terça-feira, 17 de janeiro de 2017

11. As Instituições e Serviços de Apoio e Assistência e as Escolas


A cidade teve, desde sempre, algumas preocupações com aqueles que eram os mais desprotegidos, tarefas, em que a Santa Casa da Misericórdia do Porto e a igreja tiveram um papel primordial.
Sabe-se que no século XV o “Recolhimento do Ferro” situado na zona da Sé acolhia as prostitutas retiradas e as adúlteras e, na Cordoaria em 1488, existia algures, por lá, o “Recolhimento das Velhas da Cordoaria”.
O documento mais antigo que existe com respeito a este recolhimento, data mais precisamente, de 20 de Agosto de 1488.
O rei D. Manuel, por alvará de 18 de Maio de 1521, tinha mandado que este estabelecimento de caridade fosse administrado pela Misericórdia.
Sabe-se, porém, que esteve originariamente na Rua dos Mercadores e depois em 1790, mudou-se para um barracão de madeira, na extremidade ocidental da cerca do hospital de Santo António (Misericórdia), mas quanto à sua localização na Cordoaria, desconhece-se a mesma.
Segundo Firmino Pereira e o frade beneditino Pereira de Novais (autor seiscentista de várias obras sobre o Porto) inicialmente, aquela instituição não é mais que a Albergaria de Santa Clara que ficava, como sabemos, na Rua dos Mercadores.
Em 1855, foram as velhas deste recolhimento mudadas para o novo edifício construído na Rua das Fontainhas (antiga Rua do Regato). Este edifício foi também hospital dos lázaros, lázaras, e de entrevados, embora separados uns dos outros.
Em data anterior a 1804, no Largo do Camarão, surge o “Recolhimento de Nossa Senhora das Dores” ou “Recolhimento das Velhas do Camarão”.
No que diz respeito aos enjeitados, sabe-se que D. Dinis atribuiu verbas para a sua assistência, e que no tempo de D. João II era o Município que cuidava das crianças, e que por ordem de D. Manuel I, acabariam por ficar a cargo da Santa Casa da Misericórdia, primeiro em instalações anexas ao hospital D. Lopo e, mais tarde, junto da Capela do Senhor Jesus do Calvário Novo, sendo os enjeitados depositados na denominada “Roda”.
Quanto aos órfãos, o padre Baltasar Guedes em 1651 fundaria o “Colégio dos Meninos Orfãos de Nossa Senhora da Graça” e, destinado a “meninas órfãs e viúvas honestas” em 1672, foi inaugurado, o “Recolhimento de S. Miguel-o-Anjo” ou “Recolhimento da Rainha Santa Isabel”.
Em consequência dos trágicos acidentes, ocorridos aquando da 2ª invasão francesa e do desastre da Ponte das Barcas, em 29 de Março de 1809, subiu exponencialmente o número de órfãos que passaram a vaguear pela cidade.
No que diz respeito aos rapazes, foi feita a assistência através do “Seminário dos Meninos Desamparados” que, desde 1814, depois de ter passado por várias instalações na cidade, acabaria, no que é hoje, o “Centro Juvenil de Campanhã”.
Quanto às raparigas, foram assistidas pelo “Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e de S. José das Meninas Desamparadas”, que após a ocupação de improviso de algumas instalações da cidade, acabaram, a partir de 1825 por ocupar as definitivas, junto à Porta do Sol, passando por isso a ser a instituição conhecida como “Recolhimento da Porta do Sol”.
Em 1722, destinado a meninas de boas-famílias, aparece o “Recolhimento de Meninas Orfãs de Nossa Senhora da Esperança”.
Os clérigos desprotegidos não seriam esquecidos e em 1732 arranca o “Recolhimento dos Clérigos Pobres”, anexo à Igreja dos Clérigos.
Na intenção de prestar acolhimento e a educação a crianças abandonadas de ambos os sexos e, ainda, receber jovens vadios julgados em tribunal apareceu em 1863 o “Estabelecimento Humanitário Barão de Nova Sintra” que passaria a “Colégio do Barão de Nova Sintra (CBNS)”, sob administração da Santa Casa da Misericórdia.
Entre 1877-1878, o CBNS deixou de contemplar qualquer relação com os tribunais.
Alguns outros estabelecimentos de assistência a desfavorecidos foram criados nestes tempos.
 A 31/7/1838 a Rainha D. Maria II decretou a criação do “Asilo de Mendicidade do Porto”. A inauguração só se realizou em 8/7/1846. Destinava-se aos mendigos e abandonados. Mais tarde passou a ser “Asilo de Idosos”.
Começou por funcionar no palacete do visconde de Veiros, que ficava na actual Rua do Melo, na chamada Quinta da Boavista ou das Águas Férreas, e mudou-se depois para as Fontainhas, destinando-se aos mendigos e abandonados.
Mais tarde passou a ser asilo de idosos. Já o era em 1911.

Asilo de Mendicidade no palacete do visconde de Veiros


Acima está a “Gravura representando uma perspectiva da fachada sul da Casa das Águas Férreas, vendo-se a escadaria do jardim, ladeada de estátuas alegóricas. Trata-se da reprodução de uma gravura publicada no nº 24 da Revista Popular de 12 de Agosto de 1848. A imagem foi baseada em gravura original, da autoria de António dos Santos Dias, publicada cerca de 1839, com o título Vista do Palácio dos Sousa e Melos”.



Asilo de Mendicidade do Porto nas Fontainhas



Na foto acima, por cima do escudo ficava a coroa real que foi picada em 1910. A estátua da Caridade, que se vê na fachada e que pertenceu à Capela de Santo Elói, foi oferecida a este asilo em 28/8/1871. 
Durante todo o século XX o Asilo de Mendicidade cumpriu a sua função de apoio aos mais desfavorecidos, acabando aos poucos por ser abandonado, e já nos nossos dias passaria sucessivamente para as mãos do Centro Distrital da Segurança Social e do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e, finalmente, irá por certo acabar por cair no regaço de um investidor privado.
Em várias situações as dificuldades sentidas pelos portuenses mais desprotegidos foram bem expressivas.
Durante a primeira Guerra Mundial (1914-1918) as dificuldades sentidas pela população agravaram-se, principalmente na obtenção de bens alimentares e após o inverno de 1916/17, a fome grassou.
Nesse inverno os aliados estabeleceram um bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido com a intensificação da luta submarina no Atlântico originando uma carência de alimentos.
Entre 19 e 21 de Maio de 1917, dá-se em Lisboa e concelhos limítrofes a “Revolução da Batata”, que em termos práticos, se cifrou pelo assalto a mercearias e armazéns de géneros alimentícios. O governo da época haveria de decretar então o “estado de sítio”.




Pobres procurando ajuda, à porta de uma casa, em 1916 – Fonte: Photo Guedes


Embora o local da foto acima não tenha sido identificado pelo editor da mesma, julgamos poder tratar-se da Rua do Laranjal (há muito desaparecida), próximo da Praça da Trindade, pois, não são visíveis no pavimento, quaisquer vestígios de trilhos de carros eléctricos e o edificado ser semelhante ao que outras fotos, dessa rua, mostram.
Durante a crise alimentar de 1916/17, foi montado no Porto em instalações cedidas à “Comissão de Subsistências”, pelo industrial Joaquim Afonso Fernandes Pereira, da fábrica têxtil de calandrar “A Vencedora”, um armazém para a distribuição do apoio alimentar que a população carecia.
Naquelas instalações, na Rua do Bonfim, nº 105, passaria a funcionar a sede daquela comissão que dirigia toda a campanha de socorro alimentar aos portuenses.
 
 
 

Entrada da fábrica “A Vencedora”

 
 

Armazém da fábrica “A Vencedora” de empacotamento do auxílio alimentar à população




Rua Firmeza



Na foto acima observa-se a fila formada para recebimento de senhas de racionamento em Dezembro de 1942, em anos da Segunda Guerra Mundial.






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