A cidade teve, desde sempre, algumas preocupações com
aqueles que eram os mais desprotegidos, tarefas, em que a Santa Casa da
Misericórdia do Porto e a igreja tiveram um papel primordial.
Sabe-se que no século XV o “Recolhimento do Ferro” situado na zona da Sé acolhia as
prostitutas retiradas e as adúlteras e, na Cordoaria em 1488, existia algures,
por lá, o “Recolhimento das Velhas da
Cordoaria”.
O documento mais antigo que existe com respeito a este
recolhimento, data mais precisamente, de 20 de Agosto de 1488.
O rei D. Manuel, por alvará de 18 de Maio de 1521, tinha
mandado que este estabelecimento de caridade fosse administrado pela Misericórdia.
Sabe-se, porém, que esteve originariamente na Rua dos
Mercadores e depois em 1790, mudou-se para um barracão de madeira, na
extremidade ocidental da cerca do hospital de Santo António (Misericórdia), mas
quanto à sua localização na Cordoaria, desconhece-se a mesma.
Segundo Firmino Pereira e o frade beneditino Pereira de Novais (autor seiscentista de várias obras sobre o Porto) inicialmente, aquela
instituição não é mais que a Albergaria
de Santa Clara que ficava, como sabemos, na Rua dos Mercadores.
Em 1855, foram as velhas deste recolhimento mudadas para o
novo edifício construído na Rua das Fontainhas (antiga Rua do Regato). Este
edifício foi também hospital dos lázaros, lázaras, e de entrevados, embora
separados uns dos outros.
Em data anterior a 1804, no Largo do Camarão, surge o “Recolhimento de Nossa
Senhora das Dores” ou “Recolhimento das
Velhas do Camarão”.
No que diz respeito aos enjeitados,
sabe-se que D. Dinis atribuiu verbas para a sua assistência, e que no tempo de
D. João II era o Município que cuidava das crianças, e que por ordem de D.
Manuel I, acabariam por ficar a cargo da Santa Casa da Misericórdia, primeiro
em instalações anexas ao hospital D. Lopo e, mais tarde, junto da Capela do
Senhor Jesus do Calvário Novo, sendo os enjeitados depositados na denominada “Roda”.
Quanto aos órfãos,
o padre Baltasar Guedes em 1651 fundaria o “Colégio
dos Meninos Orfãos de Nossa Senhora da Graça” e, destinado a “meninas órfãs
e viúvas honestas” em 1672, foi inaugurado, o “Recolhimento de S. Miguel-o-Anjo” ou “Recolhimento da Rainha Santa Isabel”.
Em consequência dos trágicos acidentes, ocorridos aquando da
2ª invasão francesa e do desastre da Ponte das Barcas, em 29 de Março de 1809,
subiu exponencialmente o número de órfãos que passaram a vaguear pela cidade.
No que diz respeito aos rapazes, foi feita a assistência
através do “Seminário dos Meninos
Desamparados” que, desde 1814, depois de ter passado por várias instalações
na cidade, acabaria, no que é hoje, o “Centro Juvenil de Campanhã”.
Quanto às raparigas, foram assistidas pelo “Recolhimento de Nossa Senhora das Dores e
de S. José das Meninas Desamparadas”, que após a ocupação de improviso de
algumas instalações da cidade, acabaram, a partir de 1825 por ocupar as
definitivas, junto à Porta do Sol, passando por isso a ser a instituição
conhecida como “Recolhimento da Porta do Sol”.
Em 1722, destinado a meninas de boas-famílias, aparece o “Recolhimento de Meninas Orfãs de Nossa
Senhora da Esperança”.
Os clérigos desprotegidos
não seriam esquecidos e em 1732 arranca o “Recolhimento
dos Clérigos Pobres”, anexo à Igreja dos Clérigos.
Na intenção de
prestar acolhimento e a educação a crianças abandonadas de ambos os sexos e,
ainda, receber jovens vadios julgados em tribunal apareceu em 1863 o “Estabelecimento
Humanitário Barão de Nova Sintra” que passaria a “Colégio do Barão de Nova
Sintra (CBNS)”, sob administração da Santa Casa da Misericórdia.
Entre 1877-1878, o
CBNS deixou de contemplar qualquer relação com os tribunais.
Alguns outros
estabelecimentos de assistência a desfavorecidos foram criados nestes tempos.
A 31/7/1838 a Rainha D. Maria II decretou a criação do “Asilo de Mendicidade do Porto”. A inauguração só
se realizou em 8/7/1846. Destinava-se aos mendigos e abandonados. Mais tarde
passou a ser “Asilo de Idosos”.
Começou por
funcionar no palacete do visconde de Veiros, que ficava na actual Rua
do Melo, na chamada Quinta da Boavista ou das Águas Férreas, e mudou-se depois
para as Fontainhas, destinando-se aos mendigos e abandonados.
Mais tarde passou a
ser asilo de idosos. Já o era em 1911.
Asilo de Mendicidade
no palacete do visconde de Veiros
Acima está a “Gravura representando uma perspectiva da fachada sul da Casa das Águas Férreas, vendo-se a escadaria do jardim, ladeada de estátuas alegóricas. Trata-se da reprodução de uma gravura publicada no nº 24 da Revista Popular de 12 de Agosto de 1848. A imagem foi baseada em gravura original, da autoria de António dos Santos Dias, publicada cerca de 1839, com o título Vista do Palácio dos Sousa e Melos”.
Asilo de Mendicidade
do Porto nas Fontainhas
Na foto acima, por
cima do escudo ficava a coroa real que foi picada em 1910. A estátua da
Caridade, que se vê na fachada e que pertenceu à Capela de Santo Elói, foi
oferecida a este asilo em 28/8/1871.
Durante todo o século XX o Asilo de Mendicidade cumpriu a sua função de apoio aos mais desfavorecidos, acabando aos poucos por ser abandonado, e já nos nossos dias passaria sucessivamente para as mãos do Centro Distrital da Segurança Social e do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e, finalmente, irá por certo acabar por cair no regaço de um investidor privado.
Durante todo o século XX o Asilo de Mendicidade cumpriu a sua função de apoio aos mais desfavorecidos, acabando aos poucos por ser abandonado, e já nos nossos dias passaria sucessivamente para as mãos do Centro Distrital da Segurança Social e do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e, finalmente, irá por certo acabar por cair no regaço de um investidor privado.
Em várias situações
as dificuldades sentidas pelos portuenses mais desprotegidos foram bem
expressivas.
Durante a primeira
Guerra Mundial (1914-1918) as dificuldades sentidas pela população
agravaram-se, principalmente na obtenção de bens alimentares e após o inverno
de 1916/17, a fome grassou.
Nesse inverno os
aliados estabeleceram um bloqueio à Alemanha, tendo esta reagido com a
intensificação da luta submarina no Atlântico originando uma carência de
alimentos.
Entre 19 e 21 de
Maio de 1917, dá-se em Lisboa e concelhos limítrofes a “Revolução da Batata”,
que em termos práticos, se cifrou pelo assalto a mercearias e armazéns de
géneros alimentícios. O governo da época haveria de decretar então o “estado de
sítio”.
Pobres procurando ajuda, à porta de
uma casa, em 1916 – Fonte: Photo Guedes
Embora o local da
foto acima não tenha sido identificado pelo editor da mesma, julgamos poder tratar-se
da Rua do Laranjal (há muito desaparecida), próximo da Praça da Trindade, pois,
não são visíveis no pavimento, quaisquer vestígios de trilhos de carros
eléctricos e o edificado ser semelhante ao que outras fotos, dessa rua,
mostram.
Durante a crise
alimentar de 1916/17, foi montado no Porto em instalações cedidas à “Comissão
de Subsistências”, pelo industrial Joaquim Afonso Fernandes Pereira, da fábrica têxtil de calandrar “A Vencedora”, um armazém para a distribuição do apoio alimentar que a
população carecia.
Naquelas
instalações, na Rua do Bonfim, nº 105, passaria a funcionar a sede daquela
comissão que dirigia toda a campanha de socorro alimentar aos portuenses.
Rua Firmeza
Na foto acima observa-se
a fila formada para recebimento de senhas de racionamento em Dezembro de 1942,
em anos da Segunda Guerra Mundial.
Sem comentários:
Enviar um comentário