10.13
Nascentes, Fontes e Chafarizes
Diversos
Comecemos por definir a diferença entre fonte e chafariz.
As fontes, são abastecidas directamente da mina para a
bica e, daí, para o cântaro, ou outro elemento em que se possa transportar o
precioso líquido tão importante para a vida humana e animal, sendo evidente o
seu carácter utilitário e funcional.
O chafariz embora seja alimentado por água, esta pode
ser ou não encanada, pode ou não, ser originária de uma mina. Poderá ter mais
monumentalidade ou ser decorado, acolher simbologias, encenando jogos de água,
ou ter diversas taças.
O chafariz poderá ser mais dedicado à fruição, do que à necessidade e
utilidade que uma tradicional fonte comporta. De qualquer forma,
entendemos curioso, darmos a conhecer algumas ambiguidades e dúvidas de
estudiosos nesta matéria que, ao longo dos anos, mostraram a sua perplexidade…
É neste âmbito que transcrevemos algumas opiniões.
Segundo F. J. da Silva, Dicionário da Língua Portuguesa,
Livraria Simões Lopes, Porto, 1956, podemos perceber que:
Fonte: nascente de
água; manancial.
Chafariz: bica artificial
donde corre água para uso doméstico; tanque; obra em alvenaria, com uma ou mais
bicas por onde corre água para utilização pública.
Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves diz sobre este assunto:
“ Em Portugal, as
estruturas que fornecem a água aos núcleos urbanos dividem-se em dois grandes
tipos: os chafarizes e as fontes. Estas duas palavras aparecem muitas vezes
referidas como sinónimo, ou então não existe uma distinção muito clara entre
chafariz e fonte, predominando nuns casos o primeiro termo e noutros casos o
segundo. Procuraremos então explicar os dois termos.
Para Rafeel
Bluteau chafariz é «palavra arábica» que significa «fonte com bica, e posto,
que algumas fontes, que não tem bica […] se chamarão Chafarizes, este nome foi
introduzido por abuso […]. Na opinião de outros, Chafariz é
palavra, que nos deixaram os mouros, particularmente em Lisboa e que quer
dizer: Fonte pública alta e de bicas». Se, através de Bluteau, continuamos sem
uma distinção precisa entre chafariz e fonte, o mesmo irá acontecer com aquilo
que podemos ler nos Grandes Dicionários de Língua Portuguesa de António Morais
e Silva e de João Pedro Machado onde podemos ler que chafariz é «obra de pedra,
mais ou menos artificiosa, onde há bicas que lançam água para utilidade
pública». Também não é clara a definição que encontramos na Enciclopédia Luso-Brasileira
da Cultura, onde chafariz é uma «peça arquitectónica de dimensões e composição
variável, mas cujo fim é sempre o de constituir um terminal duma conduta de
água. A distinção precisa entre chafariz e fonte vamos encontrá-la nalgumas das
relações que existem das duas formas de arquitectura da água, onde o chafariz
aparece como uma estrutura isolada (por exemplo no meio de uma praça), mais ou
menos monumentalizada, e constituída por um tanque que recebe água de uma bica
(ou bicas) que pode lançar directamente no tanque, ou este recebê-la através da
taças dispostas em diversos níveis e de tamanho e formas diferentes. A ideia de
chafariz como estrutura isolada é também dada pela Grande Enciclopédia
Portuguesa e Brasileira quando, em relação às fontes, nos informa que aquelas
«quando destacadas a meio de uma praça constituem os chafarizes».
O termo fonte
está associado essencialmente a nascente de água. Rafael Bluteau define fonte
como um «perene manancial de agoa nativa»”.
Era frequente no
frontispício de muitas e fontes e chafarizes observarem-se uns triângulos
negros, que eram um aviso de que a água era imprópria para consumo.
Em 31 de Agosto de 1890, era através da imprensa que era feito o aviso
sobre as fontes cuja água era imprópria para uso “interno”.
Triângulo negro sobre cada uma das bicas da Fonte da Vila Parda
Parece ter sido, em 1788, que o juiz Vidal da Gama, idealizou a construção da
Fonte do Ribeirinho, na então Rua de
Cedofeita, num troço desta rua, que hoje é a Rua de Barão de Forrester, a cerca de uma centena de metros da Rua da Boavista. A sua conclusão só se deu em 1790, no
reinado de D. Maria I.
Actualmente, encontra-se nos jardins dos SMAS, sendo aí instalada, em 1933.
Fonte dos Ablativos ou Fonte do Ribeirinho no local
primitivo
A gravura anterior é uma prova em papel salgado, a partir de
um calótipo de Frederick William Flower.
Fonte do Ribeirinho aquando da sua transladação
Fonte do Ribeirinho actualmente nos jardins dos SMAS - Ed. Manuela Campos (2019)
Esta fonte esteve primitivamente instalada na Rua de
Cedofeita (actualmente, Rua Barão de Forrester), do seu lado nascente, num local, bem próximo, do pontão ferroviário que atravessa aquela rua. Na opinião
de Américo Costa, in «Dicionário Coreográfico de Portugal Continental e
Insular» o nome de Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, deve-se a dois
factos.
A primeira razão seria porque perto de onde estava colocada,
ao lado norte passava um ribeiro que se formava de várias nascentes que se
localizavam no Monte Cativo e na Lapa.
Em segundo lugar, também foi designada por Fonte dos
Ablativos, devido a inscrição nela existente ser composta por vinte e quatro Ablativos.
São vários os autores que transcrevem essa inscrição, assim como o seu
significado.
No entanto, a que se transcreve abaixo, é da autoria de
Horácio Marçal – “O Antigo Sítio do Laranjal” - in - O Tripeiro, Março de 1966,
VI série, ano VI.
Horácio Marçal afirma, então, que a inscrição lhe parece ter
algumas palavras que não são latinas, e que a tarefa de tradução não é fácil.
Contudo, dá-nos a tradução da dita inscrição que é a seguinte:
“ Com aprazimento muitos e desagrado de outros, foram
reunidas as águas que corriam sujas e desaproveitadas, pelas lajes da rua, e
pelas margens do ribeiro, formando charcos imundos, e dificultando a passagem
de transeuntes. Assim as águas conduzidas para esta fonte, tornavam o sito, até
então incómodo e sujo, em belo e comodíssimo; e as águas agora limpíssimas,
desalteraram os suburbanos sequiosos. Foi feita esta obra no reinado da
piedosa, feliz e augusta Rainha D. Maria I, por diligências de José Ribeiro
Vidal da Gama, dos Conselhos de sua Real Majestade, Chanceler Portuense,
servindo de Presidente do Tribunal de Justiça, no ano de 1790”.
Segundo Horácio Marçal, o ribeiro situado junto desta fonte,
tinha o seguinte percurso:
“Passava em
Salgueiros, atravessava a Quinta Do Melo ou Águas-Férreas (Dos Viscondes de
Veiros), a rua de Cedofeita e a Ponte de Vilar, desaguando no Douro, na Praia
de Massarelos”.
A Fonte do Ribeirinho, em destaque na planta de Perry Vidal de 1844, a Fonte das Águas Férreas e algumas linhas de água da área
Na planta de Telles Ferreira, de 1892, pode observar-se, em
destaque, a localização da Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, a cerca de 75
metros da embocadura da Travessa das Águas Férreas com a Rua de Cedofeita, no
troço que hoje é a Rua de Barão de Forrester
De notar que em relatório de inspecção às diversas fontes da
cidade do Porto, J. Bahia Junior, em 1909, escrevia sobre as fontes da
freguesia de Cedofeita:
“Tem esta freguesia sete
fontes de nascente privativa que são: Primeira Fonte da Rua do Almada, segunda
Fonte da Rua do Almada, Fonte da Lapa, Fonte do Monte Captivo, Fonte do
Ribeirinho e fonte das Águas Férreas, composta de duas bicas, tendo cada uma d’ellas
a sua nascente própria.
(…) A Fonte do
Ribeirinho apenas fazemos menção d’ella por ter sido uma das fontes que estava
secca na ocasião das nossas colheitas”.
Do texto anterior, pode inferir-se de que, passados 17 anos
sobre a planta de Telles Ferreira, a Fonte do Ribeirinho estava seca e sem
serventia.
“Como o nome indica
foi a primeira fonte pública do Monte da Arrábida. Situava-se abaixo da
Fundição da Arrábida junto de uma pedreira na qual a fonte tem a sua nascente,
abaixo do lugar do Bicalho, quase na confluência do ponto em que se divide as
freguesias de Lordelo do Ouro e de Nossa Senhora da Boa Viagem de Massarelos,
junto portanto da estrada marginal do Rio Douro, nas fraldas do referido monte.
Encontrava-se primitivamente entre dois barracões próprios para oficinas de
serralheiro e ferreiro. Explorando-se a pedreira daquele monte, no sítio
próximo às dezoito braças, afim da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro
prosseguir com as obras da barra do ouro, que por lei estavam a seu cargo, rebentou
espontaneamente da rocha viva, uma porção de água puríssima e fresca, a qual
por ordem da citada Companhia foi desde logo aproveitada para se construir uma
fonte pública. Assim apareceu a primeira Fonte da Arrábida. O seu frontispício,
de arquitectura simples, tinha uma bica de ferro chumbada, onde a água chegava
através de uma caleira de pedra a qual caia dentro de um pequeno tanque, aos
lados do qual estavam dois assentos de pedra, cuja finalidade seria o descanso
dos viandantes que por ali passavam. Aponta-se para o ano de 1863 o ano da sua
construção e tendo sido removida para os Jardins do SMAS em 1948 ano em que foi
reconstruída”.
Fonte: pt.wikipedia.org
A Primeira Fonte da
Arrábida instalada nos jardins dos SMAS, na Rua de Nova Sintra – Ed. MAC
A Primeira Fonte da Arrábida, situada bem perto da Fundição
da Arrábida – Ed. J. Bahia Junior, 1909
Sobre esta fonte diz J. Bahia Junior, em 1909:
“A Segunda Fonte da
Arrábida está logo pouco abaixo da precedente, mesmo junto da Fabrica d'energia
eléctrica da Companhia Carris de Ferro e compõe-se, como a precedente, de que é
muito semelhante, d'uma bica e tanque de pequenas dimensões, tendo também na
pedreira que lhe fica superiormente e nas suas costas, a nascente que a
abastece”.
A Segunda Fonte da Arrábida, junto da Central de Produção de
energia da companhia Carris de Ferro – Ed. J. Bahia Junior, 1909
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