terça-feira, 8 de novembro de 2016

(Conclusão) - Actualização em 22/10/2018, 25/05/ e 13/06/2020








“A Sinagoga Kadoorie, também chamada Sinagoga Kadoorie - Mekor Haim ("Fonte de Vida") é a actual sinagoga e sede da comunidade Judaica do Porto, cujo nome oficial é Comunidade Israelita do Porto. A sua construção foi iniciada em 1929 tendo sido inaugurada em 1938. É a maior sinagoga da Península Ibérica. A sinagoga "Kadoorie – Mekor Haim", situa-se na Rua de Guerra Junqueiro.
A história da sinagoga Kadoorie está intrinsecamente ligada à história do seu fundador, capitão Artur Barros Basto, um oficial do exército português convertido ao Judaísmo. 
No início dos anos vinte do século passado existiam na cidade menos de vinte judeus asquenazim que, como não possuíam uma sinagoga não estavam organizados e tinham de se deslocar a Lisboa sempre que, por motivos religiosos, era necessário. 
Quando Barros Basto tomou conhecimento dessa realidade começou a pensar que a construção de uma sinagoga era necessária e, tomou iniciativa de, em 1923, registar oficialmente no Governo Civil do Porto a Comunidade Israelita do Porto. Em 1929, Barros Basto reuniu fundos que lhe permitiram comprar o local onde viria a nova sinagoga a ser construída, adquirindo assim um terreno na rua de Guerra Junqueiro. 
A obra decorreu lentamente até 1933, devido aos elevados custos e aos fundos limitados do seu fundador e da comunidade. 
Nesse ano, Laura Kadoorie, a esposa do filantropo judeu de origem iraquiana, Sir Elly Kadoorie faleceu, e os filhos viram nessa infeliz situação a necessidade de homenagearem a sua mãe, descendente de judeus portugueses que abandonaram o país devido à inquisição. Essa homenagem foi materializada no apoio monetário da família Kadoorie à construção de grande parte da Sinagoga do Porto, que passou assim a chamar-se “Sinagoga Kadoorie – Mekor Haim".
Fonte: Wikipédia


Em 2015, era inaugurado o Museu Judaico do Porto, aproveitando instalações na sinagoga.
Entretanto, em Janeiro de 2021, seria inaugurado, na Rua do Campo Alegre, nº 790, no Porto, o Museu do Holocausto sob a gestão da Comunidade Judaica do Porto (CJP), passando a ser o “primeiro” museu do género, na Península Ibérica.








Os judeus tiveram grande importância na história da cidade. Já desde antes do início da nacionalidade há memória da existência de judeus no Porto. Viviam na denominada Cerca da Cividade ou Cerca Velha, na Judiaria Velha, juntamente com os cristãos e tinham sinagoga na antiga Rua das Aldas agora denominada Rua de Sant’Ana.
Chega-se a esta conclusão lendo o testamento do bispo D. Afonso Pires de Soveral. Nesse documento, o prelado lega à mesa capitular, ou seja aos cónegos da Sé, "umas casas que possui na Rua das Aldas (a atual Rua de Santana) que vai para a sinagoga".
Ora, a sinagoga estava onde estava a comunidade judaica. 
Em 1350 os judeus já tinham abandonado a Cividade e, no local da sinagoga, funcionava então, a Confraria do Presépio.
Também habitaram na Ribeira (Rua dos Mercadores e periferia da Praça da Ribeira), Miragaia (na Rua da Munhota) e em Monchique.




À esquerda fora das muralhas, o Monte dos Judeus

 

Em Miragaia, os judeus congregavam-se em torno de um oratório que funcionava numa casa de um só pavimento, propriedade de Lourenço Peres, marinheiro que vivia na Rua da Munhota próximo da actual Rua do Comércio do Porto.
Foi, no entanto, no local de Monchique que formaram uma comunidade com Sinagoga e cemitério próprio, pois não era permitido sepultá-los junto dos cristãos. Daí o nome, ainda hoje conhecido, por Monte de Judeus, na zona onde mais tarde se construiu o Convento de Monchique, fundado em 1533 por Pero da Cunha Coutinho.
A palavra Monchi­que tem origem em "montjuich" que, por sua vez, deriva de "mons judaeorum" que significa monte dos judeus.
Segundo outras opiniões Monchique  deriva de ”monte-chico”, monte pequeno.
Foi em Monchique, sítio do bairro de Mi­ragaia no Porto, que viveu a comunidade judaica antes de ser transferida para jun­to da porta do Olival. 
Foi o rei D. Dinis que tendo desenvolvido uma política favorável aos judeus que deu permissão de construírem uma sinagoga em Monchique.
Sabe-se então, que durante o século XIII os judeus tinham uma "casa de oração" na antiga Rua das Aldas, hoje Rua de Santana. Daqui transferiram-se para a zona da Munhota, junto a S. Francisco.
Só depois foram para a zona de Monchique.




Convento de Monchique e Palácio de Cristal vistos de Gaia em 1869




D. João I, em 1386, determinou a concentração da comunidade judaica, num local restrito dentro das muralhas, perto da Porta do Olival, no local chamado de Couvelas, hoje a área da Rua de S. Bento da Vitória, Escadas da Esnoga, Rua da Vitória e Rua de S. Miguel, até à Viela do Ferraz. Este local era fechado por dois portões, um na entrada da Rua de S. Bento da Vitória e outro no final das escadas da Esnoga.
Esnoga é uma corruptela da palavra Sinagoga.
Nesse local foi construída uma sinagoga, casa de culto dos judeus onde hoje se encontra a Igreja Paroquial da Vitória.



“Aos judeus, segundo se pode ler nas atas das vereações do ano de 1451, era-lhes permitido "armarem as suas tendas" nos locais para tal determinados e nelas poderem vender "pimenta, açafrão, cominhos, canela, açúcar e tantas outras cousas de comer".
Aos judeus que se convertessem "à nossa santa fé" eram-lhes concedidos certos privilégios como o de "não pagarem fintas (um tipo de imposto extraordinário) ou qualquer outro tributo que os concelhos costumavam lançar".
Foi com base nesta disposição que em 18 de Agosto de 1484, um tal Nuno Fernandes e uma Catarina Afonso, judeus convertidos e estalajadeiros à Porta do Olival, escreveram à Câmara solicitando "que por Deus e por mercê" os aliviassem da finta lançada para o pagamento das despesas que haviam sido feitas com a visita do rei, da rainha e dos príncipes. A Câmara aceitou e atendeu o pedido.
Mas também acontecia o contrário. Uma vereação portuense em reunião subsequente determinou que seriam multados com a pena de 500 libras (muito dinheiro para a época) os judeus ou judias "que em suas lojas, fora das judiarias, fizessem trabalhos proíbidos aos domingos ou vendessem géneros que não fossem alimentos”".
Fonte: Germano Silva In cadernosdalibania.blogspot



Os judeus não podiam circular na cidade após o “toque de correr”. O sino responsável por esse toque esteve perto da Sé e nos fins do século XIV, foi transferido para a Porta do Olival.
Em 1588 fez o percurso inverso sendo conhecido por “Sino de Correr”.
Este sino serviria para com vários toques avisar a população.
Assim, havia um primeiro toque e que soava às ave-marias e era um convite à oração quando o sol começava a declinar no horizonte.
Meia hora depois daquele soava um outro, às oito no inverno, para recolher. Apagavam-se as luzes e fechavam-se as tabernas e os lugares públicos.
O terceiro toque surgia já de noite e à terceira e última badalada cessava todo o trabalho e os mouros e judeus recolhiam a suas casas apressadamente sob o risco de pagarem pesadas multas se andassem na via pública.
Além do Sino de Correr havia um outro, o “Sino do Relógio” que em 1401 estava também numa das torres da Sé. Este sino dava as horas ao longo do dia.
Houve também, no velho burgo, um sino com uma denominação, no mínimo, curiosa e com uma não menos curiosa fi­nalidade. O povo denominava-o "o sino dos garotos". Estava, ao que parece, numa das torres da Sé e era tangido, unicamen­te, para convocar o povo a revoltar-se con­tra as prepotências, viessem elas do bispo ou do rei. 
Para os judeus o Sino de Correr, tocava de forma rápida, por 3 vezes, à hora de recolher.
Às mulheres cristãs era proibida a entrada nas judiarias, a menos que, sendo casadas, fossem acompanhadas por dois homens ou por um, no caso de serem viú­vas ou solteiras. Estas disposi­ções tinham como objetivo im­pedir que houvesse relações en­tre indivíduos das duas crenças. 
Também os judeus não podiam entrar sozinhos em lar de mulher cristã, salvo se a visita fosse feita na qualidade "de físi­co ou cirurgião; ou alfaiate ou dobadores de roupa velha; ou te­celões, pedreiros e carpinteiros; e obreiros e braceiros de outros ofícios que pela sua natureza não possam ser feitos por outras pessoas"
Uma outra singular obrigação que era imposta aos judeus da comuna do Olival era esta: sem­pre que o rei vinha de visita ao burgo os judeus eram obrigados a "irem recebê-lo fora do lugar com danças e folias e suas tourinhas (rolos de pergaminho em que estava escrito o Pentateuco) encostadas ao peito como que a jurar-lhe fidelidade"
Em 1496 a vasta judiaria do Olival despovoou-se. Em 5 de dezembro daquele ano, o rei D. Manuel I ordenou à Câmara do Porto que intimasse os judeus a abandonar o local onde esta­vam desde 1386, recomendan­do, no entanto, que os deixassem sair em paz.
Os que se converteram ao cristianismo foram chamados de Cristãos Novos. 
Na História do Porto coordenada por Oliveira Ramos lê-se a seguinte passagem:

“Os judeus do Porto foram uma comunidade bem organizada social, religiosa e politicamente, rica em cultura, sociabilidade e dinheiro, sem dúvida importante na história da cidade… relativamente a ela a sociedade cristã tripeira parece ter-se comportado de modo aceitante e compreensivo. Pelo menos, tolerante.” 








Por outro lado, de um artigo de Pedro Olavo Simões, no JN, retivemos o seguinte resumo:

“A historiadora Elvira Mea, professora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), anda há dois anos a lançar alertas para a existência, no nº 9 da Rua de S. Miguel, de um “Ehal” (nicho onde são guardados os rolos da Torah, a Lei atribuída a Moisés), que tem o especial valor de ter sido feito depois da expulsão/conversão forçada dos judeus em 1496/97, por D. Manuel. Trata-se de uma sinagoga clandestina, que constituía “uma afronta total à situação de Contra-Reforma”. Para mais, além da tipologia da casa (uma entrada por trás, discreta, na Rua da Vitória), característica do culto clandestino, a documentação, designadamente da Inquisição, dá conta da existência, nas imediações, de casas de jogo, que os cristãos-novos usavam como elementos distractivos.
Elvira Mea, que diz ter contactado o IPPAR, o Governo, a Câmara do Porto e o Governo Civil (a única entidade que mostrou interesse), nota, ainda, que o achado faz luz sobre a obra “Nomologia…” (Amsterdão, 1629), de Imanuel Aboab, em que o autor diz ter visto a sinagoga, na sua meninice, algo que a ausência de vestígios materiais tornava duvidoso. A importância do “Ehal” é ainda maior, atendendo à falta de vestígios materiais da presença judaica no Porto, designadamente na zona do Olival, hoje Vitória, onde esteve a última judiaria da cidade. A localização da sinagoga na rua que agora é da Vitória, e não na de S. Miguel, é corroborada por escritos de historiadores como Geraldo Coelho Dias”. 



Casa nº 9, na Rua S. Miguel



Ainda sobre a sinagoga e a sua localização, D. Rodrigo da Cunha, arcebispo de Lisboa e historiador escreveu, em 1623, que abaixo da igreja de Nossa Senhora da Vitória tinha estado, em tempos, uma sinagoga numa rua com o nome de Viela da Esnoga, que foi substituída por uma capela dedicada a S. Roque e que, mais tarde, foi incorporada numas casas da dita viela.
Um nicho com a imagem de S. Roque existente numa casa dessa viela, segundo a opinião de Alexandre Herculano, poderá dizer respeito, de facto, àquela capela.




À esquerda da igreja da Vitória, na década de 1870, o prédio onde esteve a Casa Bancária Casaes & Filhos




Edifício onde funcionou a Casa Bancária Casaes & Filhos



No edifício da foto anterior, no Largo da Bateria da Vitória funcionou a Casa Bancária Casaes & Filhos, liquidada em 1895. Foi fundada nos meados do século XIX pelo cidadão espanhol D. José Rodrigues Casaes, a quem foi dado, anos mais tarde, pelo Governo do seu país, o título de visconde da Penna. No Porto, ainda antes da unificação da Itália, José Casaes desempenhou o cargo de cônsul dos antigos Estados Pontifícios.



Escadas da Esnoga ou da Vitória



As escadas apresentadas na foto acima, com ante-projecto de 1877 (engenheiro Agnello José Moreira), substituíram umas outras, em que um dos lanços seguia mais pela direita, no local ocupado pelo muro de suporte, aquando de uma melhoria de traçado da Rua de S. Roque (Rua da Vitória).
No desenvolvi­mento urbanístico da colina do Olival contou muito o aproveitamento do antigo campo das Barreiras e o campo dos Besteiros, nomes dados ao sítio por onde, anos mais tarde, viria a ser rasgada a Rua da Vitória dos nossos dias. No século XVI ainda por aqui havia oficinas de coronheiros e era também neste espaço que os besteiros, soldados que usavam a besta, se treinavam no uso daquela eficaz arma de guerra dos tempos medievais.





Na Rota dos Judeus do Porto I


“Podemos dizer com bastante margem de segurança que a vivência das comunidades judaicas em Portugal foi pacífica até 1492. Se compararmos com as atribulações que os judeus sentiram noutras paragens europeias, a sua vida no território português foi mesmo uma excepção, tolerados e até protegidos, a sua quota-parte para o crescimento económico e científico era reconhecido pelos poderes régios que sentiam que os filhos de Israel eram fundamentais para a afirmação de Portugal. 
Com a expulsão decretada por D. Manuel I em 1496 e o baptismo a que foram forçados no ano seguinte, aquele número decaiu de uma forma vertiginosa e no tempo da Inquisição, que tinha sido instalada em Portugal no ano de 1536, já no reinado de D. João III, oficialmente já não havia judeus em Portugal. 
As primeiras comunidades judaicas terão chegado ao território que é hoje Portugal integradas nas navegações fenícias. 
O mais antigo espaço físico que o Porto judaico conheceu ficava no Bairro da Sé. Naturalmente, foi aqui que a grande aventura do Porto começou. Há registos que nos dizem que no tempo do Bispo Afonso Pires a sinagoga ficava na actual Rua de Santana, que na época se chamava Rua das Aldas (também tinha sido chamada de Rua da Sinagoga). Nada existe do ponto de vista arqueológico… Seria um edifício que servia de templo aos artesãos e comerciantes judeus. Mas, no tempo de D. Afonso V, a judiaria já iria até à Rua Chã, antiga Rua Chã das Eiras. 
De qualquer forma, é importante esclarecer que uma sinagoga pode existir em qualquer habitação que contenha um Sefer Torá e onde se juntem dez judeus adultos. E, nesta perspectiva, não é difícil supor que muitas foram as sinagogas que naquela época existiram na zona. 
Também há registos da existência de judeus na Rua Escura, antiga Rua Nova. 
Mas, apesar de a vida dos judeus, e em comparação com as dos seus irmãos de outras partes da Europa, ser de relativa tranquilidade, não se pense que era fácil. De todo. Havia sobre eles toda uma carga de imposto que lhes sobrecarregava os rendimentos. Os judeus pagavam, entre outros impostos, o Genesim, imposto pago para poderem ouvir os seus sábios da lei explicar o Pentateuco. Pagavam a Judenga (ou Juderega), uma contribuição de trinta dinheiros, uma humilhação para lhes fazer lembrar os 30 dinheiros que Judas recebeu para atraiçoar Cristo! Pagavam ainda o Arabiado, imposto pago à coroa. 
Depois de D. Afonso IV, todo o judeu que ganhasse mais de 500 libras ficou impedido de se ausentar do reino sem licença régia. 
Posteriormente, os judeus foram descendo na topografia da Sé e vamos encontrá-los (especialmente os mais abastados), com as suas tendas, na Praça da Ribeira. Mas, em 1350, já não estavam na Cividade. Para onde foram?” 
Texto em parte, com a devida vénia ao historiador César Santos Silva




Zona da Munhota e Judiaria do Olival 


Da zona da Sé passou a comunidade judaica para junto do Postigo dos Banhos (destruído quando se rasgou a Rua Nova da Alfândega), da Praça do Infante, Largo de S. Domingos, Rua de Belmonte e da Rua da Munhota, que por vezes também aparece por vezes grafada Minhota e depois passaram para Monchique.
Em 1386, D. João I solicitou à Câmara do Porto que instalasse os judeus dentro dos muros da cidade. 
Passaram então a viver na Judiaria do Olival.

“Mas, antes de avançarmos, uma correcção a uma “inverdade” que por ser várias vezes repetida passa a verdade. Judiaria e Comuna não são palavras sinónimas. Judiaria é o espaço dentro de uma dada cidade, que pode ser uma rua, ou várias, onde estão confinados os judeus. Comuna é por assim dizer o agrupamento moral, a comunidade de todos os judeus. Uma comuna pode ter mais do que uma judiaria e para haver comuna tem que existir pelo menos dez judeus, homens, adultos. A partir dos treze anos e desde que faça o seu Bar Mitsvah, um jovem já conta para aquele número. 
Não deve ter sido fácil para os judeus a vinda para o Olival. Nas judiarias anteriores os judeus estavam mais próximos do rio, dos negócios mercantis e dos hábitos que criaram. Mas, como povo prático que eram, rapidamente se devem ter habituado ao novo lugar. 
Toda a sua vida social e judicial estava organizada. Os judeus tinham representantes junto do rei. Um rabi mor, um ouvidor que o auxiliava, além disso tinham ainda um chanceler e um escrivão. 
Mas a vinda para o morro da Vitória deveu-se às cautelas do monarca. As guerras com Castela eram um facto e esta era uma forma de proteger os hebreus, mesmo que fosse a contragosto destes. 
Estava a nascer a Judiaria Nova (a última). Tinha cerca de dois hectares de área. Aqui os judeus viveram durante mais de um século e foi executada por eles uma notável obra de urbanismo. Comparada com o resto da cidade, um dédalo de ruelas, estreitas, íngremes, escuras, a judiaria era bem arejada, com arruamentos largos, simétricos, uma nova realidade urbanística. Podemos dizer que foi o primeiro condomínio fechado da cidade.
Aliás, os investigadores Manuel Luís Real e Rui Tavares consideram o Olival e a judiaria aqui criada “um fenómeno de loteamento urbano, nos alvores do século XV, talvez o primeiro na verdadeira acepção da palavra, cujo impacto na caracterização daquele espaço citadino nunca chegou a ser devidamente salientado”. 
No seu auge, viviam aqui adeleiros, algibebes, alfaiates, médicos, sapateiros, ourives, mercadores, feirantes. Vivia também o ouvidor dos judeus da região de entre Douro e Minho e o oficial encarregue das comunas. 



Rua de S. Miguel 

A mais importante artéria da Judiaria do Olival era sem sombra de dúvida a Rua de S. Miguel. Outrora chamada de Rua da Judiaria Nova do Olival, depois Rua da Judiaria Nova, a Rua de S. Bento da Vitória foi, antes da vinda dos beneditinos para este lado da cidade, chamada também de Rua de S. Miguel. Dada a topografia do lugar, era à altura um arruamento em forma de L.
Estamos no coração do antigo bairro judeu. Apesar de as casas não apresentarem nenhuma coerência arquitectónica e estarem muitas delas degradadas, podemos ver aqui imóveis dos séculos XVI, XVII e XVIII. Aqui viveu Uriel, ou Urgel da Costa, nome cimeiro do Porto judaico, médico que teve de ir para Amesterdão aquando da saída forçada dos judeus. 
Num edifício do número 9 (teria sido aqui que viveu Uriel da Costa?), recentemente recuperado, albergando hoje um centro de dia, foi descoberto um pequeno Aron Kodesh (ou Ehal). Uma Arca Sagrada, que contém os rolos da Lei. Esta ideia não é totalmente pacífica, havendo quem diga que se trata apenas de um armário oitocentista, com o actual rabino do Porto, Daniel Litvak, a expressar “muitas dúvidas” sobre o caso. 
Aquando da descoberta, algumas vozes levantaram a hipótese de ter sido aqui a Sinagoga, mas alguns especialistas acham a ideia algo exagerada. Seria “apenas” uma casa habitada por uma família judaica, que aqui escondia os símbolos da sua religião, dizem.
Após a expulsão dos judeus de Castela, em 1492, vieram para esta judiaria cerca de 30 famílias, a quem foram aforadas casas na Rua de S. Miguel. 
Não sabemos onde terá sido a sinagoga castelhana, ficaria talvez numa das casas que foram arrendadas a estes judeus. Este acontecimento histórico é-nos relatado pelo médico Immanuel Aboab, na sua obra “ Nomologia”, onde também cita a localização da sinagoga “entre a Rua de S. Miguel e de S. Roque”, a actual Rua da Vitória. Para poderem viver ali, os judeus tiveram que pagar impostos de portagem, de açougue. Por tudo isto, anualmente eram onerados em 200 maravedis. 



Escadas da Vitória 

A 160 metros da Rua das Taipas caminhando na rua da Vitória metros encontramos as antigas Escadas da Esnoga. A palavra esnoga é uma corrupção da palavra sinagoga, ficaria por aqui a Sinagoga… 
Desde Querubino Lagoa, passando por Alexandre Herculano, Arnaldo Gama, Firmino Pereira, Rebelo da Costa e o Dr. Pedro Vitorino, todos foram peremptórios em afirmar que a Sinagoga ficava onde hoje está a Igreja Paroquial da Vitória. Mas D. Rodrigo da Cunha, diz, em 1623, no seu “Catálogo dos Bispos do Porto”, que “por baixo logo da dita Igreja da Nossa Senhora da Vitória estivera situada a Sinagoga em uma rua ou travessa que em memória disso ainda conserva o nome de Viela da Esnoga, corruptela de Sinagoga, que ficou convertida numa capela de invocação a S. Roque…”. 
Talvez nunca venhamos a saber onde ficava de facto a sinagoga. 


Na Rota dos Judeus do Porto II


Em 1424 dá-se um episódio que merece ser narrado. O Cabido da Sé do Porto lança um imposto que incidia sobre o açougue. Esta situação, o usufruto de um açougue, não é questão de somenos para os judeus. Aliás é um dos elementos centrais da sua religião. 
Os animais que são consumidos pelos judeus têm que ser puros – o livro bíblico Levítico prescreve as condições em que a degola tem que ocorrer. 
São proibidos, por serem impuros, todos os quadrúpedes que ruminem mas que não tenham a unha fendida ou que tenham uma unha fendida mas não ruminem. Estão neste caso o porco, o coelho, a lebre, etc. Existem ainda mais de vinte aves, especialmente de rapina e nocturnas que também são impuras. Deve-se acrescentar a esta lista alguns animais, aves aquáticas. São permitidos na cozinha judaica todos os peixes com guelras e barbatanas. 
O sangue dos animais também é vedado, por acharem que o sangue é o centro vital e quem consome esse sangue estaria a ser conspurcado pela animalidade, daqueles. 
A morte do animal deve ser executada rapidamente por um Shochet, talhante profissional e ser sangrado. 
Perante esta realidade, já percebemos melhor por que precisam os judeus da licença para poder ter açougue próprio e por que razão, não ripostaram muito, aquando do lançamento do citado imposto por parte do poder religioso. 
Graças à sua sagacidade e tenacidade, os judeus tentaram por outras formas adiar o pagamento, mas sem sucesso. 
Voltando à geografia da judiaria – que tinha que ser discreta, pois não convinha ser mais alta que o mais próximo templo católico – as lojas dos judeus dedicados ao comércio ficariam na parte da judiaria mais próxima do Largo de S. Domingos. É o largo que se encontra no final das Escadas da Vitória, virando para a esquerda, quem desce as escadas. 
Em que espaço de facto estavam os judeus confinados? 
Os limites eram: 
Rua de S. Bento da Vitória, onde havia uma porta que fechava à noite, Rua de S. Miguel, Rua da Vitória, até à Travessa do Ferraz, Escadas da Vitória, antigas Escadas da Esnoga, aqui também existia uma porta, Rua de Belomonte e Rua das Taipas. 
As portas citadas eram de ferro maciço, lavradas e enriquecidas com heráldica hebraica.  Após a vinda para aqui, a Judiaria da Munhota, e depois da breve passagem, seis anos, pela zona de Monchique, passou a chamar-se Judiaria Velha ou Judiaria de Baixo. 
Mas não se julgue que os impostos especiais, que sobre a comunidade eram lançados, eram os únicos (e já não eram poucos) deveres que os judeus deveriam cumprir. 
De todo. Existiam uma série de obrigações que os judeus deveriam cumprir. Assim tinham que respeitar os seguintes preceitos: 
À noite, ao toque da Trindade, os judeus que estivessem fora da judiaria eram obrigados a recolher-se a esta e os cristãos eram obrigados a fazer o sentido inverso. 
Usarem uma estrela de seis pontas, mas não eram obrigados a usar roupa própria. 
Quando o rei visitava a cidade os judeus eram obrigados a virem recebê-lo com festança e com um pergaminho onde estava escrito o Pentateuco, encostado ao peito como prova de devoção ao rei. 
O judeu, ou judia, que tivesse ligações íntimas com cristãos era condenado à forca. Eram abertas excepções a possíveis violações ou em caso de ignorância mútua das religiões de cada um. De notar, que este castigo, também incidia sobre os cristãos apanhados em intimidades com judeus/judias. 
Se as judiarias tivessem tabernas, os judeus não podiam frequentar as dos cristãos. 
Eram vedados aos judeus a possibilidade de terem criados cristãos. Mas, se trabalhassem terra aforada, era-lhes permitido contratar cristãos para os trabalhos no campo. 
Era vedada aos judeus a entrada em casa de mulher cristã, sem serem acompanhados por homem cristão. Se fosse em casa de mulher casada, a entrada só era permitida com a presença do marido. Quando fossem tratar de dívidas, só o poderiam fazer na presença de dois homens ou duas mulheres cristãs. Os negócios só podiam ser feitos na entrada da casa. 
Às mulheres cristãs também estava vedada a entrada sozinha nas lojas de judeus. As excepções a estas regras eram permitidas aos médicos, alfaiates, carpinteiros, cardadores, ou qualquer mister que obrigasse a alguma demora. 
Era-lhes vedada a compra de ouro ou prata sem autorização régia. 
Mas existiam um conjunto de excepções e condições que tornavam estas regras, algumas bem humilhantes, suportáveis, assim: 
Era permitido ao judeu que viesse de fora entrar na judiaria fora da hora do toque do sino. 
Se chegasse muito tarde e a judiaria já estivesse fechada, podia pernoitar em estalagem cristã. 
Se viesse de barco podia ir directamente para a judiaria, independentemente das horas. 
Se andasse a cobrar rendas, impostos, sisas, para o rei, podia andar de noite, com a obrigação de andar acompanhado de um cristão. 
Existiam tribunais e juízes próprios para dirimir questões com os cristãos, o que mitigava alguma tentativa por parte destes de abusar do seu poder perante os judeus. 
As excepções criavam um quadro legal para tornar mais satisfatória a vida dos judeus e era uma atenuante às tentativas de usufruto do poder por parte dos cristãos sobre os judeus. 
Um facto ocorrido a 31 de Março de 1492 veio marcar a vida dos judeus portugueses. Os reis católicos Fernando de Aragão e Isabel de Castela ordenaram a expulsão dos judeus espanhóis num prazo de quatro meses. 
O inquisidor Torquemada, já antes da expulsão, tinha proibido o comércio entre cristãos e judeus. A decisão, foi um erro político, económico e cultural que Portugal pagou bem caro. 
Ao expulsar-se os judeus estava-se a expulsar o saber e o dinheiro. O mundo financeiro, os negócios, a ciência, o comércio, os misteres, a medicina, tudo isto se ressentiu da nova realidade. 
Depois da expulsão no Porto, os cristãos novos ocuparam a Praça da Ribeira e as suas adjacências, Rua da Fonte Taurina, Rua dos Mercadores, Largo de S. Domingos, etc… Aqui, contando com a conivência dos locais – “O dinheiro não tem cheiro” – tinham as suas tendas.
Segundo o Dr. Elvira Mea, um judeu abastado chamado Henrique Álvares, conseguiu a proeza de subornar o Inquisidor Geral. 
Conclusão… Somos um país de descendentes de muitos povos, entre os quais assumem particular relevo os judeus. Antes do édito da expulsão, existiam mais de 100 comunidades judaicas espalhadas pelo país. Depois do édito, grassaram os casamentos mistos e as misturas de sangue, de tal sorte que é possível dizer com certeza que corre hoje muito sangue judeu nas nossas veias. Os portugueses e, em particular, os portuenses, não são judeus, mas são descendentes de judeus.”
Texto em parte, com a devida vénia ao historiador César Santos Silva

Seguem-se alguns pontos de interesse da comunidade judaica na cidade:

1. Rua de Sant’Ana
Nesta rua localizou-se a primeira sinagoga;
2. Rua dos Mercadores
Para lá da primeira judiaria foi aqui que continuaram os judeus a expandir-se com as suas habitações e o seu comércio;
3. Praça da ribeira
Centro de negócios dos judeus mais abastados;
4. Rua da Munhota
Onde se localizou a segunda sinagoga;
5. Largo de S. Domingos
Aqui existiram boticas e espaços comerciais dos judeus;
6. Rua e Escadas da Vitória
Onde se localizou a sinagoga do Olival;
7. Passeio das Virtudes
Com vistas para o “Monte dos Judeus”, onde funcionou a sinagoga de Monchique e para o Horto das Virtudes, onde terá existido o cemitério judaico;
8. Rua de S. Miguel
Onde terá existido no nº 9 uma sinagoga secreta depois da expulsão;
9. Rua de S. Bento da Vitória
Onde existe placa evocativa da expulsão dos judeus;
10. Campo Mártires da Pátria
Local onde ocorreram 2 autos de fé;
11. Rua da Bandeirinha
Parte importante da antiga judiaria de Monchique;
12. Edifício Kandoorie na Rua Guerra Junqueiro nº 340
Sinagoga actual.




Igrejas Protestantes e Estruturas de Apoio a outras nacionalidades

Baptistas



Tabernáculo Baptista – Praça Mouzinho de Albuquerque 



Devido à presença de famílias inglesas e outras nacionalidades, na cidade do Porto, as Igrejas Protestantes pretenderam erigir os seus templos no Porto. Até ao liberalismo não foi possível fazê-lo.
Uma das mais numerosas dessas comunidades era a dos britânicos.
Até aí as cerimónias religiosas decorriam nas residências particulares, mas, após a construção da Feitoria Inglesa, elas transferiram-se para lá, e decorriam, no que era a sala de baile.
No séc. XIX e XX foram construídas várias igrejas, sobretudo depois de 1851. 
Na foto acima o Tabernáculo Baptista cuja construção recria uma arquitectura similar à do Tabernáculo Metropolitano de Londres. Foi financiada pelo comerciante inglês Joseph C. Jones e seria inaugurado em 13 de Fevereiro de 1916, com a presença entre outras personalidades de Bráulio F. Silva, D. Maria Matos, D. Alice Teles Mingot, Frederico Flower, Chas A. Swan e os corais das igrejas metodistas e Lusitana.
Aquela igreja tinha começado a ser organizada oficialmente em 20 de Dezembro de 1908,  numa casa sita na Rua de Requesende, em Ramalde.
Joseph C. Jones era um comerciante ligado ao vinho do Porto, cujo pai tinha sido um dos fundadores da Associação Comercial do Porto.


“(...) Curioso é também o facto deste troço da rua estar associada às origens históricas dos baptistas em Portugal. Confissão religiosa minoritária em Portugal (embora dominante em muitos outros países, como nos Estados Unidos da América) os baptistas, uma das primeiras expressões “protestantes” a implantar-se no nosso país, sediaram no início do século XX no nº 194 da Rua de Requesende  o Seminário Baptista Português, que aí funcionou durante vários anos”.
Fonte: Joel Cleto, in “joelcleto.no.comunidades.net”



Anglicanos

Esta comunidade, no que dizia respeito ao enterramento dos seus mortos até ao século XVIII, a colónia britânica do Porto procedia aos enterramentos nas margens do rio Douro, com a maré baixa, enquanto os católicos o faziam em solo de capelas e igrejas.
Estava vedada a possibilidade de enterramento nas capelas aos britânicos.
Grande parte da colónia inglesa vivia no Candal em Vila Nova Gaia.
Esse cemitério protestante era conhecido pela designação de Cemitério do Cavaco, e segundo o reverendo William Kimsey,
“…deixou de ser utilizado desde que os preconceitos se atenuaram o bastante para ser concedido um lugar de culto e um cemitério privativo, numa chã que se ergue a noroeste da cidade.”


De autor desconhecido o texto seguinte refere-se aos cemitérios dos protestantes na cidade do Porto:


“Os estrangeiros protestantes eram sepultados nas areias do Rio Douro ou da Foz, em maré baixa, ou num terreno em Gaia, na encosta do Cavaco junto ao rio. Desde 1716 aí se faziam sepultamentos, evidentemente, sem lápide ou qualquer tipo de identificação. Tal, deve-se à crença anglicana de que, depois da morte, não existe purgatório, não havendo por isso razão para rezar pelos mortos.
Mesmo passados quase quarenta anos e tendo o rei D. José I, decretado a construção de um cemitério protestante no Porto, os sepultamentos no lodo do rio continuaram por aparente obstinação da comunidade britânica. Apenas em 1785, o Cônsul John Whitehead, figura eminente no Porto, começou a dar andamento ao processo de compra do terreno: tratar-se-ia do primeiro cemitério ao ar livre do Porto. Obrigatoriamente murado, longe das muralhas da cidade, para que não chocasse a comunidade católica, aí se começaram a enterrar não só britânicos mas, ao longo do tempo, alemães e hanseáticos. O primeiro sepultamento assinalado com uma pedra datará de 1798, pertencendo este n.º 1 a Thomas Stafford, num cemitério geometricamente dividido em quatro talhões em cujo centro encontramos o monumento fúnebre a Whitehead”.


Depois de muitas negociações, em 1788, o cônsul John Whitehead conseguiu adquirir um terreno para a construção de um cemitério digno, com a condição de possuir uma cerca com altos muros.
Fica este cemitério, no Largo dos Ingleses ou Campo Pequeno, actual Largo da Maternidade Júlio Dinis.



Vista área da capela e cemitério da comunidade Anglicana – Fonte: Google maps



A partir de então foi possível também, ao fim de alguns anos de luta, erguer, dentro desse espaço murado, um templo de oração para servir a comunidade britânica e que hoje é a Igreja Anglicana de St. James, cujo edifício remonta a 1815.
Foi exigido na concepção deste templo, que ele deveria parecer uma casa, não possuir sinos, nem cruzes, nem pináculos e estar oculto atrás de muros.
Inicialmente a capela copiava as do salão de baile da Feitoria, sendo hoje um espaço muito mais amplo e, nas décadas de 20 e 30 do século passado, foi enriquecida com um grande conjunto de vitrais de santos, nomeadamente o de S. Jorge o padroeiro de Inglaterra e S. James (S. Tiago) a quem a igreja foi consagrada em 1843.
Em 1867 como resultado de várias intervenções (inclusive o levantar de um transepto) a capela torna-se uma verdadeira igreja.



Capela do cemitério dos ingleses 



Quanto ao cemitério, só a partir dos anos 20 do século XIX recebeu os seus primeiros monumentos.
Cemitério de cariz romântico, tem entre os seus ocupantes muitas das conhecidas famílias estrangeiras ligadas ao comércio do Vinho do Porto. Destacam-se os mausoléus do cônsul John Whitehead, bem no meio do espaço, de Feuherheard, de Eduardo Moser, Kebe, Jebb e Brindle e as pequenas estelas do barão de Forrester e da família Katzenstein.  



Cemitério dos Ingleses ou dos Protestantes



“A planta redonda de Balck (1813) mostra-nos o local do cemitério inglês, junto da rua da Boa Nova. Por isso se chamava então, ao largo fronteiro, o Largo dos Ingleses, também denominado de Campo Pequeno, nome que se encontra na planta de Costa Lima, de 1839. Todos estes terrenos - incluindo a Rua do Campo Pequeno, eram do senhorio directo da Colegiada de S. Martinho de Cedofeita, que em 1839 litigava sobre foros o negociante Inglês João Wije. A nação britânica tinha pois, aí a sua capela e o seu cemitério. Aí possuía também, à roda de 1835, uma belíssima propriedade, outro negociante Inglês o bibliófilo Gubian. Um século depois, 1936, edificou-se nela, por notável acção perseverante do Dr. Alfredo de Magalhães, e sob o risco do arquitecto francês George Épitaux, a Maternidade de Júlio Dinis, o que levou a Câmara a eliminar o topónimo Campo Pequeno, substituindo-o por Largo da Maternidade Júlio Dinis e Rua da Maternidade.” 
In Toponímia Portuense de Eugénio Andrea da Cunha e Freitas.



No início do século XX, uma igreja anglicana haveria de se destacar na cidade. Tratou-se da Associação Cristã da Mocidade.



ACM, na Rua José Falcão, 95 (antiga Rua D. Carlos)



A viatura que vai a passar na rua é um “Austin Seven”, cuja produção decorreu entre os anos de 1922 e 1939.
A foto será da década de 1930.



Edifício da ACM, actualmente – Fonte: Google maps



O edifício está classificado há alguns anos, como Património Artístico e Arquitectónico pela Câmara do Porto e, onde antes se instalou a Associação Cristã da Mocidade, a partir de 2009, passou a funcionar (mantendo as divisões e pormenores arquitectónicos originais) um ateliê de alfaiataria artesanal para as elites nacionais e estrangeiras.



“Quem foi "José Falcão":
José Joaquim Pereira Falcão
(Miranda do Corvo 1/06/1841 - Coimbra 14/01/1893)
Professor de mecânica celeste e astronomia. Propagandista republicano, autor da Cartilha do Povo, de 1884. Chega a proclamar, num artigo publicado em 5 de Maio de 1891: se a Monarquia nos pode salvar, que nos salve: o nosso alvo é o país, e não o sistema”.
Cortesia de “ruasdoporto.blogspot.com/”




Pedido de licença de construção – Fonte: AHMP



O Prédio alvo da nossa atenção foi mandado construir por Henrique Maxwell Wright, em 1903, obtendo a licença nº 174/1903.



Desenho do alçado da frente integrante do processo de licenciamento de construção do prédio situado na Rua D. Carlos I, nº 95 – Fonte: AHMP



Nova fachada para a qual foi solicitada, em 1904, a devida autorização de alteração - AHMP




Henrique Maxwell Wright (Lisboa, 1849 – Porto, 1931).
Tendo-se dedicado ao comércio que exerceu em Inglaterra, acabou aí, por dedicar a sua vida à igreja anglicana, como pregador do evangelho.
Wright e a sua esposa Ellen fixaram residência e sede de trabalho na cidade do Porto, e construíram, então, o famoso salão evangélico da A.C.M. - Associação Cristã da Mocidade, inaugurado em 1905.
Em 1909, a 27 de Julho, José Augusto Proença abriria naquelas instalações um curso de esperanto.
Wright foi também um reconhecido escritor de hinos cristãos do século XIX, que interpretava na perfeição.
Wright está sepultado no Cemitério Britânico do Porto.



Metodistas



Igreja Evangélica Metodista do Mirante





Igreja do Mirante, situada no 1º andar do templo



A Igreja do Mirante, situada no Largo do Mirante, na actual Praça Coronel Pacheco, é o templo protestante mais antigo da cidade. Pertence à Igreja metodista e abriu as portas em 1877.
A construção da Igreja do Mirante terá começado a ser pensada levantar, após 1868, mas só seria inaugurada em 25 de Março de 1877, sendo o terreno adquirido para o efeito em 1874.
“Naquela altura os portugueses não podiam abrir nenhuma igreja que não fosse católica. Os trabalhos tiveram que ser feitos todos por estrangeiros”.
Na construção da igreja vai ter um papel de relevo, Robert Moreton, cuja presença foi solicitada pela comunidade religiosa à Sociedade Missionária Metodista de Londres.
Em 1866, havia sido já inaugurada a capela metodista de Diogo Cassels, em V. N. de Gaia e com a comunidade em crescimento na cidade, Robert Moreton chegava para dar uma contribuição decisiva.
O templo do Largo do Mirante tem a particularidade de que o salão de culto se encontrar no 1º andar (em piso mais recatado), sendo que no piso térreo passaram a funcionar as escolas.
Aliás, no capítulo do ensino das primeiras letras e da alfabetização dos portuenses, as igrejas metodistas tiveram, naqueles tempos, um papel de relevo, só terminando esta actividade ligada ao ensino, após o 25 de Abril.
As acções sociais, a partir daí, viraram-se então para as creches, infantários, lares de idosos e Associações de Tempos Livres (ATL). 




Metodistas de Diogo Cassels (Igreja e Escola do Torne)

A igreja onde se alojou esta confissão religiosa, foi o primeiro edifício protestante a ser edificado no País, precisamente em V. N. de Gaia, no lugar do Torne.
Esta igreja tem a sua origem mais remota na igreja Anglicana, tendo-se, em 1880, juntado à episcopal Igreja Lusitana, na qual se mantém até hoje.
O grande obreiro e fundador da congregação religiosa subjacente foi Diogo Cassels (Massarelos, 3 de Novembro de 1844 – V. N. de Gaia, 7 de Novembro de 1923), um teólogo, pedagogo e que se notabilizou pela dedicação da sua vida a ajudar a libertar da pobreza, pela valorização das pessoas através da instrução escolar e moral /religiosa.



Busto de Diogo Cassels no Jardim do Morro em V. N. de Gaia



Diogo Cassels, que era o primogénito de uma família numerosa (contava seis irmãos e seis irmãs), nasceu em Massarelos, em 1844, filho de John Cassels, (Castles).
Diogo Cassels,

“Foi criado na cidade Porto e em Vila Nova de Gaia, seguindo mais tarde para Inglaterra onde estudou no Colégio de Repton. Por falta de saúde, aos 14 anos, teve de abandonar o colégio e regressar a Gaia, continuando depois durante algum tempo o estudo das línguas inglesa, francesa, latina e grega, com professores particulares.
Obrigado a deixar os estudos, ainda muito novo, para começar a trabalhar, a fim de auxiliar a família, tornou-se mais tarde sócio da firma John Cassels ("John Castles") fundada por seu pai. Em virtude da morte deste foi durante alguns anos gerente da fábrica de estamparia da mesma sociedade, em Mafamude, montada por seu pai. Este primeiro período da sua vida foi de intensa actividade, teve de trabalhar com afinco, visto sua mãe e seus dez irmãos terem ficado a seu cargo. Tempos depois, resolveu passar essa sociedade e dedicar-se ao comércio, fundando a casa comercial James Cassels, no Porto, a qual ainda hoje existe, apesar de ser dirigida por pessoas estranhas a sua família.
Quando tinha 24 anos de idade, Diogo Cassels fundou a Escola do Torne, para as crianças das classes pobres.
Em 1885 fez exame do magistério na escola normal, no Porto, e em 1891 obteve o diploma de professor de instrução secundária. Mais tarde, em 1901, com o produto dum seguro de vida, fundou a Escola do Prado, leccionando e dirigindo ambas as escolas com inexcedível dedicação e competência”.
Fonte: pt.wikipedia.org



Em 1866, Diogo Cassels, que substituiria o seu nome de James pelo de Diogo, por se considerar um verdadeiro português, fundaria a Escola do Torne, no lugar do Torne em V. N. de Gaia, cujas instalações se destinavam, durante a semana, ao ensino de crianças de proveniências humildes e, ao Domingo, a funcionar como uma igreja de culto protestante, fundado nas correntes anglicanas.
Numa época em que as práticas dos tribunais ainda não estavam de acordo com a lei vertida na Carta Constitucional, Diogo Cassels acabaria por ser preso devido à sua actividade religiosa.
Acabaria por ser condenado a uma pena de deportação, mas seria posteriormente ilibado pelo tribunal da Relação e prosseguiria aquela mesma actividade, ampliando-a.
Entretanto, ao fim de alguns anos, dada a exiguidade das instalações da Igreja e Escola do Torne, Diogo Cassels adquire um terreno contíguo e acaba em 1894 por abrir um novo templo mais espaçoso, nas traseiras do primitivo.
O que caracterizava a intervenção desta confissão religiosa era uma outra actividade, que decorria paralelamente e que visava o ensino e, que, só cessaria há pouco tempo, com a institucionalização da democracia e a generalização da escolaridade obrigatória.
Muitos aprenderam a ler nas escolas adstritas às igrejas de Diogo Cassels e ficariam também conhecidos, por serem dos melhores alunos que se apresentavam a exame.
Foram aquelas escolas também percursoras do ensino feminino e do ensino de adultos, numa época em que isso era novidade.
Os primeiros frequentadores das aulas nas escolas de Diogo Cassels, seriam os filhos dos operários da estamparia que o pai tinha fundado em Mafamude e da qual Diogo Cassels acabou por assumir a gestão.




Igreja e Escola do Torne na esquina da Avenida da República e da Rua Diogo Cassels em V. N. de Gaia – Fonte: Google maps



Igreja e Escola do Torne em V. N. de Gaia – Ed. “livreeleal.blogspot.com”



Nova Igreja do Torne



O culto religioso associado a Diogo Cassels era, contudo, de raízes portuguesas e assentava, ainda, em costumes e modos de viver, muito nossos, pelo que, aquela igreja acabaria por ser designada, por Igreja Lusitana.
Surgiriam, assim, novos espaços de culto e de ensino, com a construção na Rua Visconde de Bóbeda, no Porto, da Igreja Lusitana do Redentor em 1885 e da Igreja do Prado em V. N. de Gaia sagrada em Maio de 1901, pelo irmão de André Cassels, irmão de Diogo.



Igreja Lusitana do Redentor na Rua Visconde de Bóbeda no Porto




Igreja e Escola do Prado – Fonte: “bibliografia.bnportugal.pt”



Igreja do Prado em V. N. de Gaia – Fonte: “arquivo.igreja-lusitana.org”



Igreja do Prado (Igreja Lusitana Católica Apostólica Evangélica) na Rua Barão do Corvo, nº 691, V. N. de Gaia – Fonte: Google maps



Igreja Adventista
 
 
 
A Igreja Adventista fixou-se no Porto, em 1906, por iniciativa de Ernesto Schwantes.
Em 1914, havia 20 membros adventistas no Porto e 41 em Lisboa. Em 1917, em Portugal, os adventistas eram 85.
O prédio, actual sede e templo, na cidade do Porto, sita na Rua Ferreira Cardoso, nº 103, foi o local ocupado anteriormente pelo Instituto de Cegos do Porto, até 1938, num outro para o qual seria solicitado à Câmara do Porto, a respectiva licença  para obras no telhado, 
que obterá o nº 455/1912.


 
 

Sede da Igreja Adventista, na Rua Ferreira Cardoso








Sem comentários:

Enviar um comentário