Rua Chã · Rua do Loureiro
Rua Chã
O local onde se situa a Rua Chã era antigamente uma zona
rural; daí os topónimos Chão das Eiras ou Rua
das Eiras. A sua existência é comprovada nos finais do século XIII
(1293) e era constituída por duas partes: a Rua das Eiras (do Arco de Vandoma
até ao Corpo da Guarda) e a Rua Chã (do Corpo da Guarda até aos Paços da
Marquesa).
Aí existiram casas-torres, incluindo a do Alcaide-mor e as
chamadas cadeias antigas (que ficavam ao Corpo da Guarda); daí o nome Viela
da Cadeia correspondente à actual Travessa da Rua Chã e da Viela
do Cativo, topónimo que hoje existe, como Rua e Travessa do Cativo, que
se desconhece a quem se referenciava.
Temos conhecimento da ocorrência de um violento incêndio que
nos finais do século XIV, ou inícios do século XV, teria destruído as casas feitas
em taipa da Rua Chã; com efeito, em 1408, foi determinado pela Câmara, que a
Porta dos Carros estivesse aberta para facilitar a condução da pedra necessária
para as obras a fazer após aquela catástrofe.
Em 1635, também por ordem da Câmara foi construído um
chafariz que ficava no cruzamento da Rua Chã com a Rua do Loureiro, deslocado
em 1784.
Rua do Loureiro
Com base nos estudos feitos por historiadores da cidade,
existem diversas versões sobre a identificação da Rua do Loureiro; assim, esta
artéria seria a Rua do Faval ou Rua de Carros, para uns, enquanto,
para outros, seria a Rua da Cividade.
Há ainda quem diga que foi Rua de S. Bento das Freiras
a desembocar no Largo de S. Bento das Freiras.
De concreto, sabe-se apenas que nos finais do século XVII
não tinha nome, sendo referida, simplesmente, como a rua que ia da Rua Chã para
S. Bento.
Num "roteiro" das rendas do cabido do século
XVIII há uma alusão à Viela dos Gatos, hoje Travessa de S.
Sebastião, que antigamente se chamava Viela do Forno, "pela qual se ia para a Cividade e agora para a Calçada do Corpo
da Guarda".
Tudo isto, Cividade e Calçada do Corpo da Guarda, desapareceram
quando se abriu a chamada Avenida da Ponte, agora Avenida de
Afonso Henriques.
Em 1784, e devido à acção de João de Almada e Melo, no plano
de transformações urbanísticas efectuadas na cidade, esteve contemplada a Rua
do Loureiro; com efeito, por ser estreita e sinuosa não correspondia às
necessidades de circulação, tendo sido ordenada a demolição de várias casas e a
deslocação do chafariz que existia no cruzamento da Rua Chã com a Rua do
Loureiro, de forma a tornar a zona mais desafogada. Ainda hoje pode ver-se um
belo friso de casas dos séculos XVII-XVIII.
Praça Almeida Garrett - Rua das Flores - Avenida Afonso Henriques
Chegados à Praça Almeida Garrett, vemos o início de três
artérias importantes: a Rua das Flores, a Rua Mouzinho da Silveira e a Avenida
Afonso Henriques ou Avenida da Ponte.
Por estas três vias, se estabelecia a ligação directa da
zona baixa com a zona alta da cidade.
Vista sobre parte da Praça Almeida Garrett, em 1916, quando
a estação de S. Bento era, ainda, um barracão em madeira
Praça Almeida Garrett e a estação de S. Bento (um barracão
em madeira), à direita
O primeiro comboio chega a S. Bento em 1896, e
provisoriamente, é construído um edifício em madeira, que vai funcionado como
gare, até que em 1916, se dá a inauguração da nova estação.
Praça Almeida Garrett antes da abertura da Avenida da Ponte
Praça Almeida Garrett e, a meio da
foto, em frente, o caminho que ligava ao Largo do Corpo da Guarda, em 1947
Comparando a foto anterior com a que a antecede, observa-se
que o prédio à entrada do acesso ao Largo do Corpo da Guarda, que albergava a Caixa
de Crédito Portuense já foi demolido, apresentando também esse largo alguns sinais
de demolição.
Rua das Flores
A Rua das Flores é uma das ruas que ainda mantem o perfil original quase intacto. Nela se encontram alguns dos melhores conjuntos de casas dos séculos XVII, XVIII e XIX, destacando-se, entre elas: as Casas dos Cunha Pimentéis, dos Maias, dos Figueiroas, dos Sousa e Silva, dos Constantinos e de Martim Afonso de Melo.
Curiosamente, em vários edifícios ainda podem ver-se duas
marcas: a roda de Santa Catarina e o Anjo S. Miguel, símbolos de propriedade respectivamente
da Mitra e do Cabido portuenses.
Aberta em 1518, no tempo de D. Manuel I, foi então designada
por Rua de Santa Catarina das Flores, tendo desempenhado desde sempre um papel
primordial como eixo de ligação da baixa portuense com a parte alta, função que
manteve quando se operaram as grandes transformações urbanísticas no tempo dos
Almadas.
Ao fundo da Rua das Flores fica o edifício da Santa Casa da
Misericórdia cuja igreja recebeu em 1749/50 uma das mais belas fachadas
barrocas da cidade, de autoria de Nicolau Nasoni. Entre as inúmeras e valiosas
obras de arte que fazem parte do espólio da Misericórdia do Porto, destaca-se
pela sua qualidade estética, a célebre pintura, possivelmente oferecida por D.
Manuel I: o Fons Vitae.
Terá sido o conde Athanasius Raczynski (1788-1874), o
embaixador da Prússia em Portugal de 1842 à 1848, a assinalar e valorizar a
pintura quando esteve no Porto em Agosto de 1844.
Raczynski identifica as personagens da pintura, como D.
Manuel I (1469 -1521) a sua mulher e os seus filhos, identificação que se
mantém como a mais provável, apesar de outras hipóteses avançadas. O conde
polaco a partir dessa identificação, data a pintura como posterior a 1518,
socorrendo-se da Chronica de D. Manoel de Damião de Góis
(1502-1574), publicadas em 1749.
Rua Mouzinho da Silveira
A Rua Mouzinho da Silveira é uma das artérias vitais do centro histórico do Porto. Caracteriza-se por uma actividade comercial intensa, voltada (apesar de se terem verificado algumas mudanças nos últimos tempos) para os produtos e maquinaria ligados à agricultura e jardinagem, ao contrário do que acontece com a Rua das Flores, tradicionalmente vocacionada para o negócio do ouro e da prata.
A sua abertura fez com que fossem sacrificadas, numa
primeira fase: a Rua da Biquinha, os quintais da Rua das Flores voltados para o
Rio da Vila (que foi encanado sob a nova rua), a Capela de S. Crispim e a praça
de Sant’Ana com a Capela de S. Roque e seu chafariz, obra notável erguida no
tempo de João de Almada e Melo; numa segunda fase, aprovada em 1872 e iniciada
em 1876, seria demolida a Rua das Congostas para dar lugar à parte que vai da
Rua do Infante D. Henrique até ao cruzamento com a Rua de S. João.
Na Rua da Biquinha
havia os aloques da Biquinha que eram os depósitos de estrume e lixos da
cidade, ao ar livre, nas trazeiras das casas da Rua das Flores, e na Rua da
Biquinha havia os pelames ainda mais mal cheirosos, que escorriam e pioravam o
ambiente daquela zona.
Os aloques foram
fechados pela CMP em 1854.
Podemos dizer aliás que o traçado da actual Rua de Sousa
Viterbo corre em certa medida, numa paralela à velhíssima Rua das Congostas, de
que restam ainda alguns vestígios no pátio de S. Salvador, junto da capela da
mesma invocação, que nos recorda a existência, naquele mesmo sítio, do medieval
- Hospital de S. Salvador das Congostas.
O elemento mais relevante da desaparecida Rua das Congostas
era a fonte que nela existia e que, por isso, se chamava fonte das Congostas.
Desconhece-se desde quando ali foi instalado um chafariz, mas deve ser um pouco
antes do século XV. Sabemos, por exemplo, que numa provisão régia do ano de
1395 se aconselhava a Câmara a "aproveitar os sobejos da água da fonte do
Almazém (Alfândega - Casa do Infante) para alimentar uma fonte pública que se
devia construir nestes sítios". Uma alusão, sem dúvida, à construção da
fonte das Congostas. Ignora-se, no entanto, a data em que começaram os
trabalhos.
No século XVII, a fonte das Congostas era abastecida com
água proveniente do aqueduto de Paranhos. A fonte era monumental, com a
frontaria a lembrar um retábulo e em que estava esculpido o escudo real adotado
por D. João II. Tinha duas bicas: uma onde se abasteciam os vizinhos; outra
destinada exclusivamente aos aguadeiros.
Avenida Afonso
Henriques
Uma vez construída a Ponte Luis I (1886), foi autorizada a
abertura da Avenida da Ponte mais tarde chamada Avenida Afonso Henriques
pela portaria de 21 de Fevereiro de 1889. Porém, após as expropriações,
nomeadamente na zona do Largo do Corpo da Guarda, foi construída apenas uma
pequena parte, ficando as obras suspensas. Dos vários projectos elaborados para
a referida avenida como os de Barry Parker, Arménio Losa, Fernando Távora e
Álvaro Siza, nenhum deles teve execução.
Estação de S. Bento · Igreja dos Congregados
Convento de S.
Bento da Ave -Maria e respectiva igreja
O Convento de S. Bento da Ave-Maria era um dos mais
grandiosos da cidade, tendo a sua população, entre freiras, educandas,
seculares e serventes, atingido o número de trezentas pessoas, demonstrando-se,
assim, a sua importância.
A fundação data da época de D. Manuel I (1518), tendo sido
reunidas em 1535 as freiras beneditinas dos mosteiros de Tuías, Rio Tinto, Vila
Cova e Tarouquela.
No que a Rio Tinto diz respeito, o Mosteiro de São Cristóvão
de Rio Tinto era feminino, pertencia à Ordem de São Bento, e estava sob
jurisdição diocesana.
Foi fundado no fim do século X ou princípio do século XI.
Inicialmente esteve associado ao Mosteiro de Santa Maria de
Campanhã.
No fim do século XI, este mosteiro dúplice deve ter adoptado
a Regra de São Bento, numa época em que obedeceu durante algum tempo ao abade
do Mosteiro de São Cristóvão de Refojos de Riba de Ave.
Cerca de 1140, foi governado por uma abadessa, tornando-se
mosteiro feminino.
Em meados do século XIII, os bens do Mosteiro espalhavam-se
por Rio Tinto, Fânzeres, Jovim, S. Cosme, exercendo o direito de padroado sobre
a igreja de Valongo.
Cerca de 1536, a comunidade que permanecera no lugar,
transferiu-se para o Convento de São Bento da Ave-Maria do Porto.
O convento da Ave Maria ficou com os privilégios de Rio
Tinto, entre eles o de apresentar vigário para a freguesia.
Em 10 de Outubro de 1783 um violento incêndio destruiu
completamente a sua igreja, que era famosa pela rica decoração em talha,
imagens e pintura. Porém, em 14 de Dezembro de 1783, deu-se início à
reconstrução da igreja, sendo a planta executada pelo arquitecto Manuel
Álvares. A primeira pedra foi colocada com todas as solenidades em 7 de Junho
de 1784 na presença do bispo D. João Rafael de Mendonça e em 22 de Junho de
1794 foram dados por concluídos os trabalhos, inaugurando-se solenemente o novo
templo.
Vista frontal da igreja do demolido Convento de S. Bento da
Ave-Maria
Estação de S.
Bento
Iniciadas as obras no Túnel de S. Bento em 1890 e concluídas em 1893, com a chegada do primeiro comboio a S. Bento a 7 de Novembro de 1896, tornou-se imperiosa a construção da gare. Assim, foi decidida a demolição do Mosteiro de S. Bento da Ave-Maria, para em seu lugar, se erguer a Estação de S. Bento. A primeira pedra foi colocada em 22 de Outubro de 1900 na presença do rei D. Carlos e da rainha D. Amélia, devendo-se o projecto que, no entanto, sofreu alterações ao longo da sua execução ao arquitecto Marques da Silva.
A decoração do vestíbulo é feita com azulejos (1916) da
autoria de Jorge Colaço, com uma temática variada: cenas etnográficas, cenas
alusivas aos transportes e cenas narrativas da História de Portugal (Batalha
dos Arcos-de-Valdevez, Egas Moniz perante Afonso VII de Castela, Entrada de D.
João I no Porto, e Conquista de Ceuta).
Igreja dos Congregados
No panorama arquitectónico portuense dos finais do século XVII - inícios do século XVIII, a Casa e a Igreja da Congregação do Oratório ocupam uma posição relevante. Ligada a uma tradição maneirista que irá permanecer na arquitectura da cidade até ao primeiro quartel do século XVIII, a fachada da igreja apresenta certos esquemas decorativos de gosto protobarroco.
A primeira campanha de obras da Casa da Congregação teve
início em 1680, estando concluída em 1681/82; porém, a maior actividade irá
verificar-se entre 1683 e 1703.
Acerca da igreja são muitas as referências de todos, conhecidas. Edificada entre 1694 e 1703 (em substituição da Capela de Santo
António, que ficava em frente da Porta de Carros, uma das principais da
cidade), a autoria do seu risco pertence ao Pe. Pantaleão da Rocha de
Magalhães. A abóboda foi feita pelos mestres pedreiros João Moreira e António
da Costa.
Sabemos ainda que um dos retábulos mais importantes da
igreja, o de Nossa Senhora da Nazaré, foi executado por Domingos Nunes (também
ligado às obras da igreja em 1683), segundo a planta de João Pereira dos
Santos.
Infelizmente, não se possui quaisquer dados que auxiliem a
identificação dos retábulos setecentistas de Nossa Senhora das Dores e da
Sagrada Família do Desterro.
Sem comentários:
Enviar um comentário