sábado, 12 de novembro de 2016

9. Freguesias - Actualização em 01/02/2018 e 25/06/2020

Até 1583, no Porto, dentro do perímetro das chamadas muralhas fernandinas, havia apenas uma paróquia - a de Nossa Senhora da Assunção, ou da Sé. Da parte de fora do muro defensivo havia duas; a de Santo Ildefonso, que era enorme; e a de Miragaia.
O acto mais significativo da administração de D. Frei Marcos de Lisboa, bispo então recentemente nomeado, foi a criação, em 1583, das novas paróquias de Nossa senhora da Vitória; S. Nicolau e de S. João de Belomonte.


“O rei Filipe I nomeou para a cátedra portucalense D. Frei Marcos de Lisboa, também conhecido por D. Frei Marcos de Betânia, que entrou solenemente no Porto, pela porta Nobre, ou Nova, como era costume, no Domingo de Ramos de 1582.
D. Frei Marcos de Lisboa, como o apelido o deixa adivinhar, nasceu em Lisboa no seio de uma família muito humilde. Tinha apenas treze anos quando entrou para a ordem franciscana, no convento de Santa Cristina, em Tentúgal. Estudou Teologia em Coimbra e dedicou-se à pregação.
Anos mais tarde, foi nomeado cronista da ordem em que professara e nessa qualidade deslocou-se a Roma, a pé, pedindo esmola para seu sustento, cumprindo dessa forma a letra dos estatutos da ordem. Nessa longa viagem, frequentou cartórios e livrarias, recolhendo informações que o habilitaram a publicar em 1562 a primeira parte da crónica da sua ordem, que ofereceu à rainha D. Catarina, viúva de D. João III e regente do reino durante a menoridade de D. Sebastião.
Em 1574, D. Frei Marcos de Lisboa, ainda um simples frade, agora do ramo dos Capuchos, para onde entrara em 1568, acompanhou D. Sebastião a África, onde chegou a ser nomeado bispo de Miranda, nomeação que, no entanto, não chegou a ser efetivada”.
Fonte: Germano Silva



Foi D. Frei Marcos de Lisboa que governaria a diocese entre 1582 e 1591, quem mandou construir, junto ao claustro da Sé, a capela inicialmente denominada de Nossa Senhora da Saúde e que é hoje a capela de S. Vicente, onde são sepultados os bispos do Porto. Foi ainda, na sua administração, que se começou a construir a Casa do Cabido, pegado à catedral.
Em 1583, a freguesia da Sé (a única existente até então) é fraccionada a partir daí, em quatro novas: Sé, S. Nicolau, Vitória e Belomonte.
Vinte anos depois e após a extinção da freguesia de Belomonte, o espaço intra-muros passa a ser dividido em três freguesias: Sé, S. Nicolau e Vitória.
Em 1758, segundo as Memórias Paroquiais, a freguesia da Sé, então a mais importante e populosa das cinco (intra-muros e extra-muros: Sé, Vitória, S. Nicolau, Santo Ildefonso e Miragaia) tinha cerca de 8287 habitantes.
Até 1836 o Porto tinha sete freguesias: Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos e Cedofeita.
Pelo decreto de 26/11/1836 foram-lhe anexadas Lordelo do Ouro, Campanhã e S. João da Foz e por carta de lei de 27/8/1837, nova anexação, a de Paranhos.
Por portaria de 13/2/1838, procedeu-se a nova demarcação, fixada por uma comissão onde entrava o bispo, a câmara e delegados das juntas de paróquia e a freguesia de Santo Ildefonso.
Então, uma área enorme foi desmembrada, criando-se à sua custa uma nova freguesia, a do Senhor do Bonfim.
O arredondamento paroquial de 1838 só foi sancionado pelo decreto de 11/12/1841, sob o referendo de Costa Cabral.
Em 1895 Ramalde e Aldoar são integrados no concelho do Porto, como freguesias.



Cronologia da formação de freguesias na cidade do Porto

-Antes de 1583 - Sé
-Em 1583 - Sé, S. Nicolau, Vitória e Belomonte
-Em 1603 - Sé, S. Nicolau e Vitória
-Até 1758 - Sé, S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso e Miragaia
-Antes de 1836 - Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos e Cedofeita
-Em Novembro 1836 - Sé, S. Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo, Campanhã e S. João da Foz
-Em 1837 - Sé, S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo, Campanhã, S. João da Foz e Paranhos
-Em 1838 - Sé, S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo, Campanhã, S. João da Foz, Paranhos e Bonfim
-Em 1895 - Sé, S.Nicolau, Vitória, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos, Cedofeita, Lordelo, Campanhã, S. João da Foz, Paranhos, Bonfim, Ramalde e Aldoar



Construída a estrada da Circunvalação, o Decreto de 21 de Novembro de 1895, estabeleceu como limite da cidade aquela estrada, ficando, porém, a pertencer ao concelho de Bouças e Gondomar os lugares exteriores que então faziam parte das freguesias de Paranhos e Campanhã, lugares que, pelo decreto de 13 de Janeiro de 1898, foram incorporados no concelho do Porto.




Freguesias do Porto


No fim do século XVIII, na “Descripção Topográfica e Histórica da Cidade do Porto” o padre Agostinho Rebelo da Costa diz que a cidade do Porto tinha 10 freguesias:
Sé; S. Nicolau; Vitória; Santo Ildefonso; S. Pedro; Senhora da Boa Viagem; Cedofeita; Campanhã; Santa Marinha e S. Cristovão de Mafamude.
Em termos de administração do território, após a guerra civil que teve como palco principal a cidade do Porto em 1832/33, ainda em Ponta Delgada, antes do embarque para o Porto, D. Pedro IV promulgou o decreto de 16/5/1832, pelo qual dividiu o país em círculos judiciais, estes em comarcas, estas em julgados e estes em freguesias.
Já no Porto, em 4/12/1832, dividiu a cidade em 3 distritos ou bairros: Cedofeita, Santo Ovídio e Santa Catarina. O de Santa Catarina incorporava o concelho de Gondomar e os julgados de S. Pedro da Cova, Avintes e Grijó.
A partir do desfecho do Cerco do Porto e com a vitória dos liberais, a divisão administrativa sofreu sucessivos arranjos, alterações e rearranjos.



Junta de freguesia e junta de paróquia


“Ao longo do tempo, na tradição político-administrativa portuguesa e em algumas obras historiográficas, encontram-se referências contraditórias sobre a designação das circunscrições territoriais. Embora não pareça existir discussão quanto à distinção entre concelho e município, da mesma forma não acontece com paróquia e freguesia. Neste último caso, como ambas as instituições se incluem no mesmo âmbito territorial, por vezes coincidentes enquanto circunscrição, devemos entender primeiro a sua formação e evolução.
De criação mais remota que os concelhos, as paróquias tiveram a sua origem na divisão eclesiástica do território, e formam-se desde o momento que num local onde exista uma população estável seja edificada uma igreja e nela se apresente um pároco. A importância da paróquia, tanto na estrutura eclesiástica como no quotidiano das populações, torna-se evidente quando se pretende delimitar administrativamente um território. É neste instante que surge a dificuldade quanto às designações a tomar. Como aos fiéis da igreja paroquial está associada a designação de fregueses, desde logo se refere a unidade territorial como freguesia e passa indistintamente a ser utilizada qualquer das designações.
As paróquias e freguesias estão intimamente ligadas na sua génese e evolução, mas hoje já não se confundem. É extremamente difícil, no entanto, definir correctamente quando uma freguesia foi criada, principalmente se a elevação de um núcleo urbano de certa importância a freguesia tiver sido anterior à do município em que se enquadra administrativamente. Se exceptuarmos os casos de freguesias criadas no final do século XIX e durante o século XX, no cumprimento do estabelecido no Código Administrativo e, mais recentemente, na legislação a esse respeito sobre as autarquias locais, para as restantes devem ser utilizadas algumas cautelas quanto à determinação da origem.
A paróquia tem hoje a sua posição na divisão eclesiástica do território e a freguesia existe enquanto circunscrição territorial num contexto político-administrativo determinado por lei. Nem sempre foi assim, motivo pelo qual devemos atender a questões de natureza legal.
Em 1830, pelo Decreto de 26 de Novembro, são instituídas as juntas de paróquia, as quais pretendiam substituir os juízes das vintenas, ou dos limites, e os juízes eleitos. Só teve execução em parte dos Açores, onde estava o Governo da Regência.
Em 1832, na reforma da organização administrativa iniciada por Mouzinho da Silveira, são extintas as juntas de paróquia. São também excluídas as paróquias da divisão do território e da organização administrativa, considerando-as a lei um mero agregado social e religioso (Decreto nº 23, de 16 de Maio).
Em 1835, pela Lei de 25 de Abril, as freguesias são incluídas na divisão administrativa do território. Confirmadas as freguesias pelo Decreto de 18 de Julho, são restabelecidas as juntas de paróquia e consignadas as suas funções administrativas. A freguesia passava a ter limites próprios e correspondia ao território sob influência da paróquia.
Em 1836, o Código Administrativo mantém a mesma situação, assim como a Lei de 26 de Outubro de 1840, com a única diferença de se colocar obrigatoriamente como presidente da junta o pároco.
Em 1842, o Código Administrativo mantém a designação do pároco como presidente, mas as paróquias já não são incluídas na organização da administração pública. A junta de paróquia passa a ter atribuições limitadas à administração da fábrica da igreja e dos bens da igreja paroquial, para além de desempenhar actos de beneficência.
Em 1870, pelo Código Administrativo, são extintas as juntas de paróquia, mas apenas durante cinco meses. Quando é aprovado novo Código, nesse mesmo ano, as juntas de paróquia voltam a fazer parte da organização administrativa.
Em 1878, o Código Administrativo determina uma nova organização e atribuições das juntas de paróquia, sendo livre a escolha do seu presidente.
Em 1895, o Código Administrativo repõe na presidência da junta os párocos. A mesma posição é seguida no Código Administrativo de 1896.
Devido à implantação da República, a qual provoca a separação do Estado e da Igreja, é colocado em vigor o Código Administrativo de 1878, retirando, assim, a presidência aos párocos.
A Lei nº 88, de 7 de Agosto de 1913, promove a organização das paróquias civis, numa clara distinção das paróquias eclesiásticas, embora assuma o mesmo limite territorial.
Finalmente, a Lei nº 621, de 23 de Junho de 1916, altera definitivamente a designação da junta de paróquia para junta de freguesia, mantendo-se praticamente sem alterações até hoje as suas componentes políticas e administrativas”.
Cortesia de Jorge Afonso (Arquivo Municipal de Loures)


Miragaia é uma freguesia do concelho do Porto, com 0,49 km² de área e 2067 habitantes (2011). Densidade: 4218,4 hab/km².
Miragaia, Vitória e São Nicolau são as três freguesias que integram o primitivo núcleo da cidade do Porto e que, juntamente com a freguesia da Sé (a primeira a ser constituída) correspondem à cidade medieval delimitada, no século XIV, pelas Muralhas Fernandinas. A partir desse núcleo é que o Porto se desenvolveu, acompanhando as principais vias de comunicação, tanto ao longo da margem direita do rio Douro como para o interior.

Rua de Miragaia antiga Rua dos Cobertos


Largo de Miragaia na cheia de 1909

Antecedentes

À época da Invasão romana da península Ibérica, no século II, o chamado itinerário do imperador (Antonino Pio) indica, na margem direita do rio Douro, um pequeno areal que servia de porto para as embarcações e por isso mesmo denominado como “ Portus” e que, na outra margem, mesmo em frente, tinha uma pequena povoação denominada “Cale”. Nesta povoação, os viajantes que vinham pela estrada romana de Bracara Augusta para o sul, depois de transportados pelas embarcações tomadas no areal de “Portus”, eram conduzidos para leste do hoje desaparecido Castelo de Gaia, rumo a Lancobrica (actual Feira), Talabrica (actual Aveiro) ou Aeminium (actual Coimbra).
Outros autores pretendem que a povoação tenha outras origens, com base numa inscrição epigráfica na sua igreja, onde se lê, em latim:

"Prima Cathedralis fecit haec. Basilius oh egris quam pedibus sanus, condidit inde Petro" (em língua portuguesa, "Esta foi a primeira catedral do Porto. S. Basílio, apenas se viu são dos pés, a edificou, e por aquele motivo a dedicou a S. Pedro").

Basílio, apontado por alguns como primeiro bispo do Porto, teria falecido em 37, sendo essa argumentação, hoje, objeto de discussão.
Esta é a hipótese aventada por D. Rodrigo da Cunha, no seu "Catálogo dos bispos do Porto". 
Diz este antigo bispo portucalense que, no lugar onde está a igreja paroquial de Miragaia, teria estado a primeira Sé por­tucalense fundada por São Basílio ou Ba­sileu, "primeiro bispo do Porto", confor­me "assegura" a inscrição apócrifa grava­da na parte cimeira de uma porta lateral do referido templo... 
Esta hipótese como é óbvio não corresponde à realidade. É um devaneio, para não dizer um embuste.


A inscrição de que nos fala D. Rodrigo da Cunha



A lenda de Gaia

“Uma lenda popular alude à origem do nome da freguesia.
No ano de 932, o rei D. Ramiro desceu da Galiza para raptar Zahara, a bela irmã do xeque Alboazar. Este por sua vez, como vingança, raptou a não menos bela esposa de Ramiro, a rainha Gaia, tendo ambos vindo a apaixonar-se um pelo outro. Ramiro, ignorando este amor, vem com o filho e as suas gentes de armas até ao castelo do rei mouro que se erguia na margem esquerda do rio Douro, a caminho da Foz. Ramiro escondeu as suas gentes numa encosta, sob a folhagem e, vestido de romeiro, subiu a mesma postando-se junto a uma fonte, no aguardo de novidades. Uma criada veio buscar água fresca à fonte para a sua nova ama – a cristã. Num átimo, Ramiro escondeu o seu próprio anel na bilha de água da moura e continuou a aguardar.
A rainha Gaia, ao encontrar o anel na bilha da água, pressentiu a verdade e mandou chamar o romeiro à sua presença. Apaixonada pelo mouro, decidida a desfazer-se do marido cristão, embriagou-o e prendeu-o num quarto, que foi aberto à chegada de Alboazar. Ramiro tentou reagir mas em pouco tempo foi rendido pelas gentes do mouro que, sorrindo, perguntou-lhe o que ele, um rei cristão, faria se tivesse em suas mãos o seu inimigo. Tendo em mente o combinado com os seus homens, ainda ocultos na encosta, Ramiro respondeu que lhe faria comer um capão, beber um canjirão de vinho, e depois postá-lo-ia no topo de uma torre a tocar trompa até rebentar. Alboazar achou graça e garantiu-lhe que seria essa então a sua morte. Para maior gáudio, determinou abrir os portões do castelo convidando todos os moradores extramuros a assistí-la.
Ramiro comeu, bebeu, foi conduzido ao alto da torre e tocou a trompa até que as suas gentes, ao ouvir o sinal combinado, irromperam pelos portões abertos do castelo, chacinando as tropas do mouro desprevenidas. O próprio Ramiro matou Alboazar e, tomando a sua mulher, embarcou, seguido pelos seus homens. A bordo, encarou o pranto da esposa, que contemplava desolada as ruínas do castelo, e pergunta-lhe qual a razão, sendo respondido:


"Perguntas-me o que miro?
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
As torres daquele Alcácer
Que ainda estão a fumegar!
Se eu fui ali tão ditosa,
Se ah soube o que era amar,
Se ah me fica a alma e a vida…
Traidor rei, que hei-de eu mirar?
Pois mira, Gaia! E, dizendo,
Da espada foi arrancar:
Mira Gaia, que esses olhos
Não terão mais que mirar!

Ainda de acordo com essa tradição, até os nossos dias, a encosta que o rei teria subido em Gaia denomina-se Rua do Rei Ramiro, a fonte, fonte do Rei Ramiro; as armas da cidade de Vila Nova de Gaia figuram uma torre encimada por um cavaleiro tocando trompa, e a zona do Porto, diante do local onde a rainha foi morta, denomina-se Miragaia.
Contudo, o nome de Miragaia poderá ter uma explicação bem mais prosaica, resultando do simples facto de estar em frente a Gaia, ou seja, a estar a mirar (ver).
Quanto à Lenda de Gaia, ela própria, para lá de todo o folclore que ficou acima descrito, importa sobretudo atender a duas questões centrais: o texto original que consta no Livro Velho de Linhagens (século XIII) e a identificação do rei Ramiro que nele é protagonista. E só há duas alternativas: ou é D. Ramiro I, falecido em 850, ou seu trineto D. Ramiro II (931 - 951), sendo que de ambos o filho herdeiro se chamou Ordonho. E a resposta é bem fácil de dar, uma vez que é completamente impossível que as circunstâncias relatadas na lenda se tivessem passado entre 931 e 951, cronologia em que o Porto e Gaia estavam já sobre seguro domínio cristão, desde a conquista de Vimara Peres em 868. Assim, ou não damos qualquer crédito à lenda ou temos de a datar em meados do século IX, tendo D. Ramiro I e seu filho D. Ordonho I como protagonistas”.
Fonte: pt.wikipedia.org

Para melhor se poder avaliar a lenda, transcreve-se aqui o texto original do Livro Velho:

«Este rei D. Ramiro seve casado com uma rainha e fege nela rei D. Ordonho; e pois lha filhou rei Abencadão, que era mouro, e foi-lha filhar em Salvaterra, no lugar que chamam Mier. Então era rei Ramiro nas Asturias, e quando Abencadão tornou aduce-a para Gaia, que era seu castelo; e, quando veio, rei Ramiro não achou a sa mulher e pesou-lhe ende muito, e enviou por naves seu filho D. Ordonho e por seus vassalos e fretou sas naves e meteu-se em elas, e veio Sanhoane da Furada (hoje Afurada, na foz do Douro, do lado de Gaia); e pois que a nave entrou pela foz, cobriu-a de panos verdes, em tal guisa que cuidassem que eram ramos, ca entonce Douro era coberto de uma parte e de outra de arvores; e esse rei Ramiro vestiu-se em panos de veleto, e levou consigo sa espada e seu corno, e falou com seu filho e com seus vassalos que, quando ouvissem o seu corno, que todos lhe acorressem e que todos jouvessem pela ribeira per antre as arvores, fora poucos que ficassem na nave para mantê-la. E ele foi-se estar a uma fonte que estava perto do castelo; e Abencadão era fora do castelo e fora correr monte contra Alafão. E uma donzela que servia a rainha levantou-se pela manhã, que lhe fosse pela água para as mãos; e aquela donzela havia nome Ortiga; e ele pediu-lhe água pela arávia, e ela deu-lha por um autre, e ele meteu um camafeu na boca, o qual camafeu havia partido com sa mulher, a rainha, pela meiadade. Ele deu-se a beber e deitou a anel no autre, e a donzela foi-se e deu ágia à rainha, e caiu-lhe o anel na mão e conheceu-o ela logo. A rainha perguntou quem achara na fonte; ela respondeu-lhe nom era hi ningém; ela disse que mentia, e que lho nom negasse, ca lhe faria por ende bem e mercê; e a donzela lhe disse entom que achara um mouro doente e lazarado e que lhe pedira água que bebesse, e ela que lha dera; e entonce lhe disse a rainha que lhe fosse por ele, e se hi o achasse que lho aducesse. A donzela foi por ele e disse-lhe ca lhe mandava dizer a rainha que fosse a ela; e entonces rei Ramiro foi-se com ela; e ele, entrando pela porta do paço, conheceu a rainha e disse-lhe: - Rei Ramiro, quem te aduce aqui? E ele lhe respondeu: - Ca pequena maravilha! E ela disse à donzela que o metesse na câmara e que nom lhe desse que comesse nem que bebesse; e a donzela pensou dele sem mandado da rainha. E ele jazendo na câmara, chegou Abencadão e deram-lhe que jantasse, e despois de jantar, foi-se para a rainha, e dês que fizeram seu prazer, disse a rainha: - Se tu aqui tivesses rei Ramiro, que lhe farias? O mouro então respondeu: - O que ele a mim faria: matá-lo. Então a rainha chamou Ortiga que o aducesse da câmara, e ela assim o fez, e aduce o mouro, e o mouro lhe disse: - És tu rei Ramiro? E ele respondeu:- Eu sou. E o mouro lhe perguntou: - A que vieste aqui? El-rei Ramiro lhe disse entom: -Vim ver minha mulher, que me filhaste a torto, ca tu havias comigo tréguas e nom me catava de ti. E o mouro lhe disse: - Vieste a morrer, mas quero-te perguntar: se me tivesses em Mier, que morte me darias? El-rei Ramiro era muito faminto, e respondeu-lhe assim: - Eu te daria um capão assado e uma regueifa e faria-te tudo comer e dar-te-ia em cima uma copa cheia de vinho que bebesses; em cima, abrira portas do meu curral e faria chamar todas as minhas gentes, que viessem ver como morrias, e faria-te subir a um padrão e faria-te tanger o corno até que te hi saisse o fôlego. Então respondeu-lhe Abencadão: -Essa morte te quero eu dar. E fez abrir os currais, e feze-o subir em um padrão que hi entom estava; e começou rei Ramiro entom seu corno tanger, e começou chamar sa gente pelo corno, que lhe acorressem, ca agora havia tempo. E o filho, como o ouviu, acorreu-lhe com seus vassalos, e meterom-se pela porta do castelo, e ele desceu-se do padrom adonde estava, e veio contra eles e tirou sa espada da bainha e descabeçando atá o menor mouro que havia em toda Gaia, andaram todos à espada, e nom ficou em essa vila de Gaia pedra sobre pedra que tudo não fosse em terra. E filhou rei Ramiro sa mulher com sas donzelas e quando haver hi achou e meteu na nave, e quando foram a foz de Ancora amarraram as barcas e comeram e folgaram, e D. Ramiro deitou-se a dormir no regaço da rainha e a rainha filhou-se a horar, e as lágrimas dela caeram a D. Ramiro pelo rosto, e ele espertou-se e disse porque chorava? E ela disse-lhe: - Choro por o mui bom mouro que ataste. E então o filho, que andava hi na nave, ouviu aquela palavra que sa madre dissera e disse ao padre: - Padre, não levemos connosco mais o demo. Entom rei Ramiro filhou uma mó que trazia na nave e ligou-lha na garganta e ancorou-a no mar, e des aquela hora chamaram hi Foz de Ancora. Este D. Ramiro foi-se a Mier e fez sa corte, e contou-lhe tudo como acaecera, e entom baptizou Ortiga e casou com ela e louvou-lhe toda sa corte muito, e pos-lhe nome D. Áldara, e fege nela um filho, e quando nasceu pos-lhe o padre o nome Alboazar, e disse entom o padre que lhe punha este nome porque seria padre e senhor de muito boa fidalguia.»


A Miragaia medieval

De acordo com Monsenhor Augusto Ferreira, Miragaia começou a ser povoada em 1243 e, à época da morte do bispo D. Pedro Salvadores (24 de Junho de 1247) Miragaia era então um pequeno povoado de pescadores, em crescimento à beira-rio.
É lícito crer-se que Miragaia já estava ligada à cidade do Porto, adossando-se mesmo à muralha iniciada em 1336 sob o reinado de Afonso IV de Portugal, popularmente denominada como a "Muralha Fernandina", por terem sido concluídas no reinado de Fernando de Portugal. Por sua proximidade ao rio e à praia, nela desenvolveram-se actividades ligadas à pesca, ao transporte e ao comércio de mercadorias tanto por via fluvial quanto marítima e à construção naval.
Judeus e Arménios

“Concomitantemente ao povoamento intra-muros da cidade do Porto, a zona ribeirinha da chamada "praia de Miragaia" e o vizinho morro da Vitória, também atraíram moradores, neles vindo a fixar-se populações oriundas da região do Minho, assim como grupos imigrados de judeus e de arménios, estes últimos a trabalhar sobretudo como artífices e mercadores. Para o provar aqui continuam a Rua Arménia, e a Rua de Ansira (cidade arménia).
A fixação de uma comunidade de origem judaica levou a que o morro de Miragaia passasse a ser conhecido como "monte dos judeus"
Tendo sido erguida uma sinagoga (posteriormente demolida para a construção do Convento da Madre de Deus de Monchique) e instalado um cemitério, formou-se então a judiaria de Monchique à semelhança do que aconteceu nas freguesias da Vitória e da Sé.
Esta comunidade, que com sua actividade comercial grandemente contribuiu para o desenvolvimento da freguesia de Miragaia, ao final do século XIV, foi transferida para a judiaria do Olival e com uma política segregacionista juntava-se, num único bairro, os diversos núcleos judaicos, já que além do das Aldas/Santana/Rua dos Mercadores, havia também comunidades isrealitas em S. João Novo e em Monchique, no sítio conhecido por Monte dos Judeus e onde havia também uma sinagoga.
Sob o reinado de Manuel I de Portugal, tendo sido promulgado o decreto real para a expulsão dos judeus do reino, ao receberem da Câmara a comunicação do mesmo, puderam os judeus do Porto, sem maiores constrangimentos, embarcar com destino à Inglaterra e aos Países Baixos.
Na primeira metade do século XV, instalou-se no Porto um grupo de arménios, em busca de refúgio após a queda de Constantinopla diante do Império Otomano em 1453. Estes imigrantes trouxeram consigo as relíquias de S. Pantaleão, martirizado em Nicomédia em 305, que se tornou patrono da cidade. Estas relíquias foram depositadas na Igreja de Miragaia e mais tarde, em cofre de prata lavrada oferecido por D. Manuel I, para dar cumprimento a uma das últimas disposições do seu antecessor, D. João II, foram para a catedral na Sé.
Com aquele cofre de prata e com as relíquias, se fizeram de sete em sete anos grandiosas procissões, até que em 1834 roubaram o dito cofre, que não mais apareceu, com relíquias ou não, é segredo bem guardado.
No século XVIII, Miragaia constitui-se em bairro da cidade compreendendo o Bairro de Miragaia, as freguesias de São Pedro, Nossa Senhora da Boa Viagem e Cedofeita, mesmo período em que surgem outros bairros importantes como Sé e Vitória (intra-muros), Santo Ildefonso e Vila Nova.
Na sequência da industrialização em Portugal, na passagem do século XIX para o XX, as quatro freguesias que constituem o Centro Histórico do Porto atingem a sua máxima ocupação, em consequência da migração de populações do campo para a cidade. Ao mesmo tempo, com a saída das famílias burguesas para zonas mais próximas das novas vias de comunicação (como por exemplo, a do porto de Leixões e a da Circunvalação), assiste-se a uma crescente pauperização do núcleo histórico, pelo aluguer de quartos das antigas casas de família ao proletariado nas novas fábricas, e pela construção de imóveis de habitação estreitos, com até cinco pavimentos, para atender a esse mercado. Ao longo das décadas, esses fatores levaram a uma crescente degradação urbanística e a um acentuado declínio da qualidade de vida na região, nomeadamente nas décadas de 1960 e de 1970”.
Fonte: pt.wikipedia.org



A chegada dos arménios à cidade com as relíquias de S. Pantaleão deverá ser entendida como fazendo parte de uma lenda, própria daqueles tempos, ainda, de toda uma actividade ligada ao negócio e adoração de relíquias de santos. Relíquias de S. Pantaleão existem em várias cidades da Europa. 
Por sinal, na Arménia, o santo é praticamente desconhecido.
Quanto ao roubo das relíquias, acontecido após o termo das lutas liberais, nunca se soube quem foi o autor, embora, por exemplo, Pinho Leal na sua obra "Portugal Antigo e Moderno", no volume sétimo e na parte dedicada ao Porto escreve: "tinha muito que dizer sobre o roubo deste cofre, o que não faço por certas considerações, sendo a principal envolver neste abominável crime pessoas de alta categoria que se não podem defender por estarem já cobertas com a lousa da sepultura."
Após a Revolução do 25 de Abril de 1974, voltaram à cena as preocupações políticas com a revitalização urbana e também social da zona histórica, nomeadamente com a criação do "Comissariado para a Recuperação Urbana da área da Ribeira-Barredo" (CRUARB), que chegou mesmo a tornar-se num projecto municipal de intervenção, recentemente extinto.
Com a classificação da zona histórica do Porto como Património Cultural da Humanidade pela UNESCO (1996) e com a realização da Cimeira Ibero-Americana (1998) na freguesia de Miragaia, fizeram-se sentir alguns avanços por parte do poder local nos processos de reabilitação do património edificado, embora não se tenha vislumbrado de uma forma mais ampla uma melhoria concreta das condições habitacionais nas freguesias que integram o núcleo histórico.

“Antes da construção do edifício da nova Alfân­dega, diante das casas da Rua de Miragaia, ou Rua Nova de Miragaia, "que corre junto à praia do Douro", como aparece denomi­nada num documento de 1400, havia um extenso areal, o chamado Sítio da Praia, por­que de uma praia se tratava, onde se cons­truíam navios e daí o nome de Largo dos Navios. Mas Largo dos Navios não foi o único nome que o referido logradouro teve. Chamou-se também Largo do Escampado, que quer dizer, sítio desprovido de árvores ou terreno extenso, inculto e deserto; foi, ape­nas, Escampadouro; e, ainda, Largo da Fon­te da Colher, por ficar muito perto da fon­te com esta designação, ainda existente. 
É voz corrente, entre os historiadores do Porto, que os primeiros estaleiros da cida­de devem ter funcionado num pequeno areal que existiu entre a foz do rio da Vila, que hoje podemos localizar na Praça da Ri­beira, e o edifício da Alfândega Velha, a nos­sa muito conhecida Casa do Infante. 
Com a construção da muralha fernan­dina (1336-1376), os estaleiros que fun­cionavam na Ribeira transferiram-se para o sítio dos Banhos (diante da igreja de São Francisco) e daqui deslocaram-se para Mi­ragaia e para Vila Nova, "na margem es­querda do rio". Naquele tempo, o areal, ou praia de Mi­ragaia era muito amplo e possuía, por isso, capacidade mais do que suficiente para receber os estaleiros que, segundo referiu Fernão Lopes, numa das suas cró­nicas sobre o Porto, rapidamente se trans­formou no estaleiro mais importante, não da cidade, mas do país.
Uma curiosi­dade: os terrenos onde funcionavam os estaleiros de Miragaia não eram da Câma­ra, como, naturalmente, seria de supor. Pertenciam à então riquíssima e influen­te Confraria de São Pedro de Miragaia, que recebia da Câmara uma renda anual pela sua utilização. 
Foi nos estaleiros de Miragaia que se cons­truiu uma boa parte dos navios que inte­graram a armada (1415) da expedição a Ceu­ta. Ali se fizeram também (século XV) naus para a carreira da índia, tendo as duas naus principais, a S. Gabriel e S. Rafael sido construídas, nada mais, nada menos do que no Porto, nas taracenas (estaleiro de navios) de Miragaia em 1496”.
Com a devida vénia a Germano Silva

“Quanto à construção naval no areal de Miragaia, com efeito, já desde meados do século XV (diz-nos Amândio Barros no seu trabalho) que o Rei fizera encomendas de navios a estes estaleiros, sendo que, ainda no início do XVI, um veneziano que enviava um relatório à Senhoria de Veneza (algum espião uma vez que Veneza foi uma das lesadas no trato com a mercadoria da Índia?) reconhecia serem as naus dos armadores portugueses maioritariamente construídas na Flandres, Biscaia e muitas poucas se fazem cá, e essas poucas no Porto.
Só na década de vinte desse século, com o advento da Ribeira das Naus em Lisboa, o Porto se viu privado da primazia na construção naval. E mesmo o início de actividade em Lisboa contou com muitos carpinteiros "importados" daqui, por serem os mais conceituados e sem dúvida dando formação - para fazer uso da linguagem atual - e orientando o arranque dessas taracenas lisboetas, que bem representadas estão em vistas quinhentistas e seiscentistas da cidade.
Como nota final, quero apenas acrescentar que terá sido por esta altura que D. Manuel terá transformado o postigo que dava para Miragaia numa verdadeira porta (a Porta Nova depois também chamada Nobre). E isto se vê pela passagem seguinte que faz parte das contas da Câmara do Porto de 1496 relacionadas com a despesa do alargamento da porta que dava para o estaleiro, para permitir a passagem da madeira e outros materiais: (...) coregimento do Postigo de Álvaro Gonçalves da Maia (...) por boa servintia das naus que se ora fazem de El-Rei nosso Senhor”.
In aportanobre.blogspot

Segundo as inquirições de 1258, mandadas fazer por D. Afonso III, naquele ano, já havia, neste bairro de Miragaia, "setenta casas e em cada dia se fa­ziam mais". Em 1391 mandou-se fazer, em Miragaia, "uma estalagem grande e boa". Na Rua Nova de Miragaia, antiga Rua dos Cobertos, havia, no século XV, "antigas e notáveis fontes". 
Mais algumas referências à toponímia lo­cal: a Rua Arménia deve este nome aos ar­ménios que ali se instalaram desde que che­garam a Miragaia, no século XV, com o cor­po de S. Pantaleão. Esta mesma artéria teve outras designações: Rua de Trás, Rua da Barreira, "que vai da muralha fernandi­na até à fonte do Touro". 
A Rua de São Pedro de Miragaia chamou-se, antes, Rua do Rio Frio por, sob ela, pas­sar, devidamente encanado, o rio com aquele nome.
Ficou célebre este rio na his­tória da cidade e foi a causa de um longo pleito entre a Coroa e a Mitra. Na interpre­tação da leitura do documento da doação do couto do Porto por D. Teresa ao bispo D. Hu­go, a Mitra, ou seja o bispo, argumentava que o "canal maior" referido no documen­to como limite do couto era o rio Frio, em Miragaia; a Coroa, ou seja, o rei, fazia uma leitura diferente ao dizer que o tal "canal maior" era o rio da Vila que desaguava na Ribeira. O que estava em causa era o domí­nio do bairro de Miragaia que crescia a olhos vistos, em termos urbanísticos, e prospera­va do ponto de vista económico.



A Alfândega Nova



A Alfândega Nova por volta de 1880 - Ed. Jean Lauren

Sobre a alfândega nova o historiador Dr. Artur de Magalhães Basto, na sua História da Cidade do Porto, escreve:

“ Logo em 1822, é reconhecida como necessária, quanto urgente, a construção de uma nova alfândega:
a antiga – o velho “almazém” real – tendo anexado, muito embora, dependências de outros edifícios situados nas imediações, não dispunha já de suficientes acomodações para receber, por exemplo, a carga de 36 navios, de lotação de 500 caixas de açúcar cada um, ou de fazendas diversas.
Onde edifica-la? O lugar mais apropriado, acentuava-se no estudo dedicado à solução do problema, seria o mesmo da velha alfândega. Para tanto se necessitava, porém, “ da corrente de casas, desde a esquina da portagem à esquina dos Vanzeleres, na Rua Nova dos Ingleses e tudo em linha recta ao rio… Reconhecia-se, entretanto, que esta solução, obrigando a uma despesa que devia montar a 800 contos de reis, implicava também a demolição de alguns dos melhores e mais nobres edifícios da cidade. Sugeria o autor do plano, em consequência, que fosse estudada a possibilidade de reservar, para a desejada, ou o Convento de S. Domingos ou o de S. Francisco um e outro com as cercas respectivas…” 
Fonte: portoarc.blogspot

A obra, acima narrada era tão onerosa que o projecto não foi para diante.
O edifício da Alfândega Nova foi mandado edificar em 25 de Setembro de 1859, na praia de Miragaia, segundo projecto do arquitecto francês Jean Colson  da Casa Seyrig (a mesma da Ponte Luiz I) e ditou a morte dos velhos estaleiros de Miragaia, que, foram deslocados posteriormente, para junto da ribeira do Ouro ou ribeira da Granja. 
O seu primeiro núcleo foi inaugurado em 1869 e terminada a construção dez anos mais tarde. A sua edificação implicou a construção da enorme plataforma do cais onde assenta a Alfândega e que substituiu a antiga praia de Miragaia que desapareceria completamente.
Esta plataforma está assente em toros de madeira, ao alto, mergulhados nas águas do rio.
Em 5 de Setembro de 1897 um incêndio atingiu as secções de contabilidade e secretaria que, 3 dias depois, começou a ser restaurada. O conceito do edifício compreendia não apenas as infraestruturas para a entrada e saída de mercadorias, mas também diversas estruturas de apoio tais como armazéns, vias-férreas, plataformas giratórias que facilitassem o movimento dos vagões e guindastes. Ainda hoje é o maior edifício da cidade, ocupando um total de 36.000 metros quadrados.


“A construção da Alfândega Nova exigiu a abertura de uma rua que a ligasse à actual Rua do Infante D. Henrique. Para tal foram expropriados e destruídos muitos prédios. Ainda se vê, pegada à Igreja de S. Francisco, a Capela de Santo Elói, que pertenceu à Confraria dos Ourives do Ouro, que foi desmontada e, em 1884, reconstruída na Rua de Gondarém, na Foz do Douro (ver Capelas do Porto). Na foto ainda existem restos da Porta Nobre, do Postigo dos Banhos e parte da Rua de Cima do Muro. Uma parte destas ruínas, estão sob o actual estacionamento a montante da Alfândega. Chama-se Rua Nova da Alfândega porém, vários estudiosos do Porto dizem que se teria chamado, inicial e logicamente, Rua da Alfândega Nova, em contraste com a Rua da Alfândega que, subindo do rio, servia a Alfândega Velha. Assim sendo teriam, estes doutos personagens, toda a razão pois esta não se passou a chamar rua velha da alfândega. Aliás há pelo menos uma escritura de 1875, onde interfere a C. M. P., com a informação de Rua da Alfândega Nova, como se pode ler num artigo em O Tripeiro, série V, ANO XIII, escrito por António Sardinha a páginas 63.”
Fonte: ”portoarc.blogspot”


“A imagem abaixo é uma insignificante fotografia de uma parte dos cobertos de Miragaia. Contudo, melhor a analisando podemos verificar que se trata de um documento único.


Miragaia, Rua dos Cobertos

Ora olhando e para ela verifica-se que estas 3 casas são aquelas que se apresentam no pormenor da imagem abaixo assinaladas com o rectângulo, assinalado por um X.
A ladeá-las a poente (à esquerda da foto), estava uma outra já demolida também, no local da qual se encontra hoje aquela que agora é a primeira casa na Rua de Miragaia vindo do Largo Artur Arcos assinalada na foto abaixo com o nº 2, mas que não aparece na foto acima.
A nascente dessas habitações existiu uma outra que tinha a fachada sustentada por dois arcos que davam para a praia de Miragaia.
Para melhor nos localizarmos, assinale-se na foto abaixo com o n.º 3 a Porta Nova ou Nobre e o seu fortim e, com o nº 1, o prédio assente nos tais arcos, que foi também demolido e substituído actualmente pelo nº 1A da foto mais abaixo.


Miragaia


Vista actual

A casa 1A e 2 estão assinaladas, na foto acima, para melhor localização e o X marca o local onde estavam as 3 casinhas.
Na foto seguinte se comprova que o prédio dos arcos a nascente já não existia na altura da intervenção no Bairro dos Banhos, para construir a Alfândega.

A nascente dos 3 prédios assinalados já não existe nenhum


Como curiosidade, na imagem abaixo, que consiste num pormenor da gravura de 1736 de Duncalf, podem-se vislumbrar os edifícios referenciados, em parte apresentando já varandas que parecem ser de ferro e outras ainda usando um sistema com portadas de madeira que abrem debaixo para cima e não para os lados como estamos modernamente acostumados. Um sistema sem dúvida mais antigo, talvez remontando ao tempo em que ter vidros nas janelas era um luxo...

Gravura de Duncalf em 1736

Sem dúvida terá sido mais o seu estado de ruína aliado à necessidade de alargar aquele espaço em vista a perda que aquela zona acabara de sofrer com o desaparecimento da praia de Miragaia, que terá ditado o desaparecimento daquelas singelas construções não históricas. Felizmente ficou-nos esta fotografia, outros verdadeiros monumentos pudessem ter tido essa sorte…”
Com a devida vénia a Nuno Cruz, Fonte -  aportanobre.blogspot

Actualmente a fachada oposta à exibida na ante-penúltima foto do prédio (assinalado por 1 A) exibe uma imagem de Artur Arcos.


Retrato de Artur Arcos - Ed. Carlos Romão 

Artur Arcos (1914 -1987) foi um pintor que nasceu, viveu e morreu na zona de Miragaia e que dedicou muito do seu tempo a retratar, através do desenho e da cor, os motivos característicos daquela freguesia ribeirinha. Foi um artista popular, autodidata, que iniciou a sua obra em 1959, com um painel de 9,20 metros de comprimento, uma vista panorâmica de Miragaia antiga que demorou treze anos a ser concluído.
Artur Arcos foi também técnico de artefactos de cimento, empresário e autor de algumas patentes na área da construção, como, por exemplo, o modelo dos degraus prefabricados em cimento armado, que permitem a construção de escadas em caracol.



As Caves de vinho do porto na margem direita do rio Douro


A Rua dos Armazéns e a Viela da Compa­nhia na antiga Zona do Cidral evo­cam a Companhia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro, fundada em 1756 pelo marquês de Pombal, no reinado de D. José I. Os dois topónimos recordam a pas­sagem da sede da Companhia por Miragaia. Depois de ter adquirido vários prédios na antiga Rua dos Cobertos e na praia de Mi­ragaia, a Companhia construiu vastos ar­mazéns com capacidade para armazenar mais de 4000 pipas. Pinho Leal, que escre­veu em 1875, diz que "esses armazéns com­portavam, também, enormes salões, uma ampla tanoaria, escritórios, casas de alam­biques, fábricas de vinagre e abundante água de bica". Nesta época, a margem direita do rio Douro também teve assim, as suas caves.


Património Edificado

Antigo Clube dos Ingleses (ou Clube Inglês)
Capela de Nossa Senhora da Esperança
Centro Histórico do Porto
Chafariz da Colher
Chafariz da Rua das Taipas
Chafariz das Virtudes
Convento da Madre de Deus de Monchique
Edifício Alfândega Nova do Porto ou Museu de Transportes e  Comunicações
Estátuas (elementos decorativos e muro)
Hospital de Santo António
Igreja de São Pedro de Miragaia
Muralhas Fernandinas (e miradouro)
Palácio dos Carrancas ou Museu Nacional de Soares dos Reis
Palácio de S. João Novo ou Museu de Etnografia e História


Edifícios

Casa das Virtudes (Casa dos Pintos de Meireles / Casa dos Albuquerques / Edifício da Cooperativa Árvore)
Casa dos Viscondes de S. João da Pesqueira (Palacete dos Viscondes de S. João da Pesqueira / Sede da Acção Católica Portuguesa)
Casa onde nasceu Almeida Garrett
Conjunto de Habitações em Miragaia (Conjunto de Habitações SAAL de Miragaia)
Edifício da R. Barbosa de Castro, nºs 29, 31 (e Passeio das Virtudes, nºs 31, 32)
Edifício da Reitoria da Universidade do Porto
Fonte da Praça do Peixe
Fonte da Quinta das Virtudes (Fonte dos Fogueteiros)
Fonte do Armazém
Fonte do Bicho (Fonte do Macaco)
Fonte Hulsenbos
Instituto de Medicina Legal do Porto
Marco da Bandeirinha (Padrão da Bandeirinha / Pirâmide da Bandeira da Saúde)
Oficina de Estuques do Sr. Domingos Enes Baganha
Palácio da Bandeirinha ou das Sereias
Passeio das Virtudes (Jardim das Virtudes)


Estátuas e Esculturas

A Justiça (Palácio da Justiça)
Os Quatro Cavaleiros do Apocalipse (Passeio das Virtudes)
Serpente (Passeio das Virtudes)

Sem comentários:

Enviar um comentário