quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

(Continuação 1) - Actualização em 29/05/2019 e 30/09/2020

11.2.1 Albergues Nocturnos do Porto (AANP)
 
 
A “Associação dos Albergues Nocturnos do Porto” foi fundada a 1 de Dezembro de 1881, por iniciativa do rei D. Luíz I, que contou para o efeito com o apoio e contributo do Bispo do Porto, de então, Cardeal D. Américo e, ainda, com a burguesia portuense.
Assim, o anúncio da fundação foi feito durante uma deslocação à cidade, na qual o monarca chama ao Palácio das Carrancas (actual Museu Soares dos Reis), a sociedade mais prestigiada da cidade.
No dia 30 de Setembro de 1882, os primeiros estatutos da Associação foram aprovados pelo Governo Civil do Porto e a Instituição abriu portas, pela primeira vez, para acolher os mais necessitados de todos os desvalidos da nossa sociedade, no dia 26 de Dezembro de 1882.
As primeiras instalações desta Instituição situavam-se na Rua de Santa Catarina, um pouco acima da Rua de Fradelos.
 
 
 
 
“ (…) Todavia, por razões económicas, renda demasiado elevada e razões geográficas, na altura zona periférica da cidade, em 1890 procede-se a uma mudança de instalações para a zona central da cidade para a Rua de S. Miguel n.º 25 – Bairro da Vitória. A cidade do Porto na altura era constituída por dois únicos bairros, o Bairro da Sé e o Bairro da Vitória.
Desta forma, verificou-se uma poupança de 150 mil reis/ano e aumentou significativamente o número de pessoas apoiadas pela Associação, devido à maior centralidade desta localização.
(…) Contudo, também estas instalações tornaram-se insuficientes para responder ao crescente número de necessitados de acolhimento que recorriam aos Albergues do Porto.
Por isso, e cumprindo o desejo que desde a fundação acompanha os corpos gerentes desta Instituição e que é proporcionar uma habitação condigna e que reúna as melhores condições de atendimento, dentro dos padrões mais rigorosos de segurança, higiene e comodidade de cada época, verificou-se, em 1903, uma nova mudança de instalações, agora para a Rua Mártires da Liberdade, nº 237, Cedofeita-Porto.
Fonte: “alberguesporto.com”
 
 
Estas instalações na Rua dos Mártires da Liberdade tinham acabado de ser ocupadas, por dois anos, pelo Colégio dos Meninos Órfãos, vindos da Praça dos Voluntários da Rainha e partiam, agora, para as instalações do Seminário, no Prado do Repouso.
A capacidade de alojamento passou, então, de 25 para 30 camas, especificamente 20 homens e 10 mulheres, e o apoio passou também a incluir o fornecimento de roupa de dormir aos albergados. A maior disponibilização de camas para homens estava relacionada com a existência de maiores pedidos deste sexo.
Com este serviço de acolhimento nocturno era igualmente proporcionado aos utentes banhos e serviço de refeição, pequeno-almoço (café e pão) e jantar (sopa e pão).
Por aqui ficariam os Albergues Nocturnos até 1911, quando, por falecimento do Sr. Arnaldo Ribeiro de Faria, este sócio-fundador deixa à instituição o importante legado de 10 contos habilitando, assim, a Direcção a comprar os dois prédios, onde acabaria por se instalar até aos dias de hoje.
 
 
«“Em 8 de Outubro de 1912, numa Reunião de Assembleia Geral pode ler-se o seguinte: “A Assembleia depois de devidamente elucidada com as explicações dadas verbalmente, concordou com a opinião do Conselho Administrativo e autorizou-o a efectuar a compra dos dois prédios sitos à Rua Mártires da Liberdade, 237 a 231 e 233 a 239, pela quantia de dez contos de reis…”. Logo, a partir desta data, o prédio passou a ser um bem próprio da Associação.
No contexto da 1ª Guerra Mundial, à AANP acorrem maior número de estrangeiros. Embora oriundos de diversos Países, as nacionalidades predominantes eram a Espanha e a França.
Simultaneamente, a Associação mostra dificuldades em manter o seu funcionamento, devido, por um lado, ao aumento do número de pessoas a pedir apoio e, por outro lado, à diminuição dos géneros alimentares, pela sua rarefacção e aumento de preços. “O pequeno-almoço passa a ser servido com pão dada a raridade de açúcar.” O apoio de pessoas idóneas a esta causa também diminui.»
Fonte: “alberguesporto.com”
 
 
Em 1942, a AANP aumenta a capacidade para 65 camas, 55 homens e 10 mulheres quando, em 1918, após o encerramento da vertente do alojamento devido à epidemia de tifo-exantemático, passou a 50 camas.
Nas décadas seguintes a AANP cumpriria, dentro do esperado, as funções para as quais tinha sido criada.
A partir de 1983, a AANP passa a Instituição Particular de Solidariedade Social.
Por adaptação aos novos tempos, em 1990, a Instituição decidiu, pela primeira vez, integrar nos seus quadros de funcionários uma Técnica de Serviço Social cuja função era “trabalhar tecnicamente” as situações sociais das pessoas Sem-Abrigo.
 
 

Albergues Nocturnos do Porto, actualmente
 
 
Em 9 de Fevereiro de 1998, em sequência da política que vinha a ser implementada, seria criada uma “Equipa Técnica de Reinserção Social” constituída por técnicos de diferentes especialidades - Psicologia, Sociologia, Medicina de Clínica Geral e Serviço Social.
Paralelamente, em 1998, foi inaugurada uma segunda unidade de alojamento situada na Freguesia de Campanhã, junto da Estação de Campanhã, sita na Rua de Miraflor n.º 136, denominado Albergue de Campanhã.
 
 
 

Albergue de Campanhã. Lá bem no alto, a Rua do Heroísmo – Fonte: Google maps
 
 
“ (…) Ainda no início do sec. XXI, procedeu-se à rentabilização de uma área contígua ao edifício sede em Mártires da Liberdade, transformando o Rés-do Chão – num espaço de exposição de produtos (Lojinha) – e o 1º andar num Lar Universitário – Residência Universitária Luiz I.
(…) Em meados de 2008, no âmbito do processo de negociação da renovação dos acordos com o ISS e com o objetivo de melhorar qualitativa e quantitativamente a sua intervenção, a capacidade de alojamento no Albergue D. Margarida de Sousa Dias foi reduzida de 65 para 60 camas - 49 homens e 11 mulheres - por forma a assegurar que a resposta social cumpria rigorosamente todas as normas regulamentares de higiene e segurança.
Em Dezembro de 2008, renovam-se os acordos de cooperação atípicos com o ISS, sendo que as respostas sociais fornecidas pela Associação passam a ser designadas de Centro de Alojamento Temporário.
Com este novo acordo a Instituição alargou o seu âmbito de atuação. Passou a fornecer 4 refeições diárias – pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar – aumentou e diversificou as especialidades de técnicos no seu quadro de funcionários e criou o Ateliê Ocupacional ALBERG’ART”.
Fonte: “alberguesporto.com”
 
 
Ultimamente, em Maio de 2012, perante o contexto de gravíssima crise socio-económica, a Associação estabeleceu protocolo de cooperação com o Instituto de Solidariedade Social para a implementação do Serviço de Apoio Alimentar à Comunidade.





“O Asilo Profissional do Terço, foi fundado em 1891 por Delfim Lima, Provedor da Ordem do Terço e comerciante de elevada reputação que, usando as suas influências, tomou em mãos a tarefa de concretizar os anseios do juiz, Dr. Francisco Augusto da Silva Leal, de recolher os jovens desprotegidos em situações de abandono e miséria que, frequentemente passavam pela barra do tribunal e, em relação aos quais, «era imperioso proporcionar-lhes instrução e educação adequadas, a par da aprendizagem de uma arte ou ofício, perspectivando-lhes um futuro digno e corrigindo as injustiças sociais de que eram alvo».”
Fonte – Site: “gisaweb.cm-porto.pt”


As primeiras instalações deste asilo situaram-se no Hospital do Terço, pertença da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade, sedeada na Rua de Cima de Vila.
Dois anos depois, em 1893, por exiguidade de espaço, passou para um prédio sito na Avenida Saraiva Carvalho (onde esteve instalada a marcenaria Nascimento).
Volvido um ano, estava numa dependência do extinto convento de S. Bento da Ave-Maria.
No fim do ano de 1894, mudou-se para o palacete de Vilar de Perdizes, situado na esquina das ruas S. Miguel e das Taipas, cedido pelo Ministério das Obras Públicas, onde esteve até 29 de Outubro de 1899. Depois passou para um prédio na Rua da Rainha (Rua Antero de Quental) onde esteve depois uma casa-hospício.
Em 1910, ocupou o Palácio dos Monfalins na Rua do Triunfo (Rua D. Manuel II) e, em 1919, quando este se transformou em Paço Episcopal, transferiu-se para as instalações na Praça do Marquês que, hoje, ainda ocupa. 




Asilo do Terço – Ed. Photo Guedes




Asilo do Terço actualmente – Ed. Site: “panoramio.com”



O edifício, onde acabou por se instalar, até hoje, o Asilo do Terço, na Praça Marquês do Pombal, ostenta um brasão igual a um outro que está num antigo palácio da Rua Formosa, nº 125, esquina com a Rua da Alegria, que pertenceu ao visconde Pereira Machado.
De facto, ele foi mandado erguer, em 1860, sob a licença de construção nº 250/1860, por Guilherme Machado Pereira, no lugar de um outro prédio que foi habitado por ele e respectiva família, enquanto o grandioso palacete da Rua Formosa não estava acabado.
Delfim Lima, que casaria com Guilhermina Cândida Pereira Machado, filha do visconde Pereira Machado, foi para além de fundador do Asilo Profissional do Terço, em 1891, Provedor da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade, Grã-Cruz na Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, comerciante de elevada reputação e presidente do Centro Hípico do Porto.
Em Julho de 1900, como director do Asilo Profissional do Terço, Delfim Lima autorizava que a banda daquele asilo tocasse, todas as quartas-feiras, à noite, na Avenida do Palácio de Cristal, para recreio dos sócios e respectivas famílias, em frente do “chalet” do Real Velo-Club.





Brasão do visconde Pereira Machado, no jazigo do cemitério da Lapa – Cortesia “manueljosecunha.blogspot.com/”



Brasão do visconde Pereira Machado no frontão do edifício do Asilo do Terço, à praça do Marquês do Pombal – Ed. Graça Correia



“O visconde de Pereira Machado, de seu nome Guilherme Augusto Machado Pereira recebeu o título em 1861 por mercê do Rei D. Pedro V. Para além desse título era Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Moço Honorário da Real Câmara Municipal do Porto, Comendador da Ordem de Cristo e da Rosa, do Brasil. Presidente da Associação Comercial do Porto. Fez parte da empresa que ergueu o Palácio de Cristal. Nasceu em 8.4.1822, faleceu a 14.4.1868, sendo sepultado na Lapa. Foi casado com D. Cândida Guilhermina dos Santos Vieira Rodrigues Fartura, sendo seu pai também Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Comendador das Ordens de Cristo e Conceição.
O 2.º Visconde, filho do primeiro, Guilherme Augusto Pereira Machado, era amador de cavalos e equipagens e foi cavaleiro exímio e experimentado picador e um elegante da época. Foi também Cavaleiro da Casa Real, nascido em 1865, falecido em 1930, tinha casado em 1904 com D. Rosa Furtado de Antas.” 
Cortesia de Ilissínio Duarte



Na planta de Telles Ferreira de 1892, pode observar-se que o edifício em que se instalou o Asilo do Terço já existia naquela data (nº 1)



Na planta anterior, é possível observar-se no meio da praça, o Mercado da Aguardente, inaugurado em 1884 e demolido em 1897.
Em 1932, o imóvel foi adquirido por iniciativa do Director Florentino Borges, por 350 contos, resultado da realização de quermesses realizadas nos jardins da praça.
Em 1935, foi inaugurado um pavilhão, anexo ao edifício primitivo, com 80 metros de comprimento, no qual foram instalados dormitórios, oficinas, salas de convívio, refeitório e cozinha. Parte destas instalações receberiam, também, a Escola Pública nº 32.
No jardim interior seria, nos anos sessenta, montado um cinema, primeiro ao ar livre e, depois, nesse local, erguido um pavilhão que comportava 700 lugares.
Este cinema seria demolido em 2010, para ser substituído por um parque auto subterrâneo de dois pisos.
Actualmente, nas instalações descritas funciona um Lar de Infância e Juventude, uma Sala de Estudo com OTL, uma Creche, Apartamentos de Autonomização e uma Residência Partilhada - "Martins Lima".


Entrada para o Parque do Asilo do Terço, em 1937









A primeira Roda dos Expostos, de que se tem memória, ficava situada no actual Largo dos Lóios, anexa ao hospital de D. Lopo, antigo hospital Rocamador.
Remontam, no entanto, à Idade Média as preocupações com a protecção e assistência aos enjeitados, tendo o rei D. Dinis deixado até, em testamento, uma verba para o efeito.
D. Manuel I tentou institucionalizar a ajuda, determinando que as administrações dos hospitais dessem, para o efeito, uma verba ao Município, o que não viria a ser cumprido e levou a que a administração daquelas crianças passasse para a alçada da Santa Casa da Misericórdia, bem como, o hospital de Cima de Vila, a Albergaria de Santa Clara e o hospital Rocamador.
No tempo de D. João III, já o Município cuidava dessas crianças, pois o próprio rei tinha criado o cargo de “ Pai dos Meninos” para olhar pelas crianças abandonadas. Posteriormente e, com funções idênticas, foi criado o cargo de “ Mãe dos Enjeitados” e, ainda, o de “Pai dos Velhacos” para cuidar dos vadios e delinquentes.
O “Pai dos Meninos”, encarregava-se de procurar mulheres para cuidarem das crianças indesejadas, fazendo estas de amas-de-leite e zelando pela sobrevivência desses “filhos de ninguém”. A Câmara assumia esta obrigação até que a criança exposta completasse sete anos de idade.
Corria, entretanto, o ano de 1686 e esse serviço de apoio às crianças degradava-se de dia para dia.
Então, o padre Baltasar Guedes fundador do Colégio da Graça e o Frei Manuel Rodrigues Leitão lançam as bases para a criação da Casa da Roda, cujo funcionamento pertenceria à Câmara sob a administração da Santa Casa da Misericórdia. Em 1689, a casa estava pronta e inaugurada a 6 de Julho, a funcionar no hospital D. Lopo.
O nome Roda estava ligado ao apetrecho onde eram deixadas as crianças que era uma caixa cilíndrica de madeira, de eixo vertical, que girava sobre ele. Junto tinha uma corrente de ferro ligada a uma campainha no interior do edifício.
Tudo acontecia, assim, segundo o perfeito anonimato.


“Durante séculos, pela calada da noite, homens ou mulheres embuçados e às escondidas, foram deixando milhares de recém-nascidos nos adros das igrejas, à porta destas ou nas soleiras dos conventos. Tratava-se de crianças abandonadas pelas mães que não tinham condições para as criar.
(…)  O abandono de crianças era mais comum nas cidades pois, no campo, os enjeitados eram, muitas vezes, adoptados como filhos de criação ou agregados nas famílias, a fim de constituírem mão-de-obra na agricultura.
(…) Essas crianças eram expostas na placa giratória, construída de maneira a que as pessoas que expunham a criança não fossem vistas nem reconhecidas, pela pessoa que as recebia – era um abandono anónimo. O compartimento lateral da roda servia também para colocar donativos em dinheiro ou géneros, ou até objectos, deixados como oferta por pessoas que queriam contribuir para a subsistência daqueles que viviam na instituição religiosa.
(…) As crianças expostas eram deixadas com alguns sinais ou objectos, na sua maioria de valor simbólico, guardados pela instituição, constituindo a identidade daquelas crianças. 
(…) Quando, no acto de entrega, se encontrava um papel escrito, junto da criança, com o nome próprio ou os apelidos dos pais, conservavam-se esses nomes mas, em caso de omissão, normalmente, era atribuído ao menino ou à menina, o nome do santo(a) correspondente ao dia da sua entrada, na instituição”.
Cortesia de Maximina Girão Ribeiro


Entretanto, no denominado Calvário Novo uma série de cruzes erguiam-se ao longo da actual Rua do Dr. Barbosa de Castro que, por aquele motivo, era Rua do Calvário Novo, que ia das Virtudes para o Olival.
Ora, foi ao cimo desta rua, que a irmandade do Senhor Jesus do Calvário Novo, que promovia o culto da via-sacra neste sítio, fundou uma ermida em data que não é possível averiguar, mas, que se julga ser, anterior a 1660.
Em 1694, os homens da confraria do Senhor Jesus do Calvário Novo pediram à Câmara que lhes vendesse um pedaço de terra baldia que ficava junto da ermida para nele construírem "uma casa para o sacristão".
Nove anos mais tarde (21 de Maio de 1703), a confraria voltou a fazer novo pedido à Câmara: como o templo se tornara demasiado pequeno, para nele caber o número cada vez mais crescente de fiéis, solicitava que lhe fosse concedido mais um bocado de terreno, deste feita defronte da capela, para nele levantar um alpendre debaixo do qual as pessoas pudessem assistir aos actos de culto, mas abrigadas do sol escaldante ou do frio e da chuva.
Em terreno que lhes foi concedido em 1722, viriam os frades franciscanos antoninos, que tinham o seu mosteiro do outro lado do rio, no Vale da Piedade, em 1730, a fundar no campo da Cordoaria o seu hospício, denominado Hospício de Santo António da Cordoaria construindo, jun­to da capela, um edifício que seria utiliza­do como brévia. 
Por brévia entenda-se um local que era, normalmente, utilizado por religiosos quando se encontravam doentes ou ne­cessitavam de descanso. O sítio do Calvá­rio Novo, naquele tempo, era o mais indi­cado para repouso e recuperação de uma doença, por ser local tranquilo e saudável. Estava, efectivamente, numa zona alta do burgo, bem arejada e com uma paisagem fabulosa sobre o rio e a barra. 
A área de implantação da capela e da brévia corresponde, hoje, a uma parte da ocupada pelo Palácio da Justiça.
Acabado o edifício, os frades quiseram juntar a brévia à capela e, para isso, come­çaram a construir uma espécie de passa­diço que asseguraria a ligação entre as duas dependências. Opôs-se a esta pretensão dos frades a irmandade do Senhor Jesus do Calvário Novo, que adminis­trava a capela, e a obra chegou a ser embar­gada para continuar pouco depois porque as autoridades foram sensíveis a um novo apelo dos frades que lá conseguiram "le­var a água ao seu moinho". 
Em 1786, instalou-se na ermida do Senhor do Calvário Novo a Ordem da Santíssima Trindade, fundada na capela da Batalha em 1781, que com a designação de Ordem Terceira de São Domingos, fora fundada, em 1676, no mosteiro, de São Domingos.
Vinda então da Batalha, a Ordem da Santíssima Trindade aglutinou a confraria do Calvário que foi, em sequência, extinta.
Os acontecimentos agora narrados radicavam, assim, em alguns anos antes, quando os terceiros do mosteiro de S. Domingos usufruíam de uma linda capela com a frontaria voltada para onde, hoje, está a Rua de Ferreira Borges. 
A partir de 1734, os terceiros de São Do­mingos mantiveram com os frades domi­nicanos uma longa demanda jurídica que só acabou em Abril de 1755, com a extin­ção da Ordem Terceira de São Domingos. Mas, ainda em Maio, desse mesmo ano, os terceiros de São Domingos retiraram des­te mosteiro todos os seus haveres e instalaram-se com eles na capela de Nossa Se­nhora da Batalha, agora já com a nova de­signação de Ordem da Santíssima Trindade, passando a confraria dos sirgueiros que então aí estava, para a capela do Calvário Novo, para onde mais tarde seguiu também a ordem da Santíssima Trindade (chamados igualmente de Trinos) que, aí, se associariam em 1786. Passado algum tempo, a Ordem Terceira da Santíssima Trindade viria a ter necessidade de mudar-se, agora em litígio com os frades antoninos.
Com efeito, os Trinitários mudaram-se, em 1803, para instalações próprias, que mandaram fazer onde hoje é a Praça da Trindade.
Após várias peripécias, em que diz-se que os Trinos se apoderaram do espólio da capela, vendendo os terrenos que aí possuíam a um tal Francisco José Gomes Monteiro, o pequeno templo teve várias utilizações.
A capela, depois de 1803, teria ao longo dos tempos diversas utilidades, tendo sido cavalariça, quando lá se instalou a “Companhia de Transportes Portuenses”, que faliu em 1874, e ainda, padaria, taberna e lupanar.
Por outro lado, nas instalações dos Padres do Vale da Piedade já, em 1761, se tinha aqui fixado o Tribunal da Relação que andava em bolandas.
Segundo Sousa Reis os capuchos de Vale da Piedade construíram no Calvário Novo «huma enfermaria ... e de tal forma a levantaraõ que veio a ser hum bom Hospicio bem assente com otimas vistas, annexando lhe dous soberbos armazens de que colhiaõ pingue alugueres».
Daqui, o Tribunal da Relação terá saído, quatro anos depois, para o Palacete das Hortas.
Em 1803, já se tinha também instalado, nas instalações dos frades antoninos, a Aula de Desenho criada em 1779, e que vinha funcionando nas instalações do Colégio dos Órfãos.
Em 1834, na sequência da extinção das ordens religiosas, os padres antoninos do Convento de Santo António do Vale da Piedade, em V. N. de Gaia, desligam-se completamente das instalações que detinham na Cordoaria, contíguo à extinta Capela do Senhor Jesus do Calvário Novo. 
Os livros que constituíam a biblio­teca do bispo D. João Avelar (em 1833, com a en­trada do exército liberal no Porto, o bispo D. João de Magalhães Avelar tinha fugido da ci­dade), mais os das livrarias de al­guns conventos, foram arrecadados como fundo inicial da futura Biblioteca Pública do Porto, na antiga brévia dos frades antoninos.
No ano seguinte, instalou-se no hospício do Calvário Novo o Tribunal do Comércio da Primeira Instância.
Quanto ao percurso feito pela Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados, a partir de 1823, passou a ser da exclusiva responsabilidade da Câmara e, em 1826, saiu de junto do Hospital D. Lopo ao fundo dos Caldeireiros e mudou para a Rua dos Fogueteiros, a actual Azevedo de Albuquerque para o edifício agora ocupado pela Cooperativa Árvore. Entre 1826 e 1834, esteve aí instalada a “Roda dos Expostos”, vinda da Rua dos Caldeireiros, onde se encontrava desde 1685. 
Este edifício foi severamente punido por artilharia durante as lutas liberais e a instituição viu-se obrigada a ocupar outras instalações na Rua de Cedofeita.
Em 1838, a Roda ocupa o Hospício do Calvário Novo nas instalações, entretanto, abandonadas pelos antoninos, onde se manteve até 1854.
Mas o edifício tornou-se exíguo e a roda peregrinou por vários locais, sobretudo por conventos e mosteiros femininos acabando,  em 1913, na Rua de Antero Quental, então, com a designação de Comissão Protectora dos Meninos Expostos.




Hospício dos Expostos (antiga brévia dos antoninos) - Gravura de Joaquim Villanova em 1833


Na gravura acima de J. Victoria Villa Nova, está o hospício do Calvário Novo, em 1833, próximo do qual, ficava a Capela do Calvário Novo (seria à esquerda da gravura acima), que durante anos albergou a Ordem Terceira da SS Trindade.
Em 1864, Francisco Ferreira Barbosa, no Elucidário do Viajante no Porto, escreve:


“Os frades tinham na cidade o seu hospício na Cordoaria, hoje Campo dos Martyres da Pátria, aonde hoje é o hospício dos expostos ou abandonados, d'antes roda dos enjeitados, defronte da igreja de S. José das Taypas, ou Almas." 



Capela do Senhor Jesus do Calvário Novo



Junto à porta do Hospício dos Expostos, na Cordoaria





Igreja de Santa Clara


Na foto acima à direita do pórtico de entrada na igreja do Convento de Santa Clara está a Roda dos Expostos, que aqui também funcionou, bem como, no Convento de S. Bento da Ave-Maria na foto abaixo.



Roda dos expostos em S. Bento da Ave-Maria




Cronologia da ocupação da ermida do Senhor Jesus do Calvário Novo


1660 – Já a irmandade do Calvário Novo está instalada com a ermida no local
1694 - A irmandade constrói em anexo, uma casa para o sacristão
1755 – A confraria dos sirgueiros instala-se vinda da Batalha
1787 – A Ordem da Trindade instala-se, chegada da Batalha
1803 – A Ordem da Trindade sai para ocupar lugar próprio, no Laranjal e vende a capela e propriedade anexa ao particular, Francisco José Gomes Monteiro
Até 1874 – A antiga capela foi cavalariça, padaria, taberna e lupanar


Cronologia da ocupação do Hospício do Calvário Novo (Fr. Antoninos)


1730 - Fixam-se no local com uma brévia, os frades em terreno anexo à capela
Entre 1761 e 1765 - Funciona nas instalações o Tribunal da Relação
1803 - Funciona aqui a Aula de Desenho, vinda do Colégio dos Orfãos
1834 - Passa a funcionar como arrecadação de livros dos conventos e mosteiros, após extinção das ordens religiosas
1835 - Funciona aqui o Tribunal de Comércio de 1ª Instância
1838 - Passa a funcionar como hospício dos Expostos

Cronologia das sucessivas localizações da Roda dos Expostos


1689 - Funcionamento da Roda no hospital D. Lopo
1826 - Instala-se na Rua dos Fogueteiros
1833 - Instala-se em prédio da Rua de Cedofeita
1838 - A Roda ocupa o Hospício do Calvário Novo
1854 - A Roda abandona as instalações da Cordoaria e passa a peregrinar pelos conventos e mosteiros da cidade
1913 - Ocupa prédio na Rua Antero de Quental


Para além do mosteiro de Santa Clara e do convento de S. Bento da Ave-Maria,  a Roda funcionou, também, no Recolhimento do Ferro.

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