11.7
Matadouros
Em tempos muito antigos houve no Porto três açougues que funcionavam muito perto uns dos outros, no espaço hoje ocupado pelo Largo do Dr. Pedro Vitorino, junto à Sé.
Um era o açougue Real, onde se abatia o gado
cuja carne se destinava ao consumo da cidade e que ficava sensivelmente a meio
da Rua de S. Sebastião, onde agora está a reconstituição da primeira instalação
da Câmara, da autoria do arquitecto Fernando Távora; o açougue do Bispo,
destinado a abastecer unicamente o paço episcopal e o cabido, ou seja os
cónegos; e o açougue dos Judeus, muito especial, porque aqui o abate do gado
tinha que obedecer a um ritual muito especial.
Segundo Magalhães
Basto:
“…A
Rua das Aldas vinha na continuação da rua da Penha ou da Pena Ventosa que, por
sua vez, começava na Rua de S. Sebastião e ia pela Rua Francisca até ao Largo
do Açougue Real. Antes de ser Açougue Real foi, Açougue do Castelo e
Açougue da Cidade. Hoje a área em questão, corresponde ao Largo do Dr. Pedro
Vitorino”.
Há documentos em que se prova que já no
século XIII funcionava no burgo, um açougue ou matadouro eclesiástico que a
partir do século XVI, passou a ser administrado pela Câmara.
Junto da Sé
chegaram a funcionar, portanto, 3 matadouros: o Matadouro Real que servia a
população da cidade, o do Bispo e o dos Judeus com um ritual muito próprio.
Em 1576, os
jesuítas instalados no Seminário Maior, puseram em causa o funcionamento do
matadouro por causa dos maus cheiros. Em 1584 foi pela vereação decidido,
transferir o matadouro para fora do Postigo do Sol, junto do actual Largo Actor
Dias.
Entre as Ruas das
Fontainhas e do Sol, perto da Porta do Sol, funcionaram depois os matadouros,
chamando-se outrora ao local, Vale da Asna.
Por isso, não é de
estranhar que por aí tenha existido uma Viela das Tripas.
O abate de animais acabaria por ser "empurrado" mais para os lados das Fontainhas, vindo a ocupar o local, onde mais tarde, foi instalado o Asilo de Mendicidade.
No último quartel do século XVIII o matadouro já estaria por estas bandas.
O abate de animais acabaria por ser "empurrado" mais para os lados das Fontainhas, vindo a ocupar o local, onde mais tarde, foi instalado o Asilo de Mendicidade.
No último quartel do século XVIII o matadouro já estaria por estas bandas.
Um outro local onde
funcionou o matadouro da Câmara até 1923, foi no edifício que ainda existe e
que se situava na Rua de S. Diniz, e teve diversas funções posteriormente,
sendo talvez a mais relevante, servir de parque de estacionamento para as viaturas de recolha do lixo.
Actualmente, ainda lá se encontra a Direcção de Ambiente da C.M. do Porto.
Antes de o
Matadouro da Câmara ter ido para a Rua de S. Dinis, chegou a funcionar no local
onde esteve o Asilo de Mendicidade ao fundo da Rua das Fontainhas.
Esta zona da cidade
associada ao abate de animais e a algumas oficinas de curtumes, na sua
envolvente, bem como os maus cheiros que essas actividades exalavam, levaram ao
abandono da Alameda das Fontainhas, por parte dos portuenses que até aí a
usavam como palco de muitos passeios desfrutando da vista sobre o Douro.
É sabido por outro
lado que, a Rua de Serpa Pinto foi rasgada entre 1837 e 1844, a fim de ligar a
Ramada Alta e o Matadouro Municipal.
“Este matadouro foi inaugurado em 1 de
Janeiro de 1844, deixando por resolução de 15 de Novembro de 1843 de se deixar
de fazer abates no matadouro das Fontainhas.
Em Abril de 1874, haveria de ser tomada a
decisão de ampliar o edifício do Matadouro de Paranhos”.
Fonte Horácio
Marçal In S. Veríssimo de Paranhos
Antigo Matadouro de S. Dinis, depois canil –
Ed. J. Portojo
Acontece que, no
ano de 1854, Joaquim Ribeiro Faria Guimarães que fazia parte da comissão de
cidadãos portuenses, que tinha pugnado pela instalação do Asilo de Mendicidade na antiga
Praça da Alegria e, nessa qualidade, ofereceu gratuitamente todos os tubos de
ferro que foram necessários para encanar a água desde a fonte da Rua das
Fontainhas até aquele asilo.
O Asilo de Mendicidade que foi instituído por
D. Maria II em 1838, só seria inaugurado em 1846.
Começou por funcionar no palacete do visconde
de Veiros, que ficava na actual Rua do Melo, na chamada Quinta da
Boavista ou das Águas Férreas, e mudou-se depois para as Fontainhas,
destinando-se aos mendigos e abandonados.
“Mas vai ser como provedor do Asilo de
Mendicidade (às Fontainhas), enquanto membro do Conselho Filial de
Beneficência, que José Joaquim Leite Guimarães que se tinha fixado no Porto em 1858, se vai tornar notado,
conseguindo acabar e pondo a funcionar uma obra que se arrastava
indefinidamente (o que lhe valeu o título de barão de Nova Cintra).
(…) Problemas com a Câmara Municipal na
cedência do terreno junto ao Asilo de Mendicidade levaram a que agisse por sua
única iniciativa, comprasse o terreno na rua da China, e erguesse o
"Estabelecimento Humanitário Barão de Nova Cintra", custeado por sua
conta”.
Com a devida vénia
a Jorge Fernandes Alves – “Os Brasileiros, Emigração e Retorno no Porto
Oitocentista”
Por sua vez, o
Asilo de Mendicidade só começou a funcionar nas Fontainhas cerca de 1859, por
acção do Barão de Nova Cintra (que só se estabeleceu na cidade em 1858), e que
transitaria para ali, vinda do Palácio do visconde de Veiros.
Dois anos antes, em 1857, as instalações seriam ocupadas com a 1ª Feira Industrial do Porto, organizada pela Associação Industrial Portuense, que antecederia em 8 anos, uma outra que ficou célebre, por ter servido para inaugurar o Palácio de Cristal.
Dois anos antes, em 1857, as instalações seriam ocupadas com a 1ª Feira Industrial do Porto, organizada pela Associação Industrial Portuense, que antecederia em 8 anos, uma outra que ficou célebre, por ter servido para inaugurar o Palácio de Cristal.
Segundo o texto
abaixo o edifício às Fontainhas (que tinha por cima do escudo, a coroa real que
foi picada em 1910), teria sido construído mesmo para matadouro.
Texto sobre o Asilo
de Mendicidade - Fonte: “O Tripeiro”
Asilo de
Mendicidade local de antigo Matadouro na Rua das Fontainhas
Em 1873, o edifício das Fontainhas teve obras importantes.
A partir desta data, passou a ostentar no frontão da sua
fachada, a estátua da Caridade que transitou da Capela de Santo Elói, dos
ourives de ouro e prata, contigua à Igreja dos Franciscanos, por cedência, na
sequência de decisão de 28 de Agosto de 1871, após aquisição da mesma feita no anterior
dia 13.
O matadouro
Municipal na Rua de S. Diniz funcionou até 1923. Posteriormente, foi canil e
outros serviços da Câmara, tal como departamento da limpeza.
Actualmente,
encontra-se lá Direcção do Ambiente da CMP.
Asilo de Mendicidade
no início do século XX, encimado pela estátua da Caridade
Veículo de Recolha e Transporte de Cães para o Canil, 1940
“Por volta de
1910, sentindo-se necessidade de substituir o insuficiente e velho matadouro de
S. Diniz, é aprovado o projecto de construção de um novo matadouro municipal na
cidade do Porto.
Na escolha do
local atendeu-se a vários requisitos; de facto, embora perto do centro da
cidade, a Corujeira era então um local povoado e para onde a cidade não tendia
a estender-se. Possuía, além disso, captação de água própria e abundante,
escoava os líquidos residuais com facilidade e permitia a futura ampliação.
Acrescentem-se a
tudo isto as vantagens da existência do caminho-de-ferro no extremo NE e da
rede viária.
Concluídas as
expropriações, imediatamente se iniciaram as primeiras obras de edificação;
apesar disso o processo foi lento e complexo; de tal modo que só em 1923 é que
as operações de abate foram transferidas para o novo matadouro, então
concluído.
O apetrechamento
mecânico fornecido pela casa Beck & Henkel, de Cassel foi introduzido em
1930.
Finalmente, em
Julho de 1932, efectua-se a inauguração oficial.
O matadouro do
género 0ffenbach, tipo de instalação em superfície também conhecida por sistema
alemão, ocupa uma área total de 30 000 m2 e todas as suas dependências foram
concebidas para que as diferentes operações se sucedessem de uma forma metódica
e progressiva”.
Fonte: “portoarc.blogspot.com”
Antigas instalações
do Matadouro da Corujeira
Matadouro na Corujeira em Campanhã
Tendo encerrado, definitivamente, no ano de 1992, a área liberta de 25 mil metros quadrados funcionaria, nos anos seguintes, como
armazéns da Câmara, depósito de carros
rebocados, sede provisória da Sociedade Protectora dos Animais e acolheriam,
ainda, uma esquadra da PSP.
Em 5 de Junho de
2018, a Câmara Municipal do Porto apresentou, publicamente, o projecto para a área
respectiva, que será concessionada e, na qual, entre outros valências, a Câmara
tenciona instalar o Museu da Indústria.
“O concessionário, que será responsável por
todo o investimento, fica obrigado a cumprir o programa delineado pela Câmara
do Porto nos próximos 30 anos, findos os quais, o equipamento ficará municipal.
Nesse período, a Câmara do Porto também ocupará parte do Matadouro, onde
desenvolverá a parte cultural e de coesão social associada”.
Fonte: “porto.pt”
Maquete das novas
instalações do antigo Matadouro da Corujeira
Em complemento, uma outra área que esteve afecta durante quase todo o século XX à fábrica de acabamentos têxteis "A Invencível", situada no outro lado da Rua de S. Roque da Lameira (antiga Estrada Real nº 33), tornar-se-á um jardim público com um parque de estacionamento no sub-solo.
Entrada da antiga fábrica de acabamentos têxteis "A Invencível" - Cortesia de Rui Ferreira
Chaminé e depósito de água de um poço aberto, no início do século XX, da antiga fábrica "A Invencível" que, em 1960, era dotada de gerador eléctrico próprio
Também está previsto, em sequência da recuperação das antigas instalações do antigo matadouro, intervencionar uma área de cerca de 45.000 m2, que tem servido como Parque de Recolha dos STCP, situada junto das antigas instalações da fábrica "A Invencível", na Rua da Fábrica Invencível.
O início dos trabalhos para concretização de todo o projecto, atrás referido, arrancaram em 2021.
Diga-se, a propósito do tema vertente, que um outro matadouro funcionou, na actual Travessa de Cedofeita
que se chamou, por isso, Viela do Açougue e que abastecia, em
especial, o hospital do Carmo e as famílias burguesas que entretanto por ali
se instalaram com predominância para a classe médica e dos professores que
trabalhavam nos hospitais, do Carmo ou de Santo António, e davam aulas na
Escola Politécnica, que funcionava no edifício onde agora está, a reitoria da
Universidade.
No Porto, a "vendagem de carne" só se tornou
completamente livre depois da Revolução Liberal de 1820, mas, já antes desta
data, nos princípios do século XIX, a Câmara concedera já, algumas licenças
para o estabelecimento de talhos dentro do perímetro da cidade.
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