domingo, 20 de novembro de 2016

(Continuação 5) -Actualização em 01/03/2018, 14/10/2019 e 19/03/2020



Em 1583, a freguesia da Sé era a única existente até então.



“Segundo se lê num tombo em que se mencionam "as casas que o Cabido tem nesta cidade", só na Rua do Redemunho possuía dezasseis casas e uma delas tinha "um quintal que corre ao longo do muro velho por onde vem a água para o chafariz da Sé e o caminho que vai para Santa Clara". 
Outra casa da mesma rua tinha "enxido (quintal) que parte com o jardim do bispo". Este jardim ainda existe, a nascente do paço episcopal, e fica sobranceiro à Rua de D. Hugo. 
Em frente à Sé, havia a Rua das Tendas, "que começa na casa de Nossa Senhora de Agosto para baixo". Esta casa de Nossa Senhora de Agosto era vulgarmente conhecida por capela dos Alfaiates, que está agora à entrada da Rua do Sol. Noutros tempos, esteve mesmo defronte da entrada principal da Sé. 
Na Rua da Porta do Paço do Bispo, "para baixo até aos açougues (ficavam onde agora está o Largo do Dr. Pedro Vitorino), tinha o Cabido mais três casas, "com seu pátio e quintal e porta para o terreiro do Bispo".
O Cabido possuía uma casa junto da Sé, "sobre o chafariz que tem os frontais de esquadria sobre colunas de pedra; e outra designada por casa do chafariz da parte direita, quando se vai dela para a porta de Vandoma". Esta porta ficava ao fundo da calçada que tem agora esse nome. 
Como devia ser interessante o Porto daquele tempo! Fazia-se uma feira em frente à Sé, daí a Rua das Tendas. E era por ali que ficava o "ventre do Porto", porque era lá que se situavam os açougues. Estamos a imaginar o quotidiano da gente que vivia naquelas ruas estreitas da cidade episcopal onde morava gente da alta clerezia, misturada com mesteirais, oficiais da almotaçaria, curadores de peles, bainheiros e açougueiros.
O quarteirão das Tendas incluía a Rua das Tendas, a Rua da Sapataria e a Rua do Faval e as Escadas da Rainha.
Por outro lado a Praça de S. João ficaria, muito perto do edifício onde funcionava o Senado, ou seja, a Câmara Municipal, e que tinha a entrada voltada para a Rua de S. Sebastião.
Havia a Rua dos Palhais. Julga-se que tinha este nome por serem cobertas de colmo as casas que nela havia. Esta rua "vai pela porta dos açougues do povo para a Rua das Aldas e todas as casas dela entestam (encostam) ao muro velho; umas ficam defronte da escada que vem, ao longo da casa da Câmara, para o adro; outra é uma casa que foi estrebaria que antigamente eram três chãos de casa em que Gonçalo de Seabra, cidadão do Porto, fez os açougues do povo". Havia o açougue do bispo e o açougue do povo, tipo real ou municipal. Havia ainda o açougue dos judeus.
Tentemos agora saber o que se passava da parte de fora da muralha velha, ao longo da qual corria a Rua Escura. Havia umas casas na Rua Escura, "da parte do sul defronte da capela de Nossa Senhora do Ferro, onde antigamente funcionara o Hospital dos Coreiros (que cantavam no coro da Sé) e antes disso haviam estado os cárceres da Inquisição, no tempo do bispo D. Baltasar Limpo".
Num "roteiro" das rendas do Cabido, há uma alusão à Viela dos Gatos, que é hoje a Travessa de S. Sebastião. Diz que antes se chamava Travessa do Forno, "pela qual se ia para a Cividade", que é na atualidade a parte alta da Rua do Corpo da Guarda.
A Rua Escura começou por se chamar Rua Nova. Perdeu esta designação quando se abriu a Rua do Infante D. Henrique.
E o pelourinho, onde ficava? Em 1422, uma tal Inês Pires Bicos fez doação à Sé de umas casas "a par do pelourinho" que, pelos vistos, naquele tempo, estava" defronte das escadas que vão para a Sé". Essas casas, "que estão sob o pelourinho", ficavam na Rua Escura. Esta artéria já devia existir como tal desde, pelo menos, o século XIII, porque em 1301 era designada Rua Nova. Mudaram-lhe o nome quando se abriu a sua Rua Nova, junto ao rio, hoje Rua do Infante D. Henrique.
A Rua do Souto também é das mais antigas e ficava da parte de fora da cerca velha. Em 1295, o cónego D. Abril Peres doou ao Cabido "uma casa que comprara no Souto". Por esse tempo, o cidadão do Porto Mem Soeiro de Refloriz deixou em testamento, a um familiar, "uma propriedade que tinha no Souto, além do rio da Vila". Este rio corre agora encanado no subsolo da Rua de Mouzinho da Silveira. 
Imaginem agora que nome terá tido a Rua da Bainharia antes de ter a designação atual. Trata-se de uma outra artéria que também ficava da parte de fora da cerca velha. Era chamada a Rua de Ferraris. No século XIII, o bispo, D. Pedro Salvadores, "era proprietário de casas na Rua de Ferraris... ".
Uma nota do Censual do Cabido esclarece: "aquela Rua de Ferraris, que depois teve o nome de Bainharia". Noutro documento, esta mesma rua vem citada como sendo "a Rua de Fabris".”
In JN, com a devida vénia a Germano Silva 




Mapa da Sé (entre-parêntisis os antigos topónimos)


Nos finais do século XVII, ocorre uma inusitada troca de nomes de ruas das mais antigas do burgo como se vê no mapa acima.


Rua das Tendas (desaparecida) - Ed. aportanobre.blogspot




Rua de D. Hugo (Rua de Trás da Sé - Beco de Redemoinhos)


Casa do Beco dos Redemoinhos


A Rua de D. Hugo (outrora chamada Rua dos Cónegos de Trás da Sé, Rua dos Cónegos, Rua de Trás da Sé, Rua da Catedral e Rua do Redemunho) é uma das mais interessantes do núcleo envolvente da Sé, mantendo, ainda que por vezes desfigurada, a sua fisionomia desde a época medieval até ao século XX.
Contornando o estreitíssimo Beco dos Redemoinhos encontramos uma das casas mais antigas da cidade, ainda hoje habitada. O edifício, cuja fachada teria primitivamente duas portas e quatro janelas (não tendo, por consequência, o aspecto actual), dava na época medieval para um largo que ficava no alinhamento do deambulatório da catedral.
A Casa do Beco dos Redemoinhos é uma casa histórica gótico-flamenga. É mais uma construção da primeira metade do século XIV, de aspecto flamengo, devido à colocação da chaminé ao cimo da fachada e bem no meio desta. O estreito e sinuoso Beco dos Redemoinhos, sem saída, fica nas traseiras da Sé do Porto e foi reduzido aquando da ampliação da capela-mor da sé.
A fachada desta casa, meio escondida, atrás da capela-mor da Sé, dava outrora para um animado largo do burgo, limitado a ocidente pela desaparecida charola (deambulatório) da catedral.
Chama-se Beco dos Redemoinhos, segundo alguns, porque na época existiriam ali azenhas (moinhos), e por lá passaria um pequeno rio.
Segundo outros, dever-se-ia ao facto de, a actual Rua de D. Hugo, à data, descrever um arco entre a capela-mor e a muralha românica (“Muro Velho”) e que, devido a esse desenho, se chamaria Rua do Redemoinho.
Entre a Rua do Redemoinho e o Adro de Trás da Sé (hoje Beco dos Redemoinhos) criou-se uma frente urbana cujas habitações tinham duas fachadas, uma voltada para a actual Rua de D. Hugo, outra voltada para a capela-mor medieval.
Sabemos que a casa dita gótico-flamenga, à época, era designada por casa-torre, tendo cariz defensivo, como mais algumas que existiram pela cidade. Era exemplo, bem perto dela, a casa-torre do Largo do Corpo da Guarda, propriedade do mestre-carpinteiro Baltazar Gonçalves, conhecido por “O Fidalgo” e que, poderá ser a que se situaria atrás, do que veio a ser o Solar dos Correia e, por essa razão, ser conhecida no século XIX, pela Casa-Torre dos Correia.
A casa gótico-flamenga, nos finais do século XV, pertenceu a um cónego, Afonso Luís.
Sucedeu-lhe um outro cónego, João Privado, e depois foi (a partir de 1498), do deão da Sé D. Rodrigo de Sousa, que nela fez importantes obras, remodelando o seu interior, quando a propriedade incluía já um edifício contíguo.


“Nos finais de Quinhentos, as “casas grandes” do Adro de Trás da Sé estavam arruinadas e, no século seguinte, pertenceram ao genealogista Cristóvão Alão de Morais, devendo datar dessa época a janela de peitoril do piso superior.
E o remate “flamengo” que deu fama à habitação? Uma casa-torre medieval tinha, em princípio, uma fachada coroada por ameias; o actual desenho do remate, portanto, pode datar de época posterior à Idade Média.
É plausível que a ruína da torre tenha provocado o desmoronar da sua parte superior, incluindo as ameias, tendo-se então optado pelas duas águas e a linha horizontal sobre elas, de desenho “flamengo” e, se analisarmos a fachada, verificamos incongruências entre a disposição dos cachorros, a gárgula no ângulo direito e a área da fachada demarcada pelo remate, que sugerem essa alteração.”
Cortesia de José Ferrão Afonso (2002), “Jornal Público”



Apesar de algumas alterações que a deformaram, a Casa do Beco dos Redemoinhos continua a dar testemunho do tempo em que os mercadores do Porto mantinham estreitas relações comerciais com a Flandres, a França e a Inglaterra. Trata-se, com efeito, de uma casa que foi, com toda a certeza, a residência de algum rico e viajado mercador, que trouxe o modelo de algumas das suas viagens de negócios do Norte da Europa.



Casa no Beco dos Redemoinhos




Casa Medieval 


Desta casa conserva-se apenas a parede sul, que limita, actualmente, a sede da Associação dos Arquitectos Portugueses (Secção Regional do Norte). Fica situada junto da muralha, tendo sido recuperada pelo CRUARB (Comissariado para a Renovação Urbana da Área da Ribeira Barredo). As escavações aí realizadas pelo G.A.U. (Gabinete de Arqueologia Urbana, da Câmara Municipal do Porto) trouxeram um contributo significativo para o conhecimento do passado da cidade. A casa gótica imediata foi destruída, subsistindo unicamente a referida parede, com uma janela e uma porta originais.


À direita em cima a sede da Associação dos Arquitectos




Casa do Dr. Domingos Barbosa (Casa-Museu Guerra Junqueiro)


Mandada construir pelo Cónego Magistral da Sé, Dr. Domingos Barbosa, é referida no seu testamento de 29 de Agosto de 1746 (juntamente com outras propriedades pertencentes à sua família, como as Quintas de Fafiães e de Águas Santas).
Belo edifício setecentista, a sua autoria tem vindo a ser atribuída a Nicolau Nasoni, porém, não existe uma prova documental irrefutável que o demonstre. Uma outra hipótese a considerar é a do responsável ser o arquitecto António Pereira, autor do Palácio de S. João Novo e contemporâneo de Nasoni.




 Casa dos Freires de Andrade 


Neste belo exemplar da arquitectura portuense dos séculos XVII-XVIII, viveu António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira (1747-1820), com sua mulher D. Tomazia Joaquina de Mendonça Cardoso Figueira de Azevedo. Fidalgo cavaleiro da Casa Real foi membro da Junta do Governo do Reino instituída em 1808 e, pelos serviços relevantes que prestou ao país durante as Invasões Francesas, recebeu altas condecorações.
É provável que a casa tenha pertencido primordialmente, ao arcediago Luís de Magalhães da Costa, instituidor do morgadio de Oliveira do Douro. O Arcediago era avô materno do futuro herdeiro da casa, António Mateus Freire de Andrade Coutinho Bandeira, que mandou brasonar a fachada da mesma.
A casa foi vendida à Câmara Municipal do Porto já no séc XX e alberga, hoje, o museu da Fundação Maria Isabel Guerra Junqueiro e localiza-se mesmo em frente à Casa-Museu Guerra Junqueiro. Toda a colecção de arte reunida pelo poeta Guerra Junqueiro está pois, distribuída por dois edifícios fronteiros na mesma Rua D. Hugo.
Estão expostos a biblioteca e o escritório de Guerra Junqueiro e, nas salas de exposição do piso superior, apresentam-se colecções de faiança portuguesa dos séculos XVIII e XIX, pintura renascentista (destaca-se obra de Jerónimo Bosch e alguns primitivos catalães), louça Ming e mobiliário arcaico, entre outros.




Capela de Nossa Senhora das Verdades 


A Porta ou Postigo das Verdades, como era costume naqueles tempos, era encimada por um nicho com a imagem de Nª. Senhora das Verdades, muito venerada pelo povo da vizinhança. Quando, no século XIV, foi destruída essa porta, o cónego Nicolau Parada mandou fazer à sua custa uma pequena capela onde colocaram a imagem.
Reformada ao longo dos anos, adquiriria os seus últimos traços em finais do século XVII, inícios do século XVIII.
Aquela Porta das Verdades foi antes Porta das Mentiras, junto às Escadas das Mentiras (hoje Escadas das Verdades) e fazendo parte da muralha primitiva foi demolida no século XIV.
Sabemos, por uma escritura de 15 de Abril de 1697, que a casa nobre do Cónego Domingos Gonçalves Prado situava-se junto da Capela de Nossa Senhora das Verdades. Este ilustre clérigo contribuiu com esmolas significativas para as obras da capela, entre elas o retábulo, feito no início do século XVIII, onde se vê a belíssima imagem em calcário da Virgem.
A capela e o prédio contíguo passariam, então, por um contrato de compra e venda, para a posse  da família Calheiros de Ponte de Lima.
Durante o cerco do Porto a capela foi destruída pela metralha miguelista de Gaia. Porém, D. Ângela Jácome do Lago e Moscoso, esposa  de Pedro Lopes Calheiros, mandou reconstruí-la em 1843.
Ao fundo das actuais Escadas das Verdades existe um arco que nada tem a ver com estrutura dos referidos Postigo ou Porta, sendo um arco que fazia parte de um aqueduto que vindo das Fontainhas levava água para o Colégio dos Jesuítas anexo à Igreja de São Lourenço.
O escritor Alberto Pimentel refere-se, em 1899, a uma superstição ligada a esta capela: 

“A locução “Andar às vozes” exprime o facto de qualquer pessoa vaguear pela rua à escuta do que os outros dizem, para tirar agoiro do que eles disserem. E, segundo o que ouvir, esperará boa ou má fortuna no negócio que traz no pensamento. Castilho, no “Amor e Melancolia” aludiu a esta tradição relativizando-a apenas com a noite festiva do Santo Percursor; 

Qual com bochecho na boca 
Aplicando atento ouvido 
Espera que á meia noite 
Seja um nome proferido. 

No Porto acresce á tradição o costume de, quando alguém “andar a vozes” se dirigir como em silenciosa romagem, à Capelinha da Senhora das Verdades. Tal é o pitoresco especial da versão portuense. 
Crê que a Virgem daquela invocação fará com que as pessoas que encontramos pela rua nos revelem involuntariamente ou inconscientemente o porvir dizendo “verdades” que o tempo confirmará. 


Alberto Pimentel sobre o mesmo tema escreve:


“Eu fui muitas vezes, quando era pequeno, à referida capelinha, para acompanhar uma pessoa da minha família, que acreditava na tradição de que pelas vozes se ficava sabendo a verdade futura. 
Saíamos de casa depois das nove horas da noite e íamos atravessando a cidade, sem dizer palavra, em direcção à Sé…Eu e a pessoa que eu acompanhava ali, ajoelhávamos no degrau da porta, quando chegávamos ao termo da nossa silenciosa romagem… Chegava a aborrecer-me aquela maçada de atravessar em silêncio a cidade, do Bairro Ocidental para o Bairro Oriental. Quando já, perto de mim, negrejavam as paredes da Sé, na solidão e no silêncio, a minha tristeza, misto de enfado e terror, aumentava a ponto de me fazer tremer às vezes. Não sei se rezava ou o que rezava, enquanto essa querida pessoa orava fervorosamente com os lábios colados a um dos ralos, como se estivesse falando a Nossa Senhora para dentro da ermida… A pessoa que eu acompanhava, ao voltarmos para casa, vinha quase sempre preocupada, a resolver na mente as “vozes”, agradáveis ou desagradáveis, que tinha ouvido. Pobre e crédula criatura, antegosava a felicidade que lhe tinha sido anunciada, ou vergada ao peso de alguma profecia de desgraça, de algum aviso aziago, acreditando, por igual, uma ou outra cousa. Aqui está, pois, como segundo a versão do Porto, a Capela de Nossa Senhora das Verdades é o termo tradicional de “andar às vozes”. Como é do estilo não falar quando se ”anda às vozes” algumas pessoas para evitar o descuido de não guardar silêncio (o que estragaria a romagem) sujeitam-se ao incómodo do bochecho. Mas por isso mesmo que é incómodo, a maior parte da gente dispensa-o, cerrando os dentes uns contra os outros e pondo toda a sua atenção em não dizer palavra”.    





Capela de Nossa Senhora das Verdades



Confluência das Escadas das Verdades e Escadas do Barredo


O arco que se observa na foto fazia parte de um aqueduto que levava água para o convento da igreja de S. Lourenço. 



Colégio ou Convento dos Agostinhos Descalços e Igreja de S. Lourenço (Grilos)


Colégio e Igreja de S. Lourenço


“ O fundador da companhia de Jesus na cidade foi Francisco de Borja que chegou ao Porto, na qualidade de comissário-geral da Companhia de Jesus, no mês de maio do ano de 1560. Instalou-se, na altura, num hospi-tal que então se chamava de Santa Clara e que ficava na rua ainda existente dos Mercadores. A bem dizer, ele não se instalou no hospital propriamente dito, mas sim "num palheiro anexo que servia de albergue aos peregrinos". Naquele tempo, a artéria em causa tinha, junto à Praça da Ribeira que hoje conhecemos, outra configuração bem diferente da atual. Por exemplo: não existia ainda a Rua de S. João e no seu lugar corria, a céu aberto, o célebre rio da Vila.
O hospital de Santa Clara ainda funcionava à época na Rua dos Mercadores. Com a abertura, em 1789, da rua que viria a tomar o nome de S. João, uma parte do terreno que pertencia ao hospital foi expropriado e exigiu-se à Santa Casa da Misericórdia, que administrava o hospital, a realização de obras que, na altura, não convinha a esta instituição fazer. E tomou uma resolução: transferiu, em 1790, as enfermas que estavam no hospital para uma casa da então chamada Alameda da Cordoaria, e vendeu as antigas instalações.
Não muito longe da Rua dos Mercadores, junto à Praça da Ribeira, no miolo do Barredo, ainda lá está a Rua de S. Francisco de Borja, mas é muito difícil saber hoje qual terá sido a casa que teve a honra de hospedar tão ilustre figura da Igreja.
Chegado ao Porto em 1560 hospedou-se no hospício de Santa Clara. Durante a sua estada no Porto, Francisco de Borja foi visitado pelo então bispo do Porto, D. Rodrigo Pinheiro, que lhe pediu para que, na sua ausência, "deixasse nesta cidade dois ou três padres da Companhia fundada por Santo Inácio de Loiola.".
O sonho de Francisco de Borja não era deixar no Porto dois ou três padres, era o de fundar um colégio nesta cidade e nesse sentido trabalhou em colaboração com Henrique Nunes de Gouveia, "fidalgo e cidadão ilustre do Porto" e com o também portuense padre Inácio de Azevedo, que viria a morrer mártir. Começou por se instalar numas casas da Lada fornecidas por Nunes Gouveia. A cidade não gostou do que aí vinha, o que levou os Jesuítas a usar o estratagema de darem a entender que iam embora, mas rumando a sul ficaram um tempo no Mosteiro de Pedroso em Gaia e aguardaram novos ventos. Uma noite pela calada, voltaram e instalaram-se na Lada nas casas onde até já havia uma capela.
Consta de uma crónica antiga o seguinte relato: "No dia 10 de Agosto de 1560, dedicado pela Igreja a S. Lourenço, quando o sol ainda mal despontara e os portuenses despertavam para mais um dia de trabalho, a cidade soube, com espanto, que lá em baixo, numas casas para o lado da Ribeira, havia uma grande festa: o padre Francisco de Borja preparava-se para celebrar missa enquanto outro padre, Inácio de Azevedo, faria um dos seus eloquentes sermões".
Os burgueses da cidade, ainda não tinham esquecido a conversão de um dos seus filhos, num sermão realizado em 1546 pelo padre jesuíta Francisco Estrada, junto à Porta do Olival, na ermida de S. Miguel e que levou que um jovem com 18 anos de nome Vasco Ferraz da abastada família dos Ferrazes, enveredasse pela vida na Companhia e renunciasse à vida de mercador de seu pai. As súplicas da família, porém, não foram suficientes para demover os intervenientes no processo. O rapaz viria a falecer um ano depois de ter dado entrada no Colégio da Companhia de Coimbra.
Voltando a 1560, no dia 11 de Agosto, a Câmara notificou Francisco Borja, proibindo a instalação na cidade da casa e colégio dos Jesuítas. Depois houve uma reunião na sede da Santa Casa da Misericórdia da qual saiu uma resolução: quatro ou cinco padres da companhia ficariam na cidade mas colégio nem pensar.
Os da Companhia voltaram para as suas casas da Ribeira onde não tardaram a conquistar a simpatia de todos e em 1570, os jesuítas abandonaram as primitivas instalações e instalaram-se um pouco mais acima, nas Aldas.
O património cedido por Henrique Nunes de Gouveia cedo se mostrou escasso pelo que tiveram que adquirir uns pardieiros dos herdeiros de João Afonso Moreira e os donativos e legado chorudo, de Joana Serrão que à data vivia em Belmonte.
 Em 1577 depois de terem já alargado os seus domínios, que entretanto, ficaram insuficientes rumaram lá para cima para junto da Sé.
Compraram uma horta nas imediações do antigo paço episcopal e ai construíram uma casa para o novo colégio e a respetiva igreja. Não obstante ter surgido alguma resistência por parte da burguesia mercantil do Porto, as obras para o novo colégio começaram também no dia em que se celebrava a festa de S. Lourenço e daí a igreja ter recebido o nome deste mártir.
Para a construção da obra contribuíram as esmolas mas a mais importante ajuda foi a do balio de Leça, Frei Luís Álvares de Távora que ofereceu verba choruda com a exigência de ser sepultado na capela-mor.
Nestas novas instalações as aulas só começariam em 1669 e um ano depois o colégio tinha cerca de 200 alunos.

Após a expulsão dos jesuítas, em 1759, o colégio e a igreja foram entregues à Universidade de Coimbra que, em 1780, vendeu esses imóveis aos frades Agostinhos Descalços, mais conhecidos pelos frades Grilos, por terem a sede da sua casa-mãe no largo dos Grilos, em Lisboa, por 30000 cruzados. E daí a origem de ainda hoje, erradamente, claro, o povo continuar a dizer igreja dos Grilos em vez de igreja de S. Lourenço”.
Com a devida vénia a Germano Silva


Sobre o texto anterior diga-se a título meramente informativo, que o antigo Mosteiro de Pedroso da Ordem de São Bento, em Vila Nova de Gaia fundado em 867, acolheu, como abade comendatário, frei Pedro Julião, futuro papa João XXI, o único papa português da história.
Com a expulsão dos jesuítas do país, em 1759, a igreja ficou como matriz da freguesia e os restantes edifícios e terrenos passaram para as mãos de particulares.
O mosteiro foi classificado como Monumento de Interesse Público em 2014.
Voltando ao tema deste capítulo, sabe-se, como acima está exposto, que em 15 de Maio de 1560 chegou ao Porto Francisco de Borja, antigo marquês de Lombay e duque de Gândia, em Espanha, que, anos antes, "desiludido das glórias do Mundo", se despojara das suas ricas vestes para envergar o singelo hábito negro dos padres da Companhia de Jesus. Hospedou-se no hospício de Santa Clara, que funcio­nava ao fundo da Rua dos Mercadores. 
A primeira casa que os jesuítas tiveram no Porto foi, assim, instituída em 1560 no meio do emaranhado Bairro do Barredo, no sítio onde estão a Rua de S. Francisco Borja e as Escadas de S. Francisco Borja, que já foram Rua do Colégio Velho e Escadas do Colégio Velho, respectivamente.
Em 1577, tranferiram-se do Colégio Velho como lhe chamavam para a Rua das Aldas actualmente com o nome da Rua de Sant’Ana onde viriam a fundar o Colégio de S. Lourenço.
Alda é nome de mulher mas também re­fere uma antiga medida de panos. Um destes dois elementos estará na origem do nome daquela artéria.
As obras foram iniciadas em 1614 e, a Igreja onde viria a ser fundada a Congregação de Nossa Senhora da Purificação, foi inaugurada em 1622, mas, os trabalhos iriam prolongar-se até aos princípios do século XVIII, com a conclusão da fachada da sua igreja.
Por aqui dominava uma poderosa congregação – a dos mercadores (que tinham por padroeira Nossa Senhora da Purificação) - e que, a partir de 1787 passou a confraria. Com a expulsão dos jesuítas em 1759 (quando as instalações foram entregues à Universidade de Coimbra) a congregação foi perdendo algum do protagonismo que tinha na cidade.
Em 21/5/1779 os frades Agostinhos Descalços adquiriram a igreja de S. Lourenço e o colégio contíguo onde permaneceram até 1832. 
Estes frades tinham estado anteriormente instalados na Capela de S. Bento e Santo Ovídio e hospício anexo, que tinha sido construída pelo Dr. João Carneiro de Morais e sua esposa no ano de 1665, em terreno da sua Quinta da Boavista, que depois se chamou de Santo Ovídio.
Tinha frente para a estrada de Braga, junto da actual Rua dos Mártires da Liberdade. Pertenceu aos Padre Agostinhos Descalços até 1787, onde terão construído um hospício para descanso dos seus padres. 
Em 1787 a família Figueiroa comprou a referida capela, já muito degradada. Foi destruída nos anos 90 do séc. XVIII.
A chegada dos Agostinhos Descalços e a sua expulsão após a extinção das ordens religiosas acabou por aumentar drásticamente os problemas da antiga Congregação.
Desconhecia-se o nome do arquitecto responsável pelas obras do Colégio e Igreja de S. Lourenço, atribuindo-se frequentemente a Baltasar Álvares a autoria da sua traça e a condução dos trabalhos até 1624 (data do seu falecimento), sendo, porém, uma outra a figura ligada ao andamento do projecto, entre 1624 e 1709. Recentes investigações, porém, tiraram do anonimato o mestre arquitecto Silvestre Jorge, provando ser ele o autor da planta de S. Lourenço.
De notar que a fachada ostenta o brasão (que escapou à picagem) dos Távoras, já que foi um Távora que ajudou financeiramente os jesuítas a levantar a igreja de S. Lourenço.
Nesta, são de salientar os primitivos retábulos (1642 - retábulo-mor, da autoria de Manuel Antunes; 1704 - retábulo de S. Francisco Xavier, feito por Luís Vieira da Cruz; 1715/16 - retábulo de Santa Quitéria; 1718 - retábulo de Sant’Ana, executado por Miguel Coelho) que seriam substituídos por exemplares neoclássicos.
Subsiste, porém, o magnífico retábulo de Nossa Senhora da Purificação, da autoria dos entalhadores Francisco Correia e António Pereira, segundo o risco de António Vital Rifarto.


Candeeiro a gás na Travessa de Sant’ Ana




Rua de Sant’Ana



Expulsos os Jesuítas em 1759, o Colégio e a Igreja foram doados por D. José I, em 1774, à Universidade de Coimbra. Anos mais tarde, passou para os Frades Agostinhos Descalços (chamados pelo povo de Grilos, por terem vindo do Convento lisboeta sito na zona do Grilo), que lá permaneceram até 1832.
Actualmente funciona aí o Seminário Maior do Porto, que possui um interessante Museu de Arte Sacra.

Igreja de S. Lourenço – Fonte: portoarc.blogspot


Em 1958, casa de construção do século XVI no Largo do Colégio





 Largo do Dr. Pedro Vitorino 


No Largo do Dr. Pedro Vitorino (ilustre médico e historiador portuense) encontra-se a Fonte de S. Sebastião que foi deslocada do seu primitivo local (junto ao edifício da primitiva Casa da Câmara, na Rua Escura) e reconstruída em 1940 no sítio em que actualmente se encontra.
Descendo as Escadas do Colégio, achamo-nos no largo fronteiro à Igreja de S. Lourenço onde vai desembocar a Rua de Sant’Ana (mãe da virgem Maria), antes conhecida por Rua das Aldas, Rua de Sant’Ana das Aldas ou ainda Rua do Colégio, onde se achava o célebre Arco de Sant'Ana. 
O Arco de Sant'Ana foi demolido em 1821. Almeida Garrett conheceu-o bem, na sua meninice.
Garrett tinha uma forte ligação afectiva ao Arco de Sant'Ana. Referiu-se-lhe muitas vezes como "aquele respeitável e devotado arco, precioso monumento da religião dos nossos antepassados, foco da espiritual luz de devoção que ardia no bendito nicho con­sagrado à laboriosa santa". 

Garrett recordou assim a festa de Sant'Ana: 
"Ai rua de Sant'Ana, rua de Sant'Ana! Qu'é do teu arco e da tua festa, quando se lhe armava aquele palanque com que ficava uma igreja improvisada, e um coreto e um púlpito, aonde grasnava a música, berrava o frade e toda a vizinhan­ça tinha um dia de folgar?". 



Arco de Sant’Ana



A Rua das Aldas vinha na continuação da Rua da Penha ou da Pena Ventosa que, por sua vez, começava na Rua de S. Sebastião e ia até ao Largo do Açougue Real hoje a área correspondente ao Largo do Dr. Pedro Vitorino.
A actual Rua da Pena Ventosa que liga a Rua de S. Sebastião ao actual Largo da Pena Ventosa, foi antes Largo do Forno.




A Rua das Aldas, à esquerda, junta-se com a Rua da Pena Ventosa – Cortesia de Iker Casillas


Sobre a foto anterior, diz o seu autor:

“Cuestas, calles empedradas, bajarse de la bici y caminar. Oporto es una ciudad fantástica. Cada día descubres algún rincón nuevo”.
Cortesia de Iker Casillas




Casa-Torre Medieval 


A casa-torre medieval que se encontra hoje na Rua de D. Pedro Pitões foi alterada e deslocada do seu local de origem (encontrava-se ao lado dos antigos açougues) quando, nos anos 40, se procedeu à demolição dos quarteirões antigos na zona da Sé. Posteriormente reconstruída onde hoje se encontra, aí funcionou o Gabinete de História da Cidade até 1960.
As “casas-torre” quase desapareceram da cidade. Sabe-se que eram edifícios de pedra, estreitos e altos, muitas vezes de planta quadrada e de vários pisos, geralmente 5 pisos. O último destinava-se à cozinha e câmaras de dormir. O penúltimo a refeições e lazer, a loja e a sobreloja eram ocupadas com o escritório, as dependências da criadagem, a despensa e a adega. As aberturas eram estreitas e casa rematava com ameias, constituindo uma autêntica fortaleza.



Casa-Torre - Fonte: Blogue "amaroporto"

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