Praça do Infante - Palácio da Bolsa
Praça do Infante
A Praça do Infante situa-se num terreno de grande declive
que pertencia à cerca do convento de S. Domingos, hoje desaparecido.
Comprado pela Associação Comercial do Porto, para que toda a
área em frente à sua sede fosse urbanizada, foi entregue à Câmara para que esta
promovesse o seu embelezamento. As ruas da Bolsa e de Ferreira Borges (já
existentes) e a abertura das ruas de Mouzinho da Silveira (1875) e Nova da
Alfândega (1871-75) irão delimitar completamente o espaço. Hoje é uma das
praças de melhor traçado do Porto, tendo à sua volta edifícios de grande
prestígio que lhe conferem uma monumentalidade ímpar.
No centro encontra-se a estátua do Infante D. Henrique, da autoria do escultor
Tomás Costa, em concurso de 1893, ganho em 10 de janeiro de 1894. A pequena
figura do infante causou polémica, havendo quem afirmasse que Tomás Costa,
apesar de bom artista, ganhou devido à proteção da rainha D. Amélia. Entre os 7
candidatos preteridos estavam Teixeira Lopes e Adães Bermudes.A primeira pedra foi colocada em 4 de março de 1894, tendo estado presente o Rei D. Carlos.
Foi fundida em Paris e ela apresenta o infante, vestido de
guerreiro, a apontar para além-mar, tendo sido inaugurada em 19 de Outubro de
1900, nas comemorações do 5º centenário do seu nascimento.
Palácio da Bolsa
Na actual Rua do Infante, chamada Rua Formosa no tempo de D.
joão I, funcionou a primeira Bolsa.
“D. João I sempre teve
uma relação especial com a cidade do Porto. Quando morreu D. Fernando e apenas
deixou como descendente uma filha casada com o monarca espanhol, D. João filho
bastardo de D. Pedro I e de uma dama galega Teresa Lourenço, assumiu-se como
Mestre de Avis e como Regedor e Defensor do reino. Aqui no Porto foi aclamado
pelo povo, tendo indicado Álvaro da Veiga para ser portador da bandeira da
Câmara e ir pelo burgo aclamando o Mestre de Avis. Homem calculista e
titubeante foi face às suas objecções à proposta “feito em postas”, sabendo-se
que o seu sucessor Afonso Anes, mal soube do que ia ser incumbido, ter deitado
sem demora “pés ao caminho”.
Texto de anónimo
Em 1385, mal foi aclamado rei nas cortes de Coimbra, onde
João das Regras teve acção decisiva, D. João retribui com uma visita à cidade e
dois anos mais tarde aqui casaria com D. Filipa de Lencastre. Por cá teve o rei
morada e aqui viu nascer o Infante D. Henrique.
Em 1331 tinha o Senado (Câmara Municipal) conseguido
realizar um acordo com o Bispo D. Vasco Martins, em que este cedia à cidade
toda a vasta área do Campo do Olival.
No tempo do rei D. João I, os bispos deixaram de ser os
senhores do burgo e a administração da cidade passou a ser exercida pelos
próprios munícipes e no tempo de D. ManueI I, o rei atribui foral ao Porto, o
foral manuelino de 1517.
Nos inícios do século XV, a pedido dos mercadores
portuenses, o monarca cedeu um espaço, para aí ser instalado a primeira Bolsa
do Comércio.
Esse local é onde hoje se encontra o prédio nº 47/53, em
cujo rés-do-chão existe uma passagem dessa época que ligava à Casa da Moeda,
instalada na velha Alfândega e que foi extinta e transformada em celeiro por
Filipe I.
O Palácio da Bolsa ergueu-se na zona onde existia o Convento
de S. Francisco, que fora destruído por um violento incêndio. A Associação
Comercial, tendo decidido ter a sua própria sede deu início ao processo em
1839, obtendo-se a necessária autorização para a sua construção em 1840. Uma
vez consumada oficialmente a posse do edifício conventual em 1841, foi lançada
a primeira pedra em 1842.
O projecto do belo edifício neoclássico é da autoria do
arquitecto Joaquim da Costa Lima, com modificações posteriores de José Luís
Nogueira e outros. Foi inaugurado solenemente em 21 de Novembro de 1891, tendo
assistido ao acto o Rei D. Carlos e a Rainha D. Amélia.
A Associação Comercial do Porto é herdeira da Bolsa de
Comércio do Século XV e da Juntina, a congregação que nos finais do século
XVIII reunia os negociantes do Porto para defesa dos seus interesses e que se
reuniam na então Rua dos Ingleses.
Ainda antes do arranque da construção do Palácio da Bolsa a
Associação Comercial tinha sido incumbida pelo poder central para juntamente
com a Câmara procederem à abertura da Rua Ferreira Borges, o que nunca foi do
agrado do município.
As obras para abertura da rua citada, devido a este
diferendo teimavam a não avançar.
Em 1840 sendo presidente da autarquia, Francisco da Rocha
Soares, as partes em conflito, chegam a um entendimento, ficando a autarquia a
ter todas as incumbências na abertura daquela artéria, tendo a Associação
entregue ao Município, os terrenos de que era proprietária e onde viria a ser
levantada a Praça do Infante.
Exteriormente o Palácio da Bolsa marca a paisagem urbana
portuense pela sobriedade e elegância de linhas, representando de forma
condigna a arquitectura neoclássica portuense. A sua fachada lateral ostenta
uma lindíssima porta de acesso, magnífico exemplar da arte do ferro, idealizado
pelo arquitecto Marques da Silva.
No seu interior encontram-se representados grandes vultos
das artes plásticas portuguesas dos séculos XIX e XX. Das inúmeras salas
evidencia-se, pela sua exuberância decorativa, o Salão Árabe (1862-1880) da
autoria do Engº. Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa. Considerada como a sala de
visitas do Palácio, aí foram acolhidas figuras como Mousinho de Albuquerque
(1890), Gago Coutinho (1918) e Isabel II de Inglaterra (1958).
O Pátio das Nações, assim chamado por figurarem, como tema
decorativo principal, as armas dos países com quem Portugal tinha relações
amistosas e comerciais à data e, bem assim, o escudo português. Ostentando uma
bela estrutura metálica envidraçada, corresponde à área do claustro do Convento
de S. Francisco.
A escadaria imponente que nos conduz ao andar nobre é da
autoria de Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa. No fecho da abóbada existe uma
escultura de Soares dos Reis, a quem também pertencem dois bustos centrais do
patamar, enquanto os outros quatro, são da autoria de Teixeira Lopes (pai).
Todas as outras dependências merecem igualmente uma visita
cuidada. Porém, destaquemos particularmente: a Biblioteca, com o tecto decorado
por António Carneiro; a Sala das Assembleias Gerais, projectada por Tomás
Soller; a Sala do Tribunal, com pinturas alegóricas de Veloso Salgado
(1899-1903) e cujo mobiliário é assinado por Marques da Silva; e ainda a Sala
dos Retratos, com retratos de corpo inteiro dos monarcas portugueses desde D.
Pedro IV, e onde pode admirar-se a belíssima mesa dos embutidos, que esteve
presente em várias exposições internacionais, da autoria de Zeferino José Pinto.
Quarteirão de S. Nicolau
Igreja de S. Nicolau
Após a criação da freguesia de S. Nicolau (1583), a ermida
existente da invocação de S. Nicolau foi escolhida para sede de paróquia. Uma
nova igreja foi construída no mesmo local para substituir a velha ermida, sendo
a primeira pedra benzida em 1671 pelo bispo D. Nicolau Monteiro. As obras que
se iniciaram no ano seguinte, compreendiam a construção de uma nova capela-mor
e duas sacristias, podendo a autoria da respectiva planta pertencer a um dos
três maiores riscadores de arquitectura do Porto seiscentista: o Pe. Pantaleão
da Rocha de Magalhães, o Pe. Baltasar Guedes ou Gregório Fernandes. Quanto à
fachada, de 1675, foi desenhada pelo arquitecto Pe. Pantaleão da Rocha de
Magalhães e executada pelo mestre pedreiro Marcos Gonçalves. Em 1675-76
conclui-se o edifício, sendo bispo D. Fernando Correia de Lacerda.
A capela-mor foi construída no sítio onde teria existido a
Albergaria de Santa Catarina, provavelmente o mesmo onde se encontrava, antes
do século XIII, uma gafaria. Tem-se ainda conhecimento da existência, no século
XIV, de uma ferraria no interior deste quarteirão.
A Rua da Ourivesaria ficava nas
imediações da igreja e de uma capela muito próxima da invocação de Santo Elói
(o padroeiro dos ourives), que aí tinham a sede da sua confraria (Confraria de
Santo Elói).
No século XVIII, os ourives ainda por aqui estavam.
A capela-mor do século XVII foi completamente destruída por
um violento incêndio em 1758, construindo-se uma nova em sua substituição, que
é aquela que hoje podemos admirar. Neste belo espaço encontram-se colocadas em
mísulas, quatro imagens (S. Nicolau, Santo Hilário, Santo Agostinho e Santo
António) mandadas fazer em Lisboa antes de 1758 e que, pelo seu tamanho e
imponência, contribuem significativamente para a grandiosidade do interior.
Destaquemos ainda: o magnífico retábulo-mor (1760), da autoria de José Teixeira
Guimarães (um dos melhores artistas do rococó portuense), segundo o risco do
Padre Frei Manuel Jesus Maria; e os retábulos laterais de Santo Elói (lado da
Epístola, datado de 1762-63) e de Nossa Senhora da Conceição (lado do
Evangelho, datado de 1763) executados pelos entalhadores José Teixeira
Guimarães e Francisco Pereira Campanhã.
Igreja e
Convento de S. Francisco
A igreja de S. Francisco é um dos edifícios medievais mais
importantes da cidade, tendo pertencido ao antigo convento dos franciscanos,
frades que chegaram em 1233 à cidade do Porto. O convento de S. Francisco de
religiosos observantes é fundado em 1241, datando desse período uma primitiva
construção de proporções modestas, fora dos muros da cidade.
Mais tarde, em 1425, graças à protecção de D. João I, os
franciscanos puderam ter uma casa conventual à altura das suas necessidades, no
local onde hoje existe em que a igreja actual fazia parte dessa construção.
Os frades
franciscanos chegaram, portanto ao Porto em 1233, mas divergências com o Bispo
do Porto sobre o local da sua construção só permitiram que o seu primeiro
convento fosse terminado em 1241.
Estas graves
divergências chegaram ao conhecimento do Papa Gregório IX, que, em 1237, mandou
duas bulas, uma para o Bispo do Porto e a outra para o Cabido, ordenando que
permitissem aos franciscanos a construção do seu convento.
O primitivo local de
culto do convento poderá ter sido a ermida de S. Miguel. A actual Igreja de S.
Francisco foi construída entre 1383 e meados do séc. XV, com o apoio de D. João
I.
A igreja vai sofrer intervenções pontuais nos séculos
seguintes a nível de arquitectura: no interior, refira-se a Capela dos
Carneiros (também chamada do Baptismo de Cristo ou de S. João Baptista),
mandada construir por João Carneiro e da autoria do arquitecto Diogo Castilho;
no exterior, destaque-se o belo portal de finais do século XVII.
“Em 24/7/1832 o
convento foi destruído por um violento incêndio, dia em que o exército liberal
regressava ao Porto depois da memorável batalha de Ponte de Ferreira”.
Fonte - Horácio
Marçal
“Em 1841 o convento foi doado pelo governo à
Associação Comercial do Porto para a construção do Palácio da Bolsa.
Na igreja de S.
Francisco podemos admirar um dos mais belos revestimentos de talha dourada do
país que, embora realizado por etapas, nos transmite uma visão de unidade. Aí
se encontra o que de melhor produziram os entalhadores e douradores do norte do
país, ao longo dos séculos XVII e XVIII, numa sequência de grande qualidade. Se
bem que alguns exemplares não estejam ainda identificados (capela-mor, arco
cruzeiro, púlpitos), a presença de artistas de grande craveira, como os que
vamos mencionar de seguida, faz de S. Francisco um verdadeiro museu da talha
dourada portuense.
Na nave do lado do Evangelho encontra-se a Capela de Nossa Senhora da Conceição ou da Árvore de Jessé cuja talha é da autoria de António Gomes e de Filipe da Silva (1718), com a participação do escultor bracarense Manuel Carneiro Adão, a quem caberia a execução das esculturas (1719). A ladear este belo conjunto, acham-se: o retábulo de Nossa Senhora da Rosa, de 1740 (anteriormente designado por Nossa Senhora da Graça) e onde se pode admirar a pintura mural dos inícios do século XV, atribuída a António Florentino, pintor régio de D. João I; e o retábulo de Nossa Senhora do Socorro (antes conhecido por Nossa Senhora do Rosário dos Escravos), de 1743, ambos da autoria do entalhador Manuel da Costa Andrade, segundo o risco do arquitecto Francisco do Couto e Azevedo.
Na nave do lado do Evangelho encontra-se a Capela de Nossa Senhora da Conceição ou da Árvore de Jessé cuja talha é da autoria de António Gomes e de Filipe da Silva (1718), com a participação do escultor bracarense Manuel Carneiro Adão, a quem caberia a execução das esculturas (1719). A ladear este belo conjunto, acham-se: o retábulo de Nossa Senhora da Rosa, de 1740 (anteriormente designado por Nossa Senhora da Graça) e onde se pode admirar a pintura mural dos inícios do século XV, atribuída a António Florentino, pintor régio de D. João I; e o retábulo de Nossa Senhora do Socorro (antes conhecido por Nossa Senhora do Rosário dos Escravos), de 1743, ambos da autoria do entalhador Manuel da Costa Andrade, segundo o risco do arquitecto Francisco do Couto e Azevedo.
Na nave oposta, do
lado da Epístola, encontra-se ao centro a Capela de Nossa Senhora da Soledade,
um dos mais preciosos exemplares do rococó portuense, obra de Francisco Pereira
Campanhã (1764). A enquadrá-la, dois magníficos retábulos de 1750, da autoria
de Manuel Pereira da Costa Noronha: o de Nossa Senhora da Anunciação (antes
designado Nossa Senhora da Encarnação) e o dos Santos Mártires de Marrocos.
Estes conjuntos têm um
remate condigno no revestimento em talha do tecto da nave central e do
transepto, datado de 1732”.
Fontes – Sites: pt.wikipedia.org; monumentos.pt
“Conta-se que em 1233,
S. Zacarias, seguidor de S. Francisco de Assis, esteve no Porto, em companhia
de outros seus "irmãos", com a finalidade de aqui fundar um convento
para os frades mendicantes daquela ordem. A fazer fé no que escreveram os
cronistas da época, o povo, "simples e crente" recebeu os
franciscanos "de braços abertos, com muita simpatia e a maior
disponibilidade para colaborar no que fosse preciso".
E, dentro desse
espírito de abertura, houve uma pessoa, de entre as muitas pessoas que assim
pensavam, um cidadão honesto e abastado, já avançado de idade mas fervoroso
devoto dos ideais e das ideias de S. Francisco, que apareceu a oferecer um
terreno que possuía, à beira-rio, no sítio chamado da Redondela, para nele os
frades mendicantes construírem o seu mosteiro.
Os franciscanos, que
haviam obtido de Roma a indispensável licença para se instalarem em Portugal e
aí construírem casas conventuais, julgaram que estavam dispensados da
autorização do bispo local que, ao tempo, era D. Pedro Salvadores, e até estava
ausente em Roma, e deram imediatamente início às obras. Mas os cónegos que,
através do cabido, governavam a diocese na ausência do bispo, é que não
gostaram de sentir a sua autoridade ser posta em causa e mandaram recado aos
frades dizendo-lhes, nomeadamente, que não podiam continuar com a construção do
mosteiro, por estar na área da jurisdição da Mitra a terra que lhes havia sido
doada.
Foi o rastilho para
uma contenda que durou anos. Houve lutas verbais e físicas. Chegou a haver
mortos. O bispo, no mais aceso da contenda, acusou os franciscanos de
"hereges e perigosos à salvação das almas". Nem o doador do terreno
escapou. O prelado ordenou-lhe que revogasse a doação porque, dizia o bispo,
"os franciscanos não passavam de uns falsos profetas que manhosamente se
insinuavam no ânimo das pessoas piedosas para as explorar".
Só ao fim de muitos
anos a contenda acalmou. Os franciscanos lá conseguiram, enfim, construir o
mosteiro e, alguns anos mais tarde, a igreja. Depois das contendas veio a
tranquilidade, e os franciscanos acabaram por conquistar o coração dos
portuenses. Mas não só, também do próprio rei D. João I, que era na casa dos
franciscanos que se hospedava sempre que vinha ao Porto.
Mas a simpatia maior
para com os mendicantes provinha do povo, que acorria sempre em grande número
às festas que se realizavam na igreja dos franciscanos. E com relevância,
naturalmente, para duas grandes festividades: a que era realizada pela
confraria de S. Benedito, padroeiro dos escravos, e aquela em que se festejava
o próprio S. Francisco.
No que respeita à
primeira festa, é fácil de imaginar um quadro exuberante de cor e de movimento
que teria como palco as velhas ruas da Fonte d'Aurina (a Fonte Taurina dos
nossos dias); Bainharia; Reboleira; a desaparecida Rua dos Pescadores, junto à
Praça da Ribeira; a Biquinha, junto a S. Domingos; a Rua Nova de Val da Pega,
há muito levada pelo camartelo do progresso; o padrão de Belmonte; e a Rua dos
Mercadores.
Era por estas artérias
que a maioria dos escravos servia, em casa dos respetivos amos. A festa que
anualmente faziam em honra de S. Benedito constituía uma das mais curiosas e
apreciadas manifestações de cariz popular daquele tempo. Não é difícil calcular
porquê. Por causa da variedade de costumes, da diversidade de instrumentos,
pela algaraviada das vozes que se faziam ouvir.
A outra grande festa
era a que se fazia em honra de S. Francisco. Um pouco na tradição dos populares
festejos ao Santo António e ao S. João; e ainda ao nosso muito querido S.
Gonçalo, também o S. Francisco passava por ser um santo casamenteiro a quem as
jovens em idade de casar pediam insistentemente que lhes arranjasse um noivo.
Na Igreja de S.
Francisco, uma das mais venerandas imagens deste padroeiro, especialmente pelas
moças em idade de casar, é a que ainda hoje pode ser vista, metida num nicho,
ao lado direito para quem entra no templo.
Trata-se, como
facilmente se pode constatar, de uma escultura rude, fruto, provavelmente, do
labor de algum mestre de pedreiro anónimo. Com efeito, do ponto de vista
artístico, nada tem que a recomende como obra de arte.
Mas foi, durante anos
e anos, a imagem mais venerada e, naturalmente, a mais visitada pelas moças
serviçais, vendedeiras e regateiras que lhe confiavam os seus segredos, que
rabiscavam em papelinhos e, depois, escondiam nas costas da escultura.
Nesses papéis, que
eram normalmente coloridos, escreviam os seus pedidos que, por regra, andavam
ligados ao pedido de casamento”.
Com a devida vénia a Germano Silva
Igreja de S. Francisco, Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco e Casa do Despacho
“Cronologia da Igreja de S. Francisco
1233 - tendo sido
cedido aos frades franciscanos um terreno para construção do convento no sítio
da Redondela, o bispo D. Pedro Salvadores embargou as obras, iniciando-se uma
querela que demoraria alguns anos e que se prendia com os reais limites do
couto doado por D. Teresa ao bispo D. Hugo; 1244 - bula papal põe fim ao
assunto; 1245 - construção do convento; 1383 - carta de D. Fernando manda
aplicar os resíduos dos testamentos do Porto às obras da igreja que então
começavam; 1410 - conclusão das obras; 1474 - data da capela no sub-coro, do
lado do Evangelho; 1501 - data de um túmulo; 1534 - fundação da Capela dos
Carneiros por João Carneiro, mestre-escola da Sé de Braga; construção da capela
por Diogo de Castilho; 1595, 3 outubro - escritura de obrigação e fiança com o
pintor Manuel da Ponte, comprometendo-se este a acabar a obra de pintura e
douramento do retábulo de São Brás; 1612, 15 agosto - contrato com Francisco
Moreira para a feitura do retábulo da capela da Porciúncula, por 22$000; 1613,
21 janeiro - conclusão da feitura do retábulo da capela da Porciúncula; 1615,
18 novembro - ajuste com Inácio Ferraz de Figueiroa para a pintura do retábulo
da Porciúncula; 1680, 29 abril - douramento do retábulo da Confraria de São
Brás e São José por Manuel Ferreira por 100$000; 1680 - douramento do retábulo
da confraria de São Brás e São José por Manuel Ferreira; 1718 - 1721 - feitura
do retábulo da capela de Nossa Senhora da Conceição pelos entalhadores Filipe
da Silva e António Gomes; 1719 - ali também interveio o escultor Manuel
Carneiro Adão; 1724 - feitura do retábulo da capela de Santo António pelo
entalhador Luís Pereira da Costa; 1731, 15 abril - assinado contrato entre Mesa
da Ordem Terceira de São Francisco e o Padre Manuel Lourenço da Conceição para
execução de um órgão; 1740 - feitura do retábulo de Nossa Senhora do Socorro,
por Manuel da Costa Andrade, segundo risco de Francisco do Couto e Azevedo;
1743 - 1744 - conclusão do retábulo de Nossa Senhora da Rosa, desenhado pelo
arquiteto Francisco do Couto e Azevedo e executado por Manuel da Costa Andrade;
1749, 8 de novembro - ajuste com o ourives Domingos de Sousa Coelho para a
execução de quatro lanternas de prata; 1750 - retábulo da Anunciação de Nossa
Senhora pelo entalhador Manuel Pereira da Costa Noronha; 1750 -/ 1751 -
execução dos retábulos de Nossa Senhora da Encarnação e dos Santos Mártires de
Marrocos, pelo entalhador Manuel Pereira da Costa Noronha; 1764 -
desaparecimento do retábulo de Nossa Senhora dos Anjos da Porciúncula; 1764 -
1765 - retábulo de Nossa Senhora da Soledade pelo entalhador Francisco Pereira
Campanhã; 1771 - 1778 - reconstrução do convento; 1810 - 1822 - o convento foi
ocupado por tropas portuguesas que ali instalaram um hospital militar; 1832, 9
julho - aquartelamento do Batalhão de Caçadores 5; 1833 - no final do cerco do
Porto, um incêndio provocado pelo tiroteio miguelista destruiu parte das
instalações conventuais; 1834, 15 outubro - portaria autoriza os negociantes a
realizarem nas ruínas do convento a praça comercial; a igreja é ocupada com
armazém da Alfândega; 1 dezembro - abertura da praça comercial; 1835 - é ali
estabelecido o telégrafo marítimo; 1839 - envio às cortes e ao Governo a planta
e orçamento da construção que devia substituir as ruínas conventuais; projeto
urbanístico para a zona ribeirinha admitia o corte da cabeceira da igreja; os
construtores do Palácio da Bolsa e os Mesários da Ordem Terceira apresentam
protesto à Câmara e conseguem sensibilizar a opinião pública a seu favor; D.
Maria II respondeu favoravelmente a favor da petição; 1840, 23 novembro -
portaria assinada pelo ministro Rodrigo da Fonseca Magalhães a autorização da
obra e estabeleceu que o antigo convento ficava hipotecado como garantia das
despesas a efetuar até que as cortes resolvessem em definitivo; 1841 - D. Maria
II concede à Associação Comercial do Porto a propriedade do convento; 1842, 6
outubro - lançamento da primeira pedra para construção do Palácio da Bolsa;
1873 - reconstrução do órgão por António José dos Santos; 1986 - até então
pertença do Estado, a Ordem de São Francisco consegue revertê-la para a sua
posse; 1992, 01 junho - o imóvel é afeto ao Instituto Português do Património
Arquitetónico, pelo Decreto-lei 106F/92, DR, 1.ª série A, n.º 126.
Igreja de S.
Francisco e Capela de Santo Elói antes da abertura da Rua Nova da Alfândega
Igreja de S. Francisco após 1872 (já não é visível a Capela
de Santo Elói) – Fonte: Arquivo Distrital do Porto
Igreja de S. Francisco durante o restauro iniciado em 1957 –
Fonte: DGEMN
Descrição da Igreja
de S. Francisco
Planta em cruz latina,
de três naves, transepto saliente e cabeceira tripla poligonal reforçada por
contrafortes; a Sul adossa-se uma capela à nave e outra ao transepto. Volumes
articulados com coberturas diferenciadas em telhados de uma, duas e três águas.
Fachada principal escalonada, apenas com dois panos visíveis, separada por
contrafortes, visto o da esquerda ter sido encoberto pelo Palácio da Bolsa.
Pano central terminado em empena rasgado por pórtico de dois registos, tendo no
primeiro portal de verga recta entre duplas colunas salomónicas sobre soco,
suportando entablamento, e no segundo, entre colunelos salomónicos e pilastras,
almofadas em losango, nicho central com imagem; remato-o frontão ondulado
interrompido. Superiormente grande rosácea composta de colunelos radiantes,
ligados por arcos. No pano lateral abre-se fresta de arco quebrado. Fachada
lateral com portal de arco quebrado de várias arquivoltas aberto em gablete e
duas frestas maineladas; ao nível da nave central cinco janelas. O transepto,
capela adossada e cabeceira são contrafortados e rasgados por frestas ou
rosácea, na capela. Interior com naves de cinco tramos separados por pilares
com colunas adossadas suportando arcos quebrados chanfrados nas arestas; as
janelas implantam-se sobre os arcos. Coro-alto sobre arco abatido e dois
plenos, forrados inferiormente a talha dourada, e tendo superiormente cadeiral
de espaldar decorado com painéis pintados e órgão de tubos no lado da Epístola.
No lado do Evangelho existe no sub-coro capela sepulcral de Luís Álvares de
Sousa. Naves laterais com capelas contendo diferentes retábulos de talha
dourada, interligados por motivos de talha e que, a meio, se expandem para a
nave central, onde toda a estrutura do arco é revestida a talha e encimada por
sanefas. No último tramo, dois púlpitos quadrados com guarda e sanefa de talha.
As naves são cobertas por tecto de talha dourada formando abóbada de arestas
com marcação dos tramos e decorada com motivos florais. Nos braços do transepto
dispõem-se, entre os vãos para os absidíolos e abside, retábulos de talha,
estreitos com nichos sobrepostos entre colunas e de frontão triangular
interrompido, ligando-se dois deles ao arco triunfal revestido e encimado por
ampla sanefa de talha. A Capela dos Carneiros no braço S. do transepto com arco
pleno decorado por motivos vegetalistas possui retábulo de talha com painel
figurando o baptismo de cristo e abóbada de nervuras. Capela-mor revestida a
talha com paredes ritmadas por colunas. Retábulo magistralmente adaptado às
aberturas dos vãos através de colunas suportando entablamento e sanefas, e com
trono central. Cobertura em abóbada artesonada. Absidíolos abobadados com
retábulos de talha. No do lado da Epístola abre-se arco pleno rendilhado
encimado por frontão triangular com o tímpano decorado dando acesso a capela,
onde existem dois túmulos”.
Fonte – Site: monumentos.pt
Igreja da Ordem Terceira de S. Francisco e
Casa do Despacho
“Fundada em 1633, a
Ordem Terceira de S. Francisco teve uma capela primitiva dos finais do século
XVII (1676-80), sendo acrescentada uma capela-mor em 1711.
A nova Casa do
Despacho foi mandada construir entre 1746-49, atribuindo-se o seu risco a
Nicolau Nasoni, tendo colaborado na execução da obra o mestre pedreiro António
Silva de Carvalho. Ostentando o brasão da ordem na porta principal, as janelas
têm grades de ferro, como era usual na primeira metade do século XVII.
A casa tem três
andares e um subterrâneo, o Cemitério Catacumbal da Ordem, destinado ao enterro
dos irmãos. Desactivado em 1866, as catacumbas, com jazigos laterais e abóbadas
de berço, com arcos revestidos a talha, despertam hoje a curiosidade dos
turistas.
Os tectos de todos os
pisos superiores são obras notáveis. Os interiores deste edifício fazem lembrar
aspectos dos interiores joaninos de Lisboa que desapareceram aquando do
terramoto de 1755.
A Sala de Espera tem
um belo tecto apainelado à portuguesa, com muitas molduras marmoreadas.
Na Sala das Sessões
ainda se reúne a Mesa da Venerável Ordem de São Francisco. O enorme tecto desta
sala data de 1748 e foi executado pelo mestre José Martins Tinoco, segundo
desenho de Nicolau Nasoni. Ao centro do tecto existem dois brasões bipartidos.
São pinturas a óleo com as armas da Ordem Terceira e dos monarcas D. José e D.
Mariana Vitória. Da autoria de José Teixeira Guimarães são as catorze sanefas,
o retábulo e a moldura do quadro, em forma de glória, todos em talha dourada. É
também de sua autoria a magnífica mesa, de pau-santo, com pernas em forma de
sereias.
A Sala das Sessões é
um belíssimo espaço onde está presente a figura do mestre entalhador José
Teixeira Guimarães, responsável pela execução do retábulo e das sanefas.
A cripta (1798-1803),
projectada pelos arquitectos António Pinto de Miranda e Vicente Mazzoneschi, é
um caso ímpar na arquitectura funerária portuense”.
Fontes – Sites: pt.wikipedia.org; patrimoniocultural.pt
Casa do Despacho da Ordem Terceira de S. Francisco
No final do século XVIII, os Irmãos decidiram construir uma
nova igreja em substituição da existente, para o que encomendaram três
projectos a Damião Pereira de Azevedo, Teodoro de Sousa Maldonado e António
Pinto de Miranda. Tendo sido escolhido o projecto deste último arquitecto,
iniciaram-se os trabalhos em 1795, sendo concluídos em 1805. O seu interior é
uma das manifestações mais requintadas do neoclássico portuense, tendo
colaborado na sua feitura artistas como o escultor Manuel Joaquim Alves de Sousa
Alão, o italiano Luís Chiari e José Teixeira Barreto. O retábulo-mor é da
autoria do entalhador Manuel Alves da Silva, segundo o risco do arquitecto
António Pinto de Miranda, sendo as duas imagens de S. Francisco e de S.
Domingos obra de Joaquim Machado de Castro.
Nova Igreja da Ordem
Terceira de S. Francisco junto à igreja de S. Francisco
Entrada do convento - Ed. blogue Porta Nobre
À esquerda, entre a igreja conventual em frente e a da Ordem
Terceira, podemos ver a antiga portaria do convento, constituindo tudo o que
restou do aspecto exterior, do convento franciscano.
A meio da foto uma outra perspectiva da entrada do antigo Convento de S. Francisco - Ed. Graça Correia
Desenho da 2ª capela da Ordem Terceira de S. Francisco em
1736 - Fonte: aportanobre.blogspot
"Em cima a 2ª capela da ordem, que sucedeu à primitivamente
construída em 1676. É a pequena capela visível à esquerda da grande Igreja de S.
Francisco. A primeira capela existiu no claustro do Convento".
Fonte: aportanobre.blogspot
Fonte: aportanobre.blogspot
Bairro e Cais dos Banhos hoje Rua Nova da Alfândega
Abertura da Rua Nova da Alfândega
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