terça-feira, 22 de novembro de 2016

(Continuação 7) - Actualização em 18/12/2017

Casa do Despacho da Sé


Fica encostada à cabeceira da Capela do Santíssimo e à Capela- mor da Catedral.
Trata-se de uma obra seiscentista, uma singela construção com 3 janelas rectangulares gradeadas.



Por trás do chafariz de S. Miguel-o-Anjo, a Casa do Despacho




Corpo da Guarda - Largo 1º de Dezembro 



Do Terreiro da Sé em direcção ao Largo 1º de Dezembro vemos, em frente da fachada lateral da Sé, a estátua contemporânea do mítico Vímara Peres e, à nossa direita, na Calçada de Vandoma, uma das mais belas fontes do Porto, o chafariz de S. Miguel-o-Anjo. Cruzando a Avenida da Ponte, como é conhecida (na realidade são duas as avenidas: a de D. Afonso Henriques e a de Vímara Peres), passamos por uma zona, o Corpo da Guarda, que foi demolida quando se procedeu à abertura desta artéria.
O edifício mais importante era o Palácio do Corpo da Guarda, cuja construção datava do século XVI e era propriedade dos Condes de Miranda do Corvo. Nos inícios do século XVIII (1717) sofreu obras profundas devido ao seu estado de ruína. Entre 1757 e 1786 foi residência de João de Almada e Melo, sendo também conhecido por Palácio do Governo. Em 1797 foi vendido pelo proprietário, o Duque de Lafões.
Já perto do Largo 1º de Dezembro vemos, à esquerda, o Palácio dos Condes de Azevedo, comprado ao Estado em 1887, onde foram instalados diversos serviços públicos e que é hoje um condomínio habitacional.



Mosteiro de Santa Clara



As suas religiosas eram Franciscanas Clarissas.

“No século X, foi fundado no anterior cenóbio do Salvador, situado no lugar do Torrão, Entre-Ambos-os-Rios, junto à margem esquerda do Tâmega, na confluência do Douro. 
Os seus patronos foram D. Châmoa Gomes, dama nobre do Porto e seu marido, o fidalgo leonês, D. Rodrigo Froilas, que o dotaram generosamente e receberam do bispo D. Vicente e do cabido do Porto a doação do respectivo couto. 
Em 1256, ou em 1257, por bula do papa Alexandre IV, de 13 de Janeiro, foi autorizada a fundação do Convento para cem religiosas, vindo doze monjas clarissas de Zamora para iniciar a comunidade, uma das quais seria a abadessa. 
Iniciou-se então, a construção do edifício chegando apenas três irmãs de Zamora, o que pode significar um começo mais modesto do que o esperado. 
Em 1258, já estava instalada a primeira comunidade de clarissas que seguia a regra do Cardeal Hugolino, tendo sido o Convento refundado. 
A alegação da existência de abusos cometidos no Convento por grande número de nobres, apresentada por Frei João de Xira, visitador das religiosas e confessor de D. João I, justificou a sua transferência do Torrão, lugar despovoado e solitário, para o Porto. 
Em 1416, sob o patrocínio de Dona Filipa de Lencastre, e através da bula "Sacrae Religionis" de Inocêncio VII, do mesmo ano, dirigida ao abade beneditino de Santo Tirso, foi obtida a autorização necessária. 
Em 1416, a 25 de Março, foi lançada a primeira pedra - benzida pelo bispo do Porto, D. Fernando da Guerra - na presença do monarca que, nesse ano, tomou os dois conventos sob a sua protecção. 
Cerca de 1427, efectivou-se a trasladação da comunidade para o local dos "Carvalhos do Monte" junto à Porta de Santo António da Pena ou Penedo, dentro dos muros da cidade, ao longo da muralha fernandina, com a intervenção de D. Fernando de Guerra, arcebispo de Braga. As freiras mantiveram os privilégios, doações e foros, obtidos no anterior Convento. 
Em 1568, passou da claustra à observância”. 
In: autoridades.arquivos.pt



“A freguesia de Santa Clara do Torrão, no antigo concelho de Benviver, era curato da apresentação do Convento de Santa Clara do Porto, passando mais tarde a reitoria. O Decreto de 31 de Dezembro de 1853 extinguiu o concelho de Benviver, passando esta freguesia para o Marco de Canaveses.
Arcediagado de Benviver (século XII). Comarca eclesiástica de Sobretâmega - 1º distrito (1856; 1907). Segunda vigararia do Marco de Canaveses (1916; 1970).”
In Arquivo distrital do Porto, História administrativa/ Bibliográfica/ Familiar.



O Mosteiro de Santa Clara foi, assim, construído para dar cumprimento a um voto de D. Filipa de Lencastre, sendo lançada a primeira pedra no ano seguinte à morte da rainha. As primeiras freiras, que eram oriundas do mosteiro de Santa Clara do Torrão (Entre-os-Rios) e que viviam até aí, em condições muito precárias, conseguiram autorização para construírem o edifício dentro da muralha, colocando-se assim ao abrigo de possíveis incursões dos castelhanos.
Com a supressão de vários mosteiros mais pequenos nas diversas localidades entre o século XV e o século XVI, as freiras foram-se agregando em Santa Clara levando para lá as suas rendas, sendo uma delas uma portagem por todas as mercadorias que passavam pelo Rio Douro.
As obras estavam totalmente concluídas em 1457, facto a que não foi alheio o monarca, que colocou o mosteiro sob protecção régia.
A transferência dá-se, então, em 1457, sobre a presidência da abadessa D. Mécia Álvares que, pouco depois, é substituída no cargo por D. Leonor Ferraz.
Aliás, esta família Ferraz estará, desde sempre, ligada a este mosteiro.
Assim, é o caso da abadessa Briolanja Ferraz, filha de Afonso Ferraz, fidalgo da casa de D. João III, que terá feito a integração na ordem de vários padroados e doacções.
No começo de 1683, durante a construção de um novo claustro, terá ocorrido um incêndio no mosteiro com danos de alguma monta.
Seguir-se-á uma intervenção que levará a igreja para uma aparência do período barroco, com a capela-mor recoberta a ouro em 1729, e o novo arco cruzeiro levantado em 1731.
Para trás, tinha ficado uma intervenção do início do século XVII, que resultou na cobertura do interior da igreja a azulejos.
Em 1758, a igreja estava toda recoberta a folha de ouro.
Por esta altura, a população cifrava-se em 300 almas, das quais 1/3 eram monjas oriundas da nobreza e da burguesia endinheirada e, os outros 2/3, era criadagem, alguma dela de tez negra, pelo que, não admira que os altares apresentassem santos negros - Santa Ifigénia e S. Benedito.
Os dotes exigidos às futuras monjas eram grandes. O mosteiro vivia na abastança. 






Mosteiro de Santa Clara, desenho de J. Victoria Villanova, em 1834




A estrutura arquitectónica é de grande simplicidade destacando-se, no entanto, os dois portais: o da igreja, renascentista, e o da portaria da casa conventual, muito semelhante ao portal de entrada da igreja do convento de S. Francisco do Porto, já com um espírito barroco. No início do século XVIII, devido ao número crescente de monjas, são construídos novos dormitórios (1707-1715).
Entre 1714 e 1716, é edificado junto da muralha fernandina um novo dormitório sendo, assim, demolidas as instalações para os padres confessores e capelão que só serão novamente levantadas em 1719.
A sua igreja mantém ainda intacto o magnífico interior, totalmente revestido a talha dourada, na linha de outras igrejas portuenses como a de S. Francisco, ou S. Pedro de Miragaia, ou Monchique, esta última desaparecida.
A entrada da igreja é feita através de uma porta barroca, datada de 1697 e reformulada no século XVIII, com elementos renascentistas como colunas salomónicas e capitéis coríntios. No interior, podemos vislumbrar toda a magnificência desta igreja, toda coberta por talha dourada da primeira metade do século XVIII.
O esmero e o requinte de execução que podemos admirar nos retábulos, sanefas, tecto, arco cruzeiro e, principalmente, na capela-mor, provam a categoria dos artistas da escola do Porto e fazem de Santa Clara um paradigma do domínio da talha dourada. À esplêndida capela-mor encontra-se ligado o arquitecto-entalhador Miguel Francisco da Silva, responsável pela feitura do retábulo-mor, ilhargas, tecto, arco cruzeiro e retábulos/nichos colaterais (1730), ignorando-se o autor do risco.
Chegou a ser um dos mais ricos conven­tos da cidade.
Até ao ano de 1500, as aba­dessas de Santa Clara do Porto recebiam impostos sobre todo o sável e lampreias que eram pescados no rio Douro e, tam­bém, portagem de todas as mercadorias que transitavam pelo mesmo rio, dado que as clarissas mantiveram, em princípio todos os privilégios, doações e foros, que traziam do Torrão.
As monjas do Convento de Santa Clara também eram conhecidas por “Donas do Codeçal”.
No século XVIII, as rendas anuais do convento atingiram o elevado montan­te, para a época, entenda-se, de doze con­tos de réis. 
O texto que se segue dá-nos uma descrição do mosteiro, em meados do século XIX.


“Quando fomos visitar o convento de Santa Ana [sic; Santa Clara ], entrámos a cavalo no átrio; o ruído dos cascos dos cavalos atraiu algumas das Freiras, e jovens residentes até à janela gradeada. A senhora inglesa a cavalo, ou antes, talvez o seu chapéu e longo vestido de montar, pareciam atrair as atenções, até que os nossos dois cães terra nova “cortaram” essas atenções e captaram a sua admiração. No centro do isolado átrio estava uma bonita fonte de mármore, com uma grande pia circular, a resplandecer com água límpida que a enchia até ao bordo. Mal os cães deram por ela, pularam de imediato e mergulharam na pia, nadando em volta dela como se tivesse sido feita para eles. De vez em quando mergulhavam até ao fundo trazendo pedras, que iam depositar no átrio, saltando de novo para a água, e não descansaram até já não haver um único seixo na fonte. As gargalhadas e os gritos de admiração das senhoras por detrás das grades revelavam que se sentiam tão surpreendidas e divertidas por estes comportamentos como se os cães fossem magos. Enquanto esperávamos autorização para ver a capela, trocámos algumas palavras de circunstâncias com uma das freiras mais velhas, através da grade de ferro que separa a capela do resto do convento do lado oeste.”
Dorothy Wordsworth, In “Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha” (1845)


Entre as várias solenidades religiosas que eram assinaladas pelas clarissas, contava-se a festa, a 16 de Janeiro de cada ano, dos santos mártires de Mar­rocos, que pertenciam à Ordem de S. Fran­cisco.
Os padres regrantes da ordem de Santo Agostinho, conhecidos como frades crúzios, que tinham o seu mosteiro do outro lado do rio, no cimo do monte da Serra do Pilar, possuíam uma relíquia dos mártires de Marrocos e, na véspera do dia 16 de Janeiro (ao cair da tarde), levavam a relí­quia em procissão até uma das janelas do convento e mostravam-na à cidade. Do lado de cá, as monjas subiam a um mirante feito a partir de um cubelo da muralha fernandi­na e, enquanto cantavam uma antífona, a madre abadessa incensava, do lado de cá, o relicário.



Cubelo e Muralha antes da última intervenção



A foto, acima, apresenta um troço da muralha, antes da última intervenção, mui­to perto da Igreja de Santa Cla­ra e da Rua do Miradouro. Esta rua começa nas esca­das dos Guindais e termina na Alameda das Fontainhas. Tem aquele nome por ficar per­to do mirante da muralha fernandina que era o local de re­creio das monjas e o sítio de onde elas can­tavam a antífona em louvor dos santos mártires de Marrocos e miravam a relíquia.
A Rua do Miradouro já tinha esta denominação em 1846.
Sobre uma outra tradição existente no convento escreve Germano Silva:


Há no Porto uma tradição, muito antiga, de as noivas, na véspera do casamento, oferecerem a Santa Clara (a de Assis) meia dúzia, ou uma dúzia, de ovos "de galinha poedeira", logo caseira, para que não cho­va no dia da boda…Eu não sei, e julgo que ninguém sabe, como estas coisas se engendram na imagi­nativa crónica popular e passam de avós para netos; de pais para filhos; da lenda para a história; e da história para a tradi­ção ou para o simbolismo. Mas julgo, e é apenas uma mera suposição, que esse an­tigo uso popular anda ligado ao facto de as clarissas terem sido, em tempos idos, co­nhecidas também por "esposas de Santa Clara" - sendo que aqui a expressão quer dizer as esposas que vivem em Santa Cla­ra e não as esposas da padroeira. 
Todo isto tem a ver com a realização da antiga e tradicional procissão da Paixão, que no Porto acontecia na Sexta-Feira Santa. O préstito saia da Igreja de S. Fran­cisco e passava pela "casa das esposas de Santa Clara". Quando aqui chegava, já a noite começava a cair sobre a cidade. Era então costume deixar na igreja das freiras "o esquife com a imagem do Senhor Mor­to "para contemplação das 'esposas do Se­nhor'", como também se costumava dizer. 
Como atrás fica dito - e isto é apenas uma suposição -, pode ver-se na oferta dos ovos uma súplica das noivas às "es­posas de Santa Clara "”.
 

O mosteiro era abastecido por manancial proveniente de duas nascentes que se juntavam no campo do Espinheira, na Póvoa de Cima, a actual Praça Rainha D. Amélia, corria mais ou menos paralelo à actual Rua da Alegria passando pelas faldas do Monte de Santa Catarina, que se chamou também Monte dos Congregados e que por pertencer em parte a Thadeu António de Faria é também conhecido por Monte do Tadeu, passava ainda por Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga, actual) e paralelamente à Rua do Caramujo (troço final da Rua da Alegria) e por Santo Ildefonso, Rua do Campinho, Entreparedes e Praça da Batalha, rumava por fim ao mosteiro.
Este manancial também abastecia o Paço Episcopal.
No seu trajecto o manancial abastecia o chafariz do Largo da Póvoa de Cima, também chamado de S. Crispim, hoje instalado no Palácio de Cristal, a fonte do Canavarro instalada na Rua Santa Catarina e desaparecida e ainda a Fonte da Firmeza, hoje instalada na Praça das Flores, antes implantada na rua do mesmo nome.
O Estado tomou posse definitiva dos bens do mosteiro em 1900, albergando no local o dispensário Rainha D. Amélia (actual centro de saúde da Batalha), o Governo Civil do Porto, uma casa de reclusão, a Associação Protectora da Infância e, a partir de 1960, a Polícia de Segurança Pública do Porto.



Pátio do mosteiro de Santa Clara, com o seu chafariz (Desenho/reconstituição -1920) – Ed. João Monteiro

 

 


Portaria do mosteiro de Santa Clara




Interior da Igreja de Santa Clara




Exterior da Igreja de Santa Clara



No seu interior podemos encontrar um dos melhores exemplares da arte da talha dourada do Barroco Joanino.
Em 22 de Outubro de 2021, após cinco anos de obras de recuperação, a igreja de Santa Clara abriu, ao público, completamente remodelada.




Capela de Santo António do Penedo 



A Capela de Santo António do Penedo erguia-se no Campo de Santa Clara, tendo sido demolida em 1886/87. Ignora-se a data exacta da sua construção, levantando-se a hipótese do 1º quartel do século XVII. Em 1671/72, recebeu um coro e uma galilé, executados pelo mestre pedreiro Manuel do Couto, segundo a traça do Padre Pantaleão da Rocha de Magalhães, mestre-capela da Sé do Porto e arquitecto amador que investigações recentes ligam a algumas das obras mais importantes realizadas no Porto na segunda metade do século XVII.




Rua Augusto Rosa

Real Casa Pia de Correcção/ Aquartelamento das Partidas Avulsas/ Edifício do ex-Governo Civil

Este edifício foi mandado construir pelo corregedor Francisco de Almada e Mendonça, corria o ano de 1790, e foi designado por Real Casa Pia de Correcção e de Educação e Aquartelamento das Partidas Avulsas.
Segundo Sousa Reis,
“…tinha como objectivos primordiais de "prover sobre os damnos da falta de educação no povo, corrigir os delictos e corrupção dos costumes e para aliviar a cidade dos aboletamentos tão gravozos a hua grande parte dos moradores...".
Destes objectivos, veio a cumprir apenas os dois últimos, dado que nunca a Casa Pia do Porto acolheu menores a quem pudesse recuperar como membros válidos da sociedade. Em contrapartida, outras competências foram-lhe sendo acrescidas, nomeadamente na área de administração de obras públicas. 
Destinado inicialmente para Quartel das Partidas Avulsas, o edifício teve diversas funções, mas a Casa Pia nunca chegou, porém, a ser criada na prática. Para além disso, serviu de residência a Francisco de Almada e Mendonça, que aí faleceu em 19 de Agosto de 1804.
Edifício dos finais do século XVIII (1790/92) construído entre a Porta do Sol e o Largo da Batalha, após a demolição de parte da muralha fernandina, o projecto é da autoria de Reinaldo Oudinot e a obra esteve a cargo de Teodoro de Sousa Maldonado e Francisco de Paiva, tendo também participado o arquitecto e ensamblador José Francisco de Paiva.


Casa Pia em desenho de Joaquim Villanova em 1833



Para inspecionar superiormente a construção da Real Casa Pia de Correcção e de Educação e Aquartelamento das Partidas Avulsas, foi indicado (por nomeação régia) o Corregedor e Provedor da Comarca do Porto Francisco de Almada e Mendonça (filho de João de Almada e Melo).
Em 4/10/1794, tinha saído uma provisão que lançava um imposto de 1 real por cada quartilho de vinho consumido na cidade e seu termo, o qual era recebido pela Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro, para “rendimento e para as despesas da sua conservação e existência … o qual se arrecadará e administrará da forma que foi regulado… por Francisco de Almada e Mendonça”.
Este imposto rendeu, até 1821, cerca de 6.000$000 por ano e esteve na base de vários empreendimentos realizados e administrados por aquela entidade.
Destinado inicialmente para Quartel das Partidas Avulsas, o edifício teve diversas funções, desde prisão dos Calcetas (prisão de recrutas e criminosos militares, que procediam ao calcetamento das ruas), secretarias e repartições pertencentes à guarnição do Porto e local onde residiam oficiais solteiros da Guarda Real da Polícia e Quartel-General da Região Norte (instalado na zona norte do edifício), até fábrica de lonas e Casa Pia (esta última nunca tendo funcionado).
Para além disso, serviu a Francisco de Almada e Mendonça que inclusivamente se instalou no edifício da Real Casa Pia, transformando-a assim no centro nevrálgico da administração da comarca, fazendo dele a sua residência e tendo aí falecido em 19 de Agosto de 1804.
A Câmara do Porto foi aqui instalada desde 30/6/1806, vinda do Convento dos Agostinhos Descalços (Grilos), até 1819 quando se mudou para a Praça Nova.
Anos mais tarde, seria convertido em sede da Repartição da Fazenda, Pagadoria Militar, Quartel-general, Estação Telegráfica Elétrica e Governo Civil.
Em 18 de Dezembro de 1847, deflagrou um incêndio que praticamente destruiu o edifício, obrigando a grandes e sucessivas obras de remodelação que lhe conferiram o aspecto actual. 
Estas obras, que incluíram uma ampliação do edifício para sul, obrigaram à destruição de uma parte da Muralha Fernandina e da Porta do Sol, em 1875.
Por esta altura, as instalações de uma unidade de cavalaria que por aqui estava aquartelada foi demolida.
Pela cidade, naquela década, o quartel de Santo Ovídio albergava a infantaria 18; o quartel da Torre da Marca, infantaria 10; o quartel de S. Bento da Vitória, caçadores 9; o quartel de S. Braz e o do Carmo, a Guarda Municipal.






Casa Pia após obras de ampliação



Na foto acima pode-se comparar e ver o acrescento (em primeiro plano) que foi feito ao edifício depois de 1875.
No edifício destaca-se o corpo central da fachada, onde se recorta um sóbrio frontão.
Actualmente, é conhecido pelo edifício do ex-Governo Civil tendo, em 2016, sido concluídas obras importantes de remodelação que o tornaram num centro comercial.
Entretanto, o Governo Civil tinha já rumado, alguns anos antes, ao palacete dos Pestanas, na Praça da República.
 
 

Perspectiva obtida do Quartel- General a partir da Praça da Batalha 




O frontão por cima da entrada principal actualmente



À esquerda a Casa Pia



Pela foto acima e confrontando-a com a vista aérea abaixo, se observa de que ainda não tinha sido rasgada a Rua do General Sousa Dias junto à capela, à direita.



Largo 1º de Dezembro – Fonte: Google maps




Muralha Fernandina 


A cerca nova foi iniciada no tempo de D. Afonso IV (1336), sendo erguida até ao reinado de D. Fernando (1376), daí o ser conhecida, por muralha fernandina. A sua construção deve-se ao desenvolvimento da cidade que tornava a antiga cerca desadaptada às suas funções defensivas. O seu aspecto era imponente quer pela extensão, quer pela altura (3000 passos x 30 pés), sendo reforçada ao longo do perímetro por cubelos e torres quadradas.
A muralha, da qual ainda se pode apreciar um troço significativo junto a Santa Clara, iniciava o seu circuito nos Carvalhos do Monte. Aí se abria um postigo, o de Santo António do Penedo (com o nome da ermida da mesma invocação) que daria lugar, no tempo de João de Almada e Melo (1774) à Porta do Sol. Seguia em direcção a Cima da Vila (Porta de Cima da Vila), descendo até à Porta de Carros, em frente da igreja dos Congregados. Daí, seguia alinhada pelo actual edifício das Cardosas até ao Largo dos Lóios (Postigo dos Lóios, depois Porta do Almada), subia a Calçada da Natividade até à Porta do Olival, e das Virtudes (Postigo das Virtudes) passava pelas Escadas do Caminho Novo até à Porta Nova ou Porta Nobre, junto ao Rio. A partir desta porta, a muralha seguia a margem do Rio Douro desde o Largo do Terreiro à Praça da Ribeira e desta até à Lada, subindo os Guindais em direcção a Santa Clara. Neste trecho da muralha, para além da Porta da Ribeira, uma das mais importantes da cidade (infelizmente demolida em 1821) existiam diversos postigos: Postigo dos Banhos, Postigo do Pereira ou da Lingueta, Postigo do Carvão, Postigo do Peixe, Postigo do Pelourinho, Postigo da Forca, Postigo da Madeira ou da Lada, e Postigo da Areia ou dos Tanoeiros.
Enquanto João de Almada e Melo esteve à frente da Junta das Obras Públicas (1757/86), a muralha no seu conjunto não sofreu demolições, sendo feitas unicamente intervenções pontuais: o Postigo de Santo Elói e o Postigo de Santo António do Penedo dariam lugar respectivamente à Porta do Almada e à Porta do Sol enquanto, as Portas da Ribeira e das Virtudes foram melhoradas, de forma significativa.
Porém, a partir de 1787, deu-se início à demolição. Assim, foi derrubada a muralha desde a Porta de Carros até à Porta do Olival e, em seguida, até à Porta das Virtudes; da mesma forma, foi destruída toda a cerca desde a Porta do Sol até à Porta de Cima de Vila. O século XIX iria dar continuidade ao apeamento da estrutura defensiva da cidade, alterando o seu perfil.
A porta de Carros foi desmantelada em 1888. 




Rua de São Luís e Rua do Sol


Esta rua tem o seu início à entrada da Rua do Sol, para quem chega a esta artéria pela Rua de Augusto Rosa e, ladeando pela direita a Capela dos Alfaiates, depois de descrever uma espécie de semi­círculo, acaba, também na Rua do Sol, um pouco antes do local onde fi­cava o portão da Escola Comercial Oliveira Martins.
Aquela capela situada em frente à Sé seria demolida em 1940 e levantada no novo local em 1953.
A Rua de São Luís não aparece identificada na planta de Balck, mas em 1840 já tem esse nome.
Foi rasgada em terrenos que antigamente faziam parte de uma enorme propriedade chamada Quinta dos Matadouros ou da Boavista e que, ainda antes, tinham a curio­sa designação de Vale de Asnos. 
Crê-se que anteriormente seria aquele arruamento que no registo paroquial de 1779 era identificado por Viela do Pé dos Matadouros, a que mais tarde foi dado o topónimo de Viela do Cónego Sampaio, em 1801 e de Viela do Fontana, junto à Nova Rua dos Sol em 1804.
Aquele cónego Sampaio que faleceu em 1819, tinha antes arrematado parte da Quinta da Boavista aos herdeiros do cónego Domingos Ribeiro Nunes.
Outro dos adquirentes da referida quinta foi Gaudêncio Fontana que já a possuía e nela vivia com a sua mulher desde 1786.
Em 1814 falecia António Gaudêncio Fontana e já a viela era a Travessa do Fontana.
Estas propriedades acabaram mais tarde nas mãos de Luís Pereira de Melo Sotomaior, senhor de Barbeita e alcaide-mor de Caminha, casado com D. Maria de Bourbon e Nápoles, morgada da Prebenda, em Viseu.
Este casal edificou ou reedificou uma casa que denominou de São Luís, junto da Rua do Sol, cujo nome derivava talvez, de algum oratório ou capela levantado junto dela, dando-lhe como orago o nome do proprietário.
Era muito comum, nos séculos XVIII e XIX, os proprietários de alguns prédios construírem junto das suas mora­dias oratórios ou capelas onde colocavam o santo da sua veneração que era, por re­gra, o que tinha o nome do dono da casa. 
A casa haveria de ser vendida pelo neto daquele proprietário inicial, Luís Pereira de Melo e Nápoles.
Entretanto, nos assentos paroquiais de Santo Ildefonso a Rua do Sol foi em 1773, Viela das Tripas, em 1786, Rua da Boavista dos Matadouros, em 1799 Rua Nova do Sol.



“O nome da Rua do Sol teve origem na porta do Sol que existia na muralha fer­nandina, no sítio onde agora está o monu­mento que evoca a figura de D. António Barroso que foi bispo do Porto. Anterior­mente, havia ali apenas um pequeno pos­tigo chamado de Santo António do Pene­do por ficar muito perto de uma capela desta invocação. Do Penedo por ter sido construída sobre uma rocha. 
Em 1768, João de Almada e Melo, o gran­de renovador urbanista do Porto, mandou demolir o postigo e no seu lugar construiu uma porta que na sua parte superior e na fachada voltada a nascente tinha esculpi­do um sol que deu o nome à porta e à ar­téria que ficava mesmo defronte. 
Temos assim que a antiquíssima Viela das Tripas deu origem à Rua Nova da Boa­vista ou, simplesmente, Rua da Boavista, à qual sucedeu a Rua dos Matadouros e, posteriormente, a Rua Nova do Sol "de­fronte da Casa Pia" e que é agora, simples­mente, a Rua do Sol, à entrada da qual está a capela de Nossa Senhora de Agosto, vul­garmente conhecida por Capela dos Al­faiates”.
Fonte: Germano Silva



No meio da foto observa-se o gaveto das ruas do Sol (à esquerda) e Rua de São Luís (à direita) antes da edificação da Capela dos Alfaiates – Fonte: JN




Na foto acima em 1º plano é possível observar um fontanário.





Recolhimento da Porta do Sol- Capela dos Alfaiates


Recolhimento da Porta do Sol - Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e de S. José das Meninas Desamparadas



O Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e de S. José das Meninas Desamparadas, foi fundado por D. Francisca de Paula da Conceição Grelho de Sousa, mulher do Corregedor e Chanceler da Relação e Casa do Porto, Dr. José Teixeira de Sousa, sendo destinado a albergar as órfãs do desastre da Ponte das Barcas, ocorrido em 1809.
Depois de ter passado por várias instalações improvisadas na cidade, acabou por ocupar a partir de 1825, um prédio conhecido por Casa da Estopa, situado junto à Porta do Sol, tendo, por isso, a instituição, ficado a ser conhecida também, por Recolhimento da Porta do Sol.
D. João VI tinha colocado o recolhimento sob sua protecção, tendo feito uma doação de 12 000 reis em 23 de Junho de 1821. Nesse mesmo ano, a 10 de Junho, por vontade régia a administração passou a ser feita por uma comissão nomeada pelo rei e que seria presidida pelo bispo da diocese do Porto.
Quatro anos depois (30 de Maio de 1825), o monarca faz nova doação: um edifício de boas proporções a -Casa da Estopa - destinado a residência perpétua do recolhimento e posteriormente remodelado e acrescentado.
A capela, iniciada em 1835, foi concluída em 1851 e, por fim, os dormitórios foram construídos em 1883.
O nome Recolhimento da Porta do Sol deriva da sua situação em frente da Porta do Sol mandada erguer por João de Almada e Melo (em substituição do Postigo do mesmo nome) e que seria demolida em 1876.
Hoje está ocupado pela Universidade Lusófona.




Capela de Nossa Senhora de Agosto ou dos Alfaiates 


A Capela de Nossa Senhora de Agosto ou dos Alfaiates ficava até 1940, em frente da porta principal da Sé, data em que foi demolida, juntamente com uma série de construções. Em 1953, foi reconstruída no local onde hoje se encontra, fronteira ao Governo Civil, tendo-se respeitado, ao que parece, a traça original.


Capela dos Alfaiates no seu local actual




Em 1554, iniciou-se a construção de uma nova capela frente à fachada principal da Sé do Porto, em edifício cedido à Confraria pelo bispo D. Rodrigo Pinheiro. Onze anos depois, só as paredes tinham sido levantadas e, com o empenho do prelado, o mestre-pedreiro Manuel Luís contratou com a Irmandade a conclusão do templo que ocorreria em 1565.
Desde do início do século XVI, que os membros da Confraria de Nossa Senhora de Agosto e São Bom Homem, prestavam culto a uma imagem de Nossa Senhora de Agosto, no 1º andar de um prédio situado perto da catedral, cujo piso térreo servia de celeiro do cabido.
O patrono da confraria, São Bom Homem, era festejado em 13 de Novembro.
Por outro lado, as costureiras e modistas também acabaram por se ligar à confraria e, por isso, a capela exibe uma imagem da sua padroeira, Santa Catarina de Alexandria, a santa que deu nome à Rua de Santa Catarina.
Ocorrendo a festa de Santa Catarina em 25 de Novembro, já em pleno século XX, esse dia era escolhido pelas costureiras para os seus casamentos. Então, em procissão, o casal de noivos e convidados dirigiam-se da capela dos alfaiates, onde tinha ocorrido o enlace, a um nicho aberto na fachada de um prédio situado no gaveto da Rua de Santa Catarina e Rua de Passos Manuel, onde a menina das alianças, subindo a uma escada, depositava naquele nicho, que tinha uma imagem de Santa Catarina, o ramo da noiva.



À saída da Capela dos Alfaiates em dia de casamento de alfaiate com costureira


 



Um casal de noivos saindo da Capela dos Alfaiates, após cerimónia de casamento, em 1960

 
 
Os casamentos ocorridos nos tempos respeitantes à foto anterior, em que o Estado Novo dirigia o destino dos portugueses, tinham o patrocínio do Grémio Regional dos Profissionais de Alfaiataria e Costura do Norte.
 
 
 

Imagem de Santa Catarina, numa platibanda da Ourivesaria Perfecta (aberta desde 1920), na esquina das ruas de Santa Catarina e Passos Manuel



Menina das alianças, em cima de uma escada, oferecendo o ramo da noiva a Santa Catarina


 
 
A Capela dos Alfaiates foi considerada monumento nacional em 1927.
A sua importância decorria de a sua arquitectura ser, no norte do País, um dos primeiros exemplos da corrente maneirista/renascentista que então despontava.
Ao retábulo maneirista associam-se dois nomes, no campo da pintura, do Porto da época: Diogo Teixeira e Francisco Correia. Os oito painéis (Anunciação, Adoração dos Pastores, Adoração dos Reis Magos, Nossa Senhora da Assunção, Menino entre os Doutores, Visitação, Coroação da Virgem e Fuga para o Egipto), enquadrados numa belíssima estrutura de talha dourada, foram restaurados nos anos 50 pelo pintor Abel Moura.
Destaque-se a magnífica imagem de Nossa Senhora de Agosto (em pedra), peça escultórica policromada, onde podemos apreciar uma interessante ligação da estrutura medieval com acrescentos posteriores. Quando a capela foi demolida, a imagem ficou depositada no Gabinete de História da Cidade. Uma vez reconstruído o edifício, regressou ao retábulo, onde se encontra.




Teatro de S. João - Praça da Batalha

Teatro de S. João 

Fazendo uma leitura rápida pelos locais da cidade onde, até à criação do Teatro de S. João, tinham lugar as representações teatrais, sabemos que numa primeira fase se realizavam ao ar livre, nos largos e nas ruas e, mais tarde, nos Celeiros da Cordoaria.
Destinados à armazenagem de cereais, os celeiros passam a ser utilizados para funções teatrais entre 1750 e 1760 e, a partir de 1760, com a criação do Teatro do Corpo da Guarda são aproveitados para outros fins. No Teatro dos Celeiros da Cordoaria, durante a década de 50 do século XVIII funcionou a companhia do polaco Félix Kinsky, a qual desempenhou um papel importante na vida cultural da cidade.
Em 1760, João Glama Ströberle seria incumbido de adaptar, para as funções de teatro, as cocheiras que os Duques de Lafões tinham em frente ao seu palácio no Corpo da Guarda; daí a designação de Teatro do Corpo da Guarda dada ao teatro que aí funcionou até ao aparecimento do Teatro de S. João.
O Teatro de S. João ou Real Teatro do Príncipe ficou a dever-se ao empenho do Corregedor e Provedor da Comarca Francisco de Almada e Mendonça (filho de João de Almada e Melo).
Iniciado em 1796 e inaugurado em 1798, apresentava uma grande simplicidade exterior, não correspondendo, de forma alguma, ao projecto que para tal fim elaborara o italiano Vincenzo Mazzoneschi que, desde 1795, trabalhava em Lisboa no Teatro de S. Carlos. Interiormente, porém, o aspecto era magnífico segundo descrições da época, tendo colaborado na sua decoração Mazzoneschi, que pintou o tecto (área que seria pintada mais quatro vezes, antes do incêndio, por: Joaquim Rafael, Paulo Pizzi, Lima, e Manini, este último em 1888) e Domingos António de Sequeira, que pintou o pano da boca de cena (substituído cinco vezes, sendo seus autores: J. Rodrigues, Palucci, Luís Morel, Lambertini, Rocha e Correia, e Procópio).
Em 11 de Abril de 1908 o teatro foi devastado por um violento incêndio, sendo reconstruído em 1911, segundo o projecto do arquitecto Marques da Silva. Sob o ponto de vista arquitectónico é um edifício de interesse, tendo nele colaborado alguns dos nomes mais reputados do início do século XX. Na decoração do seu exterior participaram os escultores Diogo de Macedo, Sousa Caldas (autores das quatro figuras alegóricas da Bondade, Dor, Ódio e Amor) e Joaquim Gonçalves da Silva (autor das máscaras laterais).




Praça da Batalha 


Segundo a tradição, o nome deriva do combate violento aí havido entre cristãos e muçulmanos. De traçado irregular, tem no centro a estátua de D. Pedro V, destacando-se nas imediações, como edifícios de maior interesse, a Igreja de Santo Ildefonso, o Cinema Batalha, o edifício do que foi o Teatro Águia Douro, agora um hotel e o palacete onde funcionou a estação central dos Correios.
A estátua de D. Pedro V foi feita por uma equipa de pedreiros do Porto, sob orientação do escultor Teixeira Lopes (pai). A fim de se angariarem os fundos necessários para a sua realização, fizeram-se subscrições quer em Portugal, quer no Brasil, efectuando-se também festivais e outras actividades lúdicas no Jardim de S. Lázaro.
A Câmara aprovou em 1862 a planta da autoria de Joaquim José Pirralho, sendo colocada a primeira pedra pelo General Visconde de Rilvas, em representação de D. Luís e de D. Fernando. A obra de cantaria foi da responsabilidade de António Almeida Costa e a fundição da estátua orientada pelo ourives Luís José Nunes. Foi colocada no local em 27 de Janeiro de 1866 e inaugurada em 3 de Fevereiro desse mesmo ano, em presença do rei D. Luís I. Em 28 de Maio de 1868, a Câmara tomou posse do monumento.




Igreja de Santo Ildefonso 


A ermida medieval de Santo Alifon ficava próxima da Porta da Batalha, tendo sido demolida para, em seu lugar, se construir uma igreja. Achando-se esta igreja muito arruinada, em 1727, os actos litúrgicos passaram a ser celebrados na Capela de Nossa Senhora da Batalha que, por sua vez, também estava em mau estado. A actual igreja, cuja autoria é desconhecida, foi construída entre 1730 e 1737, e tem uma fachada que segue os padrões tradicionais da arquitectura portuguesa da primeira metade do século XVIII, fugindo ao espírito barroco introduzido no Porto durante as obras de transformação da Sé. A planta em forma de octógono alongado, pelo contrário, é profundamente inovadora. No seu interior destaca-se o retábulo-mor (1745) desenhado por Nicolau Nasoni e executado pelo mestre entalhador Miguel Francisco da Silva.
O acesso à igreja fazia-se por uma bela escadaria, hoje desvirtuada, encimada por um obelisco que rematava a Rua de Santo António, tal como a Torre dos Clérigos coroava a rua do mesmo nome.
Exteriormente, todo o templo é revestido de azulejos versando cenas da vida de Santo Ildefonso (1932), da autoria de Jorge Colaço, o mesmo autor dos azulejos da Estação de S. Bento.




Rua de Cima de Vila 


Esta foi uma das zonas mais importantes da cidade durante a Idade Média, datando desse período as primeiras referências toponímicas (testamento do bispo D. Pedro Salvadores, 1247); a partir desta data é mencionada em diversos documentos como Cima de Vila, indicando o local mais elevado do núcleo urbano (Rua de Cima de Vila, 1364; Rua de Cima de Vila junto à Porta, 1438; Rua da Porta de Cima de Vila, 1498; Rua Velha em Cima de Vila, 1599).
A muralha fernandina que, como vimos, passava pelo antigo Governo Civil e Teatro de S. João, descendo pela antiga calçada de Santa Teresa (hoje Rua da Madeira), em direcção à Porta de Carros, tinha aí uma das suas portas principais: a Porta de Cima de Vila, onde se achava uma imagem de Nossa Senhora da Batalha colocada num nicho. Mais tarde, para albergar esta imagem, foi erguida uma capela por volta do ano 1600, que se pode imaginar situar-se em frente à actual entrada da Rua de Cima de Vila que, com o andar dos tempos, se arruinou, sendo substituída por outra em 1799.
Esta última (capela de Nossa Senhora da Batalha) foi levantada a partir de 1876, por vontade do corregedor D. Francisco Almada e demolida em 1924, devido às transformações urbanas operadas na zona.
A primitiva capela estava encostada à torre da Porta de Cima de Vila e dizia-se, tapava a entrada do arco de comunicação para aquela rua. Era, a capela, propriedade da Câmara e durante alguns anos foi a paroquial de Santo Ildefonso e nela teve a sede a confraria dos Sirgueiros, organizada segundo os “ Mesteres da Casa dos Vinte e Quatro”.
A esta confraria viria a juntar-se a de Sant’Ana dos Botoeiros que se formara junto ao Arco de Sant’Ana.
Em 1736 ali se realizou uma reunião que originou a Ordem Terceira do Carmo e em 1755 a ordem da Trindade aí se acolheu quando se separou por desavenças com os Monges do mosteiro de São Domingos.
A Cima de Vila associam-se: a antiga forca, transferida para outro local nos finais do séc. XIV (1394); e o Hospital das Entrevadas (Hospital do Santo Espírito) e Hospital dos Entrevados (1639-1891), este último fundado na Albergaria de Cima de Vila, que tinha como padroeira Nossa Senhora do Amparo.
Ainda nesta zona foi construída, nos finais do século XV (1494), uma casa nobre por João Rodrigues de Sá e Meneses, Alcaide-mor do Porto, que mais tarde ficaria conhecido pelo nome de Paço da Marquesa, já que os herdeiros do fundador vieram a ser Marqueses de Fontes, título que D. João V substituiria pelo de Marqueses de Abrantes. Os chamados Paços (ou Paço) da Marquesa ainda existem, se bem que adulterados.




Igreja da Ordem do Terço 


É um edifício de proporções modestas, sobressaindo unicamente no exterior um óculo ovalado com uma decoração exuberante em forma de resplendor, ladeado por dois janelões. A sua construção teve início em 1759, após o Pe. Geraldo Pereira ter comprado umas casas em Cima de Vila, em 1754. Em 1762 é criada a Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade.
Antigamente, no local, havia um pequeno nicho com uma Santa, conhecida como Nossa Senhora do Terço sendo costume aí parar uma procissão, para ser rezado um terço, vinda do Largo 1º de Dezembro do convento de Santa clara e que, metendo pela Viela da Cadeia subia a Rua de Cima de Vila até ao referido nicho.
No interior da actual igreja, destaca-se o excelente retábulo-mor da autoria do entalhador José Teixeira Guimarães, segundo o risco atribuído a seu filho, o Pe. Joaquim Teixeira Guimarães. Nele podem admirar-se as imagens de S. João Evangelista e de Nossa Senhora da Consolação, que pertenceram ao Convento dos Lóios.
Neste sítio ficava a Travessa dos Entrevados que corresponde à actual Travessa de Cima de Vila e que tinha aquela denominação, como já vimos, em virtude de aí perto existir o Hospital de Nossa Senhora do Amparo ou dos Entrevados de Cima de Vila, cuja 1ª pedra foi lançada em 25 de Setembro de 1639.
Este hospital funcionou aí até 1891, ano em que foi transferido para um edifício atrás da Sé, onde estava instalada a oficina de S. José. Daqui saiu para uma dependência do denominado Estabelecimento Humanitário do Barão de Nova Sintra, donde se transferiu para os chamados Hospitais Menores, vulgarmente chamados de Asilo de São Lázaro, na Rua das Fontainhas.
A Travessa da Caridade actual Travessa do Cativo, por seu lado devia o seu nome ao Hospital do Terço e Caridade implantado nessa zona.
Refira-se ainda que o Hospital do Terço, que fica anexo à igreja, foi iniciado em 1781. O imóvel sofreu transformações diversas que se prolongaram até 1816 e que lhe conferiram o actual aspecto. Em 1891, foi inaugurado nas suas instalações o Asilo Profissional do Terço, posteriormente transferido para a Praça do Marquês de Pombal, depois de deambular por diversos locais.



Igreja da Ordem do Terço e Caridade - Ed. Joaquim Villanova, em 1833



Ordem do Terço e Caridade e igreja, na Rua de Cima de Vila, c. 1900




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