segunda-feira, 28 de novembro de 2016

(Continuação 11)


“É a freguesia de Santo Ildefonso caracterizada por aspectos típicos de uma grande cidade, situada, que está, no coração dela. Uma grande área, uma área onde acontece a maior parte da fenomenologia urbana, onde os habitantes são de fluxo dinâmico e onde residem as maiores actividades comerciais, um número soberbo de serviços, os centros culturais predominantes, a tradição da difusão informativa, nomeadamente através dos jornais diários do Porto, prestigiados e prestigiosos”.
Fonte – site: j-f.org/jf-stildefonso

Em 1 de Dezembro de 1909, em "O Tripeiro" n.º 52, um texto assinado por Ricardo Jorge estabelecia:
"... Até 1836 consta o Porto propriamente de sete freguesias, Sé, Vitória, S. Nicolau, Santo Ildefonso, Miragaia, Massarelos e Cedofeita. Pelo decreto de 26/11/1836 foram-lhe anexadas Lordelo do Ouro, Campanhã e S. João da Foz; e por carta de lei de 27/8/1837, nova anexação, a de Paranhos.
A desigual distribuição destas freguesias pedia reforma das suas circunscrições; deste plano tomou a iniciativa o bispo eleito, e aprovado superiormente o seu projecto de portaria de 13/2/1838, procedeu-se a nova demarcação, fixada por uma comissão onde entrava o bispo, a câmara e delegados das juntas de paróquia.
Santo Ildefonso de uma área enorme, foi desmembrada, criando-se à sua custa uma nova freguesia, a do Senhor do Bonfim. O arredondamento paroquial de 1838 só foi sancionado pelo decreto de 11/12/1841, sob o referendo de Costa Cabral.”
Importante será salientar a data de 1623, em que há uma referência a Santo Ildefonso - D. Rodrigo da Cunha avançava nessa data um quantitativo da que chamou "Santo Ildefonso": 1150 habitantes, sendo 1000 de maioridade e 150 menores".
Um estudo de Domingos A. Moreira, sobre as "Freguesias da Diocese do Porto" diz, que a freguesia de Santo Ildefonso, nasceu entre o ano de 1623 e o ano de 1687.

Entretanto, uma Pública Forma datada de 6 de Maio de 1828, em certidão atestada pela Câmara diz:

"À vista dos respectivos títulos ou documentos haija de attestar-lhes ou certificar-lhes de narrativa se consta ou existe memória que designe o tempo em que havia huma só freguesia nesta cidade".

Trata-se de uma certidão da Câmara a pedido do Juiz e Mesários da Confraria do Santíssimo Sacramento e Senhor Jesus da freguesia de Santo Ildefonso, solicitando a precisão, que a certidão da Câmara apontava para o ano de 1551.
Transcreve-se o texto (a data de 1584 é citada, no entanto, como desdobramento de freguesias na cidade):

" Rodrigo Freire de Andrade Pinto de Sousa, escrivão da illustrissima câmara desta cidade do porto e seu termo por sua magestade fidelissima que deos guarde, faço certo que do livro das vereaçoens do anno de mil e quinhentos e sincoenta e hum, a folhas sete verso, consta ser a parrochia da sé a unica em toda a cidade dando motivo a esta declaração tomada em camara em congresso de povo se sim ou não deverião haver confrarias do santissimo sacramento nos conventos de sam francisco e sam domingos para o povo poder assistir as procissoens dos domingos terceiros, visto que não cabia na sé nesses dias e não havia outra parrochia ou confraria no anno de mil e quinhentos e secenta e hum em huma sentença no livro segundo dellas a folhas cento e quarenta consta haver freguezia em santo ildefonço arrabalde da cidade assim como o haverem já as novas igrejas na cidade no anno de mil e quinhentos e oitenta e quatro e nellas estabellecidas as confrarias do santissimo sacramento para as quaes pertendia o senhor bispo concorresse a confraria do santissimo sacramento da sé com quatro tochas para cada huma ao que se opozerão em camara negando-se aquella requezição".

Estes dados dispersos não podem, com rigor, dizer-nos muito sobre a formação da freguesia de Santo Ildefonso e os circunstancialismos que a determinaram. Um ou outro aspecto são, no entanto, irrefutáveis. Por exemplo, a sua vasta extensão, que a tem vindo a caracterizar desde sempre. E a fundamental importância de que alguns dados apontam.
Em 12 de Setembro de 1983, o Presidente da Junta de Freguesia de Santo Ildefonso, Albino Alves Teixeira, endereçou um ofício ao Chefe de Divisão do Arquivo Histórico da Câmara Municipal do Porto. Nesse ofício foi salientado:
"Sabemos que nos fins do século passado, um prédio onde estavam instaladas as Escolas Paroquiais de Santo Ildefonso e a respectiva secretaria da Junta, prédio esse que pertencia ao Conselheiro Miguel Dantas Gonçalves Pereira, ardeu numa noite de Santo António, não existindo portanto livros de actas ou outros documentos que nos certifiquem da formação legal da Junta de Freguesia".

Assim e a partir das informações disponíveis, inquiria-se da possibilidade de confirmar-se aquela data de 24 de Junho de 1634 através dessa via. 
A resposta pouco avançou: ao ofício da Junta seguiu-se o ofício do Chefe da Divisão do Arquivo Histórico que referia:
"1. Não parece existir neste Arquivo Histórico qualquer documento alusivo à criação da paróquia de Santo Ildefonso;
2. Foi percorrida vária bibliografia, mas as informações encontradas continuam a ser muito vagas. Por exemplo, do estudo de Domingos A. Moreira, sobre as "Freguesias da Diocese do Porto" (pág. 126) apenas se pode confirmar que o seu nascimento se deu entre 1623 e 1687;
3. Todavia, num livro editado em 1869, da autoria de J. M. Pinto, e sob o título "Apontamentos para a História da Cidade do Porto" (pág. 104) volta-se a indicar que "no anno de 1634, a confraria do Senhor Jesus juntou-se à do Santíssimo Sacramento. Foi elevada a freguesia em 1634, contando então 1790 almas". Num outro estudo encontramos a indicação que isso se deu por desmembramento da freguesia da Sé";
4. É provável que esteja correcta a informação do nº 52 de "O Tripeiro".
Na página 104 de "Apontamentos para a Cidade do Porto" pode pois, ler-se:
“ Data de grande antiguidade a fundação da sua primeira Igreja. Consta que já em 1519 existia uma Igreja com a invocação de Santo Ildefonso, a qual era extramuros, próximo da Porta de Cima da Vila e aonde era também venerada a imagem do Senhor Jesus, que tinha a sua respectiva Confraria. Já em tempos imemoráveis se sepultavam no Adro desta Igreja as entravadas e em 1592 a confraria concedeu sepultura aos pobres da Freguesia. No ano de 1634 a Confraria do Senhor Jesus juntou-se à do SS. Sacramento. Foi elevada a Freguesia em 1634, contando então 1790 almas.”

Estes são, grosso modo, os únicos pontos em que podemos assentar. O arrabalde de Santo Ildefonso, extramuros, é portanto antiquíssimo. Como paróquia sub-urbana era a mais extensa, ladeando sempre a muralha Fernandina, principiava no Senhor do Bonfim e ia terminar nos assentos das Virtudes, limitando com Campanhã, Paranhos, Cedofeita e Miragaia. Incluía já no seu âmbito as ruas de Santo Ildefonso e de Santa Catarina, a Neta, o Bonjardim, as Hortas, a Natividade e a Rua do Almada, até à Igreja de Nossa Senhora da Lapa. Voltando pelo lado poente do Largo de Santo Ovídio dividia com Cedofeita e Miragaia pela Rua da Sovela, Ferradores, Cordoaria e Virtudes.
Deambulando pela freguesia partamos junto à Igreja de Santo Ildefonso, que se encontra mencionada em documento do século 13 e onde ainda em 1560 se erguia no meio de um campo junto de um souto de Carvalheiras, "fora da Porta de Cima da Vila".
Era templo pequeno e estava, nos princípios de setecentos, muito arruinado; foi mandado reedificar em 1730.
Próximo ficava um casal, que antes de 1443 se chamava Casal de João Ramalde e depois, Lugar do Pinheiro. Logo adiante, na actual Praça da Batalha, junto da Porta de Cima de Vila, o devoto Baltasar Guedes mandou edificar, em 1590, a capela de Nossa Senhora da Batalha.
Mais abaixo, ficava o Lugar dos Carvalhos do Monte; quase encostada ao Postigo do Penedo (que João de Almada transforma, em 1768, na Porta do Sol) erguia-se a ermida de Santo António do Penedo, com seu adro de galilé, e ao lado, a casa solarenga dos Brandões. Era um dos mais pitorescos recantos do velho Porto, infeliz e inutilmente destruído em 1887. Ficava em frente do palácio do visconde de Azevedo.
A Rua das Fontainhas chamou-se em algum tempo Rua do Regato. Por aqui estiveram o Recolhimento das Entrevadas (já existente em 1498), o Hospital dos Lázaros e Lázaras (1558), e o Recolhimento de Nossa Senhora das Dores (Velhas do Camarão) fundada em  data anterior a 1804, e localizado na Viela de Nossa Senhora das Dores, ao Largo do Camarão por detrás do Recolhimento das Órfãs, em S. Lázaro.
O Recolhimento de Viúvas Pobres de Nossa Senhora das Dores, vulgarmente chamado do Camarão, foi ali fundado c. de 1804 por Francisco António Rebelier, confirmada a doação das casas de recolhimento e capela de Nossa Senhora das Dores, em seu testamento de 2 de Maio de 1819. Foi depois mudado para as Fontainhas, sob a administração da Santa Casa da Misericórdia do Porto”.
Fonte – site: j-f.org/jf-stildefonso


“Porque se chamava ao largo do Camarão? Porque ali morava, em 1698, um tal Manuel Gonçalves, o "camarão" casado com Maria Nogueira, pais de uma moça Antónia, recebida nesse ano, à face da igreja, com o pedreiro João de Sousa”.
Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas

A Alameda das Fontainhas deve-se a Francisco de Almada (1790).
Entre as Ruas das Fontainhas e do Sol, onde funcionaram os matadouros, chamava-se outrora Vale de Donas, e existia uma quinta, depois denominada das Fontainhas, que pertenceu sucessivamente às famílias Pereira de Melo (capitães-mores de Penafiel), Fontana, Vanzeller e Alpenduradas.
A Rua de Alexandre Herculano, que liga as Fontainhas à Batalha, começou a ser aberta em 1877: chamou-se primeiro Rua Nova da Batalha.
Foi rua de teatros e cinemas. Aí, no chamado Parque das Camélias passavam filmes em sessões contínuas no século XX. Na esquina com a Rua Duque de Loulé abriu no início do séc. XX o Metropolitano que era constituído por uma carruagem do caminho-de-ferro, onde pelas janelas se observavam paisagens de viagens a Paris, Londres, Berlim e outras paragens.


Abertura da Rua Alexandre Herculano, 1880 - Museu Nacional de Soares dos Reis, Henrique Pousão (1859 –1884)

Na Rua Alexandre Herculano ao nº 356 em tempos existiu o Teatro D. Afonso.
O Eden-Teatro substituiria o Teatro D. Afonso no mesmo local, cujas instalações foram usadas em 1919 pelos partidários da ”Monarquia do Norte”, saída de um golpe monárquico e onde, funcionou um tribunal de tortura dos opositores republicanos.

A fachada do Eden


Junto da capela de Sant'llafom e de uma velhíssima Albergaria dos Peregrinos de Cima de Vila", havia, em 1590, o Campo do Pombal, que entestava com "a estrada que vai entre as paredes", para S. Lázaro.
Deve ser esta, uma remota referência à Rua de Entreparedes, à qual se seguia a Rua do Reimão, hoje Avenida Rodrigues de Freitas e que também foi, Rua de S. Lázaro.
O Campo de S. Lázaro estava antigamente plantado de frondosos carvalhos e castanheiros.
Lá esteve, desde o séc. XIV e vindo da Ribeira, o Hospital dos Gafos "de Cima de Vila de Mijavelhas", aos quais el-rei D. João I confirmou os antigos privilégios por c. de 28-IX-1423 (A. D. 1385).
Ainda existem por aqui dois edifícios que merecem especial menção: a igreja e Recolhimento das Órfãs, fundado em 1724 pelo padre Manuel de Passos e Castro, e o convento de Santo António da Cidade (1783), hoje Biblioteca Municipal.
Num breve périplo por esta zona, em tempos idos, próximo de S. Lázaro, deparávamo-nos no que é hoje o moderno Largo dos Poveiros, com a capela de Santo André e de Santo Estêvão, demolida em 1863, quando a Câmara decidiu prolongar a Rua da Alegria até àquele largo.
À Rua de Santo André encontramos referências em 1692.
Adiante ficava o Padrão das Almas, ainda agora recordado no Largo do Padrão.
Mijavelhas era todo o espaço que hoje compreende a Rua do Morgado de Mateus (José Maria de Sousa Botelho Mourão e Vasconcelos ), que se chamou primeiro Rua do Mede Vinagre e depois da Murta e o Poço das Patas (hoje Campo 24 de Agosto). Esteve aqui a forca até 1714, ano em que o Senado deliberou mudá-la para a Ribeira.
O regato de Mijavelhas, que desaguava no Douro, fazia mover no seu percurso numerosas azenhas, antes de alcançar o Monte do Seminário, junto do Prado do Repouso.
Mais longe, em direcção a Campanhã, encontramos a igreja do Senhor do Bonfim, edificada em 1760 e depois tornada em paroquial, independente de Santo Ildefonso. Em redor, a Alameda do Bonfim, obra, como a das Fontainhas e a das Virtudes, do grande corregedor Almada, era um dos aprazíveis lugares da cidade.
Mas voltemos à igreja de Santo Ildefonso, ponto de partida de duas das principais artérias da cidade moderna: as Ruas de Santa Catarina e de Santo António.
A Rua Nova de Santa Catarina é uma das grandes obras que o Porto deve aos dois Almadas e há documentos de 1748 em que ela já é referida por aquele topónimo.
Em 1771 tratava-se do seu alinhamento que sofreria sucessivas reedificações e alterações até 1780.
 À Rua Bela da Princesa se chamou o seu prolongamento até à Alameda da Aguardente (praça Marquês de Pombal) por decisão de 1784 de João Almada e Melo.
A Rua da Duquesa de Bragança (hoje de D. João IV) rasgou-se por volta de 1855.

Outras artérias que são paralelas ou transversais à Rua de Santa Catarina datam quase todas de época posterior e pertencem já a outras freguesias:

Em 1838, um edital determinava que a Travessa da Alegria e a Travessa de S. Jerónimo formassem uma só, com o nome de Rua Firmeza;
O troço que actualmente liga a Praça do Marquês de Pombal a Fernão de Magalhães, passando pela actual Rua Carlos Malheiro Dias, começaria a abrir-se em 1858;
Em 1858 projectava-se uma outra rua que substituísse a Viela das Doze Casas, ou seja, a Rua do Príncipe Real (agora de Latino Coelho), que se abriu primeiro até à Rua da Alegria e depois de 1866 se prolongou até ao Largo da Póvoa e Rua de S. Jerónimo (hoje de Santos Pousada).
Este Largo da Póvoa recorda antigos casais rústicos, que constituíam pequenas aldeias (Póvoa de Baixo e de Cima).
A Póvoa de Cima chegou a pertencer a Paranhos.
Na Aguardente por onde passava em continuação do Bonjardim, a estrada de Guimarães, edificou-se em 1875 a capela de Santo António. Em volta da alameda, ainda em 1858 existiam estreitas e tortuosas vielas.
A Rua 27 de Janeiro partia do Largo da Aguardente (Praça Marquês de Pombal) até à Rua da Rainha (Rua de Antero Quental). Aí terminava em 1843.
O nome de 27 de Janeiro foi-lhe dado, em 27/1/1842, quando Costa Cabral aclamou, no Porto, a Carta Constitucional. 
Previsto desde 1840, em 1843 já existia o projecto de prolongamento da Rua 27 de Janeiro (a actual Rua da Constituição) para poente da Rua da Rainha, até à Estrada do Matadouro (hoje Rua de Serpa Pinto) mas, só começaria a via a ser aberta, em 1890.
A área dos terrenos, subjacente e contígua às vias referidas, faz hoje em certa medida parte também da freguesia de Paranhos, e passa rente ao Monte Pedral, mas, antes disso, em 1875, pertencia à freguesia de Cedofeita, como nos diz Pinho Leal:


"era muito mais vasta do que actualmente, pois comprehendia no seu âmbito o seguinte— principiando no fim da actual rua da Rainha (antiga estrada do Sério) onde havia um marco, corria a medição pelo Monte Pedral até ao Carvalhido (actual rua da Natária) tudo da parte do N., confrontando com Paranhos. (…) E pela rua da Sovélla (hoje dos Martyres da Liberdade) até ao campo de Santo Ovídio (hoje da Regeneração) pelo lado esquerdo da rua da Lapa (antigamente Germalde) e d'ahi pela rua da Rainha, lado esquerdo (O.)"

O Monte Pedral, tal como o nome indica, era a maior pedreira do Porto e fornecia pedra a grande número de construções na cidade. 
Tem-se notícia em 23 de Setembro de 1858 no jornal “Diabo a Quatro” que era no Monte Pedral que costumavam ser enterrados os cavalos e os burros, no Porto.
Este monte só em 1890 estava suficientemente desbastado de forma a ser possível abrir a continuação da Rua da Constituição.
Em 1892 na confluência da Rua da Constituição com a Rua de Serpa Pinto no local onde mais tarde foi implantado o Quartel de Cavalaria estava, nessa data, o "Asilo-Escola D. Maria Amélia". 
Durante largo tempo, nesse local, só existiu uma estreita passagem para peões e carros de bois. 

O desbaste do monte Pedral para prolongamento da Rua 27 de Janeiro


Voltando ao coração da freguesia de Santo Ildefonso.
Em 1822, prevê-se o melhoramento do tortuoso Caminho de Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga), por duas maneiras: em linha recta, da actual Rua de Fernandes Tomás até próximo do encontro da Rua Formosa com a Rua Direita (Rua Santo Ildefonso), ou, por linha quebrada, em direcção à mesma Rua Direita, na saída da travessa para S. Lázaro.
Tem-se desses tempos também conhecimento, de uma grande quinta chamada Quinta de Lamelas, que está hoje representada por alguns quintais de casas das ruas Formosa e de Santo Ildefonso e parte do leito da Rua Passos Manuel.
Há poucos séculos todo este bairro de Santa Catarina, Santo António, Fernandes Tomás e Sá da Bandeira constituíam vasto terreno bravio, matagais, almoinhas (hortas), alguns quintalejos irrigados por cursos de água que desciam para o rio da Vila ou para o Douro.
A urbanização deste trato citadino, por esforço dos Almadas, designadamente a abertura da Rua de Santo António, em fins do séc. XVIII, foi obra notabilíssima, como tal, já na própria época reconhecida e proclamada. Escrevia em 1879 o inglês Thomas Modessan:
"O rompimento da Rua de Santo Ildefonso, a unir com o largo da Porta de Carros e Calçada dos Clérigos é outra das majestosas obras que em outro tempo apenas se poderia conceber e efectuar no decurso de um século".

Refere-se o anterior texto, como se vê, à Rua de Santo António, que em sentido descendente vai dar à Praça (da Liberdade), que foi sempre um centro de toda a vida citadina.
Fora da Porta de Carros, e junto da muralha fernandina, estendia-se pelos anos de 1430, um casal chamado de Paio de Nabais; note-se a circunstância curiosa de em Lisboa existir, por esse tempo, topónimo semelhante.
Próximo ficava o Casal da Torre, vinculado à capela de João Anes Gordo, coutador de el-rei. Estes e outros casais ficavam onde então se chamava, As Hortas.
Em 1711 "O Rev. do Cabido tomou a si para fundar a Praça Nova, fora da Porta de Carros", terrenos que eram seus e outros que obteve por troca. Assim começou a urbanizar-se o local, principalmente depois que, dez anos mais tarde, em 1721, o mesmo Cabido e a Câmara se entenderam para esse objectivo.

E para terminar esta digressão pela freguesia de Santo Ildefonso, diremos ainda que em 1623 ela contava 1.150 almas; em 1706, 589 fogos com 2.134 habitantes; em 1732, D. Luís Caetano de Lima conta 4.747 almas; e em 1788, o padre Rebelo da Costa, 4.390 fogos, com 18.814 habitantes. Repare-se neste extraordinário incremento de população, devido aos esforços urbanizadores dos Almadas.
Sendo em 1787, dez as freguesias do Porto, a de maior envergadura era já a de Santo Ildefonso.
Depois disso foi alterado o espectro das freguesias portuenses, sempre de uma forma algo confusa. E de tal forma que os limites delas foram de uma maneira ou doutra sempre postas em causa, com toda a série de inconvenientes daí decorrentes, tendo em vista a necessidade de fazer avançar a cidade no campo do progresso o qual acabava por se estrangular nesta ou naquela circunstância nomeadamente no respeitante ao desenvolvimento urbanístico da cidade.
Daí ter surgido, com data de 8 de Fevereiro de 1956 um Decreto proveniente do então Ministério do Interior, da Direcção-Geral de Administração Política e Civil. Assinado por Francisco Higino Craveiro Lopes (Presidente da República), António de Oliveira Salazar (Presidente do Conselho de Ministros) e por Joaquim Trigo de Negreiros (Ministro do Interior) e com o número 40 526 o Decreto foi publicado nesse dia no então "Diário do Governo" (1 Série - Número 30) e estabelecia a nova delimitação das freguesias do concelho do Porto.
O Decreto tinha artigo único e citava as seguintes freguesias:
Aldoar, Bonfim, Campanhã, Cedofeita, Foz do Douro, Lordelo do Ouro, Massarelos, Miragaia, Nevogilde, Paranhos, Ramalde, São Nicolau, Santo Ildefonso, Sé, e Vitória.
No que a Santo Ildefonso diz respeito, o texto da sua delimitação era o seguinte:

Santo Ildefonso - Com início na Avenida de Rodrigues de Freitas, no cruzamento com a Rua de S. Vítor (vértice comum às três freguesias: Santo Ildefonso, Bonfim e Sé), segue pela Rua de D. João IV até à Rua da Firmeza, Rua da Firmeza, para poente, até à Rua da Alegria, Rua da Alegria, para norte, até à Rua da Escola Normal. Rua da Escola Normal, Rua de Santa Catarina para norte, arruamento nascente da Praça do Marquês de Pombal. Rua da Constituição, para poente, até à Rua de S. Brás e por esta rua, para sul, até à Rua do Paraíso, Rua da Regeneração, arruamento nascente da Praça da República. Rua do Almada até à Rua de Ricardo Jorge, onde fica o vértice comum às três freguesias: Cedofeita, Santo Ildefonso e Vitória. Rua do Almada, para sul, até à Rua dos Clérigos, onde fica o vértice comum às três freguesias: Vitória, Santo Ildefonso e Sé, seguindo, para nascente, pelo arruamento sul da Praça da Liberdade. Praça de Almeida Garrett, Rua da Madeira até à Praça da Batalha e deste ponto até à parede divisória dos prédios n.os 19 e 20 da Praça da Batalha e daqui, contornando a propriedade do Teatro Águia de Ouro, até junto ao cunha sudoeste do prédio n.º 1 da Rua de Entreparedes. Rua de Entreparedes, para nordeste, e Avenida de Rodrigues de Freitas até à Rua de S. Vítor.
Fonte – Site: freguesias.pt

A seguir se faz referência às artérias a que o Decreto atrás mencionado se refere:


- Avenidas: Aliados e Rodrigues de Freitas (n.º 250 ao 370, pares).

- Becos: Pedregulho e S. Marçal. 
- Largos: Fontinha, Padrão (n.º 8 ao 20 e do n.º 313 ao 321), Ramadinha e Dr. Tito Fontes.
- Passeios: São Lázaro. Pátios: Bolhão e Bonjardim. 
- Praças: Batalha (n.º 1 ao 19 e do n.º 117, até ao fim), D. João 1, General Humberto Delgado, Liberdade (n.º 40 ao 142, pares e ímpares), Marquês do Pombal (n.º 1 ao 205, ímpares), Poveiros, República (n.º 138 a 210, pares e ímpares) e Trindade.
- Ruas: Alegria (n.º 2 ao 296 e do n.º 1 a 417 até à Escola Normal), Alexandre Braga, Alferes Malheiro, Almada (n.º 2 ao 614, pares e até ao Palacete dos Pestanas), Dr. Alfredo Magalhães, Alto da Fontinha, Dr. Alves da Veiga, António Pedro, António Sardinha, Dr. Artur de Magalhães Bastos, Ateneu Comercial do Porto, Bela da Fontinha, Bolhão, Bonjardim, Camões, Campinho, Carvalheiras, Clube dos Fenianos, Constituição (n.º 545 ao 913, ímpares), D. João IV (n.º 1 ao 493, ímpares), Elísio de Meio, Entreparedes (n.º 1 ao 63, ímpares), Escola Normal (n.º 1 ao 61, ímpares), Estêvão, Fábrica Social, Faria Guimarães (n.º 2 ao 550 e do n.º 1 ao 551), Fernandes Tomás (n.º 288 e 335, até ao fim), Firmeza (n.º 93 e 358, até ao fim), Fonseca Cardoso, Fontinha, Formosa (todos os números, excepto os n.ºs 2 ao 6, pares),Gonçalo Cristóvão, Guedes de Azevedo, Guilherme da Costa Carvalho, Ramalho Ortigão, Heróis e dos Mártires de Angola, João de Oliveira Ramos, João Pedro Ribeiro, João das Regras, Madeira (n.º 2 a 246, pares), Dr. Magalhães Lemos, Moreira de Assunção, Musas, Olivença, Paraíso, Passos Manuel, Raul Dória, Regeneração (n.º 1 ao 146, pares e ímpares), Régulo Magauanha, Dr. Ricardo Jorge (n.º 2 a 36 e n.º 3 a 23), Rodrigues Sampaio, São Brás (n.º 2 ao 606, pares), Sá da Bandeira, Sampaio Bruno, Santa Catarina (n.º 1 ao 1787 e do n.º 2 ao 966), Santa Helena, Santo André, Santo António, Santo Ildefonso (n.º 1 ao 311 e do n.º 2 ao 320) e Trindade. 
- Travessas: Alferes Malheiro, Almas, Antero de Quental (n.º 2 ao 218 e do n.º 1 ao 259), Bonjardim, Campos, Congregados, Fontinha, da Rua Formosa, Liceiras, Regeneração, São Brás (do n.º 1 ao 47 e do n.º 2 ao 46), São Marcos, Sá da Bandeira e Senhora da Conceição.

Esta relação, mais ou menos exaustiva, serve para demonstrar a extensão desta freguesia do Porto. 

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