11.2.1 Albergues Nocturnos do Porto (AANP)
A “Associação dos Albergues Nocturnos do
Porto” foi fundada a 1 de Dezembro de 1881, por iniciativa do rei D.
Luíz I, que contou para o efeito com o apoio e contributo do Bispo do Porto, de
então, Cardeal D. Américo e, ainda, com a burguesia portuense.
Assim, o anúncio da fundação foi feito durante uma
deslocação à cidade, na qual o monarca chama ao Palácio das Carrancas (actual
Museu Soares dos Reis), a sociedade mais prestigiada da cidade.
No dia 30 de Setembro de 1882, os primeiros estatutos da
Associação foram aprovados pelo Governo Civil do Porto e a Instituição abriu
portas, pela primeira vez, para acolher os mais necessitados de todos os
desvalidos da nossa sociedade, no dia 26 de Dezembro de 1882.
As primeiras instalações desta Instituição situavam-se na
Rua de Santa Catarina, um pouco acima da Rua de Fradelos.
“ (…) Todavia, por
razões económicas, renda demasiado elevada e razões geográficas, na altura zona
periférica da cidade, em 1890 procede-se a uma mudança de instalações para a
zona central da cidade para a Rua de S. Miguel n.º 25 – Bairro da Vitória. A
cidade do Porto na altura era constituída por dois únicos bairros, o Bairro da
Sé e o Bairro da Vitória.
Desta forma, verificou-se
uma poupança de 150 mil reis/ano e aumentou significativamente o número de
pessoas apoiadas pela Associação, devido à maior centralidade desta
localização.
(…) Contudo, também
estas instalações tornaram-se insuficientes para responder ao crescente número
de necessitados de acolhimento que recorriam aos Albergues do Porto.
Por isso, e cumprindo
o desejo que desde a fundação acompanha os corpos gerentes desta Instituição e
que é proporcionar uma habitação condigna e que reúna as melhores condições de
atendimento, dentro dos padrões mais rigorosos de segurança, higiene e
comodidade de cada época, verificou-se, em 1903, uma nova mudança de
instalações, agora para a Rua Mártires da Liberdade, nº 237, Cedofeita-Porto.
Fonte: “alberguesporto.com”
Estas instalações na Rua dos Mártires da Liberdade tinham
acabado de ser ocupadas, por dois anos, pelo Colégio dos Meninos Órfãos, vindos
da Praça dos Voluntários da Rainha e partiam, agora, para as instalações do
Seminário, no Prado do Repouso.
A capacidade de alojamento passou, então, de 25 para 30
camas, especificamente 20 homens e 10 mulheres, e o apoio passou também a
incluir o fornecimento de roupa de dormir aos albergados. A maior
disponibilização de camas para homens estava relacionada com a existência de
maiores pedidos deste sexo.
Com este serviço de acolhimento nocturno era igualmente
proporcionado aos utentes banhos e serviço de refeição, pequeno-almoço (café e
pão) e jantar (sopa e pão).
Por aqui ficariam os Albergues Nocturnos até 1911, quando,
por falecimento do Sr. Arnaldo Ribeiro de Faria, este sócio-fundador deixa à
instituição o importante legado de 10 contos habilitando, assim, a Direcção a
comprar os dois prédios, onde acabaria por se instalar até aos dias de hoje.
«“Em 8 de Outubro de
1912, numa Reunião de Assembleia Geral pode ler-se o seguinte: “A Assembleia
depois de devidamente elucidada com as explicações dadas verbalmente, concordou
com a opinião do Conselho Administrativo e autorizou-o a efectuar a compra dos
dois prédios sitos à Rua Mártires da Liberdade, 237 a 231 e 233 a 239, pela
quantia de dez contos de reis…”. Logo, a partir desta data, o prédio passou a
ser um bem próprio da Associação.
No contexto da 1ª
Guerra Mundial, à AANP acorrem maior número de estrangeiros. Embora oriundos de
diversos Países, as nacionalidades predominantes eram a Espanha e a França.
Simultaneamente, a
Associação mostra dificuldades em manter o seu funcionamento, devido, por um
lado, ao aumento do número de pessoas a pedir apoio e, por outro lado, à
diminuição dos géneros alimentares, pela sua rarefacção e aumento de preços. “O
pequeno-almoço passa a ser servido com pão dada a raridade de açúcar.” O apoio
de pessoas idóneas a esta causa também diminui.»
Fonte: “alberguesporto.com”
Em 1942, a AANP aumenta a capacidade para 65 camas, 55
homens e 10 mulheres quando, em 1918, após o encerramento da vertente do
alojamento devido à epidemia de tifo-exantemático, passou a 50 camas.
Nas décadas seguintes a AANP cumpriria, dentro do esperado,
as funções para as quais tinha sido criada.
A partir de 1983, a AANP passa a Instituição Particular de
Solidariedade Social.
Por adaptação aos novos tempos, em 1990, a Instituição
decidiu, pela primeira vez, integrar nos seus quadros de funcionários uma
Técnica de Serviço Social cuja função era “trabalhar tecnicamente” as situações
sociais das pessoas Sem-Abrigo.
Em 9 de Fevereiro de 1998, em sequência da política que
vinha a ser implementada, seria criada uma “Equipa Técnica de Reinserção
Social” constituída por técnicos de diferentes especialidades - Psicologia,
Sociologia, Medicina de Clínica Geral e Serviço Social.
Paralelamente, em 1998, foi inaugurada uma segunda unidade
de alojamento situada na Freguesia de Campanhã, junto da Estação de Campanhã,
sita na Rua de Miraflor n.º 136, denominado Albergue de Campanhã.
“ (…) Ainda no início
do sec. XXI, procedeu-se à rentabilização de uma área contígua ao edifício sede
em Mártires da Liberdade, transformando o Rés-do Chão – num espaço de exposição
de produtos (Lojinha) – e o 1º andar num Lar Universitário – Residência
Universitária Luiz I.
(…) Em meados de 2008,
no âmbito do processo de negociação da renovação dos acordos com o ISS e com o
objetivo de melhorar qualitativa e quantitativamente a sua intervenção, a
capacidade de alojamento no Albergue D. Margarida de Sousa Dias foi reduzida de
65 para 60 camas - 49 homens e 11 mulheres - por forma a assegurar que a
resposta social cumpria rigorosamente todas as normas regulamentares de higiene
e segurança.
Em Dezembro de 2008,
renovam-se os acordos de cooperação atípicos com o ISS, sendo que as respostas
sociais fornecidas pela Associação passam a ser designadas de Centro de
Alojamento Temporário.
Com este novo acordo a
Instituição alargou o seu âmbito de atuação. Passou a fornecer 4 refeições
diárias – pequeno-almoço, almoço, lanche e jantar – aumentou e diversificou as
especialidades de técnicos no seu quadro de funcionários e criou o Ateliê
Ocupacional ALBERG’ART”.
Fonte: “alberguesporto.com”
Ultimamente, em Maio de 2012, perante o contexto de
gravíssima crise socio-económica, a Associação estabeleceu protocolo de
cooperação com o Instituto de Solidariedade Social para a implementação do
Serviço de Apoio Alimentar à Comunidade.
“O Asilo Profissional
do Terço, foi fundado em 1891 por Delfim Lima, Provedor da Ordem do Terço e
comerciante de elevada reputação que, usando as suas influências, tomou em mãos
a tarefa de concretizar os anseios do juiz, Dr. Francisco Augusto da Silva Leal,
de recolher os jovens desprotegidos em situações de abandono e miséria que,
frequentemente passavam pela barra do tribunal e, em relação aos quais, «era
imperioso proporcionar-lhes instrução e educação adequadas, a par da
aprendizagem de uma arte ou ofício, perspectivando-lhes um futuro digno e
corrigindo as injustiças sociais de que eram alvo».”
Fonte – Site: “gisaweb.cm-porto.pt”
As primeiras instalações deste asilo situaram-se no Hospital
do Terço, pertença da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade, sedeada na Rua de Cima de Vila.
Dois anos depois, em 1893, por exiguidade de espaço, passou
para um prédio sito na Avenida Saraiva Carvalho (onde esteve instalada a
marcenaria Nascimento).
Volvido um ano, estava numa dependência do extinto convento
de S. Bento da Ave-Maria.
No fim do ano de 1894, mudou-se para o palacete de Vilar de
Perdizes, situado na esquina das ruas S. Miguel e das Taipas, cedido pelo
Ministério das Obras Públicas, onde esteve até 29 de Outubro de 1899. Depois
passou para um prédio na Rua da Rainha (Rua Antero de
Quental) onde esteve depois uma casa-hospício.
Em 1910, ocupou o Palácio dos Monfalins na Rua
do Triunfo (Rua D. Manuel II) e, em 1919, quando este se transformou em
Paço Episcopal, transferiu-se para as instalações na Praça do Marquês que, hoje,
ainda ocupa.
Asilo do Terço – Ed. Photo Guedes
Asilo do Terço actualmente – Ed. Site: “panoramio.com”
O edifício, onde acabou
por se instalar, até hoje, o Asilo do Terço, na Praça Marquês do Pombal, ostenta
um brasão igual a um outro que está num antigo palácio da Rua Formosa, nº 125,
esquina com a Rua da Alegria, que pertenceu ao visconde Pereira Machado.
De facto, ele foi mandado erguer, em 1860, sob a licença de construção nº 250/1860, por Guilherme Machado Pereira, no lugar de um outro prédio que foi habitado por ele e respectiva família, enquanto o grandioso palacete da Rua Formosa não estava acabado.
Delfim Lima, que casaria com Guilhermina Cândida Pereira Machado, filha do visconde Pereira Machado, foi para além de fundador do Asilo Profissional do Terço, em 1891, Provedor da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade, Grã-Cruz na Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, comerciante de elevada reputação e presidente do Centro Hípico do Porto.
Em Julho de 1900, como director do Asilo Profissional do Terço, Delfim Lima autorizava que a banda daquele asilo tocasse, todas as quartas-feiras, à noite, na Avenida do Palácio de Cristal, para recreio dos sócios e respectivas famílias, em frente do “chalet” do Real Velo-Club.
Delfim Lima, que casaria com Guilhermina Cândida Pereira Machado, filha do visconde Pereira Machado, foi para além de fundador do Asilo Profissional do Terço, em 1891, Provedor da Irmandade de Nossa Senhora do Terço e Caridade, Grã-Cruz na Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, comerciante de elevada reputação e presidente do Centro Hípico do Porto.
Em Julho de 1900, como director do Asilo Profissional do Terço, Delfim Lima autorizava que a banda daquele asilo tocasse, todas as quartas-feiras, à noite, na Avenida do Palácio de Cristal, para recreio dos sócios e respectivas famílias, em frente do “chalet” do Real Velo-Club.
Brasão do visconde Pereira Machado, no jazigo do cemitério
da Lapa – Cortesia “manueljosecunha.blogspot.com/”
Brasão do visconde Pereira Machado no frontão do edifício do
Asilo do Terço, à praça do Marquês do Pombal – Ed. Graça Correia
“O visconde de Pereira
Machado, de seu nome Guilherme Augusto Machado Pereira recebeu o título em 1861
por mercê do Rei D. Pedro V. Para além desse título era Fidalgo Cavaleiro da
Casa Real, Moço Honorário da Real Câmara Municipal do Porto, Comendador da
Ordem de Cristo e da Rosa, do Brasil. Presidente da Associação Comercial do
Porto. Fez parte da empresa que ergueu o Palácio de Cristal. Nasceu em
8.4.1822, faleceu a 14.4.1868, sendo sepultado na Lapa. Foi casado com D.
Cândida Guilhermina dos Santos Vieira Rodrigues Fartura, sendo seu pai também
Fidalgo Cavaleiro da Casa Real e Comendador das Ordens de Cristo e Conceição.
O 2.º Visconde, filho
do primeiro, Guilherme Augusto Pereira Machado, era amador de cavalos e
equipagens e foi cavaleiro exímio e experimentado picador e um elegante da
época. Foi também Cavaleiro da Casa Real, nascido em 1865, falecido em 1930, tinha
casado em 1904 com D. Rosa Furtado de Antas.”
Cortesia de Ilissínio Duarte
Na planta de Telles Ferreira de 1892, pode observar-se que o
edifício em que se instalou o Asilo do Terço já existia naquela data (nº 1)
Na planta anterior, é possível observar-se no meio da praça,
o Mercado da Aguardente, inaugurado em 1884 e demolido em 1897.
Em 1932, o imóvel foi adquirido por iniciativa do Director Florentino Borges, por 350 contos, resultado da realização de quermesses realizadas nos jardins da praça.
Em 1935, foi inaugurado um pavilhão, anexo ao edifício primitivo, com 80 metros de comprimento, no qual foram instalados dormitórios, oficinas, salas de convívio, refeitório e cozinha. Parte destas instalações receberiam, também, a Escola Pública nº 32.
No jardim interior seria, nos anos sessenta, montado um cinema, primeiro ao ar livre e, depois, nesse local, erguido um pavilhão que comportava 700 lugares.
Este cinema seria demolido em 2010, para ser substituído por um parque auto subterrâneo de dois pisos.
Actualmente, nas instalações descritas funciona um Lar de Infância e Juventude, uma Sala de Estudo com OTL, uma Creche, Apartamentos de Autonomização e uma Residência Partilhada - "Martins Lima".
11.3 Roda dos Expostos, Internato Municipal Condessa de Lumbrales e
Oficina de S. José
A primeira Roda dos
Expostos, de que se tem memória, ficava situada no actual Largo
dos Lóios, anexa ao hospital de D. Lopo, antigo hospital Rocamador.
Remontam, no entanto, à Idade Média as preocupações com a
protecção e assistência aos enjeitados, tendo o rei D. Dinis deixado até, em
testamento, uma verba para o efeito.
D. Manuel I tentou institucionalizar a ajuda, determinando
que as administrações dos hospitais dessem, para o efeito, uma verba ao
Município, o que não viria a ser cumprido e levou a que a administração
daquelas crianças passasse para a alçada da Santa Casa da Misericórdia, bem
como, o hospital de Cima de Vila, a Albergaria de Santa Clara e o hospital
Rocamador.
No tempo de D. João III, já o Município cuidava dessas
crianças, pois o próprio rei tinha criado o cargo de “ Pai dos Meninos” para
olhar pelas crianças abandonadas. Posteriormente e, com funções idênticas, foi
criado o cargo de “ Mãe dos Enjeitados” e, ainda, o de “Pai dos Velhacos” para
cuidar dos vadios e delinquentes.
O “Pai dos Meninos”, encarregava-se de procurar mulheres
para cuidarem das crianças indesejadas, fazendo estas de amas-de-leite e
zelando pela sobrevivência desses “filhos de ninguém”. A Câmara assumia esta
obrigação até que a criança exposta completasse sete anos de idade.
Corria, entretanto, o ano de 1686 e esse serviço de apoio às
crianças degradava-se de dia para dia.
Então, o padre Baltasar Guedes fundador do Colégio da Graça
e o Frei Manuel Rodrigues Leitão lançam as bases para a criação da Casa da Roda, cujo funcionamento
pertenceria à Câmara sob a administração da Santa Casa da Misericórdia. Em 1689, a casa estava pronta e inaugurada a 6 de Julho, a funcionar no hospital D. Lopo.
O nome Roda estava ligado ao apetrecho onde eram deixadas as
crianças que era uma caixa cilíndrica de madeira, de eixo vertical, que girava sobre ele.
Junto tinha uma corrente de ferro ligada a uma campainha no interior do
edifício.
Tudo acontecia, assim, segundo o perfeito anonimato.
“Durante séculos, pela
calada da noite, homens ou mulheres embuçados e às escondidas, foram deixando
milhares de recém-nascidos nos adros das igrejas, à porta destas ou nas
soleiras dos conventos. Tratava-se de crianças abandonadas pelas mães que não
tinham condições para as criar.
(…) O abandono
de crianças era mais comum nas cidades pois, no campo, os enjeitados eram,
muitas vezes, adoptados como filhos de criação ou agregados nas famílias, a fim
de constituírem mão-de-obra na agricultura.
(…) Essas crianças
eram expostas na placa giratória, construída de maneira a que as pessoas que
expunham a criança não fossem vistas nem reconhecidas, pela pessoa
que as recebia – era um abandono anónimo. O compartimento lateral da roda
servia também para colocar donativos em dinheiro ou géneros, ou até objectos,
deixados como oferta por pessoas que queriam contribuir para a subsistência
daqueles que viviam na instituição religiosa.
(…) As crianças
expostas eram deixadas com alguns sinais ou objectos, na sua maioria de valor
simbólico, guardados pela instituição, constituindo a identidade daquelas
crianças.
(…) Quando, no acto de
entrega, se encontrava um papel escrito, junto da criança, com o nome próprio
ou os apelidos dos pais, conservavam-se esses nomes mas, em caso de omissão,
normalmente, era atribuído ao menino ou à menina, o nome do santo(a) correspondente
ao dia da sua entrada, na instituição”.
Cortesia de Maximina Girão Ribeiro
Entretanto, no denominado Calvário Novo uma série de cruzes
erguiam-se ao longo da actual Rua do Dr. Barbosa de Castro que, por aquele
motivo, era Rua do Calvário Novo, que ia das Virtudes para o Olival.
Ora, foi ao cimo desta rua, que a irmandade do Senhor Jesus
do Calvário Novo, que promovia o culto da via-sacra neste sítio, fundou uma
ermida em data que não é possível averiguar, mas, que se julga ser, anterior a
1660.
Em 1694, os homens da confraria do Senhor Jesus do Calvário
Novo pediram à Câmara que lhes vendesse um pedaço de terra baldia que ficava
junto da ermida para nele construírem "uma casa para o sacristão".
Nove anos mais tarde (21 de Maio de 1703), a confraria
voltou a fazer novo pedido à Câmara: como o templo se tornara demasiado pequeno,
para nele caber o número cada vez mais crescente de fiéis, solicitava que lhe
fosse concedido mais um bocado de terreno, deste feita defronte da capela, para
nele levantar um alpendre debaixo do qual as pessoas pudessem assistir aos
actos de culto, mas abrigadas do sol escaldante ou do frio e da chuva.
Em terreno que lhes
foi concedido em 1722, viriam os frades
franciscanos antoninos, que tinham o seu mosteiro do outro lado do rio, no
Vale da Piedade, em 1730, a fundar
no campo da Cordoaria o seu hospício, denominado Hospício de Santo António da Cordoaria construindo, junto da
capela, um edifício que seria utilizado como brévia.
Por brévia entenda-se um local que era,
normalmente, utilizado por religiosos quando se encontravam doentes ou necessitavam
de descanso. O sítio do Calvário Novo, naquele tempo, era o mais indicado
para repouso e recuperação de uma doença, por ser local tranquilo e saudável.
Estava, efectivamente, numa zona alta do burgo, bem arejada e com uma paisagem
fabulosa sobre o rio e a barra.
A área de implantação da capela e da brévia corresponde,
hoje, a uma parte da ocupada pelo Palácio da Justiça.
Acabado o edifício, os
frades quiseram juntar a brévia à capela e, para isso, começaram a
construir uma espécie de passadiço que asseguraria a ligação entre as duas
dependências. Opôs-se a esta pretensão dos frades a irmandade do Senhor Jesus do Calvário Novo, que administrava
a capela, e a obra chegou a ser embargada para continuar pouco depois porque
as autoridades foram sensíveis a um novo apelo dos frades que lá conseguiram "levar
a água ao seu moinho".
Em 1786,
instalou-se na ermida do Senhor do Calvário Novo a Ordem da Santíssima Trindade, fundada na capela da Batalha em 1781,
que com a designação de Ordem Terceira de São Domingos, fora fundada, em 1676,
no mosteiro, de São Domingos.
Vinda então da Batalha, a Ordem da Santíssima Trindade aglutinou
a confraria do Calvário que foi, em sequência, extinta.
Os acontecimentos agora narrados radicavam, assim, em alguns
anos antes, quando os terceiros do mosteiro de S. Domingos usufruíam de uma
linda capela com a frontaria voltada para onde, hoje, está a Rua de Ferreira
Borges.
A partir de 1734, os terceiros de São Domingos mantiveram com os
frades dominicanos uma longa demanda jurídica que só acabou em Abril de 1755,
com a extinção da Ordem Terceira de São Domingos. Mas, ainda em Maio, desse
mesmo ano, os terceiros de São Domingos retiraram deste mosteiro todos os seus
haveres e instalaram-se com eles na capela de Nossa Senhora da Batalha, agora
já com a nova designação de Ordem da Santíssima Trindade, passando a confraria
dos sirgueiros que então aí estava, para a capela do Calvário Novo, para onde
mais tarde seguiu também a ordem da Santíssima Trindade (chamados igualmente de
Trinos) que, aí, se associariam em 1786. Passado algum tempo, a Ordem Terceira da Santíssima Trindade viria
a ter necessidade de mudar-se, agora em litígio com os frades antoninos.
Com efeito, os Trinitários mudaram-se, em 1803, para
instalações próprias, que mandaram fazer onde hoje é a Praça da Trindade.
Após várias peripécias, em que diz-se que os Trinos se apoderaram do espólio da capela, vendendo os terrenos que aí possuíam a um
tal Francisco José Gomes Monteiro, o pequeno templo teve várias
utilizações.
A capela, depois de
1803, teria ao longo dos tempos diversas utilidades, tendo sido cavalariça,
quando lá se instalou a “Companhia de
Transportes Portuenses”, que
faliu em 1874, e ainda, padaria, taberna e lupanar.
Por outro lado, nas instalações dos Padres do Vale da Piedade já, em 1761, se tinha aqui fixado o Tribunal da Relação que andava em bolandas.
Segundo Sousa Reis os capuchos de Vale da
Piedade construíram no Calvário Novo «huma enfermaria ... e de tal forma a
levantaraõ que veio a ser hum bom Hospicio bem assente com otimas vistas, annexando
lhe dous soberbos armazens de que colhiaõ pingue alugueres».
Daqui, o Tribunal da
Relação terá saído, quatro anos depois, para o Palacete das Hortas.
Em 1803, já se tinha também instalado, nas instalações dos
frades antoninos, a Aula de Desenho
criada em 1779, e que vinha funcionando nas instalações do Colégio dos Órfãos.
Em 1834, na sequência da extinção das ordens religiosas, os
padres antoninos do Convento de Santo António do Vale da Piedade, em V. N. de Gaia,
desligam-se completamente das instalações que detinham na Cordoaria, contíguo à
extinta Capela do Senhor Jesus do Calvário Novo.
Os livros que constituíam a biblioteca do bispo D. João
Avelar (em 1833, com a entrada do exército liberal no Porto, o bispo D. João
de Magalhães Avelar tinha fugido da cidade), mais os das livrarias de alguns
conventos, foram arrecadados como fundo inicial da futura Biblioteca Pública do Porto, na antiga brévia dos frades antoninos.
No ano seguinte, instalou-se no hospício do Calvário Novo o Tribunal do Comércio da Primeira Instância.
Quanto ao percurso feito pela Roda dos Expostos ou Roda dos Enjeitados, a partir de 1823, passou a ser da exclusiva responsabilidade da Câmara e, em 1826, saiu de junto do
Hospital D. Lopo ao fundo dos
Caldeireiros e mudou para a Rua dos Fogueteiros, a actual Azevedo de
Albuquerque para o edifício agora ocupado pela Cooperativa Árvore. Entre
1826 e 1834, esteve aí instalada a “Roda dos Expostos”, vinda da Rua dos
Caldeireiros, onde se encontrava desde 1685.
Este edifício foi severamente punido por artilharia durante
as lutas liberais e a instituição viu-se obrigada a ocupar outras instalações
na Rua de Cedofeita.
Em 1838, a Roda ocupa o
Hospício do Calvário Novo nas instalações, entretanto, abandonadas pelos
antoninos, onde se manteve até 1854.
Mas o edifício tornou-se exíguo e a roda peregrinou por vários locais, sobretudo por conventos e mosteiros femininos acabando, em
1913, na Rua de Antero Quental,
então, com a designação de Comissão Protectora dos Meninos Expostos.
Hospício dos Expostos (antiga brévia dos antoninos) - Gravura de Joaquim Villanova em 1833
Na gravura acima de J. Victoria Villa Nova, está o hospício
do Calvário Novo, em 1833, próximo do qual, ficava a Capela do Calvário Novo
(seria à esquerda da gravura acima), que durante anos albergou a Ordem Terceira
da SS Trindade.
Em 1864, Francisco Ferreira Barbosa, no Elucidário do Viajante
no Porto, escreve:
“Os frades tinham
na cidade o seu hospício na Cordoaria, hoje Campo dos Martyres da Pátria, aonde
hoje é o hospício dos expostos ou abandonados, d'antes roda dos enjeitados, defronte
da igreja de S. José das Taypas, ou Almas."
Capela do Senhor Jesus do Calvário Novo
Junto à porta do Hospício dos Expostos, na Cordoaria
Igreja de Santa Clara
Na foto acima à direita do pórtico de entrada na igreja do Convento de Santa Clara está a Roda dos
Expostos, que aqui também funcionou, bem como, no Convento de S. Bento da Ave-Maria na foto abaixo.
Roda dos expostos em S. Bento da Ave-Maria
Cronologia da
ocupação da ermida do Senhor Jesus do Calvário Novo
1660 – Já a irmandade do Calvário Novo está instalada com a
ermida no local
1694 - A irmandade constrói em anexo, uma casa para o
sacristão
1755 – A confraria dos sirgueiros instala-se vinda da
Batalha
1787 – A Ordem da Trindade instala-se, chegada da Batalha
1803 – A Ordem da Trindade sai para ocupar lugar próprio, no
Laranjal e vende a capela e propriedade anexa ao particular, Francisco José
Gomes Monteiro
Até 1874 – A antiga capela foi cavalariça, padaria, taberna
e lupanar
Cronologia da
ocupação do Hospício do Calvário Novo (Fr. Antoninos)
1730 - Fixam-se no local com uma brévia, os frades em
terreno anexo à capela
Entre 1761 e 1765 - Funciona nas instalações o Tribunal da
Relação
1803 - Funciona aqui a Aula de Desenho, vinda do Colégio dos
Orfãos
1834 - Passa a funcionar como arrecadação de livros dos
conventos e mosteiros, após extinção das ordens religiosas
1835 - Funciona aqui o Tribunal de Comércio de 1ª Instância
1838 - Passa a funcionar como hospício dos Expostos
Cronologia das
sucessivas localizações da Roda dos Expostos
1689 - Funcionamento da Roda no hospital D. Lopo
1826 - Instala-se na Rua dos Fogueteiros
1833 - Instala-se em prédio da Rua de Cedofeita
1838 - A Roda ocupa o Hospício do Calvário Novo
1854 - A Roda abandona as instalações da Cordoaria e passa a peregrinar pelos conventos e mosteiros da cidade
1913 - Ocupa prédio na Rua Antero de Quental
Para além do mosteiro de Santa Clara e do convento de S. Bento da
Ave-Maria, a Roda funcionou, também, no Recolhimento do Ferro.
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