho da Silveira, são
extintas as juntas de paróquia. São também excluídas as paróquias da
divisão do território e da organização administrativa, considerando-as a lei um
mero agregado social e religioso (Decreto nº 23, de 16 de Maio).
Em 1835,
pela Lei de 25 de Abril, as freguesias são incluídas na divisão
administrativa do território. Confirmadas as freguesias pelo Decreto de 18 de
Julho, são restabelecidas as juntas de paróquia e consignadas as suas funções
administrativas. A freguesia passava a ter limites próprios e correspondia
ao território sob influência da paróquia.
Em 1836, o
Código Administrativo mantém a mesma situação, assim como a Lei de 26 de
Outubro de 1840, com a única diferença de se colocar obrigatoriamente como presidente
da junta o pároco.
Em 1842, o
Código Administrativo mantém a designação do pároco como presidente, mas as
paróquias já não são incluídas na organização da administração pública. A
junta de paróquia passa a ter atribuições limitadas à administração da fábrica
da igreja e dos bens da igreja paroquial, para além de desempenhar actos de
beneficência.
Em 1870, pelo
Código Administrativo, são extintas as juntas de paróquia, mas apenas
durante cinco meses. Quando é aprovado novo Código, nesse mesmo ano, as
juntas de paróquia voltam a fazer parte da organização administrativa.
Em 1878, o
Código Administrativo determina uma nova organização e atribuições das juntas
de paróquia, sendo livre a escolha do seu presidente.
Em 1895, o
Código Administrativo repõe na presidência da junta os párocos. A mesma
posição é seguida no Código Administrativo de 1896.
Devido à implantação da República, a qual
provoca a separação do Estado e da Igreja, é colocado em vigor o Código
Administrativo de 1878, retirando, assim, a presidência aos párocos.
A Lei nº 88, de 7 de Agosto de 1913,
promove a organização das paróquias civis, numa clara distinção das
paróquias eclesiásticas, embora assuma o mesmo limite territorial.
Finalmente, a Lei nº 621, de 23 de Junho
de 1916, altera definitivamente a designação da junta de paróquia para
junta de freguesia, mantendo-se praticamente sem alterações até hoje as
suas componentes políticas e administrativas”.
Cortesia de Jorge
Afonso (Arquivo Municipal de Loures)
Miragaia é uma freguesia do concelho do Porto, com 0,49 km² de área e 2067 habitantes (2011). Densidade: 4218,4 hab/km².
Miragaia, Vitória e São Nicolau são as três freguesias que
integram o primitivo núcleo da cidade do Porto e que, juntamente com a
freguesia da Sé (a primeira a ser constituída) correspondem à cidade medieval
delimitada, no século XIV, pelas Muralhas Fernandinas. A partir desse núcleo é
que o Porto se desenvolveu, acompanhando as principais vias de comunicação,
tanto ao longo da margem direita do rio Douro como para o interior.
Rua de Miragaia antiga Rua dos Cobertos
Largo de Miragaia na cheia de 1909
Antecedentes
À época da Invasão romana da península Ibérica, no século
II, o chamado itinerário do imperador (Antonino Pio) indica, na margem direita
do rio Douro, um pequeno areal que servia de porto para as embarcações e por
isso mesmo denominado como “ Portus”
e que, na outra margem, mesmo em frente, tinha uma pequena povoação denominada “Cale”. Nesta povoação, os viajantes
que vinham pela estrada romana de Bracara Augusta para o sul, depois de
transportados pelas embarcações tomadas no areal de “Portus”, eram conduzidos
para leste do hoje desaparecido Castelo de Gaia, rumo a Lancobrica (actual Feira), Talabrica
(actual Aveiro) ou Aeminium (actual
Coimbra).
Outros autores pretendem que a povoação tenha outras
origens, com base numa inscrição epigráfica na sua igreja, onde se lê, em
latim:
"Prima
Cathedralis fecit haec. Basilius oh egris quam pedibus sanus, condidit inde
Petro" (em língua portuguesa, "Esta foi a primeira catedral do Porto.
S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou
a S. Pedro").
Basílio, apontado por alguns como primeiro bispo do Porto,
teria falecido em 37, sendo essa argumentação, hoje, objeto de discussão.
Esta é a hipótese aventada por D. Rodrigo da Cunha, no seu
"Catálogo dos bispos do Porto".
Diz este antigo bispo portucalense que, no lugar onde está a
igreja paroquial de Miragaia, teria estado a primeira Sé portucalense fundada
por São Basílio ou Basileu, "primeiro bispo do Porto", conforme
"assegura" a inscrição apócrifa gravada na parte cimeira de uma
porta lateral do referido templo...
Esta hipótese como é óbvio não corresponde à realidade. É um
devaneio, para não dizer um embuste.
A inscrição de que nos fala D. Rodrigo da Cunha
A lenda de Gaia
“Uma lenda popular
alude à origem do nome da freguesia.
No ano de 932, o rei
D. Ramiro desceu da Galiza para raptar Zahara, a bela irmã do xeque Alboazar.
Este por sua vez, como vingança, raptou a não menos bela esposa de Ramiro, a
rainha Gaia, tendo ambos vindo a apaixonar-se um pelo outro. Ramiro, ignorando
este amor, vem com o filho e as suas gentes de armas até ao castelo do rei
mouro que se erguia na margem esquerda do rio Douro, a caminho da Foz. Ramiro
escondeu as suas gentes numa encosta, sob a folhagem e, vestido de romeiro,
subiu a mesma postando-se junto a uma fonte, no aguardo de novidades. Uma
criada veio buscar água fresca à fonte para a sua nova ama – a cristã. Num
átimo, Ramiro escondeu o seu próprio anel na bilha de água da moura e continuou
a aguardar.
A rainha Gaia, ao
encontrar o anel na bilha da água, pressentiu a verdade e mandou chamar o
romeiro à sua presença. Apaixonada pelo mouro, decidida a desfazer-se do marido
cristão, embriagou-o e prendeu-o num quarto, que foi aberto à chegada de
Alboazar. Ramiro tentou reagir mas em pouco tempo foi rendido pelas gentes do
mouro que, sorrindo, perguntou-lhe o que ele, um rei cristão, faria se tivesse
em suas mãos o seu inimigo. Tendo em mente o combinado com os seus homens,
ainda ocultos na encosta, Ramiro respondeu que lhe faria comer um capão, beber
um canjirão de vinho, e depois postá-lo-ia no topo de uma torre a tocar trompa
até rebentar. Alboazar achou graça e garantiu-lhe que seria essa então a sua
morte. Para maior gáudio, determinou abrir os portões do castelo convidando
todos os moradores extramuros a assistí-la.
Ramiro comeu, bebeu,
foi conduzido ao alto da torre e tocou a trompa até que as suas gentes, ao
ouvir o sinal combinado, irromperam pelos portões abertos do castelo,
chacinando as tropas do mouro desprevenidas. O próprio Ramiro matou Alboazar e,
tomando a sua mulher, embarcou, seguido pelos seus homens. A bordo, encarou o
pranto da esposa, que contemplava desolada as ruínas do castelo, e pergunta-lhe
qual a razão, sendo respondido:
"Perguntas-me o
que miro?
Traidor rei, que
hei-de eu mirar?
As torres daquele
Alcácer
Que ainda estão a
fumegar!
Se eu fui ali tão
ditosa,
Se ah soube o que era
amar,
Se ah me fica a alma e
a vida…
Traidor rei, que
hei-de eu mirar?
Pois mira, Gaia! E,
dizendo,
Da espada foi
arrancar:
Mira Gaia, que esses
olhos
Não terão mais que
mirar!
Ainda de acordo com
essa tradição, até os nossos dias, a encosta que o rei teria subido em Gaia
denomina-se Rua do Rei Ramiro, a fonte, fonte do Rei Ramiro; as armas da cidade
de Vila Nova de Gaia figuram uma torre encimada por um cavaleiro tocando
trompa, e a zona do Porto, diante do local onde a rainha foi morta, denomina-se
Miragaia.
Contudo, o nome de
Miragaia poderá ter uma explicação bem mais prosaica, resultando do simples
facto de estar em frente a Gaia, ou seja, a estar a mirar (ver).
Quanto à Lenda de
Gaia, ela própria, para lá de todo o folclore que ficou acima descrito, importa
sobretudo atender a duas questões centrais: o texto original que consta no
Livro Velho de Linhagens (século XIII) e a identificação do rei Ramiro que nele
é protagonista. E só há duas alternativas: ou é D. Ramiro I, falecido em 850,
ou seu trineto D. Ramiro II (931 - 951), sendo que de ambos o filho herdeiro se
chamou Ordonho. E a resposta é bem fácil de dar, uma vez que é completamente
impossível que as circunstâncias relatadas na lenda se tivessem passado entre
931 e 951, cronologia em que o Porto e Gaia estavam já sobre seguro domínio
cristão, desde a conquista de Vimara Peres em 868. Assim, ou não damos qualquer
crédito à lenda ou temos de a datar em meados do século IX, tendo D. Ramiro I e
seu filho D. Ordonho I como protagonistas”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Para melhor se poder avaliar a lenda, transcreve-se aqui o
texto original do Livro Velho:
«Este rei D. Ramiro
seve casado com uma rainha e fege nela rei D. Ordonho; e pois lha filhou rei
Abencadão, que era mouro, e foi-lha filhar em Salvaterra, no lugar que chamam
Mier. Então era rei Ramiro nas Asturias, e quando Abencadão tornou aduce-a para
Gaia, que era seu castelo; e, quando veio, rei Ramiro não achou a sa mulher e
pesou-lhe ende muito, e enviou por naves seu filho D. Ordonho e por seus
vassalos e fretou sas naves e meteu-se em elas, e veio Sanhoane da Furada (hoje
Afurada, na foz do Douro, do lado de Gaia); e pois que a nave entrou pela foz,
cobriu-a de panos verdes, em tal guisa que cuidassem que eram ramos, ca entonce
Douro era coberto de uma parte e de outra de arvores; e esse rei Ramiro
vestiu-se em panos de veleto, e levou consigo sa espada e seu corno, e falou
com seu filho e com seus vassalos que, quando ouvissem o seu corno, que todos
lhe acorressem e que todos jouvessem pela ribeira per antre as arvores, fora
poucos que ficassem na nave para mantê-la. E ele foi-se estar a uma fonte que
estava perto do castelo; e Abencadão era fora do castelo e fora correr monte
contra Alafão. E uma donzela que servia a rainha levantou-se pela manhã, que
lhe fosse pela água para as mãos; e aquela donzela havia nome Ortiga; e ele
pediu-lhe água pela arávia, e ela deu-lha por um autre, e ele meteu um camafeu na
boca, o qual camafeu havia partido com sa mulher, a rainha, pela meiadade. Ele
deu-se a beber e deitou a anel no autre, e a donzela foi-se e deu ágia à
rainha, e caiu-lhe o anel na mão e conheceu-o ela logo. A rainha perguntou quem
achara na fonte; ela respondeu-lhe nom era hi ningém; ela disse que mentia, e
que lho nom negasse, ca lhe faria por ende bem e mercê; e a donzela lhe disse
entom que achara um mouro doente e lazarado e que lhe pedira água que bebesse,
e ela que lha dera; e entonce lhe disse a rainha que lhe fosse por ele, e se hi
o achasse que lho aducesse. A donzela foi por ele e disse-lhe ca lhe mandava
dizer a rainha que fosse a ela; e entonces rei Ramiro foi-se com ela; e ele,
entrando pela porta do paço, conheceu a rainha e disse-lhe: - Rei Ramiro, quem
te aduce aqui? E ele lhe respondeu: - Ca pequena maravilha! E ela disse à
donzela que o metesse na câmara e que nom lhe desse que comesse nem que
bebesse; e a donzela pensou dele sem mandado da rainha. E ele jazendo na
câmara, chegou Abencadão e deram-lhe que jantasse, e despois de jantar, foi-se
para a rainha, e dês que fizeram seu prazer, disse a rainha: - Se tu aqui
tivesses rei Ramiro, que lhe farias? O mouro então respondeu: - O que ele a mim
faria: matá-lo. Então a rainha chamou Ortiga que o aducesse da câmara, e ela
assim o fez, e aduce o mouro, e o mouro lhe disse: - És tu rei Ramiro? E ele
respondeu:- Eu sou. E o mouro lhe perguntou: - A que vieste aqui? El-rei Ramiro
lhe disse entom: -Vim ver minha mulher, que me filhaste a torto, ca tu havias
comigo tréguas e nom me catava de ti. E o mouro lhe disse: - Vieste a morrer,
mas quero-te perguntar: se me tivesses em Mier, que morte me darias? El-rei
Ramiro era muito faminto, e respondeu-lhe assim: - Eu te daria um capão assado
e uma regueifa e faria-te tudo comer e dar-te-ia em cima uma copa cheia de
vinho que bebesses; em cima, abrira portas do meu curral e faria chamar todas
as minhas gentes, que viessem ver como morrias, e faria-te subir a um padrão e
faria-te tanger o corno até que te hi saisse o fôlego. Então respondeu-lhe
Abencadão: -Essa morte te quero eu dar. E fez abrir os currais, e feze-o subir
em um padrão que hi entom estava; e começou rei Ramiro entom seu corno tanger,
e começou chamar sa gente pelo corno, que lhe acorressem, ca agora havia tempo.
E o filho, como o ouviu, acorreu-lhe com seus vassalos, e meterom-se pela porta
do castelo, e ele desceu-se do padrom adonde estava, e veio contra eles e tirou
sa espada da bainha e descabeçando atá o menor mouro que havia em toda Gaia, andaram
todos à espada, e nom ficou em essa vila de Gaia pedra sobre pedra que tudo não
fosse em terra. E filhou rei Ramiro sa mulher com sas donzelas e quando haver
hi achou e meteu na nave, e quando foram a foz de Ancora amarraram as barcas e
comeram e folgaram, e D. Ramiro deitou-se a dormir no regaço da rainha e a
rainha filhou-se a horar, e as lágrimas dela caeram a D. Ramiro pelo rosto, e
ele espertou-se e disse porque chorava? E ela disse-lhe: - Choro por o mui bom
mouro que ataste. E então o filho, que andava hi na nave, ouviu aquela palavra
que sa madre dissera e disse ao padre: - Padre, não levemos connosco mais o
demo. Entom rei Ramiro filhou uma mó que trazia na nave e ligou-lha na garganta
e ancorou-a no mar, e des aquela hora chamaram hi Foz de Ancora. Este D. Ramiro
foi-se a Mier e fez sa corte, e contou-lhe tudo como acaecera, e entom baptizou
Ortiga e casou com ela e louvou-lhe toda sa corte muito, e pos-lhe nome D.
Áldara, e fege nela um filho, e quando nasceu pos-lhe o padre o nome Alboazar,
e disse entom o padre que lhe punha este nome porque seria padre e senhor de
muito boa fidalguia.»
A Miragaia medieval
De acordo com Monsenhor Augusto Ferreira, Miragaia começou a
ser povoada em 1243 e, à época da morte do bispo D. Pedro Salvadores (24 de
Junho de 1247) Miragaia era então um pequeno povoado de pescadores, em
crescimento à beira-rio.
É lícito crer-se que Miragaia já estava ligada à cidade do
Porto, adossando-se mesmo à muralha iniciada em 1336 sob o reinado de Afonso IV
de Portugal, popularmente denominada como a "Muralha Fernandina", por
terem sido concluídas no reinado de Fernando de Portugal. Por sua proximidade
ao rio e à praia, nela desenvolveram-se actividades ligadas à pesca, ao
transporte e ao comércio de mercadorias tanto por via fluvial quanto marítima e
à construção naval.
Judeus e Arménios
“Concomitantemente ao
povoamento intra-muros da cidade do Porto, a zona ribeirinha da chamada
"praia de Miragaia" e o vizinho morro da Vitória, também atraíram
moradores, neles vindo a fixar-se populações oriundas da região do Minho, assim
como grupos imigrados de judeus e de arménios, estes últimos a trabalhar
sobretudo como artífices e mercadores. Para o provar aqui continuam a Rua
Arménia, e a Rua de Ansira (cidade arménia).
A fixação de uma
comunidade de origem judaica levou a que o morro de Miragaia passasse a ser
conhecido como "monte dos judeus"
Tendo sido erguida uma
sinagoga (posteriormente demolida para a construção do Convento da Madre de
Deus de Monchique) e instalado um cemitério, formou-se então a judiaria de
Monchique à semelhança do que aconteceu nas freguesias da Vitória e da Sé.
Esta comunidade, que
com sua actividade comercial grandemente contribuiu para o desenvolvimento da
freguesia de Miragaia, ao final do século XIV, foi transferida para a judiaria
do Olival e com uma política segregacionista juntava-se, num único bairro, os
diversos núcleos judaicos, já que além do das Aldas/Santana/Rua dos Mercadores,
havia também comunidades isrealitas em S. João Novo e em Monchique, no sítio
conhecido por Monte dos Judeus e onde havia também uma sinagoga.
Sob o reinado de
Manuel I de Portugal, tendo sido promulgado o decreto real para a expulsão dos
judeus do reino, ao receberem da Câmara a comunicação do mesmo, puderam os
judeus do Porto, sem maiores constrangimentos, embarcar com destino à
Inglaterra e aos Países Baixos.
Na primeira metade do
século XV, instalou-se no Porto um grupo de arménios, em busca de refúgio após
a queda de Constantinopla diante do Império Otomano em 1453. Estes imigrantes
trouxeram consigo as relíquias de S. Pantaleão, martirizado em Nicomédia em 305, que se tornou patrono da cidade. Estas relíquias foram depositadas na
Igreja de Miragaia e mais tarde, em cofre de prata lavrada oferecido por D.
Manuel I, para dar cumprimento a uma das últimas disposições do seu antecessor,
D. João II, foram para a catedral na Sé.
Com aquele cofre de
prata e com as relíquias, se fizeram de sete em sete anos grandiosas procissões,
até que em 1834 roubaram o dito cofre, que não mais apareceu, com relíquias ou
não, é segredo bem guardado.
No século XVIII,
Miragaia constitui-se em bairro da cidade compreendendo o Bairro de Miragaia, as
freguesias de São Pedro, Nossa Senhora da Boa Viagem e Cedofeita, mesmo período
em que surgem outros bairros importantes como Sé e Vitória (intra-muros), Santo
Ildefonso e Vila Nova.
Na sequência da
industrialização em Portugal, na passagem do século XIX para o XX, as quatro
freguesias que constituem o Centro Histórico do Porto atingem a sua máxima
ocupação, em consequência da migração de populações do campo para a cidade. Ao
mesmo tempo, com a saída das famílias burguesas para zonas mais próximas das
novas vias de comunicação (como por exemplo, a do porto de Leixões e a da
Circunvalação), assiste-se a uma crescente pauperização do núcleo histórico,
pelo aluguer de quartos das antigas casas de família ao proletariado nas novas
fábricas, e pela construção de imóveis de habitação estreitos, com até cinco
pavimentos, para atender a esse mercado. Ao longo das décadas, esses fatores
levaram a uma crescente degradação urbanística e a um acentuado declínio da
qualidade de vida na região, nomeadamente nas décadas de 1960 e de 1970”.
Fonte: pt.wikipedia.org
A chegada dos arménios à cidade com as relíquias de S. Pantaleão deverá ser entendida como fazendo parte de uma lenda, própria daqueles tempos, ainda, de toda uma actividade ligada ao negócio e adoração de relíquias de santos. Relíquias de S. Pantaleão existem em várias cidades da Europa.
Por sinal, na Arménia, o santo é praticamente desconhecido.
Quanto ao roubo das relíquias, acontecido após o termo das lutas liberais, nunca se soube quem foi o autor, embora, por exemplo, Pinho Leal na sua obra "Portugal Antigo e Moderno", no volume sétimo e na parte dedicada ao Porto escreve: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura."
Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, voltaram à cena as
preocupações políticas com a revitalização urbana e também social da zona
histórica, nomeadamente com a criação do "Comissariado para a Recuperação
Urbana da área da Ribeira-Barredo" (CRUARB), que chegou mesmo a tornar-se
num projecto municipal de intervenção, recentemente extinto.
Com a classificação da zona histórica do Porto como
Património Cultural da Humanidade pela UNESCO (1996) e com a realização da
Cimeira Ibero-Americana (1998) na freguesia de Miragaia, fizeram-se sentir
alguns avanços por parte do poder local nos processos de reabilitação do
património edificado, embora não se tenha vislumbrado de uma forma mais ampla
uma melhoria concreta das condições habitacionais nas freguesias que integram o
núcleo histórico.
“Antes da construção
do edifício da nova Alfândega, diante das casas da Rua de Miragaia, ou Rua
Nova de Miragaia, "que corre junto à praia do Douro", como aparece
denominada num documento de 1400, havia um extenso areal, o chamado Sítio da Praia, porque de uma praia se
tratava, onde se construíam navios e daí o nome de Largo dos Navios. Mas Largo dos Navios não foi o único nome
que o referido logradouro teve. Chamou-se também Largo do Escampado, que quer dizer, sítio desprovido de árvores ou
terreno extenso, inculto e deserto; foi, apenas, Escampadouro; e, ainda, Largo
da Fonte da Colher, por ficar muito perto da fonte com esta designação,
ainda existente.
É voz corrente, entre
os historiadores do Porto, que os primeiros estaleiros da cidade devem ter
funcionado num pequeno areal que existiu entre a foz do rio da Vila, que hoje
podemos localizar na Praça da Ribeira, e o edifício da Alfândega Velha, a nossa
muito conhecida Casa do Infante.
Com a construção da
muralha fernandina (1336-1376), os estaleiros que funcionavam na Ribeira
transferiram-se para o sítio dos Banhos (diante da igreja de São Francisco) e
daqui deslocaram-se para Miragaia e para Vila Nova, "na margem esquerda
do rio". Naquele tempo, o areal, ou praia de Miragaia era muito
amplo e possuía, por isso, capacidade mais do que suficiente para receber os
estaleiros que, segundo referiu Fernão Lopes, numa das suas crónicas sobre o
Porto, rapidamente se transformou no estaleiro mais importante, não da cidade,
mas do país.
Uma curiosidade: os
terrenos onde funcionavam os estaleiros de Miragaia não eram da Câmara, como,
naturalmente, seria de supor. Pertenciam à então riquíssima e influente
Confraria de São Pedro de Miragaia, que recebia da Câmara uma renda anual pela
sua utilização.
Foi nos estaleiros de
Miragaia que se construiu uma boa parte dos navios que integraram a armada
(1415) da expedição a Ceuta. Ali se fizeram também (século XV) naus para a
carreira da índia, tendo as duas naus
principais, a S. Gabriel e S. Rafael sido construídas, nada
mais, nada menos do que no Porto, nas taracenas (estaleiro de navios) de
Miragaia em 1496”.
Com a devida vénia a
Germano Silva
“Quanto à construção naval no areal de
Miragaia, com efeito, já desde meados do século XV (diz-nos Amândio Barros no
seu trabalho) que o Rei fizera encomendas de navios a estes estaleiros, sendo
que, ainda no início do XVI, um veneziano que enviava um relatório à Senhoria de Veneza (algum espião
uma vez que Veneza foi uma das lesadas no trato com a mercadoria da Índia?)
reconhecia serem as naus dos armadores portugueses maioritariamente construídas
na Flandres, Biscaia e muitas
poucas se fazem cá, e essas poucas no Porto.
Só na década de vinte desse século, com o
advento da Ribeira das Naus em
Lisboa, o Porto se viu privado da primazia na construção naval. E mesmo o início
de actividade em Lisboa contou com muitos carpinteiros "importados"
daqui, por serem os mais conceituados e sem dúvida dando formação - para fazer
uso da linguagem atual - e orientando o arranque dessas taracenas lisboetas,
que bem representadas estão em vistas quinhentistas e seiscentistas da cidade.
Como nota final, quero apenas acrescentar que
terá sido por esta altura que D. Manuel terá transformado o postigo que dava
para Miragaia numa verdadeira porta (a Porta Nova depois também chamada Nobre).
E isto se vê pela passagem seguinte que faz parte das contas da Câmara do Porto
de 1496 relacionadas com a despesa do alargamento da porta que dava para o
estaleiro, para permitir a passagem da madeira e outros materiais: (...) coregimento do Postigo de Álvaro Gonçalves da
Maia (...) por boa servintia das naus que se ora fazem de El-Rei nosso Senhor”.
In aportanobre.blogspot
Segundo as inquirições de 1258, mandadas fazer por D. Afonso
III, naquele ano, já havia, neste bairro de Miragaia, "setenta casas e em cada dia se faziam mais". Em 1391
mandou-se fazer, em Miragaia, "uma
estalagem grande e boa". Na Rua Nova de Miragaia, antiga Rua
dos Cobertos, havia, no século XV, "antigas
e notáveis fontes".
Mais algumas referências à toponímia local: a Rua Arménia deve este nome aos arménios
que ali se instalaram desde que chegaram a Miragaia, no século XV, com o corpo
de S. Pantaleão. Esta mesma artéria teve outras designações: Rua
de Trás, Rua da Barreira, "que vai da muralha fernandina até à fonte
do Touro".
A Rua de São Pedro de Miragaia chamou-se, antes, Rua
do Rio Frio por, sob ela, passar, devidamente encanado, o rio com
aquele nome.
Ficou célebre este rio na história da cidade e foi a causa
de um longo pleito entre a Coroa e a Mitra. Na interpretação da leitura do
documento da doação do couto do Porto por D. Teresa ao bispo D. Hugo, a Mitra,
ou seja o bispo, argumentava que o "canal maior" referido no documento
como limite do couto era o rio Frio, em Miragaia; a Coroa, ou seja, o rei,
fazia uma leitura diferente ao dizer que o tal "canal maior" era o
rio da Vila que desaguava na Ribeira. O que estava em causa era o domínio do
bairro de Miragaia que crescia a olhos vistos, em termos urbanísticos, e
prosperava do ponto de vista económico.
A Alfândega Nova
A Alfândega Nova por volta de 1880 - Ed. Jean Lauren
Sobre a alfândega
nova o historiador Dr. Artur de Magalhães Basto, na sua História da Cidade do
Porto, escreve:
“ Logo em 1822, é
reconhecida como necessária, quanto urgente, a construção de uma nova
alfândega:
a antiga – o
velho “almazém” real – tendo anexado, muito embora, dependências de outros
edifícios situados nas imediações, não dispunha já de suficientes acomodações
para receber, por exemplo, a carga de 36 navios, de lotação de 500 caixas de
açúcar cada um, ou de fazendas diversas.
Onde edifica-la?
O lugar mais apropriado, acentuava-se no estudo dedicado à solução do problema,
seria o mesmo da velha alfândega. Para tanto se necessitava, porém, “ da
corrente de casas, desde a esquina da portagem à esquina dos Vanzeleres, na Rua
Nova dos Ingleses e tudo em linha recta ao rio… Reconhecia-se, entretanto, que
esta solução, obrigando a uma despesa que devia montar a 800 contos de reis,
implicava também a demolição de alguns dos melhores e mais nobres edifícios da
cidade. Sugeria o autor do plano, em consequência, que fosse estudada a
possibilidade de reservar, para a desejada, ou o Convento de S. Domingos ou o
de S. Francisco um e outro com as cercas respectivas…”
Fonte: portoarc.blogspot
A obra, acima
narrada era tão onerosa que o projecto não foi para diante.
O edifício da
Alfândega Nova foi mandado edificar em 25 de Setembro de 1859, na praia de
Miragaia, segundo projecto do arquitecto francês Jean Colson da Casa Seyrig (a mesma da Ponte Luiz I)
e ditou a morte dos velhos estaleiros de Miragaia, que, foram deslocados
posteriormente, para junto da ribeira do Ouro ou ribeira da Granja.
O seu primeiro
núcleo foi inaugurado em 1869 e terminada a construção dez anos mais tarde. A
sua edificação implicou a construção da enorme plataforma do cais onde assenta
a Alfândega e que substituiu a antiga praia de Miragaia que desapareceria
completamente.
Esta plataforma está
assente em toros de madeira, ao alto, mergulhados nas águas do rio.
Em 5 de Setembro de
1897 um incêndio atingiu as secções de contabilidade e secretaria que, 3 dias
depois, começou a ser restaurada. O conceito do edifício compreendia não apenas
as infraestruturas para a entrada e saída de mercadorias, mas também diversas
estruturas de apoio tais como armazéns, vias-férreas, plataformas giratórias
que facilitassem o movimento dos vagões e guindastes. Ainda hoje é o maior
edifício da cidade, ocupando um total de 36.000 metros quadrados.
“A construção da Alfândega Nova exigiu a
abertura de uma rua que a ligasse à actual Rua do Infante D. Henrique. Para tal
foram expropriados e destruídos muitos prédios. Ainda se vê, pegada à Igreja de
S. Francisco, a Capela de Santo Elói, que pertenceu à Confraria dos Ourives do
Ouro, que foi desmontada e, em 1884, reconstruída na Rua de Gondarém, na Foz do
Douro (ver Capelas do Porto). Na foto ainda existem restos da Porta Nobre, do
Postigo dos Banhos e parte da Rua de Cima do Muro. Uma parte destas ruínas,
estão sob o actual estacionamento a montante da Alfândega. Chama-se Rua Nova da
Alfândega porém, vários estudiosos do Porto dizem que se teria chamado, inicial
e logicamente, Rua da Alfândega Nova, em contraste com a Rua da Alfândega que,
subindo do rio, servia a Alfândega Velha. Assim sendo teriam, estes doutos
personagens, toda a razão pois esta não se passou a chamar rua velha da
alfândega. Aliás há pelo menos uma escritura de 1875, onde interfere a C. M.
P., com a informação de Rua da Alfândega Nova, como se pode ler num artigo em O
Tripeiro, série V, ANO XIII, escrito por António Sardinha a páginas 63.”
Fonte: ”portoarc.blogspot”
“A imagem abaixo é uma insignificante
fotografia de uma parte dos cobertos de Miragaia. Contudo, melhor a analisando
podemos verificar que se trata de um documento único.
Miragaia, Rua dos
Cobertos
Ora olhando e para ela verifica-se que estas
3 casas são aquelas que se apresentam no pormenor da imagem abaixo assinaladas
com o rectângulo, assinalado por um X.
A ladeá-las a poente (à esquerda da foto),
estava uma outra já demolida também, no local da qual se encontra hoje aquela
que agora é a primeira casa na Rua de Miragaia vindo do Largo Artur Arcos assinalada
na foto abaixo com o nº 2, mas que não aparece na foto acima.
A nascente dessas habitações existiu uma
outra que tinha a fachada sustentada por dois arcos que davam para a praia de
Miragaia.
Para melhor nos localizarmos, assinale-se na
foto abaixo com o n.º 3 a Porta Nova ou Nobre e o seu fortim e, com o nº 1, o prédio
assente nos tais arcos, que foi também demolido e substituído actualmente pelo
nº 1A da foto mais abaixo.
Miragaia
Vista actual
A casa 1A e 2 estão assinaladas, na foto
acima, para melhor localização e o X marca o local onde estavam as 3 casinhas.
Na foto seguinte se comprova que o prédio dos
arcos a nascente já não existia na altura da intervenção no Bairro dos Banhos,
para construir a Alfândega.
A nascente dos 3
prédios assinalados já não existe nenhum
Como curiosidade, na imagem abaixo, que
consiste num pormenor da gravura de 1736 de Duncalf, podem-se vislumbrar os
edifícios referenciados, em parte apresentando já varandas que parecem ser de
ferro e outras ainda usando um sistema com portadas de madeira que abrem
debaixo para cima e não para os lados como estamos modernamente acostumados. Um
sistema sem dúvida mais antigo, talvez remontando ao tempo em que ter vidros
nas janelas era um luxo...
Gravura de Duncalf
em 1736
Sem dúvida terá sido mais o seu estado de
ruína aliado à necessidade de alargar aquele espaço em vista a perda que aquela
zona acabara de sofrer com o desaparecimento da praia de Miragaia, que terá ditado o desaparecimento
daquelas singelas construções não
históricas. Felizmente ficou-nos esta fotografia, outros verdadeiros
monumentos pudessem ter tido essa sorte…”
Com a devida vénia a
Nuno Cruz, Fonte - aportanobre.blogspot
Actualmente a
fachada oposta à exibida na ante-penúltima foto do prédio (assinalado por 1 A)
exibe uma imagem de Artur Arcos.
Retrato de Artur
Arcos - Ed. Carlos Romão
Artur Arcos (1914
-1987) foi um pintor que nasceu, viveu e morreu na zona de Miragaia e que
dedicou muito do seu tempo a retratar, através do desenho e da cor, os motivos
característicos daquela freguesia ribeirinha. Foi um artista popular,
autodidata, que iniciou a sua obra em 1959, com um painel de 9,20 metros de
comprimento, uma vista panorâmica de Miragaia antiga que demorou treze anos a
ser concluído.
Artur Arcos foi
também técnico de artefactos de cimento, empresário e autor de algumas patentes
na área da construção, como, por exemplo, o modelo dos degraus prefabricados em
cimento armado, que permitem a construção de escadas em caracol.
As Caves de vinho do porto na margem direita do rio Douro
A Rua dos Armazéns e a Viela da Companhia na antiga Zona
do Cidral evocam a Companhia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto
Douro, fundada em 1756 pelo marquês de Pombal, no reinado de D. José I. Os dois
topónimos recordam a passagem da sede da Companhia por Miragaia. Depois de ter
adquirido vários prédios na antiga Rua dos Cobertos e na praia de Miragaia, a
Companhia construiu vastos armazéns com capacidade para armazenar mais de 4000
pipas. Pinho Leal, que escreveu em 1875, diz que "esses armazéns comportavam, também, enormes salões, uma ampla
tanoaria, escritórios, casas de alambiques, fábricas de vinagre e abundante
água de bica". Nesta época, a margem direita do rio Douro também
teve assim, as suas caves.
Património Edificado
Antigo Clube dos Ingleses (ou Clube Inglês)
Capela de Nossa Senhora da Esperança
Centro Histórico do Porto
Chafariz da Colher
Chafariz da Rua das Taipas
Chafariz das Virtudes
Convento da Madre de Deus de Monchique
Edifício Alfândega Nova do Porto ou Museu de Transportes e Comunicações
Estátuas (elementos decorativos e muro)
Hospital de Santo António
Igreja de São Pedro de Miragaia
Muralhas Fernandinas (e miradouro)
Palácio dos Carrancas ou Museu Nacional de Soares dos Reis
Palácio de S. João Novo ou Museu de Etnografia e História
Edifícios
Casa das Virtudes (Casa dos Pintos de Meireles / Casa dos
Albuquerques / Edifício da Cooperativa Árvore)
Casa dos Viscondes de S. João da Pesqueira (Palacete dos
Viscondes de S. João da Pesqueira / Sede da Acção Católica Portuguesa)
Casa onde nasceu Almeida Garrett
Conjunto de Habitações em Miragaia (Conjunto de Habitações
SAAL de Miragaia)
Edifício da R. Barbosa de Castro, nºs 29, 31 (e Passeio das
Virtudes, nºs 31, 32)
Edifício da Reitoria da Universidade do Porto
Fonte da Praça do Peixe
Fonte da Quinta das Virtudes (Fonte dos Fogueteiros)
Fonte do Armazém
Fonte do Bicho (Fonte do Macaco)
Fonte Hulsenbos
Instituto de Medicina Legal do Porto
Marco da Bandeirinha (Padrão da Bandeirinha / Pirâmide da
Bandeira da Saúde)
Oficina de Estuques do Sr. Domingos Enes Baganha
Palácio da Bandeirinha ou das Sereias
Passeio das Virtudes (Jardim das Virtudes)
Estátuas e Esculturas
A Justiça (Palácio da Justiça)
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (Passeio das Virtudes)
Serpente
(Passeio das Virtudes)
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