Rua da Fonte Taurina - Largo do Terreiro - Rua da
Reboleira
Rua da Fonte
Taurina
É uma das ruas mais antigas do Porto (as primeiras
referências que sobre ela aparecem datam de 1296). Designada anteriormente por Rua
da Fonte Aurina ou Ourina tornou-se mais conhecida por
Rua da Fonte Taurina. Nela desemboca uma viela que conduz ao Postigo do Carvão.
Junto ao mesmo local, a caminho da Praça da Ribeira, havia na Idade Média uma
ponte de tábuas que permitia a passagem por cima do Rio da Vila.
Por essa razão já foi Rua da Ponte das Tábuas.
O Postigo do Carvão é o único postigo da cerca medieval
(existe uma inscrição com a data de 1348) que sobreviveu às demolições da
muralha efectuadas nos séculos XVIII e XIX; ligava o Cais da Estiva à Rua da
Fonte Taurina.
Largo do Terreiro
Descendo a Rua da Alfândega, chega-se ao Largo do Terreiro,
onde se encontra a Capela de Nossa Senhora da Piedade (também chamada de Nossa
Senhora da Piedade do Terreiro, do Terreiro, da Piedade do Cais ou ainda de
Nossa Senhora do Cais) e que foi construída no século XVII, no local em que
existia um hospital chamado de Hospital da Senhora do Cais.
Na frontaria, que mantém a sua autenticidade seiscentista,
pode ver-se um pequeno nicho com a imagem da Virgem, enquanto, que, no
interior, se destaca pelo seu interesse, o retábulo de talha dourada do último
terço do séc. XVIII (tendo existido um outro anterior da autoria do entalhador
João da Costa, datado de 1712).
No século XIX, após a demolição da Capela de Nossa Senhora
do Ó que se achava sobre a Porta da Ribeira, a imagem da Virgem com essa
invocação foi transferida para a Capela de Nossa Senhora da Piedade.
A festa de Nossa Senhora do Ó, realizada em Agosto, foi
reactivada em 1982; também recentemente, no último Domingo de Setembro faz-se
uma procissão à beira-rio, saindo para esse efeito as duas imagens da Virgem
(Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora do Ó) juntamente com a de S. José.
Rua da Reboleira
A Rua da Reboleira, cuja designação data dos séculos
XIII-XIV, é uma das mais típicas da zona ribeirinha da cidade, mantendo ainda o
traçado tipicamente medieval. Nela se conserva um núcleo significativo de casas
medievais, particularmente a nº 59, que apresenta uma estrutura de casa-torre.
Também na Reboleira podemos apreciar o perfil inconfundível das habitações
antigas do Porto, e constatar a durabilidade da aparentemente frágil técnica da
construção em tabique, que permitiu erguer, sobre um andar térreo em granito,
três ou quatro andares sobrepostos que sobreviveram até aos nossos dias.
Rua de Cima do
Muro - Cais da Estiva
A muralha dita "fernandina" foi iniciada em 1336,
no reinado de D. Afonso IV e concluída em 1374, sendo rei D. Fernando; daí a
sua designação. Num trajecto que podemos efectuar, a muralha (vinda das
Virtudes e correndo paralela às Escadas do Caminho Novo) ía da Porta Nova ou
Nobre (desaparecida em 1872), contornava a área do Muro dos Bacalhoeiros e
seguia pela beira-rio até aos Guindais, subindo em direcção ao Postigo de Santo
António do Penedo (que daria lugar em 1767/69 à chamada, Porta do Sol).
No perímetro apontado existiam, para além da Porta da
Ribeira (desaparecida em 1821), diversos postigos: Postigo dos Banhos, Postigo
do Pereira ou da Lingueta, Postigo do Carvão, Postigo do Peixe, Postigo do
Pelourinho, Postigo da Forca, Postigo da Madeira ou da Lada, Postigo da Areia
ou dos Tanoeiros.
Deve ainda mencionar-se a existência, para poente, do Cais
da Estiva, o principal ancoradouro da cidade até ao século XIX e que servia o
movimento da Alfândega e por essa razão ficava na sequência dela na direcção do
rio e também era conhecido por Cais do Terreiro ou do Terreiro do Trigo.
Muralha visível nas Escadas do Caminho Novo - Ed. Isabel
Silva
Cais da Estiva e Muro dos Bacalhoeiros c. 1910 - Ed. Arquivo
Histórico Municipal do Porto
Na foto acima temos uma vista parcial do Cais da Estiva e do
Muro dos Bacalhoeiros, com destaque para os edifícios do "Consulado do
Uruguai", filial da casa de penhores "Companhia de Crédito Agrícola
Industrial" e a casa de adubos "Abecassis (Irmãos) & Comp.".
O Muro dos Bacalhoeiros pode dizer-se que foi um troço da Rua de Cima do Muro que restou após a intervenção urbanística subjacente à construção da Alfândega Nova.
O Muro dos Bacalhoeiros pode dizer-se que foi um troço da Rua de Cima do Muro que restou após a intervenção urbanística subjacente à construção da Alfândega Nova.
Praça da Ribeira
A Praça da Ribeira foi o centro da actividade comercial da
cidade até ser substituída nestas funções pela Praça Nova, nos inícios do
século XIX. Daí toda a importância dada à sua valorização desde a época
medieval. A sua existência é, provavelmente, anterior ao século XIV. Tendo
ardido no século XV, foi posteriormente reconstruída.
Associado à Praça da Ribeira situada na foz do rio da Vila,
aparece referenciado nas inquirições gerais mandadas fazer por D. Afonso III
em 1258, o termo de Vila Baixa, para o conjunto habitacional que se desenvolvia
para poente.
“O desenvolvimento
urbano e populacional da zona ribeirinha começa, efetivamente, no século XIII,
quando os nossos reis tentam controlar aquela parte da cidade com o objetivo,
por de mais evidente, de acederem às pingues receitas que advinham do comércio
marítimo então já em grande e frutuosa expansão.
A população residente
da beira-rio aumentara de tal modo que em 1249 o bispo D. Julião Fernandes
obrigou o Cabido a nomear um capelão para a ermida de S. Nicolau (hoje igreja
paroquial) para ali administrar "as coisas espirituais", uma vez que
"nem toda a gente que ali vivia e trabalhava podia ir à Sé..."
Ora era a esta parte
ribeirinha do velho burgo, para cujo serviço espiritual o Cabido designara um
sacerdote, que se dava o nome de Vila Baixa. Ali, à beira do rio, construíam-se
cada vez mais casas, com suas courelas. Abaixo delas, isto é, para as bandas do
rio, havia tendas e varais para a seca do peixe.
Nas citadas
inquirições alude-se também à existência da Vila Portus, uma outra povoação que
estudos posteriores localizam nas imediações de Miragaia, numa das margens do
rio Frio que, como se sabe, desce lá do alto do Carregal e atravessa,
devidamente encanado, o bairro de Miragaia desaguando no rio Douro debaixo do
edifício do Museu dos Transportes e Comunicações”.
Voltando à Vila Baixa.
Artur de Magalhães Basto acha que não se tratava de uma povoação à parte da
cidade, mas sim da parte baixa do velho burgo, ou seja a zona populosa da
margem direita do rio Douro entre o sítio da atual praça da Ribeira e o bairro
de Miragaia que começava a crescer.
A partir do século
XIV, duas Iniciativas reais estão na origem de uma brusca aceleração do
desenvolvimento urbanístico da beira-rio: a construção da alfândega em 1325 em
terrenos que D. Afonso IV comprara relativamente perto da ermida de S. Nicolau;
e o começo, em 1334, das obras para a construção do muro de defesa da cidade,
que passaria à história com o nome de muralha fernandina.
Quem, em meados do
século XVI descesse a íngreme Rua dos Mercadores, lá ao fundo, à mão direita, topava
com os cobertos da Ribeira. A praça, como centro fulcral de uma intensa
atividade mercantil, devia vir dos tempos medievos. Num documento de 1497, já
ao findar do século XV, consta que havia na Ribeira umas casas "que tinham
levantado fogo". Alusão a um incêndio que destruiu várias casas da praça.
A referência, atrás
referida, aos "cobertos da Ribeira" justifica-se plenamente porque naquele
tempo as fachadas de algumas casas que havia à volta da praça assentavam em
colunas, formando arcos (cobertos), como em Miragaia. E esses cobertos andavam
aforados (alugados) e os seus ocupantes pagavam à Câmara "o ar da
praça" que ocupavam...
Sobre o rio da Vila
(agora devidamente encanado), que desagua ali mesmo na praça, havia uma ponte
e além dela, ou seja, do outro lado, ficavam as estalagens que andavam alugadas
a um tal Pantaleão de Vasconcelos.
Para as bandas do rio
ficavam as boticas (lojas) ou tendas onde se vendiam géneros das mais variadas
espécies e procedências. A primeira dessas boticas ficava pegada às escadas que
desciam da casa dos almotacés para o muro. Esta casa dos almotacés estava por
cima da capela de Nossa Senhora do Ó, numa espécie de torre, de onde se
abarcava todo o sítio. Essa torre ficava, por sua vez, na parte superior da porta
da Ribeira aberta no muro, ou seja, aberta na Muralha Fernandina.
Da parte de fora da
porta da Ribeira, já perto do cais, ficavam "dois lançõis", isto é,
dois terrenos, e era neles que se vendia a "mercearia pendurada".
Referência, não
àqueles géneros que se vendiam nas chamadas boticas ou mercearias, mas, àqueles
produtos que não eram de primeira necessidade e que, por isso, se não vendiam a
peso nem por medida, mas que se expunham pendurados em cordas ou arames, como
meias, tamancos, gorros ou capotes.
Para quem entrava na
praça vindo dos lados da rua da "Fonte dourina" hoje Fonte Taurina,
vá lá a gente saber porquê, encontrava, logo ali, à direita, "a partir do
primeiro esteio", vários lugares de venda de peixe "devidamente
assinalados com uma fieira de marcos que se estendia até junto das escadas do
muro".
As mulheres dos
pescadores e as que vinham de fora vender produtos à Ribeira, podiam montar as
bancas num amplo espaço que ficava à esquerda da porta logo ao sair para o
cais. Nesse logradouro, dizem os documentos da almotaçaria, estavam demarcados
vinte e quatro lugares.
Ainda da parte de fora
da porta, estava assinalada a existência de uma botica onde um barbeiro exercia
"a sua nobre profissão".
Mesmo junto ao cais,
logo, o mais perto possível das embarcações, havia uma estreita faixa de terreno
onde se instalavam as vendedeiras de pão, que eram obrigadas a colocar as suas
gamelas "por tal modo que não impedissem o caminho".
Cortesia de Germano Silva
“João de Almada e
Melo, na altura Presidente da Junta das Obras Públicas é a figura notável que
se encontra associada às transformações mais profundas operadas na Praça da
Ribeira a partir do século XVIII.
Com efeito, impunha-se
não só conferir um cariz monumental a esse espaço, mas também estabelecer uma
ligação (que pressupunha a ordenação da área urbana medieval) entre a Praça da
Ribeira com a Rua de S. João, desta com o Largo de S. Domingos, Rua das Flores
e finalmente Rua do Almada, permitindo o escoamento dos produtos e a deslocação
fácil dos habitantes.
Entre as diversas
figuras que colaboraram na remodelação da Praça da Ribeira destaca-se o cônsul
britânico John Whitehead, homem de sólida formação artística e de apurado
sentido estético. A ele se devem algumas das propostas mais interessantes para
a Praça da Ribeira, designadamente a construção de uma arcada que fecharia os
lados poente/sul/nascente, conferindo, assim, ao espaço uma grande unidade.
Quanto ao lado sul teria a própria muralha como limite, com uma escada de
acesso à parte superior, criando-se uma área de circulação que dominava,
simultaneamente, o rio e o interior da praça.
As obras tiveram o seu
início em 1776, encontrando-se parcialmente concluídas em 1779.
Ao lado da Rua da
Fonte Taurina foram mandadas construir pela Junta duas casas que se
harmonizavam com o conjunto e que, terminadas em 1785, foram vendidas dois anos
depois pelo Senado (hoje, nesta zona, pode ver-se o trabalho cenográfico da
autoria de José Rodrigues).
Este programa de
remodelação abrangeu também a Porta da Ribeira e a Capela de Nossa Senhora do
Ó, concluindo-se os trabalhos em 1784. Refira-se que a capela era aberta e
dominava a Praça, já que ficava por cima da Porta. Ambas seriam demolidas em
1821.
Fora da Porta da Ribeira
encontrava-se a Forca e, mais adiante, o Pelourinho.
O programa idealizado para a Praça da Ribeira foi completamente desvirtuado: com efeito, foram demolidas a Porta da Ribeira e a Capela de Nossa Senhora do Ó, e alterados, com acrescentos posteriores, os prédios mandados construir pela Junta. Resta, porém, o espírito dessa remodelação e a monumental Fonte da Praça da Ribeira, estrutura arquitectónica adossada à parede da casa fronteira ao rio, com uma altura equivalente a três andares. Iniciada antes de 1784, estava concluída em 1786, sendo John Whitehead, provavelmente, o autor da sua planta. Esta fonte viria a substituir um chafariz do séc. XVII que existiu na praça, hoje reconstruído no seu local de origem, no meio do qual se encontra a tão discutida peça escultórica da autoria de José Rodrigues, conhecida vulgarmente por "Cubo da Ribeira".
Em seguimento à Praça propriamente dita e para nascente foram abertas arcadas no Muro da Ribeira, cuja inspiração assenta no modelo londrino das Galerias Adelphi (hoje desaparecidas) e que estavam ligadas à actividade portuária dos inícios do século XIX. Pela sua raridade, constituem um núcleo ímpar na arquitectura portuense”.
Com a devida vénia a monumentosdesaparecidos.blogspot
O programa idealizado para a Praça da Ribeira foi completamente desvirtuado: com efeito, foram demolidas a Porta da Ribeira e a Capela de Nossa Senhora do Ó, e alterados, com acrescentos posteriores, os prédios mandados construir pela Junta. Resta, porém, o espírito dessa remodelação e a monumental Fonte da Praça da Ribeira, estrutura arquitectónica adossada à parede da casa fronteira ao rio, com uma altura equivalente a três andares. Iniciada antes de 1784, estava concluída em 1786, sendo John Whitehead, provavelmente, o autor da sua planta. Esta fonte viria a substituir um chafariz do séc. XVII que existiu na praça, hoje reconstruído no seu local de origem, no meio do qual se encontra a tão discutida peça escultórica da autoria de José Rodrigues, conhecida vulgarmente por "Cubo da Ribeira".
Em seguimento à Praça propriamente dita e para nascente foram abertas arcadas no Muro da Ribeira, cuja inspiração assenta no modelo londrino das Galerias Adelphi (hoje desaparecidas) e que estavam ligadas à actividade portuária dos inícios do século XIX. Pela sua raridade, constituem um núcleo ímpar na arquitectura portuense”.
Com a devida vénia a monumentosdesaparecidos.blogspot
Cais da Ribeira
Com as alterações efectuadas na Praça da Ribeira tornou-se
necessário remodelar também o cais que se encontrava insuficiente para a
actividade desenvolvida.
Em 1784, a Junta das Obras Públicas elabora um documento em
que se menciona a necessidade do alargamento da área existente, determinando-se
que o novo cais se estenderia até aos Guindais.
Em seguimento à Praça propriamente dita e para nascente, na segunda metade do séc. XVIII são abertos
arcos no tramo da velha muralha Fernandina, na Ribeira, para facilitar o acesso
ao rio.
Esta arcaria, que
foi inspirada nas galerias Adelphi, antigos armazéns da zona portuária de
Londres acabou por ser demolida na década de 1930.
No desenho abaixo
pode observar-se a tal arcaria.
Cais da Ribeira - Desenho de de J. Villanova em 1833
A partir do momento em que para a população da cidade a
função defensiva da muralha deixou de ser importante, começaram a construir-se
casas a ela adossadas, passando a designar-se por Cima do Muro da Ribeira o
caminho que lhes dava serventia, mais tarde conhecido por Rua de Cima do Muro da
Ribeira.
Cais da Ribeira e Rua de Cima do Muro em 1900 - Ed. Emílio
Biel
Escadas das Padeiras
Construção da
marginal em meados do século XX perto da ponte Luiz I
Marginal da Ribeira
em construção junto à ponte Luiz I
Ribeira em 1900
Ribeira no início
do século XX
Ribeira - Ed.
Aurélio da Paz dos Reis
Corticeira vista do
cais dos Guindais
Na foto acima ao fundo à
esquerda, a rampa da Corticeira e na margem do rio vários edifícios que seriam
demolidos.
Cais dos Guindais
Cais dos Guindais
Cais dos Guindais
visto de V. N. de Gaia, antes de abertura da marginal
Cais dos Guindais
actualmente
Construção do Túnel
da Ribeira
Funicular dos
Guindais em 1891
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