“A Sinagoga
Kadoorie, também chamada Sinagoga Kadoorie - Mekor Haim ("Fonte de
Vida") é a actual sinagoga e sede da comunidade Judaica do Porto, cujo
nome oficial é Comunidade Israelita do Porto. A sua construção foi iniciada em
1929 tendo sido inaugurada em 1938. É a maior sinagoga da Península
Ibérica. A sinagoga "Kadoorie – Mekor Haim", situa-se na Rua de
Guerra Junqueiro.
A história da
sinagoga Kadoorie está intrinsecamente ligada à história do seu fundador,
capitão Artur Barros Basto, um oficial do exército português convertido ao
Judaísmo.
No início dos
anos vinte do século passado existiam na cidade menos de vinte judeus
asquenazim que, como não possuíam uma sinagoga não estavam organizados e
tinham de se deslocar a Lisboa sempre que, por motivos religiosos, era
necessário.
Quando Barros
Basto tomou conhecimento dessa realidade começou a pensar que a construção de
uma sinagoga era necessária e, tomou iniciativa de, em 1923, registar
oficialmente no Governo Civil do Porto a Comunidade Israelita do Porto. Em
1929, Barros Basto reuniu fundos que lhe permitiram comprar o local onde viria
a nova sinagoga a ser construída, adquirindo assim um terreno na rua de Guerra
Junqueiro.
A obra decorreu
lentamente até 1933, devido aos elevados custos e aos fundos limitados do seu
fundador e da comunidade.
Nesse ano, Laura
Kadoorie, a esposa do filantropo judeu de origem iraquiana, Sir Elly
Kadoorie faleceu, e os filhos viram nessa infeliz situação a necessidade
de homenagearem a sua mãe, descendente de judeus portugueses que abandonaram o
país devido à inquisição. Essa homenagem foi materializada no apoio
monetário da família Kadoorie à construção de grande parte da Sinagoga do
Porto, que passou assim a chamar-se “Sinagoga Kadoorie – Mekor Haim".
Fonte: Wikipédia
Em 2015, era
inaugurado o Museu Judaico do Porto, aproveitando instalações na sinagoga.
Entretanto, em Janeiro de 2021, seria inaugurado, na Rua do Campo Alegre, nº 790, no Porto, o Museu do Holocausto sob a gestão da Comunidade Judaica do Porto (CJP), passando a ser o “primeiro” museu do género, na Península Ibérica.
Entretanto, em Janeiro de 2021, seria inaugurado, na Rua do Campo Alegre, nº 790, no Porto, o Museu do Holocausto sob a gestão da Comunidade Judaica do Porto (CJP), passando a ser o “primeiro” museu do género, na Península Ibérica.
Os judeus tiveram
grande importância na história da cidade. Já desde antes do início da
nacionalidade há memória da existência de judeus no Porto. Viviam na denominada
Cerca da Cividade ou Cerca Velha, na Judiaria Velha, juntamente com os cristãos
e tinham sinagoga na antiga Rua das
Aldas agora denominada Rua de Sant’Ana.
Chega-se a esta
conclusão lendo o testamento do bispo D. Afonso Pires de Soveral. Nesse
documento, o prelado lega à mesa capitular, ou seja aos cónegos da Sé,
"umas casas que possui na Rua das Aldas (a atual Rua de Santana) que vai
para a sinagoga".
Ora, a sinagoga
estava onde estava a comunidade judaica.
Em 1350 os judeus já
tinham abandonado a Cividade e, no local da sinagoga, funcionava então, a
Confraria do Presépio.
Também habitaram na
Ribeira (Rua dos Mercadores e periferia da Praça da Ribeira), Miragaia (na Rua
da Munhota) e em Monchique.
À esquerda fora das
muralhas, o Monte dos Judeus
Em Miragaia, os
judeus congregavam-se em torno de um oratório que funcionava numa casa de um só
pavimento, propriedade de Lourenço Peres, marinheiro que vivia na Rua da Munhota próximo da actual Rua
do Comércio do Porto.
Foi, no entanto, no
local de Monchique que formaram uma comunidade com Sinagoga e cemitério
próprio, pois não era permitido sepultá-los junto dos cristãos. Daí o nome,
ainda hoje conhecido, por Monte de Judeus, na zona onde mais tarde se construiu
o Convento de Monchique, fundado em 1533 por Pero da Cunha Coutinho.
A palavra Monchique
tem origem em "montjuich" que, por sua vez, deriva de "mons
judaeorum" que significa monte dos judeus.
Segundo outras
opiniões Monchique deriva de ”monte-chico”, monte pequeno.
Foi em Monchique,
sítio do bairro de Miragaia no Porto, que viveu a comunidade judaica antes de
ser transferida para junto da porta do Olival.
Foi o rei D. Dinis
que tendo desenvolvido uma política favorável aos judeus que deu permissão de
construírem uma sinagoga em Monchique.
Sabe-se então, que
durante o século XIII os judeus tinham uma "casa de oração" na antiga
Rua das Aldas, hoje Rua de Santana. Daqui transferiram-se para a zona da
Munhota, junto a S. Francisco.
Só depois foram para
a zona de Monchique.
Convento de
Monchique e Palácio de Cristal vistos de Gaia em 1869
D. João I, em 1386,
determinou a concentração da comunidade judaica, num local restrito dentro das
muralhas, perto da Porta do Olival, no local chamado de Couvelas, hoje a área da Rua de S. Bento da Vitória, Escadas da
Esnoga, Rua da Vitória e Rua de S. Miguel, até à Viela do Ferraz. Este local
era fechado por dois portões, um na entrada da Rua de S. Bento da Vitória e
outro no final das escadas da Esnoga.
Esnoga é uma
corruptela da palavra Sinagoga.
Nesse local foi
construída uma sinagoga, casa de culto dos judeus onde hoje se encontra a
Igreja Paroquial da Vitória.
“Aos judeus, segundo se pode ler nas atas das
vereações do ano de 1451, era-lhes permitido "armarem as suas tendas"
nos locais para tal determinados e nelas poderem vender "pimenta, açafrão,
cominhos, canela, açúcar e tantas outras cousas de comer".
Aos judeus que se convertessem "à nossa
santa fé" eram-lhes concedidos certos privilégios como o de "não
pagarem fintas (um tipo de imposto extraordinário) ou qualquer outro tributo
que os concelhos costumavam lançar".
Foi com base nesta disposição que em 18 de Agosto
de 1484, um tal Nuno Fernandes e uma Catarina Afonso, judeus convertidos e
estalajadeiros à Porta do Olival, escreveram à Câmara solicitando "que por
Deus e por mercê" os aliviassem da finta lançada para o pagamento das
despesas que haviam sido feitas com a visita do rei, da rainha e dos príncipes.
A Câmara aceitou e atendeu o pedido.
Mas também acontecia o contrário. Uma
vereação portuense em reunião subsequente determinou que seriam multados com a
pena de 500 libras (muito dinheiro para a época) os judeus ou judias "que
em suas lojas, fora das judiarias, fizessem trabalhos proíbidos aos domingos ou
vendessem géneros que não fossem alimentos”".
Fonte: Germano Silva
In cadernosdalibania.blogspot
Os judeus não podiam
circular na cidade após o “toque de correr”. O sino responsável por esse toque
esteve perto da Sé e nos fins do século XIV, foi transferido para a Porta do
Olival.
Em 1588 fez o
percurso inverso sendo conhecido por “Sino de Correr”.
Este sino serviria
para com vários toques avisar a população.
Assim, havia um
primeiro toque e que soava às ave-marias e era um convite à oração quando o sol
começava a declinar no horizonte.
Meia hora depois
daquele soava um outro, às oito no inverno, para recolher. Apagavam-se as luzes
e fechavam-se as tabernas e os lugares públicos.
O terceiro toque
surgia já de noite e à terceira e última badalada cessava todo o trabalho e os
mouros e judeus recolhiam a suas casas apressadamente sob o risco de pagarem
pesadas multas se andassem na via pública.
Além do Sino de
Correr havia um outro, o “Sino do Relógio” que em 1401 estava também numa das
torres da Sé. Este sino dava as horas ao longo do dia.
Houve também, no
velho burgo, um sino com uma denominação, no mínimo, curiosa e com uma não
menos curiosa finalidade. O povo denominava-o "o sino dos garotos".
Estava, ao que parece, numa das torres da Sé e era tangido, unicamente, para
convocar o povo a revoltar-se contra as prepotências, viessem elas do bispo ou
do rei.
Para os judeus o
Sino de Correr, tocava de forma rápida, por 3 vezes, à hora de recolher.
Às mulheres cristãs
era proibida a entrada nas judiarias, a menos que, sendo casadas, fossem
acompanhadas por dois homens ou por um, no caso de serem viúvas ou solteiras.
Estas disposições tinham como objetivo impedir que houvesse relações entre
indivíduos das duas crenças.
Também os judeus não
podiam entrar sozinhos em lar de mulher cristã, salvo se a visita fosse feita
na qualidade "de físico ou
cirurgião; ou alfaiate ou dobadores de roupa velha; ou tecelões, pedreiros e
carpinteiros; e obreiros e braceiros de outros ofícios que pela sua natureza
não possam ser feitos por outras pessoas".
Uma outra singular
obrigação que era imposta aos judeus da comuna do Olival era esta: sempre que
o rei vinha de visita ao burgo os judeus eram obrigados a "irem recebê-lo fora do lugar com danças e folias e suas tourinhas
(rolos de pergaminho em que estava escrito o Pentateuco) encostadas ao peito
como que a jurar-lhe fidelidade".
Em 1496 a vasta
judiaria do Olival despovoou-se. Em 5 de dezembro daquele ano, o rei D. Manuel
I ordenou à Câmara do Porto que intimasse os judeus a abandonar o local onde
estavam desde 1386, recomendando, no entanto, que os deixassem sair em paz.
Os que se
converteram ao cristianismo foram chamados de Cristãos Novos.
Na História do Porto
coordenada por Oliveira Ramos lê-se a seguinte passagem:
“Os judeus do
Porto foram uma comunidade bem organizada social, religiosa e politicamente,
rica em cultura, sociabilidade e dinheiro, sem dúvida importante na história da
cidade… relativamente a ela a sociedade cristã tripeira parece ter-se
comportado de modo aceitante e compreensivo. Pelo menos, tolerante.”
Por outro lado, de
um artigo de Pedro Olavo Simões, no JN, retivemos o seguinte resumo:
“A historiadora
Elvira Mea, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP),
anda há dois anos a lançar alertas para a existência, no nº 9 da Rua de S.
Miguel, de um “Ehal” (nicho onde são guardados os rolos da Torah, a Lei atribuída
a Moisés), que tem o especial valor de ter sido feito depois da
expulsão/conversão forçada dos judeus em 1496/97, por D. Manuel. Trata-se de
uma sinagoga clandestina, que constituía “uma afronta total à situação de
Contra-Reforma”. Para mais, além da tipologia da casa (uma entrada por trás,
discreta, na Rua da Vitória), característica do culto clandestino, a
documentação, designadamente da Inquisição, dá conta da existência, nas
imediações, de casas de jogo, que os cristãos-novos usavam como elementos
distractivos.
Elvira Mea, que
diz ter contactado o IPPAR, o Governo, a Câmara do Porto e o Governo Civil (a
única entidade que mostrou interesse), nota, ainda, que o achado faz luz sobre
a obra “Nomologia…” (Amsterdão, 1629), de Imanuel Aboab, em que o autor diz ter
visto a sinagoga, na sua meninice, algo que a ausência de vestígios materiais
tornava duvidoso. A importância do “Ehal” é ainda maior, atendendo à falta de
vestígios materiais da presença judaica no Porto, designadamente na zona do
Olival, hoje Vitória, onde esteve a última judiaria da cidade. A localização da
sinagoga na rua que agora é da Vitória, e não na de S. Miguel, é corroborada
por escritos de historiadores como Geraldo Coelho Dias”.
Casa nº 9, na Rua S. Miguel
Ainda sobre a sinagoga e a sua localização, D. Rodrigo da
Cunha, arcebispo de Lisboa e historiador escreveu, em 1623, que abaixo da igreja
de Nossa Senhora da Vitória tinha estado, em tempos, uma sinagoga numa rua com
o nome de Viela da Esnoga, que foi substituída por uma capela dedicada a S.
Roque e que, mais tarde, foi incorporada numas casas da dita viela.
Um nicho com a imagem de S. Roque existente numa casa dessa
viela, segundo a opinião de Alexandre Herculano, poderá dizer respeito, de
facto, àquela capela.
À esquerda da igreja da Vitória, na década de 1870, o prédio onde
esteve a Casa Bancária Casaes & Filhos
Edifício onde funcionou a Casa Bancária Casaes & Filhos
No edifício da foto anterior, no Largo da Bateria da Vitória funcionou
a Casa Bancária Casaes & Filhos, liquidada em 1895. Foi fundada nos meados
do século XIX pelo cidadão espanhol D. José Rodrigues Casaes, a quem foi dado,
anos mais tarde, pelo Governo do seu país, o título de visconde da Penna. No
Porto, ainda antes da unificação da Itália, José Casaes desempenhou o cargo de
cônsul dos antigos Estados Pontifícios.
Escadas da Esnoga ou
da Vitória
As escadas
apresentadas na foto acima, com ante-projecto de 1877 (engenheiro Agnello
José Moreira), substituíram umas outras, em que um dos lanços seguia mais pela
direita, no local ocupado pelo muro de suporte, aquando de uma melhoria de
traçado da Rua de S. Roque (Rua da Vitória).
No desenvolvimento
urbanístico da colina do Olival contou muito o aproveitamento do antigo campo das Barreiras e o campo dos Besteiros, nomes dados ao
sítio por onde, anos mais tarde, viria a ser rasgada a Rua da Vitória dos
nossos dias. No século XVI ainda por aqui havia oficinas de coronheiros e era
também neste espaço que os besteiros, soldados que usavam a besta, se treinavam
no uso daquela eficaz arma de guerra dos tempos medievais.
Na Rota dos Judeus do Porto I
“Podemos dizer com bastante margem de segurança
que a vivência das comunidades judaicas em Portugal foi pacífica até 1492. Se
compararmos com as atribulações que os judeus sentiram noutras paragens
europeias, a sua vida no território português foi mesmo uma excepção, tolerados
e até protegidos, a sua quota-parte para o crescimento económico e científico
era reconhecido pelos poderes régios que sentiam que os filhos de Israel eram
fundamentais para a afirmação de Portugal.
Com a expulsão decretada por D. Manuel I em
1496 e o baptismo a que foram forçados no ano seguinte, aquele número decaiu de
uma forma vertiginosa e no tempo da Inquisição, que tinha sido instalada em
Portugal no ano de 1536, já no reinado de D. João III, oficialmente já não
havia judeus em Portugal.
As primeiras comunidades judaicas terão
chegado ao território que é hoje Portugal integradas nas navegações
fenícias.
O mais antigo espaço físico que o Porto
judaico conheceu ficava no Bairro da Sé. Naturalmente, foi aqui que a grande
aventura do Porto começou. Há registos que nos dizem que no tempo do Bispo
Afonso Pires a sinagoga ficava na actual Rua de Santana, que na época se
chamava Rua das Aldas (também tinha sido chamada de Rua da Sinagoga). Nada
existe do ponto de vista arqueológico… Seria um edifício que servia de templo aos
artesãos e comerciantes judeus. Mas, no tempo de D. Afonso V, a judiaria já
iria até à Rua Chã, antiga Rua Chã das Eiras.
De qualquer forma, é importante esclarecer
que uma sinagoga pode existir em qualquer habitação que contenha um Sefer Torá
e onde se juntem dez judeus adultos. E, nesta perspectiva, não é difícil supor
que muitas foram as sinagogas que naquela época existiram na zona.
Também há registos da existência de judeus na
Rua Escura, antiga Rua Nova.
Mas, apesar de a vida dos judeus, e em comparação
com as dos seus irmãos de outras partes da Europa, ser de relativa
tranquilidade, não se pense que era fácil. De todo. Havia sobre eles toda uma
carga de imposto que lhes sobrecarregava os rendimentos. Os judeus pagavam,
entre outros impostos, o Genesim, imposto pago para poderem ouvir os seus
sábios da lei explicar o Pentateuco. Pagavam a Judenga (ou Juderega), uma
contribuição de trinta dinheiros, uma humilhação para lhes fazer lembrar os 30
dinheiros que Judas recebeu para atraiçoar Cristo! Pagavam ainda o Arabiado,
imposto pago à coroa.
Depois de D. Afonso IV, todo o judeu que
ganhasse mais de 500 libras ficou impedido de se ausentar do reino sem licença
régia.
Posteriormente, os judeus foram descendo na
topografia da Sé e vamos encontrá-los (especialmente os mais abastados), com as
suas tendas, na Praça da Ribeira. Mas, em 1350, já não estavam na Cividade.
Para onde foram?”
Texto em parte, com
a devida vénia ao historiador César Santos Silva
Zona da Munhota e Judiaria do Olival
Da zona da Sé passou
a comunidade judaica para junto do Postigo dos Banhos (destruído quando se rasgou
a Rua Nova da Alfândega), da Praça do Infante, Largo de S. Domingos, Rua de
Belmonte e da Rua da Munhota, que por vezes também aparece por vezes grafada Minhota
e depois passaram para Monchique.
Em 1386, D. João I
solicitou à Câmara do Porto que instalasse os judeus dentro dos muros da
cidade.
Passaram então a
viver na Judiaria do Olival.
“Mas, antes de avançarmos, uma correcção a
uma “inverdade” que por ser várias vezes repetida passa a verdade. Judiaria e
Comuna não são palavras sinónimas. Judiaria é o espaço dentro de uma dada
cidade, que pode ser uma rua, ou várias, onde estão confinados os judeus.
Comuna é por assim dizer o agrupamento moral, a comunidade de todos os judeus.
Uma comuna pode ter mais do que uma judiaria e para haver comuna tem que
existir pelo menos dez judeus, homens, adultos. A partir dos treze anos e desde
que faça o seu Bar Mitsvah, um jovem já conta para aquele número.
Não deve ter sido fácil para os judeus a
vinda para o Olival. Nas judiarias anteriores os judeus estavam mais próximos
do rio, dos negócios mercantis e dos hábitos que criaram. Mas, como povo
prático que eram, rapidamente se devem ter habituado ao novo lugar.
Toda a sua vida social e judicial estava
organizada. Os judeus tinham representantes junto do rei. Um rabi mor, um
ouvidor que o auxiliava, além disso tinham ainda um chanceler e um
escrivão.
Mas a vinda para o morro da Vitória deveu-se
às cautelas do monarca. As guerras com Castela eram um facto e esta era uma
forma de proteger os hebreus, mesmo que fosse a contragosto destes.
Estava a nascer a Judiaria Nova (a última).
Tinha cerca de dois hectares de área. Aqui os judeus viveram durante mais de um
século e foi executada por eles uma notável obra de urbanismo. Comparada com o
resto da cidade, um dédalo de ruelas, estreitas, íngremes, escuras, a judiaria
era bem arejada, com arruamentos largos, simétricos, uma nova realidade
urbanística. Podemos dizer que foi o primeiro condomínio fechado da cidade.
Aliás, os investigadores Manuel Luís Real e
Rui Tavares consideram o Olival e a judiaria aqui criada “um fenómeno de
loteamento urbano, nos alvores do século XV, talvez o primeiro na verdadeira
acepção da palavra, cujo impacto na caracterização daquele espaço citadino
nunca chegou a ser devidamente salientado”.
No seu auge, viviam aqui adeleiros,
algibebes, alfaiates, médicos, sapateiros, ourives, mercadores, feirantes.
Vivia também o ouvidor dos judeus da região de entre Douro e Minho e o oficial
encarregue das comunas.
Rua de S. Miguel
A mais importante artéria da Judiaria do
Olival era sem sombra de dúvida a Rua de S. Miguel. Outrora chamada de Rua
da Judiaria Nova do Olival, depois Rua da Judiaria Nova, a Rua de S.
Bento da Vitória foi, antes da vinda dos beneditinos para este lado da cidade,
chamada também de Rua de S. Miguel. Dada a topografia do lugar, era à
altura um arruamento em forma de L.
Estamos no coração do antigo bairro judeu.
Apesar de as casas não apresentarem nenhuma coerência arquitectónica e estarem
muitas delas degradadas, podemos ver aqui imóveis dos séculos XVI, XVII e
XVIII. Aqui viveu Uriel, ou Urgel da Costa, nome cimeiro do Porto judaico,
médico que teve de ir para Amesterdão aquando da saída forçada dos
judeus.
Num edifício do número 9 (teria sido aqui que
viveu Uriel da Costa?), recentemente recuperado, albergando hoje um centro de
dia, foi descoberto um pequeno Aron Kodesh (ou Ehal). Uma Arca Sagrada, que
contém os rolos da Lei. Esta ideia não é totalmente pacífica, havendo quem diga
que se trata apenas de um armário oitocentista, com o actual rabino do Porto,
Daniel Litvak, a expressar “muitas dúvidas” sobre o caso.
Aquando da descoberta, algumas vozes
levantaram a hipótese de ter sido aqui a Sinagoga, mas alguns especialistas
acham a ideia algo exagerada. Seria “apenas” uma casa habitada por uma família
judaica, que aqui escondia os símbolos da sua religião, dizem.
Após a expulsão dos judeus de Castela, em
1492, vieram para esta judiaria cerca de 30 famílias, a quem foram aforadas
casas na Rua de S. Miguel.
Não sabemos onde terá sido a sinagoga
castelhana, ficaria talvez numa das casas que foram arrendadas a estes judeus.
Este acontecimento histórico é-nos relatado pelo médico Immanuel Aboab, na sua
obra “ Nomologia”, onde também cita a localização da sinagoga “entre a Rua de
S. Miguel e de S. Roque”, a actual Rua da Vitória. Para poderem viver ali, os
judeus tiveram que pagar impostos de portagem, de açougue. Por tudo isto, anualmente
eram onerados em 200 maravedis.
Escadas da Vitória
A 160 metros da Rua das Taipas caminhando na
rua da Vitória metros encontramos as antigas Escadas da Esnoga. A palavra
esnoga é uma corrupção da palavra sinagoga, ficaria por aqui a Sinagoga…
Desde Querubino Lagoa, passando por Alexandre
Herculano, Arnaldo Gama, Firmino Pereira, Rebelo da Costa e o Dr. Pedro
Vitorino, todos foram peremptórios em afirmar que a Sinagoga ficava onde hoje
está a Igreja Paroquial da Vitória. Mas D. Rodrigo da Cunha, diz, em 1623, no
seu “Catálogo dos Bispos do Porto”, que “por baixo logo da dita Igreja da Nossa
Senhora da Vitória estivera situada a Sinagoga em uma rua ou travessa que em
memória disso ainda conserva o nome de Viela da Esnoga, corruptela de Sinagoga,
que ficou convertida numa capela de invocação a S. Roque…”.
Talvez nunca venhamos a saber onde ficava de
facto a sinagoga.
Na Rota dos Judeus do Porto II
Em 1424 dá-se um episódio que merece ser
narrado. O Cabido da Sé do Porto lança um imposto que incidia sobre o açougue.
Esta situação, o usufruto de um açougue, não é questão de somenos para os
judeus. Aliás é um dos elementos centrais da sua religião.
Os animais que são consumidos pelos judeus
têm que ser puros – o livro bíblico Levítico prescreve as condições em que a
degola tem que ocorrer.
São proibidos, por serem impuros, todos os
quadrúpedes que ruminem mas que não tenham a unha fendida ou que tenham uma
unha fendida mas não ruminem. Estão neste caso o porco, o coelho, a lebre, etc.
Existem ainda mais de vinte aves, especialmente de rapina e nocturnas que
também são impuras. Deve-se acrescentar a esta lista alguns animais, aves
aquáticas. São permitidos na cozinha judaica todos os peixes com guelras e
barbatanas.
O sangue dos animais também é vedado, por
acharem que o sangue é o centro vital e quem consome esse sangue estaria a ser
conspurcado pela animalidade, daqueles.
A morte do animal deve ser executada
rapidamente por um Shochet, talhante profissional e ser sangrado.
Perante esta realidade, já percebemos melhor
por que precisam os judeus da licença para poder ter açougue próprio e por que
razão, não ripostaram muito, aquando do lançamento do citado imposto por parte
do poder religioso.
Graças à sua sagacidade e tenacidade, os
judeus tentaram por outras formas adiar o pagamento, mas sem sucesso.
Voltando à geografia da judiaria – que tinha
que ser discreta, pois não convinha ser mais alta que o mais próximo templo
católico – as lojas dos judeus dedicados ao comércio ficariam na parte da judiaria
mais próxima do Largo de S. Domingos. É o largo que se encontra no final das
Escadas da Vitória, virando para a esquerda, quem desce as escadas.
Em que espaço de facto estavam os judeus
confinados?
Os limites eram:
Rua de S. Bento da Vitória, onde havia uma
porta que fechava à noite, Rua de S. Miguel, Rua da Vitória, até à Travessa do
Ferraz, Escadas da Vitória, antigas Escadas da Esnoga, aqui também existia uma
porta, Rua de Belomonte e Rua das Taipas.
As portas citadas eram de ferro maciço, lavradas
e enriquecidas com heráldica hebraica. Após a vinda para aqui, a Judiaria
da Munhota, e depois da breve passagem, seis anos, pela zona de Monchique,
passou a chamar-se Judiaria Velha ou Judiaria de Baixo.
Mas não se julgue que os impostos especiais,
que sobre a comunidade eram lançados, eram os únicos (e já não eram poucos)
deveres que os judeus deveriam cumprir.
De todo. Existiam uma série de obrigações que
os judeus deveriam cumprir. Assim tinham que respeitar os seguintes
preceitos:
À noite, ao toque da Trindade, os judeus que
estivessem fora da judiaria eram obrigados a recolher-se a esta e os cristãos
eram obrigados a fazer o sentido inverso.
Usarem uma estrela de seis pontas, mas não
eram obrigados a usar roupa própria.
Quando o rei visitava a cidade os judeus eram
obrigados a virem recebê-lo com festança e com um pergaminho onde estava
escrito o Pentateuco, encostado ao peito como prova de devoção ao rei.
O judeu, ou judia, que tivesse ligações
íntimas com cristãos era condenado à forca. Eram abertas excepções a possíveis
violações ou em caso de ignorância mútua das religiões de cada um. De notar,
que este castigo, também incidia sobre os cristãos apanhados em intimidades com
judeus/judias.
Se as judiarias tivessem tabernas, os judeus
não podiam frequentar as dos cristãos.
Eram vedados aos judeus a possibilidade de
terem criados cristãos. Mas, se trabalhassem terra aforada, era-lhes permitido
contratar cristãos para os trabalhos no campo.
Era vedada aos judeus a entrada em casa de mulher
cristã, sem serem acompanhados por homem cristão. Se fosse em casa de mulher
casada, a entrada só era permitida com a presença do marido. Quando fossem
tratar de dívidas, só o poderiam fazer na presença de dois homens ou duas
mulheres cristãs. Os negócios só podiam ser feitos na entrada da casa.
Às mulheres cristãs também estava vedada a
entrada sozinha nas lojas de judeus. As excepções a estas regras eram
permitidas aos médicos, alfaiates, carpinteiros, cardadores, ou qualquer mister
que obrigasse a alguma demora.
Era-lhes vedada a compra de ouro ou prata sem
autorização régia.
Mas existiam um conjunto de excepções e
condições que tornavam estas regras, algumas bem humilhantes, suportáveis,
assim:
Era permitido ao judeu que viesse de fora
entrar na judiaria fora da hora do toque do sino.
Se chegasse muito tarde e a judiaria já
estivesse fechada, podia pernoitar em estalagem cristã.
Se viesse de barco podia ir directamente para
a judiaria, independentemente das horas.
Se andasse a cobrar rendas, impostos, sisas,
para o rei, podia andar de noite, com a obrigação de andar acompanhado de um
cristão.
Existiam tribunais e juízes próprios para
dirimir questões com os cristãos, o que mitigava alguma tentativa por parte
destes de abusar do seu poder perante os judeus.
As excepções criavam um quadro legal para
tornar mais satisfatória a vida dos judeus e era uma atenuante às tentativas de
usufruto do poder por parte dos cristãos sobre os judeus.
Um facto ocorrido a 31 de Março de 1492 veio
marcar a vida dos judeus portugueses. Os reis católicos Fernando de Aragão e
Isabel de Castela ordenaram a expulsão dos judeus espanhóis num prazo de quatro
meses.
O inquisidor Torquemada, já antes da
expulsão, tinha proibido o comércio entre cristãos e judeus. A decisão, foi um
erro político, económico e cultural que Portugal pagou bem caro.
Ao expulsar-se os judeus estava-se a expulsar
o saber e o dinheiro. O mundo financeiro, os negócios, a ciência, o comércio,
os misteres, a medicina, tudo isto se ressentiu da nova realidade.
Depois da expulsão no Porto, os cristãos
novos ocuparam a Praça da Ribeira e as suas adjacências, Rua da Fonte Taurina,
Rua dos Mercadores, Largo de S. Domingos, etc… Aqui, contando com a conivência
dos locais – “O dinheiro não tem cheiro” – tinham as suas tendas.
Segundo o Dr. Elvira Mea, um judeu abastado
chamado Henrique Álvares, conseguiu a proeza de subornar o Inquisidor
Geral.
Conclusão… Somos um país de descendentes de
muitos povos, entre os quais assumem particular relevo os judeus. Antes do
édito da expulsão, existiam mais de 100 comunidades judaicas espalhadas pelo
país. Depois do édito, grassaram os casamentos mistos e as misturas de sangue,
de tal sorte que é possível dizer com certeza que corre hoje muito sangue judeu
nas nossas veias. Os portugueses e, em particular, os portuenses, não são
judeus, mas são descendentes de judeus.”
Texto em parte, com
a devida vénia ao historiador César Santos Silva
Seguem-se alguns
pontos de interesse da comunidade judaica na cidade:
1. Rua de Sant’Ana
Nesta rua
localizou-se a primeira sinagoga;
2. Rua dos
Mercadores
Para lá da primeira
judiaria foi aqui que continuaram os judeus a expandir-se com as suas
habitações e o seu comércio;
3. Praça da ribeira
Centro de negócios
dos judeus mais abastados;
4. Rua da Munhota
Onde se localizou a
segunda sinagoga;
5. Largo de S.
Domingos
Aqui existiram
boticas e espaços comerciais dos judeus;
6. Rua e Escadas da
Vitória
Onde se localizou a
sinagoga do Olival;
7. Passeio das
Virtudes
Com vistas para o
“Monte dos Judeus”, onde funcionou a sinagoga de Monchique e para o Horto das
Virtudes, onde terá existido o cemitério judaico;
8. Rua de S. Miguel
Onde terá existido
no nº 9 uma sinagoga secreta depois da expulsão;
9. Rua de S. Bento
da Vitória
Onde existe placa
evocativa da expulsão dos judeus;
10. Campo Mártires
da Pátria
Local onde ocorreram
2 autos de fé;
11. Rua da
Bandeirinha
Parte importante da
antiga judiaria de Monchique;
12. Edifício
Kandoorie na Rua Guerra Junqueiro nº 340
Sinagoga actual.
Igrejas Protestantes e Estruturas de Apoio a outras
nacionalidades
Baptistas
Tabernáculo Baptista
– Praça Mouzinho de Albuquerque
Devido à presença de
famílias inglesas e outras nacionalidades, na cidade do Porto, as Igrejas
Protestantes pretenderam erigir os seus templos no Porto. Até ao liberalismo
não foi possível fazê-lo.
Uma das mais
numerosas dessas comunidades era a dos britânicos.
Até aí as cerimónias
religiosas decorriam nas residências particulares, mas, após a construção da
Feitoria Inglesa, elas transferiram-se para lá, e decorriam, no que era a sala
de baile.
No séc. XIX e XX
foram construídas várias igrejas, sobretudo depois de 1851.
Na foto acima o
Tabernáculo Baptista cuja construção recria uma arquitectura similar à do
Tabernáculo Metropolitano de Londres. Foi financiada pelo comerciante inglês
Joseph C. Jones e seria inaugurado em 13 de Fevereiro de 1916, com a presença
entre outras personalidades de Bráulio F. Silva, D. Maria Matos, D. Alice Teles
Mingot, Frederico Flower, Chas A. Swan e os corais das igrejas metodistas e
Lusitana.
Aquela igreja tinha começado a ser organizada oficialmente em 20 de Dezembro de 1908, numa casa sita na Rua de Requesende, em Ramalde.
Aquela igreja tinha começado a ser organizada oficialmente em 20 de Dezembro de 1908, numa casa sita na Rua de Requesende, em Ramalde.
Joseph C. Jones era
um comerciante ligado ao vinho do Porto, cujo pai tinha sido um dos fundadores
da Associação Comercial do Porto.
“(...) Curioso é também o
facto deste troço da rua estar associada às origens históricas dos baptistas em
Portugal. Confissão religiosa minoritária em Portugal (embora dominante em
muitos outros países, como nos Estados Unidos da América) os baptistas, uma das
primeiras expressões “protestantes” a implantar-se no nosso país, sediaram no
início do século XX no nº 194 da Rua de Requesende o Seminário Baptista
Português, que aí funcionou durante vários anos”.
Fonte: Joel Cleto, in “joelcleto.no.comunidades.net”
Fonte: Joel Cleto, in “joelcleto.no.comunidades.net”
Anglicanos
Esta comunidade, no que dizia
respeito ao enterramento dos seus mortos até ao século XVIII, a colónia
britânica do Porto procedia aos enterramentos nas margens do rio Douro, com a
maré baixa, enquanto os católicos o faziam em solo de capelas e igrejas.
Estava vedada a possibilidade de enterramento nas capelas aos britânicos.
Estava vedada a possibilidade de enterramento nas capelas aos britânicos.
Grande parte da
colónia inglesa vivia no Candal em Vila Nova Gaia.
Esse cemitério
protestante era conhecido pela designação de Cemitério do Cavaco, e
segundo o reverendo William Kimsey,
“…deixou de ser utilizado desde que os
preconceitos se atenuaram o bastante para ser concedido um lugar de culto e um
cemitério privativo, numa chã que se ergue a noroeste da cidade.”
De autor
desconhecido o texto seguinte refere-se aos cemitérios dos protestantes na
cidade do Porto:
“Os estrangeiros protestantes eram sepultados
nas areias do Rio Douro ou da Foz, em maré baixa, ou num terreno em Gaia, na
encosta do Cavaco junto ao rio. Desde 1716 aí se faziam sepultamentos,
evidentemente, sem lápide ou qualquer tipo de identificação. Tal, deve-se à
crença anglicana de que, depois da morte, não existe purgatório, não havendo
por isso razão para rezar pelos mortos.
Mesmo passados quase quarenta anos e tendo o
rei D. José I, decretado a construção de um cemitério protestante no Porto, os
sepultamentos no lodo do rio continuaram por aparente obstinação da comunidade
britânica. Apenas em 1785, o Cônsul John Whitehead, figura eminente no Porto,
começou a dar andamento ao processo de compra do terreno: tratar-se-ia do
primeiro cemitério ao ar livre do Porto. Obrigatoriamente murado, longe das
muralhas da cidade, para que não chocasse a comunidade católica, aí se
começaram a enterrar não só britânicos mas, ao longo do tempo, alemães e
hanseáticos. O primeiro sepultamento assinalado com uma pedra datará de 1798,
pertencendo este n.º 1 a Thomas Stafford, num cemitério geometricamente
dividido em quatro talhões em cujo centro encontramos o monumento fúnebre a
Whitehead”.
Depois de muitas
negociações, em 1788, o cônsul John Whitehead conseguiu adquirir um terreno
para a construção de um cemitério digno, com a condição de possuir uma cerca
com altos muros.
Fica este cemitério,
no Largo dos Ingleses ou Campo Pequeno, actual Largo da
Maternidade Júlio Dinis.
Vista área da capela
e cemitério da comunidade Anglicana – Fonte: Google maps
A partir de então
foi possível também, ao fim de alguns anos de luta, erguer, dentro desse espaço
murado, um templo de oração para servir a comunidade britânica e que hoje é a
Igreja Anglicana de St. James, cujo edifício remonta a 1815.
Foi exigido na
concepção deste templo, que ele deveria parecer uma casa, não possuir sinos,
nem cruzes, nem pináculos e estar oculto atrás de muros.
Inicialmente a
capela copiava as do salão de baile da Feitoria, sendo hoje um espaço muito
mais amplo e, nas décadas de 20 e 30 do século passado, foi enriquecida com um
grande conjunto de vitrais de santos, nomeadamente o de S. Jorge o padroeiro de
Inglaterra e S. James (S. Tiago) a quem a igreja foi consagrada em 1843.
Em 1867 como
resultado de várias intervenções (inclusive o levantar de um transepto) a
capela torna-se uma verdadeira igreja.
Capela do cemitério
dos ingleses
Quanto ao cemitério,
só a partir dos anos 20 do século XIX recebeu os seus primeiros monumentos.
Cemitério de cariz
romântico, tem entre os seus ocupantes muitas das conhecidas famílias
estrangeiras ligadas ao comércio do Vinho do Porto. Destacam-se os mausoléus do
cônsul John Whitehead, bem no meio do espaço, de Feuherheard, de Eduardo Moser,
Kebe, Jebb e Brindle e as pequenas estelas do barão de Forrester e da família
Katzenstein.
Cemitério dos
Ingleses ou dos Protestantes
“A planta redonda
de Balck (1813) mostra-nos o local do cemitério inglês, junto da rua da Boa
Nova. Por isso se chamava então, ao largo fronteiro, o Largo dos Ingleses,
também denominado de Campo Pequeno, nome que se encontra na planta de
Costa Lima, de 1839. Todos estes terrenos - incluindo a Rua do Campo Pequeno,
eram do senhorio directo da Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, que em 1839
litigava sobre foros o negociante Inglês João Wije. A nação britânica tinha
pois, aí a sua capela e o seu cemitério. Aí possuía também, à roda de 1835, uma
belíssima propriedade, outro negociante Inglês o bibliófilo Gubian. Um século
depois, 1936, edificou-se nela, por notável acção perseverante do Dr. Alfredo
de Magalhães, e sob o risco do arquitecto francês George Épitaux, a Maternidade
de Júlio Dinis, o que levou a Câmara a eliminar o topónimo Campo Pequeno,
substituindo-o por Largo da Maternidade Júlio Dinis e Rua da Maternidade.”
In Toponímia Portuense
de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas.
No início do século
XX, uma igreja anglicana haveria de se destacar na cidade. Tratou-se da
Associação Cristã da Mocidade.
ACM, na Rua José
Falcão, 95 (antiga Rua D. Carlos)
A viatura que vai a
passar na rua é um “Austin Seven”, cuja produção decorreu entre os anos de 1922
e 1939.
A foto será da
década de 1930.
Edifício da ACM,
actualmente – Fonte: Google maps
O edifício está
classificado há alguns anos, como Património Artístico e Arquitectónico pela
Câmara do Porto e, onde antes se instalou a Associação Cristã da Mocidade, a
partir de 2009, passou a funcionar (mantendo as divisões e pormenores
arquitectónicos originais) um ateliê de alfaiataria artesanal para as elites
nacionais e estrangeiras.
“Quem foi "José Falcão":
José Joaquim Pereira Falcão
(Miranda do Corvo 1/06/1841 - Coimbra
14/01/1893)
Professor de mecânica celeste e astronomia.
Propagandista republicano, autor da Cartilha do Povo, de 1884. Chega a
proclamar, num artigo publicado em 5 de Maio de 1891: se a Monarquia nos pode
salvar, que nos salve: o nosso alvo é o país, e não o sistema”.
Cortesia de
“ruasdoporto.blogspot.com/”
Pedido de licença de
construção – Fonte: AHMP
O Prédio alvo da
nossa atenção foi mandado construir por Henrique Maxwell Wright, em 1903,
obtendo a licença nº 174/1903.
Desenho do alçado da
frente integrante do processo de licenciamento de construção do prédio situado
na Rua D. Carlos I, nº 95 – Fonte: AHMP
Nova fachada para a
qual foi solicitada, em 1904, a devida autorização de alteração - AHMP
Henrique Maxwell
Wright (Lisboa, 1849 – Porto, 1931).
Tendo-se dedicado ao
comércio que exerceu em Inglaterra, acabou aí, por dedicar a sua vida à igreja
anglicana, como pregador do evangelho.
Wright e a sua
esposa Ellen fixaram residência e sede de trabalho na cidade do Porto, e
construíram, então, o famoso salão evangélico da A.C.M. - Associação Cristã da
Mocidade, inaugurado em 1905.
Em 1909, a 27 de
Julho, José Augusto Proença abriria naquelas instalações um curso de esperanto.
Wright foi também um
reconhecido escritor de hinos cristãos do século XIX, que interpretava na
perfeição.
Wright está
sepultado no Cemitério Britânico do Porto.
Metodistas
Igreja Evangélica Metodista do Mirante
Igreja do Mirante, situada no 1º andar do templo
A Igreja do Mirante,
situada no Largo do Mirante,
na actual Praça Coronel Pacheco, é o templo protestante mais antigo da cidade.
Pertence à Igreja metodista e abriu as portas em 1877.
A construção da Igreja do Mirante terá começado a ser pensada levantar, após 1868, mas só seria inaugurada em 25 de Março de 1877, sendo o terreno adquirido para o efeito em 1874.
“Naquela altura os portugueses não podiam abrir nenhuma igreja que não fosse católica. Os trabalhos tiveram que ser feitos todos por estrangeiros”.
Na construção da igreja vai ter um papel de relevo, Robert Moreton, cuja presença foi solicitada pela comunidade religiosa à Sociedade Missionária Metodista de Londres.
Em 1866, havia sido já inaugurada a capela metodista de Diogo Cassels, em V. N. de Gaia e com a comunidade em crescimento na cidade, Robert Moreton chegava para dar uma contribuição decisiva.
O templo do Largo do Mirante tem a particularidade de que o salão de culto se encontrar no 1º andar (em piso mais recatado), sendo que no piso térreo passaram a funcionar as escolas.
Aliás, no capítulo do ensino das primeiras letras e da alfabetização dos portuenses, as igrejas metodistas tiveram, naqueles tempos, um papel de relevo, só terminando esta actividade ligada ao ensino, após o 25 de Abril.
As acções sociais, a partir daí, viraram-se então para as creches, infantários, lares de idosos e Associações de Tempos Livres (ATL).
A construção da Igreja do Mirante terá começado a ser pensada levantar, após 1868, mas só seria inaugurada em 25 de Março de 1877, sendo o terreno adquirido para o efeito em 1874.
“Naquela altura os portugueses não podiam abrir nenhuma igreja que não fosse católica. Os trabalhos tiveram que ser feitos todos por estrangeiros”.
Na construção da igreja vai ter um papel de relevo, Robert Moreton, cuja presença foi solicitada pela comunidade religiosa à Sociedade Missionária Metodista de Londres.
Em 1866, havia sido já inaugurada a capela metodista de Diogo Cassels, em V. N. de Gaia e com a comunidade em crescimento na cidade, Robert Moreton chegava para dar uma contribuição decisiva.
O templo do Largo do Mirante tem a particularidade de que o salão de culto se encontrar no 1º andar (em piso mais recatado), sendo que no piso térreo passaram a funcionar as escolas.
Aliás, no capítulo do ensino das primeiras letras e da alfabetização dos portuenses, as igrejas metodistas tiveram, naqueles tempos, um papel de relevo, só terminando esta actividade ligada ao ensino, após o 25 de Abril.
As acções sociais, a partir daí, viraram-se então para as creches, infantários, lares de idosos e Associações de Tempos Livres (ATL).
Metodistas de Diogo
Cassels (Igreja e Escola do Torne)
A igreja onde se alojou esta confissão religiosa,
foi o primeiro edifício protestante a ser edificado no País, precisamente em V.
N. de Gaia, no lugar do Torne.
Esta igreja tem a sua origem mais remota na igreja
Anglicana, tendo-se, em 1880, juntado à episcopal Igreja Lusitana, na qual se
mantém até hoje.
O grande obreiro e fundador da congregação religiosa
subjacente foi Diogo Cassels (Massarelos, 3 de Novembro de 1844 – V. N. de
Gaia, 7 de Novembro de 1923), um teólogo, pedagogo e que se notabilizou pela
dedicação da sua vida a ajudar a libertar da pobreza, pela valorização das
pessoas através da instrução escolar e moral /religiosa.
Busto de Diogo Cassels no Jardim do Morro em V. N. de Gaia
Diogo Cassels, que era o primogénito de uma família numerosa
(contava seis irmãos e seis irmãs), nasceu em Massarelos, em 1844, filho de
John Cassels, (Castles).
Diogo Cassels,
“Foi criado na cidade
Porto e em Vila Nova de Gaia, seguindo mais tarde para Inglaterra onde estudou
no Colégio de Repton. Por falta de saúde, aos 14 anos, teve de abandonar o
colégio e regressar a Gaia, continuando depois durante algum tempo o estudo das
línguas inglesa, francesa, latina e grega, com professores particulares.
Obrigado a deixar os
estudos, ainda muito novo, para começar a trabalhar, a fim de auxiliar a
família, tornou-se mais tarde sócio da firma John Cassels ("John
Castles") fundada por seu pai. Em virtude da morte deste foi durante
alguns anos gerente da fábrica de estamparia da mesma sociedade, em Mafamude,
montada por seu pai. Este primeiro período da sua vida foi de intensa
actividade, teve de trabalhar com afinco, visto sua mãe e seus dez irmãos terem
ficado a seu cargo. Tempos depois, resolveu passar essa sociedade e dedicar-se
ao comércio, fundando a casa comercial James Cassels, no Porto, a qual ainda
hoje existe, apesar de ser dirigida por pessoas estranhas a sua família.
Quando tinha 24 anos
de idade, Diogo Cassels fundou a Escola do Torne, para as crianças das classes
pobres.
Em 1885 fez exame do
magistério na escola normal, no Porto, e em 1891 obteve o diploma de professor
de instrução secundária. Mais tarde, em 1901, com o produto dum seguro de vida,
fundou a Escola do Prado, leccionando e dirigindo ambas as escolas com
inexcedível dedicação e competência”.
Fonte: pt.wikipedia.org
Em 1866, Diogo Cassels, que substituiria o seu nome de James
pelo de Diogo, por se considerar um verdadeiro português, fundaria a Escola do
Torne, no lugar do Torne em V. N. de Gaia, cujas instalações se destinavam,
durante a semana, ao ensino de crianças de proveniências humildes e, ao Domingo,
a funcionar como uma igreja de culto protestante, fundado nas correntes
anglicanas.
Numa época em que as práticas dos tribunais ainda não
estavam de acordo com a lei vertida na Carta Constitucional, Diogo Cassels
acabaria por ser preso devido à sua actividade religiosa.
Acabaria por ser condenado a uma pena de deportação, mas seria
posteriormente ilibado pelo tribunal da Relação e prosseguiria aquela mesma
actividade, ampliando-a.
Entretanto, ao fim de alguns anos, dada a exiguidade das
instalações da Igreja e Escola do Torne, Diogo Cassels adquire um terreno
contíguo e acaba em 1894 por abrir um novo templo mais espaçoso, nas traseiras
do primitivo.
O que caracterizava a intervenção desta confissão religiosa
era uma outra actividade, que decorria paralelamente e que visava o ensino e,
que, só cessaria há pouco tempo, com a institucionalização da democracia e a
generalização da escolaridade obrigatória.
Muitos aprenderam a ler nas escolas adstritas às igrejas de
Diogo Cassels e ficariam também conhecidos, por serem dos melhores alunos que
se apresentavam a exame.
Foram aquelas escolas também percursoras do ensino feminino
e do ensino de adultos, numa época em que isso era novidade.
Os primeiros frequentadores das aulas nas escolas de Diogo
Cassels, seriam os filhos dos operários da estamparia que o pai tinha fundado
em Mafamude e da qual Diogo Cassels acabou por assumir a gestão.
Igreja e Escola do Torne na esquina da Avenida da República
e da Rua Diogo Cassels em V. N. de Gaia – Fonte: Google maps
Igreja e Escola do Torne em V. N. de Gaia – Ed. “livreeleal.blogspot.com”
Nova Igreja do Torne
O culto religioso associado a Diogo Cassels era, contudo, de
raízes portuguesas e assentava, ainda, em costumes e modos de viver, muito
nossos, pelo que, aquela igreja acabaria por ser designada, por Igreja
Lusitana.
Surgiriam, assim, novos espaços de culto e de ensino, com a
construção na Rua Visconde de Bóbeda, no Porto, da Igreja Lusitana do Redentor
em 1885 e da Igreja do Prado em V. N. de Gaia sagrada em Maio de 1901, pelo
irmão de André Cassels, irmão de Diogo.
Igreja Lusitana do Redentor na Rua Visconde de Bóbeda no
Porto
Igreja e Escola do Prado – Fonte: “bibliografia.bnportugal.pt”
Igreja do Prado em V. N. de Gaia – Fonte: “arquivo.igreja-lusitana.org”
Igreja do Prado (Igreja Lusitana Católica Apostólica
Evangélica) na Rua Barão do Corvo, nº 691, V. N. de Gaia – Fonte: Google maps
Igreja Adventista
A Igreja Adventista fixou-se no Porto, em 1906, por
iniciativa de Ernesto Schwantes.
Em 1914, havia 20 membros adventistas no Porto e 41 em Lisboa. Em 1917, em Portugal, os adventistas eram 85.
O prédio, actual sede e templo, na cidade do Porto, sita na Rua Ferreira Cardoso, nº 103, foi o local ocupado anteriormente pelo Instituto de Cegos do Porto, até 1938, num outro para o qual seria solicitado à Câmara do Porto, a respectiva licença para obras no telhado, que obterá o nº 455/1912.
Em 1914, havia 20 membros adventistas no Porto e 41 em Lisboa. Em 1917, em Portugal, os adventistas eram 85.
O prédio, actual sede e templo, na cidade do Porto, sita na Rua Ferreira Cardoso, nº 103, foi o local ocupado anteriormente pelo Instituto de Cegos do Porto, até 1938, num outro para o qual seria solicitado à Câmara do Porto, a respectiva licença para obras no telhado, que obterá o nº 455/1912.
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