11.4 A Santa Casa da Misericórdia do Porto
Um picheleiro ilustre
Nuno Rodrigues, com a profissão de picheleiro, foi um
cidadão do Porto e avô materno de Brás Cubas, o fundador da cidade de Santos,
no Brasil e que, alguns portuenses conhecem, por ter o nome associado a uma
rua, transversal à Avenida de Fernão de Magalhães, a Rua de Brás Cubas.
Uma filha de Nuno Rodrigues, de seu nome Isabel Nunes
casaria com João Pires Cubas, de cujo casamento houve o filho, o tal Brás
Cubas.
Este, emigrando em 1530, para o Brasil, por lá se manteve e ganhou fama, durante sessenta anos.
Os membros da família Cubas, que possuíam umas casas na Rua
Escura, na transicção do século XIV para o XV, seriam também foreiros ao Cabido
da Sé do Porto, de um casal no sítio de Fradelos.
Criada em 1498, a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, D. Manuel I insinuou que fossem fundadas instituições do género em várias cidades
do País.
Assim, em 14 de Março de 1499, no que diz respeito à cidade
do Porto, enviou uma carta ao juiz, vereadores, fidalgos, cavaleiros e
homens-bons da cidade para que fundassem uma Misericórdia.
Com alguma probabilidade, a Misericórdia do Porto poderá ter
sido fundada em 1502, aproveitando a passagem do rei pela cidade, que se
dirigia em romagem a Santiago de Compostela, cumprindo-se, assim, a vontade do
monarca.
Nos primeiros tempos, a Misericórdia do Porto manteve-se
numa certa apatia, já que sofria também da concorrência de outras instituições
de assistência que já tinham alguns anos.
Pois, seria neste contexto, que o picheleiro Nuno Rodrigues
encetou todo o seu esforço para que a Misericórdia do porto não definhasse,
tendo servido a Irmandade até pelo menos ao ano 1527, embora já em 1504, tenha
sido a sua acção destacada em carta do rei, cujo texto está a seguir
explicitado:
Séculos XV e XVI
“Até ao fim do séc. XV a assistência aos
doentes, pobres e crianças era prestada pelas Congregações Religiosas, em
especial as franciscanas e dominicanas, pela iniciativa episcopal e pelas confrarias
profissionais (dos sapateiros, dos alfaiates, dos ourives, etc.) até à criação
da Santa Casa da Misericórdia.
A Santa Casa da Misericórdia do Porto foi
fundada em 14 de Março de 1499 e constituída na Ordem Jurídica Canónica.
A carta que D. Manuel I escreveu aos homens
bons e governantes do burgo portuense é referência obrigatória e primordial
para todos aqueles que procuram, na história, o começo, a essência e os motivos
da fundação da Santa Casa da Misericórdia do Porto.
A recomendação régia, expressa naquela carta,
a demonstração de espírito cristão, de caridade e solidariedade social,
reinante na corte portuguesa, alicerçada e inspirada pela espiritualidade
intensa da Rainha D. Leonor, foi determinante para que os homens do Porto se
organizassem.
Inicialmente instalada na Capela de Santiago,
no Claustro Velho da Sé, que se tornou assim na "primeira sala de
despacho", a Misericórdia do Porto fixou-se, em meados do século XVI,
naquelas que são ainda hoje as suas actuais instalações, localizadas na Rua das
Flores.
O edifício na Rua das Flores pertencia,
quando a Confraria de Nossa Senhora da Misericórdia a ocupou, em 1555, a
António de Amaral de Albuquerque e a sua esposa D. Maria Pereira Leite”.
Fonte – Site: “scmp.pt”; In:
portoarc.blogspot.pt
Claustro Velho da
Sé, onde existiu a Capela de Santiago
A 7 de Agosto de 1502, a Irmandade da Santa Casa da Misericórdia
instala-se em terrenos da Catedral do Porto.
O primeiro grande
impulso para o alargamento e consolidação da Misericórdia proveio da carta
régia de 15 de Maio de 1521, em que D. Manuel I ordenou a anexação dos
Hospitais de Rocamador, de Santa Clara e os de Cima de Vila, com todas as suas
rendas e heranças, que anteriormente eram geridas pelo município.
O Rei D. Manuel I,
bem como a Rainha D. Leonor, além da concessão de muitos privilégios e
isenções, fizeram várias doações e deixaram esmolas à Misericórdia. Também
muitos benfeitores legaram os seus bens. Saliente-se a primeira benfeitora da
Santa Casa, D. Branca Denis, que, em 1503, doou alguns bens que possuía na
Maia.
A Santa Casa
passou por grandes dificuldades financeiras porque a diminuta renda da cidade
não chegava para as despesas dos doentes e pobres. Em 1536 D. João III impõe
uma taxa destinada à Santa Casa, de um real por cada rasa de sal. E outras
imposições se lhe seguiram para manter tão caridosa obra.
“No dia 16/2/1584
o Provedor da Misericórdia do Porto Afonso Ferraz, recebeu uma nova
sensacional: morrera em 29/1 último, em Madrid, D. Lopo de Almeida, o
riquíssimo sacerdote filho do contador-mor do reino D. António de Almeida,
parente próximo do grande D. Francisco de Almeida, primeiro Vice-Rei das
Índias, deixando toda a sua fazenda a esta instituição! A Misericórdia reúne os
Irmãos regentes de seus negócios e manda a Madrid o recadeiro da Relação
Lourenço Sarto, com muitas e boas cartas de recomendação e apresentação…
Ganhara esse
caminheiro um vintém por légua (eram 90 léguas) e um tostão de ajuda de custo
por dia, enquanto demorasse no encargo. Passados 20 dias estava de volta, com a
informação de que, na verdade, a Misericórdia fora designada pelo sacerdote
português em Madrid sua universal herdeira. E trazia a cópia do testamento, em
que o testador declarava, o que mais nos interessa agora: «Os pobres são os
meus direitos herdeiros… pelo que deixo por universal herdeiro o hospital e
obras pias, que mando cumprir, e por meu testamenteiro e administrador da
Misericórdia. Mando que a dita Misericórdia mande recolher continuamente
enfermos e lhes administre todo o necessário à conta da minha herança… Toda a
fazenda que eu deixar, cumpridos os legados, quero que se gaste em curar os
pobres…»
Mas a herança de
D. Lopo não era inesgotável. Os encargos a que obrigava teriam soçobrado se não
acudisse à Santa Casa outro grande legado, o de Manuel Fernandes, portuense,
mercador no Oriente. Pode então construir-se junto do velho o hospital novo,
que continuou a chamar-se D. Lopo e cujas obras, começadas em 1605, só no fim
do século acabaram”.
In História do Porto
por Artur de Magalhães Basto.
A construção da
Igreja da Irmandade iniciou-se cerca de 1550. A capela-mor, erigida entre 1585
e 1590, com projecto da autoria do mestre pedreiro Manuel Luís, reflecte a
influência das gravuras de Vredeman de Vries, artista frísio que exerceu grande
parte da sua actividade em Antuérpia.
Século XVII
“Em 1605, a Mesa Administrativa deliberou a
construção de um novo hospital, denominado de D. Lopo de Almeida, benfeitor que
faleceu em 29 de Janeiro de 1584 e legou toda a sua fortuna à Misericórdia. O
hospital, de que restam alguns vestígios, implantar-se-ia no gaveto formado
pela Rua das Flores e Rua dos Caldeireiros”.
Fonte - Site:
“scmp.pt”
Século XVIII
“Em meados do século XVIII, a igreja da
Misericórdia, que ameaçava ruína, sofreu grandes alterações nomeadamente na
nave, sob a direcção do engenheiro Manuel Álvares, e na fachada, riscada pelo
arquitecto italiano Nicolau Nasoni.
Na segunda metade de setecentos, o Hospital
de D. Lopo já não era suficiente para recolher os doentes que, de toda a cidade
e arredores, a ele acorriam. Em 1769, o arquitecto inglês John Carr conclui o
projecto do novo Hospital Real de Santo António, encomendado pela Mesa da Misericórdia.
No ano seguinte, a 15 de Julho, foi benzida e lançada a primeira pedra. O
projecto não chegou a executar-se sequer em metade, pois era de uma
grandiosidade extraordinária. Em 1799 estava terminado o corpo sul, que foi
ocupado por 150 mulheres doentes provenientes do Hospital de D. Lopo.
Nesta época, além do Hospital de Santo
António, a Misericórdia tinha à sua responsabilidade:
- Hospital de D. Lopo, na Rua das Flores;
- Hospital dos Entrevados, em Cima de Vila;
- Hospital das Entrevadas, junto à igreja de
Santo Ildefonso;
- Lázaros e Lázaras, no Campo de São Lázaro;
- Hospício das Velhas de Santa Clara;
- Recolhimento de Órfãs de Nossa Senhora da
Esperança.
A Santa Casa assumia o encargo de zelar pelas
crianças expostas na Roda, situada na Rua dos Caldeireiros, prestava dotações à
orfandade e à viuvez e socorria, com médicos, enfermeiros e remédios, os presos
da Cadeia Civil do Porto que, também, recebiam assistência religiosa.
Anualmente, a Misericórdia cuidava gratuitamente mais de mil doentes, amortalhava
e dava enterro cristão a mais de quatrocentos defuntos”.
In “portoarc.blogspot.pt”
Século XIX
No século XIX,
outros estabelecimentos vieram enriquecer a obra assistencial da Santa Casa.
Foram fundados graças à benemerência dos torna-viagem:
- Estabelecimento
Humanitário do Barão de Nova Sintra, legado em 1871 pelo seu fundador, José
Joaquim Leite Guimarães;
- Hospital de
Alienados do Conde de Ferreira, inaugurado em 1883, graças ao legado de Joaquim
Ferreira dos Santos;
- Instituto para
Surdos-Mudos Araújo Porto, inaugurado em 1893, criado com o legado de José
Rodrigues de Araújo Porto.
Colégio do Barão de Nova Sintra
“Barão de Nova Sintra (Nova Cintra na grafia
da época) é um título nobiliárquico criado por D. Luís I de Portugal, por
Decreto de 8 de Março de 1862, em favor de José Joaquim Leite Guimarães, que iniciou
a sua carreira comercial no Porto, como empregado num estabelecimento de lãs, e
em 1825 passou ao Rio de Janeiro, empregando-se numa loja de fazendas. Em 1831
era sócio da casa de Luís Joaquim Moreira & C.ª, no Rio Grande do Sul. Uma
revolta republicana naquela região levou-o a pegar em armas na defesa do Império,
e foi ferido em combate. Voltando ao Rio de Janeiro, associou-se a seu irmão
(depois 1.º Barão de Glória) e essa sociedade durou e prosperou até 1837. Em
1838 era sócio da firma Leite & Guimarães, uma das maiores de fazendas por
grosso do Rio de Janeiro. Em 1851 regressou à Europa, onde viajou, vindo para
Portugal em 1855 e fixando-se em Lisboa. Seis anos depois foi chamado a assumir
a gerência da Companhia do Gás, do Porto, cuja posição financeira era precária.
A sua excelente administração restabeleceu rapidamente a prosperidade e crédito
daquela Companhia. Presidente da Associação Comercial de Beneficência do Porto
com grande êxito, acerto e sentido administrativo foi, pelo Governo, nomeado
Provedor do Asilo da Mendicidade da mesma Cidade, dando-lhe eficiência e
condições de vida melhores do que nunca. Vários Bancos o contavam entre os seus
Fundadores e a Exposição do Porto de 1865 foi em grande parte empreendimento
seu. Grande Filantropo fundou o Estabelecimento Humanitário Barão de Nova
Sintra, de larga obra assistencial e de educação profissional de rapazes
tirados das casas de correção. Uma fábrica de fiação de sedas da sua fundação
foi objeto de prémios e distinções em certames industriais”.
Fonte: pt.wikipedia.org
O Colégio do Barão
de Nova Sintra (CBNS) foi fundado em 1863, apesar do actual edifício, só ter
sido inaugurado em Outubro de 1866, durante uma visita real.
Aliás, nos últimos
tempos, era forte a ligação dos monarcas à cidade do Porto.
Visitas tinham sido feitas
por D. Luís I (1838-1889) e D. Maria Pia (1847-1911) em Novembro de 1863,
Setembro de 1865, Janeiro de 1866 e a presente em Outubro.
Seguir-se-iam
visitas em Agosto de 1869, Julho de 1872, Maio de 1875, Novembro de 1877, Novembro de 1881,
Agosto de 1882, Julho de 1883 e Setembro de 1887.
Inicialmente, José
Joaquim Leite Guimarães pretendeu instalar o seu centro de assistência para
rapazes saídos do sistema correcional nas Fontainhas, no edifício onde veio a
ser instalado o Asilo de Mendicidade. Por oposições de variada ordem, aquela
pretensão foi impossível de ser concretizada.
Para cumprimento do
seu desígnio, José Joaquim Leite Guimarães mandou construir um edifício de
raiz, de fisionomia horizontal, com uma cantina, um claustro interno, uma
capela, entre outras acomodações, encimado pelo busto de D. Pedro V.
O “Estabelecimento
Humanitário de Nova Sintra” (inaugurado pelo rei D. Luís I) e a fábrica de
sericultura (seda) que lhe era anexa exigiam uma cuidada administração, o que
não fazia parte das atribuições dos testamenteiros.
Por esse motivo, em
1 de Junho de 1871, um ano após a morte do barão, fica a Misericórdia do Porto
responsável pela administração destes dois estabelecimentos, mediante a
assinatura do respectivo “Auto de Posse”. É de salientar que o primeiro
estabelecimento subsiste até à actualidade, sob a alçada da Misericórdia do
Porto, com a designação de “Colégio do Barão de Nova Sintra”.
Inicialmente
designado de “Estabelecimento Humanitário de Nova Sintra”, só em 1972, passou a
utilizar a denominação actual, devido ao facto do primeiro nome evidenciar um
carácter pejorativo, comummente associado aos asilos. O objectivo inicial do
CBNS foi o prestar acolhimento e a educação a crianças abandonadas de ambos os
sexos e, ainda, receber vadios julgados em tribunal. Entre 1877-1878, o CBNS
deixou de contemplar o último objectivo, passando a ser caracterizado como
estabelecimento de educação para a infância desvalida.
Colégio do Barão de
Nova Sintra – Ed. “explorebonfim.com”
Colégio do Barão de
Nova Sintra, no início do século XX
Na foto acima,
observamos a chegada de alguns convidados para uma cerimónia a decorrer nas
instalações do colégio.
De notar que alguns
anos mais tarde, nos terrenos fronteiros e que faziam parte da Quinta dos Reid,
surgiriam as instalações dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento
quando, pouco antes, o F. C. do Porto esteve quase decidido a erguer aí, o seu
novo estádio.
Colégio misto até 1961,
apesar da separação total de rapazes e raparigas, o CBNS passou a acolher então
apenas crianças e jovens do sexo masculino, população que sempre fora
maioritária. A idade limite de permanência, que até então se cingia aos 14
anos, é alargada aos 18. Em finais de 1930, o CBNS passou a acolher também
crianças e jovens em regime de externato que apenas frequentam as aulas da, na
altura denominada, instrução primária. Até ao final da década de 90, o CBNS
acolhia em média 90 alunos anualmente.
Os objectivos e a
média de alunos acolhidos pelo CBNS sofreram claras mutações ao longo do tempo.
Transitou-se, lentamente, de um paradigma assistencialista, que procurava
satisfazer as necessidades básicas das crianças e jovens (ex. alimentação,
higiene, educação), sem atender às suas especificidades, para uma intervenção
sistémica e globalizante, que tem em conta as idiossincrasias dos seus utentes,
bem como as suas histórias de vida, procurando constantemente maximizar os
factores de protecção e minimizar os factores de risco. A intervenção deixa de
ser unifocal, para passar a considerar os vários constituintes do sistema,
designadamente a família e o meio.
O CBNS integra
presentemente as valências de Lar de Infância e Juventude (LIJ) e de Centro de
Actividades de Tempos Livres (CATL).
O LIJ do CBNS
destina-se, actualmente, ao acolhimento de um máximo de 42 crianças ou jovens
do sexo masculino, com idades compreendidas entre os 6 e os 18 anos, que
estejam em situação de perigo (cf. Lei 147/99 de 1 de Setembro). Os objectivos
da Instituição centram-se na substituição e ou complemento da família de origem
por um determinado período de tempo, de forma securizante e contentora de
angústias, promotora de um desenvolvimento integral e da construção da
identidade. O CBNS assegura, a estas crianças e jovens alojamento, alimentação,
protecção, segurança, apoio psicológico e social, apoio às famílias, apoio
académico e pedagógico, apoio na saúde, lazer, cultura e desporto às crianças e
jovens internas e prevê a definição individual de um Projecto de Vida para cada
um.
O CATL do CBNS, por
sua vez, destina-se a crianças e jovens de ambos os sexos, cujas famílias
apresentem limitações ao nível do apoio prestado aos filhos ou no domínio
económico, e objectiva o acompanhamento dos menores a nível académico.
O Barão de Nova
Sintra viria a construir, junto ao colégio, uma residência que, praticamente, não ocuparia, pois faleceu em 1870, e que, hoje, é um Centro de Saúde, depois de ter
passado, por venda, para as mãos da família Andresen e pela posse de uma empresa mineira.
Palacete do Barão de Nova Sintra - Ed. Manuela Campos
Aquela residência ocupou-a
a par de uma outra que tinha à entrada da Rua de Santo Ildefonso, junto à Praça
da Batalha, para a qual tinha obtido junto dos serviços camarários o nº
138/1862 para a realização de obras.
Casa onde residiu o Barão de
Nova Sintra, na Rua de Santo Ildefonso
O prédio da foto foi a residência de Aurélio Paz dos Reis e a porta azul, à direita, a entrada para os jardins, viveiros e estufas - Fonte: Google maps
José Joaquim Leite Guimarães teve dois casamentos. Tendo ficado viúvo do seu primeiro matrimónio, teve dele dois filhos que morreram de tenra idade. Do segundo teve uma filha que pereceu num incêndio, em criança.
A Baronesa Albina Augusto de Araújo recolheria, então, a um convento em Viana do Castelo, donde era natural, só de lá saindo dois anos após o falecimento do Barão.
Instituto Araújo
Porto
Esta estrutura, apelidada de Instituto Araújo Porto, foi inaugurada a 26 de Fevereiro de 1893 estando o edifício situado na Rua de Joaquim de Vasconcelos, em terrenos que haviam sido doados à Santa Casa da Misericórdia do Porto (SCMP) pelo benfeitor José Vaz de Araújo Veiga, e seria construído no decorrer do cumprimento de um testamento feito em 1883, por outro benfeitor, que daria o nome ao instituto - José Rodrigues d'Araújo Porto.
A 12 de Novembro de
1899 tinha sido lançada a 1ª pedra do Asilo de Cegos, iniciativa da Santa Casa
da Misericórdia do Porto, com planta de Casimiro José Faria (eng. Inspetor das
obras da Misericórdia), cerimónia em que tocou a banda do Asilo do Barão de
Nova Sintra
Ocupava a antiga
“Quinta da Veiga” (viúva de José Vaz de Araújo Veiga) que fazia parte de um
Prazo que englobava os “Passais de Cima”, parte dos “Passais de Baixo e
de Dentro” e, ainda, uma porção de “Lavradio” que saiu da “Quinta” e “Passais
de Fora”. Aqueles “Passais” eram terrenos de cultivo anexos à residência do
Prior de Cedofeita.
O edifício foi construído pela Misericórdia, de acordo com o
desejo do seu benfeitor, para acolher as crianças surdas-mudas. Ali esteve
igualmente instalado o Instituto de
Cegos S. Manuel e, nos anos 90 alguns idosos em situação de dificuldade.
Aquele benfeitor era um indivíduo chegado à cidade em 1878
vindo de Lisboa, mas que tinha estado no Brasil, onde tinha acumulado
importante fortuna, e que deixou determinado que após a sua morte deveria o seu
legado contribuir, “para fazer um
hospício para surdos-mudos”.
José Rodrigues de Araújo Porto faleceu no dia 27 de julho de
1887, estando seu corpo sepultado em Lisboa, tendo sido cumprida a sua vontade
tal como está expressa no seu testamento.
“José Rodrigues
d'Araújo Porto nasceu no dia 10 de janeiro de 1815 na cidade do Porto. Filho de
Luís António Rodrigues d'Araújo e de Ana Albina de São José, foi batizado na
Igreja de Santo Ildefonso. Residiu durante 31 anos na cidade de Recife,
província de Pernambuco no Brasil, onde casou com Cândida Cardosa d'Araújo
Porto. Juntos tiveram um filho, de seu nome José, o qual nunca casou nem teve
descendentes. À data do testamento, lavrado em 28 de novembro de 1883, tanto
sua mulher como seu filho tinham já falecido. Após ter regressado do Recife,
residiu durante 12 anos na cidade de Lisboa até regressar ao Porto.”
Fonte: “mmipo.pt”
Hoje, as instalações do edifício que se encontravam
devolutas há alguns anos, estão ocupadas com os serviços administrativos e da
Provedoria (ou como agora se diz: Serviços Partilhados e Corporativos) após
sujeito a obras importantes que venceriam o Prémio Nacional de Reabilitação
Urbana 2017, na categoria de Melhor Intervenção no Uso Comercial e Serviços.
Alçado principal do Instituto Araújo Porto – Ed. SCMP
Instituto Araújo Porto antes das obras
Capela do Palacete Araújo Porto – Ed. Teodósio Dias
Século XX e XXI
“No início do século XX foi inaugurado o
Asilo de Cegos de São Manuel (1904), para asilo e ensino de rapazes cegos, e o
Hospital de Convalescentes D. Francisco de Noronha e Menezes (1906).
Destinado a combater a tuberculose, o
Sanatório-Hospital Rodrigues Semide foi criado em 1926 com o legado do
benemérito Manuel José Rodrigues Semide. Anos mais tarde, em 1938, fundou-se o
Lar Pereira de Lima, estabelecimento destinado a acolher adultos cegos.
Em 1956, o professor José Albuquerque e
Castro fundou o Centro de Produção do Livro para o Cego, posteriormente
designado por Centro Professor Albuquerque e Castro – Edições Braille. Das
obras que são publicadas neste centro, salientem-se as revistas “Poliedro” e
“Rosa dos Ventos.
Durante o século XX, a Misericórdia procedeu
à revalorização, ao aproveitamento e ao enriquecimento do seu património, com a
construção de vários e grandes blocos residenciais.
Em 1976, a conjuntura sociopolítica levou à
nacionalização dos Hospitais de Santo António, do Conde de Ferreira e de
Rodrigues Semide. Ao passarem para a administração do Estado, a Misericórdia do
Porto perdeu uma das suas grandes áreas de intervenção – a saúde.
Decorrida mais de uma década, a área da saúde
conheceu um grande desenvolvimento com a construção do Hospital da Prelada –
Dr. Domingos Braga da Cruz, inaugurado em 1988.
Mais recentemente construiu-se o Lar Nossa
Senhora da Misericórdia; recuperou-se um imóvel que se transformou num
estabelecimento chamado “Casa da Rua, D. Lopo de Almeida” destinado ao apoio da
população sem-abrigo; reconverteu-se a denominada “Obra de Recuperação de
Mulheres”, numa casa abrigo para mulheres vítimas de violência doméstica,
actualmente designada por “Casa de Santo António”; e retomou-se o Hospital
Conde de Ferreira, hoje Centro Hospitalar Conde de Ferreira.
Em 2005, a Santa Casa passou a gerir alguns
serviços do Estabelecimento Prisional Especial de Santa Cruz do Bispo, de
acordo com protocolo estabelecido entre a Misericórdia e a Direcção Geral dos
Serviços Prisionais”.
Fonte – Site:
“scmp.pt”
Lar Pereira de Lima
Situa-se este lar no morro do Castelo de Gaia, na Rua do
Castelo, nº 1, em V. N. de Gaia, sendo propriedade da Santa Casa da
Misericórdia do Porto.
Lar Pereira de Lima – Fonte: Google maps
«Manuel José Pereira
de Lima, proprietário nos concelhos do Porto, de Vila Nova de Gaia e de Braga,
nasceu a 21 de junho de 1836 na freguesia da Sé, da cidade do Porto. Era filho
de Manuel José Pereira de Lima, natural de Pernambuco, no Brasil, e Maria da Conceição
Gomes Lima, natural de Braga, os quais residiram na rua de Santo Elói, no
Porto. Os seus avós paternos, Manuel José Pereira Lima, negociante, e Ana
Joaquina da Piedade Lima, moradores que foram na calçada dos Clérigos,
deixaram, através de testamento redigido em 12 de abril de 1862, vários legados
destinados a estabelecimentos hospitalares da Santa Casa da Misericórdia do
Porto.
Manuel José Pereira de
Lima faleceu a 01 de janeiro de 1899 na sua casa do Castelo de Gaia, sita na
freguesia de Santa Marinha, em Vila Nova de Gaia, tendo sido sepultado no
cemitério da Lapa.
O testamento de Manuel
José Pereira de Lima foi lavrado a 11 de maio de 1896 na freguesia de São João
da Foz. No que respeita à Santa Casa da Misericórdia do Porto, o benfeitor
deixou vários prédios rústicos e urbanos "com o encargo perpetuo de mandar
celebrar annualmente duas missas, uma no dia seis de Maio por alma de meu pai,
e outra no dia vinte e cinco de Novembro por alma de minha mai", assim
determinou no seu testamento. Mais referiu que "se minha mulher instituir
na sua propriedade sita em Villa Nova de Gaya, rua do Castello numero um a
seis, um asylo para cegos, e a administração deste asylo ficar a cargo da mesma
Santa Casa da Misericordia, n'este caso os prédios que a esta deixo em
propriedade, ou o producto da venda d'elles, servirá para fundo permanente para
manutenção do mesmo asylo".
Assim veio a acontecer
em 1938, quando o "Asilo de Cegos Pereira de Lima" foi inaugurado. A
partir de 1975, além de idosos invisuais de ambos os sexos, este
estabelecimento passou a receber idosos com necessidade de internamento.»
Fonte: “mmipo.pt”
Com a Alfândega do Porto em 1º plano, o morro do Castelo de
Gaia fica em frente – Fonte: Google maps
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